sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

«SENHOR DOS MAREANTES»


Este arrastão bacalhoeiro apresenta a particularidade de ter sido o primeiro navio construído nos E.N.V.A. (Estaleiros Navais de Viana do Castelo). Era um modesto navio de trabalho, realizado em 1948 por encomenda da Empresa de Pesca de Viana. Deslocava cerca de 1 500 toneladas e media 71,50 metros de comprimento fora a fora por 11 metros de boca. A sua única máquina diesel desenvolvia 1 700 cv de potência e imprimia a este arrastão lateral a velocidade máxima de 11 nós. Com capacidade para receber 1 350 metros cúbicos de pescado, o «Senhor dos Mareantes» teve dois gémeos, construídos no mesmo estaleiro e no mesmo ano em que ele próprio foi lançado à água : o «Senhora das Candeias», também propriedade da E.P.A., e o «São Gonçalinho», que perteceu à frota da Empresa de Pesca de Aveiro. Devido à política das quotas, o «Senhor dos Mareantes» foi transformado (em 1980) em navio congelador, o que lhe permitiu tirar um aproveitamento racional da maior parte das espécies capturadas; que, até então, eram deitadas fora. O navio (que custou 13 000 contos ao seu armador, soma que pode parecer, hoje, irrisória) navegou até 1991, ano em que cessou a sua actividade. Foi desmantelado em início da década de 90. Do século XX, entenda-se.

«QUEEN ANNE'S REVENGE»


Navio de 300 toneladas construído em Inglaterra no ano de 1710 e lançado à água com o nome de «Concord». Capturado um ano mais tarde pelos franceses, o navio foi registado no porto de Nantes e modificado para que pudesse adaptar-se ao tráfico de escravos. O seu designativo foi, então, afrancesado, passando o navio a chamar-se «La Concorde». O navio manteve-se, durante seis anos, nesse degradante comércio triangular (Europa-África-Antilhas), até que, no dia 28 de Novembro de 1717, nas águas da Martinica, foi tomado de assalto pelo pirata Benjamin Hornigold, que confiou o respectivo comando a Edward Teach -alcunhado o ‘Barba Negra’- um dos seus mais temíveis lugar-tenentes. Este deu-lhe o estranho nome com que o navio se celebrizou, devido, ao que parece, ao facto de ele próprio ter participado na chamada Guerra da Rainha Ana, um dos muitos conflitos travados pela posse da América do norte entre forças britânicas e francesas. Armado com uma quarentena de bocas de fogo, o «Queen Anne’s Revenge» assolou o Atlântico -do golfo do México até às costas de África- atacando, indiscriminadamente, navios britânicos, holandeses, espanhóis, portugueses, etc. Atribui-se a Teach e a este seu veleiro armado, a captura de 18 unidades mercantes, algumas delas armadas e de grande porte. Mas em 1718, aquando do bloqueio do porto de Charleston, o navio fez naufrágio ao tentar a entrada na baía de Old Topsail, na actual Carolina do norte. O seu capitão (que, só 6 meses mais tarde, seria capturado e degolado pelo tenente Robert Maynard, da ‘Royal Navy’) e comparsas sairiam sãos e salvos da aventura. Em Novembro de 1996, uma equipa de mergulhadores da empresa Intersal Inc, encontrou, no sítio do naufrágio, os restos de um navio que se acredita serem os do «Queen Anne’Revenge». A co-relação entre esse achado e o navio pirata ainda não foi confirmada oficialmente, mas há indícios fortes que apontam para que essa descoberta corresponda, realmente, aos despojos do veleiro do ‘Barba Negra’.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

«VEVEY»


Este barco fluvial do lago Léman, construído em 1907 pelo estaleiro Sulzer Frères, de Winterthur (Suíça), foi, inicialmente, movido por uma máquina a vapor acoplada a um eixo que accionava duas rodas de paletas laterais. Esse sistema de propulsão arcaico foi substituído -em 1955- por uma motorização diesel-eléctrica de 850 cv de potência. Foi também, entre 1953 e 1955, que se procederam a outras modificações a bordo : a altura da chaminé foi reduzida e o salão de fumo do ‘deck’ superior suprimido. O «Vevey» (que é gémeo do «Italie») desloca mais de 303 toneladas em plena carga e mede 65,50 metros de comprimento fora a fora por 7 metros de boca. A sua velocidade máxima aproxima-se dos 29 km/hora. Esta embarcação sofreu novas alterações em 1975, ano em que foi equipada com um novo comando hidroeléctrico do leme e em que beneficiou de um restauro das superestruturas. Em 1987 foi a vez da chaminé tomar o aspecto daquela que o equipava desde as origens. E em 1989 procedeu-se ao restauro do salão de 1ª classe, que é um espaço decorado em estilo Arte Nova e onde abundam elementos executados com madeiras preciosas. Actualmente, este prestigioso barco lagunar está imobilizado num estaleiro (desde Outubro de 2010), aguardando algumas melhorias, de entre as quais se destaca a substituição do motor. O «Vevey» -propriedade da sociedade helvética C.G.N. (Compagnie Générale de Navigation sur le Lac Léman)- é um dos mais belos barcos que sulcam as águas do grande lago franco-suíço e um dos grandes promotores do turismo da Confederação Helvética.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

«TUNAS SAMUDERA»


Navio-escola da marinha real malaia. Este bonito veleiro (que arma em patacho) foi construído, em Lowestoft (Grã-Bretanha), pelos estaleiros da sociedade Brooke Yachts International, Lda. A cerimónia do seu lançamento à água (em 1988) foi apadrinhada pela rainha Isabel II de Inglaterra e pelo rei da Malásia, sultão Azlan Shah. Após as indispensáveis provas de mar, o navio seguiu para o porto de Lumat (no estado de Perak), onde tem a sua base. Foi integrado na armada nacional no ano seguinte. O «Tunas Samudera» desloca 250 toneladas e mede 44 metros de comprimento fora a fora por 7,80 metros de boca. Os seus dois mastros envergam 10 panos com uma área total de 569 m2. O navio (concebido pelo conhecido arquitecto naval e ‘designer’ Colin Mudie) dispõe, além do seu sistema vélico, de 2 motores diesel, desenvolvendo 185 cv. Navega à velocidade máxima de 9 nós. A sua tripulação normal é constituída por 12 oficiais e por 10 sargentos e praças. Pode receber e dar formação a 24 cadetes em simultâneo. O «Tunas Samudera» tem um irmão gémeo : o «Young Endeavour», da marinha australiana. Participou em várias regatas internacionais (como as conhecidas e prestigiosas ‘Tall Ship’s Races’). Entre 2007 e 2008 esteve na Europa, quando realizava (com 46 pessoas a bordo) uma viagem de circum-navegação que durou 410 dias.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

«ÉTOILE DE NOËL»


O casco (em madeira) deste bacalhoeiro francês foi construído, em 1922, pela sociedade Chantiers Navals de l’Ouest, de Saint Malo, e os acabamentos foram realizados pelos estaleiros Argentin, de Fécamp. Pertenceu à frota pesqueira de Gustave Vasse, também do porto de Fécamp. Recebeu o poético nome de ‘Estrela do Natal’ no decorrer de uma cerimónia ocorrida naquela cidade piscatória normanda em 13 de Março e 1923. Com uma equipagem de 22 homens, este veleiro com 450 toneladas de deslocamento (47 metros de comprimento por 8 de boca) fez oito campanhas de pesca nos Grandes Bancos da Terra Nova. Depois das quais foi afastado dessa actividade (em 1935), por ter ficado demonstrado que era pouco rentável. Era um navio do mesmo tipo que o «Marité», um seu contemporâneo que ainda hoje existe e navega. O «Étoile de Noël» foi vendido, ao que parece, a um armador de Saint Malo (Auguste Craipeau), que o utilizou na pesca costeira até 1938. Nesse ano, foi parar à Jugoslávia, país onde tomou o nome de «Straza» e onde fez -até 1945- cabotagem ao longo da costa do mar Adriático. Depois desse ano perdeu-se o seu rasto.

«DE RUYTER»


Cruzador da marinha real neerlandesa. Foi o sétimo (mas não o último) navio de guerra dessa armada a receber o nome do famoso almirante e estratego batavo. Foi lançado à água em 11 de Março de 1935 pelos estaleiros Wilton Fijenoord, de Schiedam/Roterdão. Actuou, durante o segundo conflito generalizado, na defesa das chamadas Índias Orientais Neerlandesas, em coordenação com as forças navais dos Aliados que operavam nessa zona de guerra. O «De Ruyter» combateu na batalha do mar de Bali, travada a 4 Fevereiro de 1942, tendo sofrido alguns danos na sequência de um ataque aéreo nipónico. Uma vintena de dias mais tarde, a 27 de Fevereiro, esteve na batalha do mar de Java, sendo navio-chefe do almirante Karel Doorman. Mas, quis o destino que se atravessassem no seu caminho os cruzadores pesados japoneses «Nachi» e «Haguro», que -maiores e mais poderosos- não deixaram ao cruzador europeu a mínima oportunidade de escapar a um confronto letal. Atingido por um torpedo do «Haguro» por volta das 23 h 30, o «De Ruyter» afundou-se três horas mais tarde, arrastando para as profundezas do oceano Índico os 435 homens da sua guarnição, entre os quais se contavam o capitão do navio e o próprio almirante Doorman. Os destroços deste vaso de guerra foram encontrados e identificados já depois do fim do conflito. Algumas das suas relíquias foram recuperadas e entregues à armada holandesa. Entre esses objectos figura o sino do infortunado cruzador «De Ruyter», que é conservado na Kloosterkerk, a mais antiga igreja da Haia. Este navio e guerra (insuficientemente blindado) deslocava 6 545 toneladas e media 171 metros de comprimento por 15,70 metros de boca. Podia navegar à velocidade máxima de 32 nós e tinha uma autonomia (em marcha reduzida) de 6 800 milhas náuticas. Do seu armamento principal constavam 7 canhões de 150 mm, 10 peças antiaéreas e 2 hidros Fokker C-11W.

«BAHAMA»


Navio de linha da armada espanhola, também conhecido pelo nome do seu patrono : San Cristóbal. Foi construído em 1784 no arsenal de Havana. Deslocava 2 800 toneladas e media 53,50 metros de comprimento por14 metros de boca. Estava armado com 74 bocas de fogo. Foi realizado segundo o conceito de Gautier (arquitecto naval francês), que consistia em construir navios mais longos e menos largos, com a finalidade de lhes proporcionar maior velocidade. Técnica que acabaria por não resultar e foi abandonada a favor do sistema espanhol, que revelou ser mais seguro e não menos veloz. No historial deste navio -pertencente à classe ‘San Ildefonso’- regista-se, em 1797, uma perseguição movida no Mediterrâneo (sem êxito) ao HMS «Minerva», de 38 canhões, então sob o mando do comodoro Horácio Nelson. «O «Bahama» esteve, depois, nas batalhas do cabo São Vicente e de Trafalgar, sendo, nesta última, superiormente comandado por Dionísio Alcalá Galiano. Durante este renhido e decisivo embate contra a marinha real britânica, o «Bahama» ajudou a combater os navios inimigos «Bellerophon» (74 canhões) e «Colossus» (armado com igual número de peças de artilharia). A acção do vaso de guerra espanhol foi brilhante, pois combateu até ao limite das suas possibilidades. A sua guarnição sofreu 100 mortos (entre os quais o seu capitão) e 150 feridos, mas infligiu ao «Colossus» um número de baixas, até então inédito num navio de guerra de Sua Majestade Britânica. Capturado pelos ingleses, o «Bahama» foi levado para a Grã-Bretanha com a intenção de ser reutilizado enquanto navio de combate; mas as suas feridas de guerra eram de tal monta, que os vencedores de Trafalgar acabaram por renunciar em fazê-lo. Terminou os seus dias como prisão flutuante, sendo desmantelado, em Chatham, no ano de 1814.

«MAVI MARMARA»


Este navio, que ostenta actualmente bandeira das Comores, foi construído na Turquia pelos estaleiros da firma Türkiye Gemi Sanayi A.S.. É um ‘ferry’ com 4 142 toneladas de arqueação bruta, medindo 93 metros de comprimento por 20 metros de boca. O seu sistema propulsor é constituído por duas máquinas desenvolvendo uma potência de 4 400 Kw, que imprimem ao navio uma velocidade máxima de 10 nós. O «Mavi Marmara» tem capacidade para transportar 1 080 passageiros. Esteve, durante algum tempo, sob a administração comercial de uma transportadora turca, que o utilizou na linha Sarayburnu/Istambul-ilha de Mármara-ilha de Avsa. O navio foi adquirido, em 2010, por uma intitulada Fundação dos Direitos Humanos e da Liberdade e incluído na flotilha reunida por activistas de 37 países diferentes, que decidiram romper o bloqueio israelita às costas de Gaza e levar ajuda moral e humanitária à população desse território palestiniano. A viagem da flotilha foi interrompida por comandos das forças armadas de Israel, que abordaram as embarcações em águas internacionais; e que mataram 9 pessoas (todas de nacionalidade turca) e feriram dezenas de outras, nos violentos confrontos que provocaram. Além de terem apreendido material (produtos alimentares, medicamentos, brinquedos, livros, roupas, móveis, geradores eléctricos, cimento, etc) no valor de 20 milhões de dólares. Este incidente (que muita gente assimilou a um puro acto de pirataria) provocou grande celeuma internacional e contribuiu para degradar as relações, até então boas, existentes entre a Turquia e o estado judaico. O «Mavi Marmara» (no qual foram detectados 250 impactos de balas) acabou por ser liberdade pelos israelitas e voltou à Turquia no dia 26 de Dezembro de 2010, sendo recebido em Istambul com grandes manifestações de alegria por milhares de pessoas.

«NIASSA»


Paquete da Companhia Nacional de Navegação. Foi construído nos estaleiros Cockerill, de Hoboken (Antuérpia-Bélgica), em 1955. Era um navio com 16 330 toneladas de deslocamento, medindo 151,27 metros de comprimento por 19,44 metros de boca. Os seus cinco porões tinham capacidade para receber 13 250 m3 de frete diverso, incluindo 600 m3 de carga frigorífica; e as suas cabines podiam acomodar 22 passageiros em 1ª classe e 300 outros em classe turística. Tinha 132 tripulantes. A sua poderosa máquina diesel permitia-lhe atingir a velocidade de cruzeiro de 16 nós. A viagem inaugural do «Niassa» começou em Lisboa a 7 de Setembro de 1955 e levou o navio até aos portos da então África Oriental Portuguesa. Ainda nesse mesmo ano, o navio foi fretado pelo Ministério do Exército para transportar tropas e material bélico para o Extremo-Oriente e para as colónias africanas. Facto que se repetiu antes de eclodirem as chamadas guerras coloniais e que se acentuou nos anos 60 e 70 do século XX, enquanto decorreram esses conflitos em Angola, na Guiné e em Moçambique. Em Janeiro de 1973, quase dezoito anos depois de ter entrado ao serviço, o «Niassa» foi reclassificado pelos estaleiros de Glásgua (Escócia), voltando à carreira de África, alternando as viagens de carácter civil com os afretamentos militares. Depois da independência das colónias, o paquete limitou as suas viagens africanas ao arquipélago de Cabo Verde, para onde rumou até 1977. Afretado pela CTM, o navio fez 8 idas e volta à Madeira. Nos seus últimos tempos de vida, precisamente durante uma dessas viagens, o «Niassa» ainda se distinguiu, ao rebocar e salvar o cargueiro «Cedros», muito maltratado pelos efeitos de violento temporal que rebentou ao largo da costa portuguesa. Tornado obsoleto, o paquete foi desactivado em 1978 e vendido no ano seguinte a um sucateiro espanhol, que o mandou rebocar até Bilbau para demolição.

«SANTA PRINCESA»


Arrastão bacalhoeiro. Português a partir de 1939, ano em que foi adquirido a um armador do Havre (França) pela Empresa de Pesca de Aveiro. Foi construído pelo estaleiro Cox & Cº, de Falmouth (G.B.) para a sociedade La Morue Française et Sécheries de Fécamp e lançado à água, a 30 de Março de 1930, com o nome de «Spitzberg». Passou para a posse do supra-referido armador havrense por herança. Era um navio com 1 190 toneladas de arqueação bruta, medindo 70 metros de comprimento por 10,60 metros de boca, capaz de carregar cerca de 17 000 quintais de pescado por cada viagem. Em meados de Junho de 1936, quando se encontrava em St.Pierre e Miquelon, este arrastão foi devastado por um incêndio de grandes proporções e ficou semi-submerso devido à grande quantidade de água que foi necessário utilizar para extinguir as chamas. Considerado irrecuperável, foi vendido como sucata à EPA e rebocado para os estaleiros de São Jacinto, onde foi reconstruído. Voltou aos Grandes Bancos já com o nome de «Santa Princesa», mas, no início dos anos 40 (em plena guerra), também fez transportes de sal para as ilhas de Cabo Verde. Em 1949 entrou no estaleiro para substituir a sua velha máquina por um motor diesel de nova geração, um FIAT, que lhe permitia navegar à velocidade de 12 nós. Pescou bacalhau até 1967, sendo vendido, nesse ano, para Bissau. Mas, devido a problemas relacionados com o seu pagamento, o arrastão ficou retido no porto de Lisboa até 1974, ano em que seguiu para Bilbau (Espanha) para lá ser desmantelado. Curiosidade : o nome português do navio foi-lhe dado em honra da infanta Joana, filha de el-rei D. Afonso V e irmã do Príncipe Perfeito. Como é sabido, essa virtuosa senhora faleceu em Aveiro (no mosteiro de Jesus, hoje museu da cidade) no ano de 1490, sendo canonizada em 1693.

domingo, 26 de dezembro de 2010

«SWEEPSTAKES»


‘Clipper’de bandeira norte-americana construído no ano de 1853, em Nova Iorque, pelo estaleiro de Daniel & Aaron Westervelt. Pertenceu aos armadores Chambers & Heiser, também da cidade de Nova Iorque. O «Sweepstakes» foi um dos muitos veleiros do seu tipo realizados (em diferentes partes do mundo) para satisfazer o pedido de transportes de longo curso, depois da descoberta de ouro na Califórnia, em 1848. Este elegante e rápido navio media 66 metros de comprimento por 13 metros de boca. Bateu vários recordes de velocidade na rota que passava pelo temido cabo Horn. Cobria a distância entre o seu porto de registo e San Francisco em pouco mais de 90 dias. Mas, a mais conhecida e admirada dessas suas ‘performances’, foi a que o «Sweepstakes» estabeleceu em meados do ano de 1857, quando ligou Nova Iorque a Bombaim (na Índia) em apenas 74 dias de navegação. Este ‘clipper’ da costa leste era reconhecível pelo seu casco negro ornado com uma lista longitudinal dourada. Efectuou a sua derradeira viagem entre Adelaide (Austrália) e Batávia (então nas Índias Orientais Neerlandesas) em Maio de 1862, tendo ficado encalhado, durante 10 horas, num recife do estreito de Sonda. Colocado em doca seca e inspeccionado por uma comissão de peritos, o «Sweepstakes» foi considerado inapto à navegação oceânica e vendido para demolição.

CIRCASSIE»


Navio misto (passageiros/carga) de bandeira francesa, pertencente à frota da companhia C.N.P (Paquet), de Marselha. Foi construído em 1889 pelos estaleiros Courtlay Brothers, de Dundee (G.B.). Era um navio com 2 184 toneladas de arqueação bruta, que media 99,40 metros de comprimento por 11,40 metros de boca. A sua máquina a vapor de 1 750 cv, conferia-lhe uma velocidade de cruzeiro de 13 nós. O navio podia receber a bordo 560 passageiros. O «Circassie» foi colocado, inicialmente, na linha do mar Negro, mas não limitou a sua actividade a essa região da Eurásia. Prova disso, é a tela que o artista plástico Edouard Adam pintou do navio (em 1895) cruzando o estuário do Tejo, diante da torre de Belém. Com a eclosão da Grande Guerra, em 1914, o navio foi mobilizado pela marinha de guerra gaulesa e classificado como cruzador-auxiliar. As suas missões resumiram-se, no entanto e essencialmente, ao transporte de tropas e de material bélico. Em 1916, na companhia de outros navios franceses, participou na evacuação -para o porto de Brest- das tropas russas de Arkhangelsk. Depois do armistício ainda cumpriu outras missões de carácter militar, já que, de 1925 a 1926, o «Circassie» esteve envolvido (na qualidade de navio-hospital) nas operações do Riff e da Síria. Este navio foi desmantelado em Setembro de 1929, após 40 longos anos de serviço.

«CACILHENSE»


Este barco da frota da Transtejo, que assegura a ligação entre Lisboa e a outra banda, é cabeça de uma série de oito embarcações que compreende também o «Campolide», o «Dafundo», o «Palmelense», o «Seixalense», o «Sintrense», o «Madragoa» e o «Montes Claros». Entraram ao serviço entre 1980 e 1982, depois de terem sido, todos, construídos em estaleiros portugueses, a saber : pela Foznave (da Figueira da Foz), pela sociedade Argibay (de Alverca) e pelos Estaleiros Navais de São Jacinto (Aveiro). O «Cacilhense» (assim como todas as unidades da sua classe) tem um monocasco em aço, apresenta uma arqueação bruta de 304 toneladas e mede 29,20 metros de comprimento por 7,25 metros de boca . O seu calado é de, apenas, 1,80 metro. Este barco tem capacidade para 476 passageiros sentados, que podem distribuir-se por quatro amplos salões. Possui instalações sanitárias. O seu sistema propulsivo, constituído por um motor diesel (MTU 8V 396 TC) e por um hélice de passo variável, permite-lhe navegar à velocidade máxima de 10 nós. O «Cacilhense» é uma embarcação praticamente sem história, mas cuja utilidade é muito apreciada pelos milhares de viajantes (sobretudo trabalhadores) que todos os dias transpõem o Tejo com a segurança e o conforto relativo que este barco lhes proporciona durante a curta travessia do rio. Essa relação entre o povo e este e outros dos seus congéneres (que não é só utilitária) está bem patente nos versos das várias canções que prestam homenagem aos infatigáveis cacilheiros.

«PRESIDENT MASARYK»


Patrulheiro fluvial checoslovaco construído, em 1930, num estaleiro do rio Duna (Dunaj). Deslocava 230 toneladas e media 49 metros de comprimento fora a fora por 6 metros de boca. O seu calado era de apenas 1,10 metro. A propulsão do «President Masaryk» era assegurada por 2 turbinas a vapor e por 2 hélices. A sua velocidade ultrapassava os 30 km/hora. Estava armado com 4 peças de artilharia de 66 mm e com 2 metralhadoras de 7,92 mm, todas elas fabricadas pela firma Skoda. Transportava também 10 minas. Tinha uma tripulação de 3 oficiais, 3 sargentos e 32 praças. Baseada em Bratislava (na actual Repúbica da Eslováquia), esta embarcação exerceu funções de guarda-fronteira junto às raias húngara e austríaca; isto até 1939, ano da invasão da Checoslováquia pelos exércitos hitlerianos. A partir de então, com o nome de «Bechelaren», passou a integrar a flotilha (alemã) do Danúbio. Depois da libertação do país, este patrulheiro tornou a içar a bandeira nacional do seu país de origem e regressou à sua primitiva zona de acção. Já com o seu nome de baptismo. Sabe-se que, no início dos anos 50 do século XX, este barco serviu de apoio a uma companhia de engenharia do exército; e que foi retirado do serviço activo e parcialmente desmantelado, pelos estaleiros de Komárno, em 1956. Parece que o casco (ligeiramente blindado) do «President Masaryk» ainda serviu até 1978 como simples pontão. Esta unidade fluvial foi o maior barco militar que alguma vez arvorou o pavilhão tricolor da Checoslováquia.

«KRUZENSTERN»


Construído para a casa armadora de Ferdinand Laeisz, a famosa Flying P Line, este belíssimo veleiro começou por hastear bandeira alemã, por chamar-se «Pádua» e por servir no transporte de nitratos do Chile e de lã australiana. Foi construído em 1926 pelo estaleiro J.C. Tecklenborg, de Bremerhaven, e apresenta as seguintes dimensões : 114,60 m de comprimento por 14 m de boca. Desloca 4 700 toneladas, arma em barca (tem quatro mastros e pode arvorar 3 630 m2 de velas) e está equipado, desde 1961, com 2 motores auxiliares. Foi um dos maiores veleiros a dobrar o cabo Horn e um dos recordistas de velocidade do seu tempo. Em 1946 foi entregue à U.R.S.S. como parte das reparações de guerra devidas pela Alemanha. Passou, desde logo, a chamar-se «Kruzenstern», em honra do grande explorador russo do mesmo nome. Foi navio oceanográfico/hidrográfico por conta da Academia de Ciências da União Soviética, transitando, mais tarde, para a Academia de Marinha e, finalmente, para o Ministério das Pescas, exercendo, nestes dois últimos organismos, a função de navio-escola. A bordo do «Kruzenstern» já receberam formação mais de 15 000 cadetes. O seu actual porto de abrigo é o de Kalininegrado, no Báltico. Tem participado em prestigiosas concentrações de veleiros e em manifestações de grande impacto mediático, tais como o desfile naval de Nova Iorque em 1976 (que o veleiro russo encabeçou), realizado por ocasião do segundo centenário da independência dos Estados Unidos. Em 1995/1996 realizou uma memorável viagem de circum-navegação, que durou 308 dias e durante a qual o navio visitou 19 portos. Calcula-se que o «Kruzenstern» (que foi remodelado internamente, em 1993) já tenha percorrido 800 000 milhas náuticas. Permanece um dos veleiros mais atractivos que ainda sulcam mares e oceanos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

«ALCALÁ GALIANO»


Contratorpedeiro da armada republicana espanhola (durante toda a guerra civil) e, posteriormente, da marinha militar franquista. Pertencia à classe ‘Churruca’, que compreendia mais outros 15 navios. Dado por concluído em 1931 pelo S.E.C.N. de Cartagena, que o construiu, o «Alcalá Galiano» integrou, nesse mesmo ano, os efectivos da esquadra do Mediterrâneo. Era um navio de 2 067 toneladas (em plena carga), que media 101 metros de comprimento por 9,60 metros de boca. O seu sistema propulsivo permitia-lhe navegar à velocidade máxima de 36 nós. As suas armas principais eram 5 peças de 120 mm, 1 peça AA de 76 mm, 6 tubos lança-torpedos de 530 mm e 2 dispositivos para largar cargas de profundidade. Tinha uma guarnição de 160 homens. O «Alcalá Galiano» foi o único navio da frota republicana a tentar interceptar os comboios com tropas sublevadas, provenientes do norte de África. As suas tentativas foram frustradas por duas unidades da armada e por uma esquadrilha de aviões afectos aos rebeldes. Destacado como navio de escolta no Mediterrâneo, o «Alcalá Galiano» foi alvo -a 12 de Agosto de 1937- de um ataque desferido pelo submarino legionário (italiano) «Jalea» e de um ataque à bomba desencadeado -a 5 de Março de 1939- por cinco trimotores Savoia-Marchrti SM-79. Esta última intervenção da aviação transalpina, aliada do ‘generalíssimo’, causou-lhe danos que imobilizaram o navio até ao fim do conflito. Capturado pelas forças nacionalistas, o contratorpedeiro serviu até inícios dos anos 60 e foi desmantelado em 1963.

«KURTULUS»


Este cargueiro foi construído no estaleiro Caird & Purdie, de Barrow-in-Furness (G.B.) em 1883 e arvorou, inicialmente, bandeira do Reino Unido. Comprado por um armador da Turquia, em 1924, o navio teve -nesse país- três nomes distintos, sendo os primeiros «Tesvikiye» e «Bülent». Era um navio com 2 735 toneladas de arqueação bruta e com 75,50 metros de comprimento destinado a carga diversa. Aquando da ‘grande fome’ na Grécia (no início dos anos 40 do século XX, provocada, simultaneamente, pela ocupação alemã e pelo bloqueio britânico), o navio foi afretado aos armadores Tavilzade pelo governo turco, que decidira oferecer aos seus vizinhos (e nem sempre amigos) uma ajuda alimentar, ao mesmo tempo que se responsabilizava pela entrega, ao povo grego, dos géneros que chegavam a Istambul, em proveniência do estrangeiro. Benefiando da boa vontade das nações beligerantes, o navio «Kurtulus», que ostentava o símbolo da Cruz Vermelha, fez quatro viagens para o porto do Pireu, onde descarregou 6 735 toneladas de alimentos. Mas, no decorrer da quinta viagen, o navio foi assaltado por uma violenta tempestade no mar de Mármara e empurrado contra a costa rochosa, onde se perdeu. O desastre, ocorrido na manhã do dia 21 de Fevereiro de 1942, não provocou mortes, já que os 34 membros de equipagem do navio turco puderam atingir a terra firme, sãos e salvos. Apesar da perda do «Kurtulus», a Turquia não deixou de enviar ajuda humanitária à Grécia, graças à contribuição de outras unidades da sua marinha mercante. Esse precioso auxílio não impediu, no entanto, que (nesses anos de guerra) morressem de fome uns 300 000 gregos, segundo a estimativa do historiador Mark Mazower.

«FRIENDSHIP»


Este navio parece ter sido lançado à água por volta de 1780. Sabe-se que deslocava 278 toneladas, mas desconhecem-se as suas principais características, incluindo as suas dimensões. Foi fretado pelo governo britânico em Maio de 1787 para integrar a frota composta por uma dúzia de embarcações, que iria transportar para a Austrália as primeiras levas de criminosos condenados ao degredo pelos tribunais de Londres e de outras cidades do reino. Na sua primeira viagem, o «Friendship» embarcou só mulheres. Mas, devido à ‘íntima confraternização’ que algumas delas estabeleceram com marinheiros de bordo (facto que valeu açoites, por falta disciplinar, a quatro marujos), as desterradas foram transferidas para outros navios, durante a escala que o «Friendship» fez em Capetown. E o navio acabou por chegar a Botany Bay, na distante ilha-continente com um carregamento de ...ovinos. Sabe-se que, na viagem de regresso à Grã-Bretanha, foram os próprios marinheiros deste navio (furiosos com os maus tratos recebidos a bordo) que o afundaram (em data do 28 de Outubro de 1788) no estreito de Macassar. Os tripulantes do «Friendship» que não desertaram, foram transferidos para outro navio da frota, o «Alexander». A dita frota (que fez várias viagens à Austrália com condenados) era superiormente comandada pelo capitão Arthur Phillip, da ‘Royal Navy’.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

«BAHIA»


Navio de rodas brasileiro pertencente à frota da Companhia de Navegação a Vapor. Era um navio misto (porque o seu sistema propulsivo também compreendia velas) construído, em ano indeterminado, pelos estaleiros Palmers de Jarrow-on-Tyne (Inglaterra). O «Bahia» media 74 metros de comprimento por 8 metros de boca e assegurava carreiras entre os portos do Nordeste e do Sudeste do país. Este navio vogava -na noite de 24 de Março de 1887- ao largo da costa pernambucana (na direcção norte-sul), quando foi violentamente abalroado por outro vapor de rodas de bandeira brasileira, o «Pirapama», da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira. E isso, apesar do «Bahia» se mover em mar calmo, por tempo perfeitamente claro e de ter executado mudanças de rumo para evitar a colisão. A dita (que ocorreu depois das 23 horas), provocou um rombo de grande dimensão no costado do «Bahia», que acabou por naufragar em apenas 10 minutos. O vapor levava a bordo um carregamento de café e mais de duzentas pessoas, entre as quais se contavam elementos do15º Batalhão de Infantaria do Exército. A maioria dos passageiros do vapor da C.N.V., acomodada nos seus camarotes, só se apercebeu do desastre quando se produziu o choque entre os dois navios. Apesar de terem acorrido ao lugar do sinistro algumas jangadas e outros barcos, que puderam salvar alguns náufragos, o abalroamento (com subsequente afundamento do «Bahia») vitimou dezenas e dezenas de pessoas, entre as quais se contava o seu comandante. Disse o povo (sem que isso tivesse sido alguma vez confirmado oficialmente) que o embate fora deliberadamente provocado pelo comandante do «Pirapama», cuja mulher terá tido uma relação amorosa com o seu colega do «Bahia». Um poeta do tempo -Seguro Wanderlei- até chegou a popularizar essa tese (pouco credível) num dos seus poemas. Os restos do «Bahia» jazem ao largo de Pedras Rubras, a uns 25 metros de profundidade, e são, hoje, um dos sítios de mergulho desportivo preferidos dos brasileiros.

«BATORY»


Paquete polaco construído em 1935 pelos Estaleiros Reunidos do Adriático, de Monfalcone (Itália). Pertenceu à frota da companhia Polska Zegluga Morska, mais popularmente conhecida por Gdynia América Line (futura Polish Ocean Line). Este navio era o irmão gémeo do «Pilsudski», realizado pelo mesmo estaleiro para a linha de Nova Iorque. Deslocava cerca de 15 000 toneladas e media 160,30 metros de comprimento por 21,60 metros de boca. O seu sistema propulsivo desenvolvia 14 000 cv de potência e a sua velocidade máxima era de 18 nós. Este navio encontrava-se fora da Polónia, quando o país foi ocupado pelos exércitos hitlerianos. Colocado sob bandeira britânica, o «Batory» foi transformado em transporte (armado) de tropas e participou em inúmeras missões de grande interesse para os Aliados. Mas aquela que, sem dúvida, mais honrou a sua tripulação, foi a de ter assegurado o transporte transatlântico -entre Greenock (G.B.) e Halifax (Canadá)- de parte substancial do tesouro nacional polaco, que, assim, foi colocado longe da cobiça dos invasores alemães. O paquete voltou à sua carreira civil em 1946, ano em que tornou a navegar (depois de renovado) com a bandeira alvi-rubra do seu país. Como, durante a chamada ‘guerra fria’ o antigo porto de destino (Nova Iorque) se mostrou hostil, a companhia armadora do «Batory» decidiu colocá-lo numa linha que tinha como porto de partida Gdynia e terminava em Carachi, com escalas em Southampton, Suez e Bombaim. Mas a crise de Suez de 1956 e o fecho do canal forçá-lo-iam a regressar à América do norte, a uma carreira que tinha por término os portos de Montreal ou Halifax (este no inverno). Em 1969, a sua evidente vetustez obrigam-no à imobilização no seu porto de registo, onde foi transformado em hotel flutuante. E, dois anos mais tarde (em Maio de 1971) o histórico «Batory» chegou a Hong Kong, para ali ser desmantelado, terminando, assim, uma vida longa, útil e gloriosa.

«CASSEQUEL»


Cargueiro construído em 1901 na Grã-Bretanha (pelo estaleiro William Gray & Co, de West Hartlepool) para a poderosa companhia armadora alemã HAPAG. O seu primeiro nome foi «Numantia». Por causa da 1ª Guerra Mundial, o navio refugiou-se, em 1914, no porto de Mormugão (na antiga Índia Portuguesa), onde foi apresado em 1916 pelas autoridades locais, que obedeceram a ordens do governo de Lisboa. O navio passou, desde logo, a integrar-se na frota dos Transportes Marítimos do Estado e a denominar-se «Pangim». Depois da liquidação dessa sociedade, o navio foi adquirido pela Companhia Colonial de Navegação, que lhe deu o nome de «Cassequel» e o colocou na linha regular que mantinha entre a capital portuguesa e os portos da África Ocidental sob administração colonial lusa. Em Agosto de 1933, o navio sofreu graves avarias na sequência de um incêndio que deflagrou a bordo, durante uma viagem entre Angola e São Tomé. Levado para Lisboa, o «Cassequel» entrou nos estaleiros da CUF, onde foi reparado e remodelado; ficando apenas com dois dos seus três mastros iniciais, já que se suprimiu o de meia-nau. E, em 14 de Dezembro de 1941 (em plena 2ª Guerra Mundia), este navio de 4 751 tb e com 122 metros de comprimento, foi interceptado -quando viajava para África- por um submarino germânico. Que, apesar de ter todas as garantias de se tratar de um mercante neutro, intimou a sua tripulação (de 48 homens) e os seus passageiros (9 pessoas, entre as quais se encontravam 2 senhoras) a embarcarem nas baleeiras, antes de afundar o «Cassequel» com o lançamento certeiro de dois torpedos. Este injustificado acto de guerra teve lugar a 250 milhas a sudoeste do cabo São Vicente. O autor do ataque foi o capitão de corveta Scholz (futuro oficial superior da armada da R.F.A.), que comandava o «U-108». Os ocupantes do navio português, socorridos pelo inglês «Champion», conseguiram arribar a Gibraltar, de onde foram ulteriormente transferidos para Portugal. Curiosidade : o submarino «U-108» seria afundado pelos Aliados em 1944, no mar Báltico, quando se encontrava sob o mando de um outro capitão.

«LADY WASHINGTON»


Assim chamado em honra da esposa do primeiro presidente, o «Lady Washington» foi um brigue americano de 178 toneladas, construído no Massachusetts em data incerta do último quartel do séculoXVIII. Saiu do porto de Boston no dia 1 de Outubro de 1787, dobrou o tormentoso cabo Horn e atingiu a Califórnia; de onde encetou uma carreira comercial, que o levou a percorrer toda a costa oeste dos actuais Estados Unidos e a visitar a China; de onde trouxe, sobretudo, chá e porcelanas. Foi também o primeiro navio norte-americano a chegar ao Japão, país onde tentou, infrutiferamente, comercializar peles provenientes do chamado Novo Mundo. Era, ao que parece, um veleiro com 21 metros de comprimento por um pouco mais de 3 metros de boca. Os seus dois mastros podiam arvorar 410 m2 de velas. Uma réplica (à escala 1/1) deste brigue histórico foi construída em Aberdeen, no estado de Washignton, em 1989. O novo veleiro, que percorre anualmente toda a costa americana do Pacífico, é uma espécie de embaixador itinerante, divulgando a história do navio pioneiro e a da colonização das regiões mais ocidentais do país. Foi-lhe, por isso, atribuído o título oficioso de ‘Washington State Tall Ship Ambassador’. Outra curiosidade ligada à réplica em questão, tem a ver com o facto de a dita ter participado em vários filmes, nomeadamente numa película da série «Piratas das Caraíbas».

«VINH-LONG»


Inaugurado em 1883, este transporte de tropas coloniais foi construído em Bordéus pela sociedade Chaigneau & Bichon. Devido às doenças de natureza parasitária e bacteriológica contraídas pelos soldados europeus em territórios tão longínquos como a África negra e a Indochina, o «Vinh-Long» foi dotado, desde início, com instalações sanitárias especializadas no seu tratamento. Esta unidade mista (vapor/vela) da armada francesa deslocava 5 450 toneladas e media 107 metros de comprimento por 15 metros de boca. A sua guarnição era constituída por 260 homens, 12 dos quais eram oficiais. O navio, que estava preparado para receber 260 doentes e/ou feridos, dispunha ainda de um corpo sanitário composto por 3 médicos, 1 farmacêutico e 6 enfermeiros. O «Vinh-Long» teve uma carreira particularmente activa. Em 1895 foi utilizado nas operações de Madagáscar. Assegurou transportes sanitários entre a China e a Europa, durante a guerra dos Boxers. Em finais da primeira década do século XX, o navio operou em águas do norte de África, dando apoio hospitalar às tropas francesas e assegurando-lhes fornecimento de água potável e transporte. Mais tarde, durante a 1ª Guerrra Mundial, o «Vinh-Long» (já remodelado, com maior capacidade e dispondo de bloco operatório e de sala de radiologia) conduziu tropas para o teatro de operações dos Dardanelos e funcionou como navio-hospital. Foi nessas condições que, em pouco mais de um ano, o já antiquado transporte realizou 19 viagens sanitárias entre Salónica e os portos de Bizerta (no protectorado francês da Tunísia) e Toulon. Este navio sobreviveu ao conflito, mas, em 16 de Dezembro de 1922, quando navegava nas águas do mar de Mármara com cerca de 500 tripulantes e passageiros a bordo, o «Vinh-Long» incendiou-se. Graças à intervenção do navio de guerra norte-americano «Bainbridge» (sob o comando do capitão Edwards), que o seguia de perto e o abordou, foi possível salvar a maioria dos passageiros do velho transporte francês. Feito o balanço definitivo do sinistro, contaram-se, apenas, 13 vítimas. Curiosidade : o nome dado a este navio era o de uma vasta região da Indochina (então colónia francesa), situada no delta do Mekong.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

«BOLZANO»


Cruzador da armada italiana. Construído nos estaleiros Ansaldo, de Génova, em 1932, o «Bolzano» pertencia à classe ‘Trento’, mas modificações ulteriores afastaram-no das características ‘standard’, dessa série de cruzadores; ao ponto de certos especialistas o considerarem um navio único. Deslocava 13 885 toneladas em plena carga e media 196,60 m de comprimento por 20,60 m de boca. O seu sistema de propulsão integrava 10 caldeiras, 4 turbinas e 4 hélices. A sua velocidade máxima era de 35 nós e a sua autonomia de 4 460 milhas náuticas, com andamento estabilizado a 16 nós. O armamento principal do cruzador «Bolzano» era constituído por 8 peças de artilharia de 203 mm, por 16 peças de 100 mm e por 8 tubos lança-torpedos de 533 mm. Transportava 3 hidroaviões Piaggio P6. Uma das vulnerabilidades do navio tinha a ver com a sua fraca protecção blindada, que não ultrapassava os 100 mm na torre de comando ou 50 mm no casco. O navio tinha uma guarnição de 725 homens. O «Bolzano» participou em quase todas as grandes batalhas navais travadas no mar Mediterrâneo contra a ‘Royal Navy’ -Malta, Punta Stilo, Cabo Teulada, Cabo Matapão, etc- sendo alvejado (com êxito) pelo adversário várias vezes. Atingido gravemente por três salvas da marinha inglesa (num confronto ocorrido ao largo da Calábria) e, depois, por torpedos expedidos pelo HMS «Triumph» (em 1941) e pelo HMS «Unbroken» (em 1942), o «Bolzano» foi conduzido ao arsenal de La Spezia, onde deveria ser transformado em porta-hidroaviões, à semelhança do que os japoneses fizeram com o «Mogami». Capturado pelos alemães depois da queda do regime mussouliniano, o navio foi sabotado por forças da resistência italiana em Junho de 1944. E foi desmantelado depois do armistício de Maio de 1945.

«SAN TELMO»


Este navio de linha espanhol da classe ‘San Ildefonso’ foi desenhado pelo engenheiro naval Romero Landa e construído em 1788 no Ferrol, pelos Estaleiros Reais de Esteiro. Delocava 2 750 toneladas e media 52 metros de comprimento por 14,50 metros de boca. Este vaso de guerra, como aliás os outros cinco navios da sua classe, foram dotados com 74 canhões distribuídos por duas cobertas. A sua guarnição elevava-se a 640 homens, parte dos quais pertencia à infantaria de marinha (fuzileiros). O «San Telmo» era considerado um navio equilibrado, rápido (velocidade máxima estimada de 14 nós) e manobrável, características que faziam dele uma das melhores unidades da armada espanhola de finais do século XVIII. Pertenceu, inicialmente, à chamada Esquadra do Oceano, que tinha a sua base no Ferrol, passando mais tarde para o Mediterrâneo. Não chegou a participar na batalha de Trafalgar, pelo facto de se encontrar em reparações no arsenal de Cartagena, quando se travou o dito confronto com as forças de Nelson. Em 1819 (contando já o «San Telmo» 30 anos de vida), o navio foi integrado Divisão Naval do Sul enviada pelo rei Fernando VII a Callao (Peru) para tentar contrariar as veleidades de independência dos territórios espanhóis da América do sul. Mas, devido a uma medonha tempestade, o ainda poderoso vaso de guerra não conseguiu dobrar o cabo Horn e optou por seguir uma rota para sul, na esperança de encontrar condições mais favoráveis para passar para o oceano Pacífico. Foi avistado pela última vez por um outro navio da frota -o «Primorosa Mariana»- a 2 de Setembro desse mesmo ano de 1819, navegando no meio de violento temporal, na posição 62º de latitude austral e 70º de latitude oeste, calculada pelo meridiano de Cádiz. Presume-se que o «San Telmo» e respectiva guarnição se tenham perdido nas proximidades da Antárctida; até porque, anos mais tarde, elementos das expedições britânicas de William Smith e de James Weddell encontraram os restos de um navio espanhol naufragado perto da costa setentrional do sexto continente, que podem bem ser as do malogrado vaso de guerra de el-rei Fernando VII.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

«EBORENSE»


Conhecido ‘ferry’ da frota cacilheira. É o barco de transporte de passageiros mais antigo a operar entre as duas margens do Tejo. Foi construído pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, que o lançaram à água no dia 12 de Novembro de 1954. É gémeo do «Alentejense», cuja realização data de 1957. Pertenceu, sucessivamente, à Parceria de Vapores Lisbonenses (de 1954 a 1957), à Sociedade Marítima de Transportes (de 1957 a 1975 ) e, desde este último ano, à Transtejo, empresa que acabou por concentrar toda a actividade de transporte de passageiros no estuário do maior rio ibérico. Esteve imobilizado algum tempo, em finais dos anos 80 e inícios da década seguinte, altura em que se submeteu a diversos trabalhos de modernização e em que recebeu uma nova motorização. Que é agora constituída por 2 máquinas diesel MTU/Mercedes com uma potência global aproximando os 1 000 cv. A velocidade do «Eborense» é, actualmente, de 11 nós. Este ‘ferry’, que pode receber 346 passageiros e 30 viaturas ligeiras, tem uma arqueação bruta de 460 toneladas e mede 50,25 m de comprimento por 11,20 m de boca. O seu calado não ultrapassa os 2,10 m. Presume-se que, com a venerável idade de 56 anos (em 2010), o «Eborense» seja substituído, num futuro próximo, por uma unidade mais moderna e mais funcional. Entretanto, este barco de trabalho, quase sem história, cumpriu -inteiramente- a missão para a qual foi consebido : transportar, entre a capital portuguesa e a outra banda, muitos milhares de trabalhadores e de veículos automóveis, que antes da construção da ponte 25 de Abril (1966) não tinham outra alternativa para cruzar o Tejo.

«ADMIRAL»


Barco fluvial registado no porto de São Luís do Missouri. Com os seus 114 metros de comprimento por 28 metros de boca, o «Admiral» é a maior embarcação destinada ao transporte de passageiros que jamais sulcou os rios dos Estados Unidos. O seu casco de aço está compartimentado em 74 espaços estaques, podendo o barco flutuar com 63 deles inundados. Tem cinco conveses e capacidade para receber 4 400 pessoas. Toda a sua moderna super-estructura foi construída em aço inoxidável, enquanto os interiores foram (inicialmente) decorados em estilo ‘Art Nouveau’. O «Admiral» custou 1 milhão de dólares, o que, para a época, era uma soma fabulosa. O barco -destinado a viagens turísticas no Mississippi e nos mais importantes dos seus afluentes- foi concebido pela arquitecta Maizie Krebs e construído, entre 1938 e 1940, no estaleiro da firma Streckfus Steamers Inc., de São Luís (St. Louis). As suas velhas máquinas a vapor foram substituídas, em 1974, por propulsores diesel. O «Admiral» foi o primeiro barco do Mississippi a ser completamente climatizado. No início dos anos 90, o «Admiral» funcionava como casino flutuante, oferecendo aos seus utentes 1 230 ‘slot machines’ (caça-níqueis) e 59 mesas de jogo. Para além de um restaurante, bares e outros atractivos. Mas a sua exploração comercial nunca foi um sucesso e esta extraordinária embarcação foi passando pelas mãos de diferentes proprietários. Pertence, desde 2008, à sociedade Pinacle Entertainement, que, para a rentabilizar, encara a possibilidade de a mudar de lugar. Ou vendê-la.

«S-13»


Submarino soviético da classe ‘S’. Construída em 1939, esta unidade só foi oficialmente integrada na armada vermelha no dia 31 de Julho de 1941. Deslocava 1 067 toneladas em imersão e media 77,80 metros de comprimento por 6,40 metros de boca. Como todos os submersíveis do seu tempo, o «S-13» movia-se graças a um conjunto de motores diesel e eléctricos. A sua velocidade máxima à superfície era de 19,5 nós e de 9 nós em imersão. Podia mergulhar a uma profundidade de 100 metros. Estava armado com 2 peças de artilharia -uma de 100 mm e outra de 45 mm- e com 6 tubos lança-torpedos de 530 mm. A sua guarnição era constituída por 50 homens, oficiais incluídos. Pertenceu à frota do Báltico e a sua base era em Kronstadt. Em 15 de Outubro de 1942, este submarino foi surpreendido (quando, à superfície, carregava baterias) e atacado por dois navios de guerra finlandeses e obrigado a efectuar um mergulho de emergência. Alvejado por cargas de profundidade, o «S-13» bateu no fundo e danificou seriamente o leme. Conseguiu, no entanto, sair dessa situação delicada e voltar à base, onde foi reparado. Mas este navio é, sobretudo, conhecido por ter torpedeado e afundado (quando se encontrava sob o mando do capitão Aleksander Marinesko) o paquete alemão «Wilhelm Gustloff» ao largo da costa polaca do mar Báltico. No soçobro do transporte germânico (ocorrido em 30 de Janeiro de 1945) morreram mais de 5 000 pessoas (umas 9 000, segundo certas fontes) : refugiados, soldados retirados da frente leste (devido ao avanço irresistível do Exército Vermelho), doentes e feridos, etc. Este afundamento, que é, até hoje, a maior catástrofe marítima de sempre, foi muito criticado, até pelos próprios Aliados. Diga-se, a descargo da consciência de quem provocou tal drama, que o capitão do submarino russo ignorava a natureza da carga transportada pelo navio-alvo, julgando tratar-se de um banal transporte de tropas. No dia 10 de Fevereiro do último ano da guerra, o «S-13» voltou às páginas dos jornais por ter mandado para o fundo o «General von Steuben», outro transporte alemão, no qual pereceram mais umas 3 500 pessoas. O «S-13» foi, assim, o submarino que mais vítimas causou durante a sua carreira bélica. Triste record…

«BELEM»


Veleiro francês de três mastros, construído pelo estaleiro Dubigeon, de Nantes, no ano de 1896. É o mais antigo navio europeu do seu tipo ainda em estado de navegar. Arma em barca e pode arvorar panos com uma superfície da ordem dos 1 200 m2. Desloca 750 toneladas e mede 58 metros de comprimento fora a fora por 8,80 metros de boca. Foi concebido como cargueiro, para operar -por conta da companhia armadora Denis Crouan et Fils- no comércio do cacau com o Brasil. Daí o seu nome. Fez 33 viagens transatlânticas de ida e volta à América do Sul e às Antilhas até 1914, ano em que foi considerado obsoleto pelo seu proprietário e retirado do activo. Consta, no seu historial, que, em 1902, aquando de uma viagem à Martinica, o «Belem» foi impedido de entrar no porto de Saint Pierre por falta de espaço, vendo-se obrigado a ir fundear relativamente longe desse local. Incidente que o salvou dos efeitos devastadores provocados pela explosão da montanha Pelée; que causou horrível mortandade e destruiu todos os navios presentes em Saint Pierre. O «Belem» recolheu, aliás, um dos três sobreviventes dessa catástrofe sem precedentes na história da ilha.
O navio foi comprado em Fevereiro de 1914 pelo duque de Westminster, que o transformou em iate de luxo. Foi este seu proprietário que o dotou com 2 máquinas auxiliares de 250 cv. Em 1921 passou a ser propriedade do multimilionário Arthur E. Guiness (o rei da cerveja), que lhe deu o nome de «Fantôme II» e o utilizou em longas viagens, de entre as quais se deve evocar uma volta ao mundo, via canais de Suez e Panamá. Depois da morte de ‘sir’ Arthur, o navio esteve refugiado na ilha de Wight, onde sofreu algumas avarias durante a 2ª Guerra Mundial. Vendido, em 1952, à Fundação Cini, o «Belem» rumou a Veneza. Em 1972, o venerável navio foi vendido (por 1 Lira simbólica) ao corpo de ‘Carabinieri’, que o utilizou, durante um tempo, como navio-escola. Sete anos mais tarde, o navio foi comprado pela associação (francesa) ASCANF, graças ao apoio financeiro de um grande banco estatal. Em 1980 foi cedido à Fundação Belém, que organizou um peditório nacional, a fim de poder dispor de fundos para reabilitar o navio. Que, hoje, apresenta o seu aspecto original e dispõe do estatuto oficial de ‘monumento histórico’. Participou em várias e grandes manifestações nacionais e internacionais, tais como a organizada pelo 1º aniversário da Estátua da Liberdade (Nova Oorque, 1986), concentrações de grandes veleiros (Rouen, Brest, etc), a comemoração dos 400 anos da viagem de Samuel de Champlain (Quebeque, 2008) e outras mais. Tendo como porto de abrigo o da cidade de Nantes (onde foi construído há mais de um século) o «Belem» viaja, também, com grupos de jovens desejosos de descobrir as técnicas e o ambiente da navegação de outrora. O navio tem uma tripulação permanente de 16 homens e pode receber até 48 jovens estagiários.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

«PRESIDENT COOLIDGE»


Luxuoso paquete de bandeira norte-americana, construído, em 1931, para o armador Dollar Steamship Lines, nos estaleiros da casa Newport News Shipbuilding & Cº (Virginia). Foi concebido para assegurar uma carreira regular entre a cidade californiana de San Francisco e o Japão. Com 22 000 toneladas de arqueação bruta, o «President Coolidge» media 199 metros de comprimento por 24,70 metros de boca e estava preparado para receber cerca de 500 passageiros divididos por duas classes. Teve um navio gémeo : o «President Hoover». Depois de uma carreira civil sem incidentes dignos de menção (salvo, talvez, o facto de ter sido o último navio a avistar -a 23 de Março de 1939- o «Sea Dragon», junco do aventureiro e escritor Richard Halliburton), o «President Coolidge» foi mobilizado no ano de 1941 -depois do ataque contra Pearl Harbour- pelo departamento da guerra dos E.U.A.. Passou, desde então, a transportar tropas para os diferentes teatros de operações da guerra do Pacífico, chegando a acomodar no seu bojo mais de 5 000 soldados por viagem. A 26 de Outubro de 1942, quando o navio se encontrava no canal de acesso ao único porto da ilha de Espírito Santo (arquipélago de Vanuatu), chocou com uma das minas que defendiam essa base americana de uma eventual tentativa de desembarque nipónica. O navio, atingido na casa das máquinas, adornou e acabou por afundar-se, jazendo a menos de 20 metros de profundidade. O «Presidente Coolidge» levou cerca de 90 minutos a soçobrar, tempo mais que suficiente para que se salvasse toda a sua tripulação mais os 5 340 homens de tropa que transportava. Na realidade, apenas perderam a vida um marinheiro (morto pela explosão) e um capitão do exército que quis socorrer dois dos homens da sua unidade e que acabou por pagar caro esse seu acto de abnegação. Transformado, pela natureza, num recife artificial, o «Presidente Coolidge» transformou-se, ao longo dos anos, num sítio paradisíaco para a fauna marinha local, mas também para os mergulhadores desportivos. A recuperação de artefactos tendo pertencido ao navio foi proibida, em 1983, pelo governo local.

«BRITISH QUEEN»


Paquete de propulsão mista (vapor/vela) construído pelo estaleiro londrino Curling & Young, para satisfazer a encomenda de uma nova sociedade de transportes marítimos : a British and American Steam Navigation Company. Tinha três mastros (com velame configurado em barca) e duas rodas laterais acopladas ao sistema propulsivo, constituído por 1 máquina Napier. Este bonito navio (com 1 850 toneladas de arqueação bruta e medindo 75 metros de comprimento por 12 metros de boca) realizou a sua viagem inaugural em 1839, entre a Inglaterra e a costa leste dos Estados Unidos. O seu nome prestava homenagem à rainha Vitória. Apesar de nunca ter arrebatado a famosa e cobiçada flâmula azul, o «British Queen» foi um dos navios mais rápidos do seu tempo a cruzar as águas do Atlântico norte. Fez nove idas e voltas à América, antes de ser vendido a uma companhia estatal belga, interessada em abrir a linha regular Antuérpia-Cowes-Nova Iorque. A transação comercial em causa realizou-se na sequência do colapso económico do primeiro armador do «British Queen», ocorrido após o naufrágio (sem sobreviventes) de um outro dos seus navios : o «President». Com a bandeira belga (mas conservando o seu nome de origem), o navio fez apenas três viagens transatlânticas, vendo-se obrigado a reabastecer nos Açores aquando da derradeira dessas travessias; depois das quais ficou imobilizado no porto de Antuérpia. Foi desmantelado em ano que desconhecemos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

«OYODO»


Cruzador da armada japonesa, construído em 1942/1943. Deslocava 8 200 toneladas e media 192 metros de longitude por 16,60 metros de boca. O seu sistema propulsivo, que integrava 4 turbinas e 6 caldeiras (mais 4 hélices) desenvolvia uma potência de 110 000 cv e permitia-lhe navegar à velocidade máxima de 35 nós. Do seu armamento principal constavam 6 canhões de 155 mm, 8 de 100 mm e 12 peças AA de 25 mm (52, por acréscimo, em fim de carreira). Concebido como navio reconhecimento avançado, o «Oyodo» deveria receber 6 hidroaviões e respectivo equipamento de catapultagem e recolha dessas aeronaves. Finalmente, só operou com 2 desses aparelhos. A sua guarnição era de 600 homens. Não foi considerado um navio de primeira linha e a sua participação na guerra contra os norte-americanos foi muito limitada. Apesar disso, a sua configuração inspirou a realização dos ‘destroyers’ lança-mísseis/porta-helicópteros da marinha nipónica contemporânea. O «Oyodo» foi destruído pelas bombas da aeronaval dos Estados Unidos no dia 28 de Julho de 1945, quando se encontrava fundeado no porto de Kure. Assim como o foram os últimos navios daquela que fora, uns anos atrás, uma temível potência naval.

«YOUNG AMERICA»


Veleiro norte-americano do século XIX. Foi construído em 1853 no estaleiro de William H. Webb, de Nova Iorque, por encomenda do armador George B. Daniels, da mesma cidade. Até 1880 teve cinco proprietários distintos, sendo os dois últimos de San Francisco. E, em 1883, o navio foi adquirido por um cidadão de nacionalidade austro-húngara por um montante que nos parece, hoje, irrisório : 13 500 dólares. Durante esses mais de 30 anos de vida o «Young América» percorreu mares e oceanos, desde a costa leste dos ‘States’ até à Europa, da Califórnia ao Extremo-Oriente e à Austrália, da Oceânia até ao Brasil, batendo vários records de velocidade entre estes diferentes e longos trajectos. Nesse tempo, este magnífico veleiro -com três mastros, 1500 toneladas de deslocamento e 74 m metros de comprimento por 13 metros de boca- transportou de tudo : chá, açúcar, lã, ramas de petróleo, emigrantes, etc. Por três vezes o «Young América» se viu envolvido por tempestades medonhas, no decorrer das quais perdeu os mastros e sofreu outros estragos de monta. Mas sempre sobreviveu. Até que, no dia 17 de Fevereiro de 1886, o já então chamado «Miroslav» foi visto pela última vez no porto de Filadélfia, antes de empreender mais uma travessia transatlântica. Seguia viagem para Fiume (hoje Rijeka, na Croácia), sob o comando do capitão Vlassich, com um carregamento de 9 700 barris de petróleo bruto, que valia 27 000 dólares. Desapareceu no vasto oceano em data (desse mesmo ano de 1886) e em circunstâncias que nunca foram apuradas.

«ADMIRAL MAKAROV»


Quebra-gelos russo de propulsão convencional. Foi construído num estaleiro de Helsínquia (Finlândia), no ano de 1975, ainda no tempo da União Soviética. Operou até 2006 no Báltico e mares do Árctico ocidental. Desloca 14 000 toneladas e mede 135 metros de comprimento por 26 metros de boca. O seu sistema propulsor é constituído por máquinas diesel e eléctricas. O «Admiral Makarov» pode atingir a velocidade máxima de 20 nós em mar aberto. Actualmente pertente à frota da FESCO (Far Eastern Shipping Company), que o tem utilizado nos mares adjacentes do extremo-oriente russo, a partir do porto de Vladivostok. A sua tarefa tem sido particularmente apreciada pelas tripulações dos petroleiros que cruzam as vias marítimas do Grande Norte, regiões onde nunca poderiam circular no período invernal sem a preciosa ajuda do «Makarov» e dos seus congéneres. O primeiro comandante deste navio, que se imagina em fim de carreira, foi o capitão Vadim Ivanovitch Abonosimov, uma figura quase lendária da história dos quebra-gelos e da navegação em mares gelados. E que -pela sua excepcional carreira- foi agraciado com as mais altas condecorações, tanto soviéticas como russas.

«DUNKERQUE»


Cruzador pesado da marinha militar francesa. Foi construído no arsenal de Brest, que o lançou à água no dia 2 de Outubro de 1935. Dado como terminado em 1937, o «Dunkerque» integrou os efectivos da armada nesse mesmo ano. Era um soberbo navio de 30 750 toneladas (em plena carga), com 214 metros de comprimento por 31 metros de boca. O seu sistema propulsivo compreendia 6 caldeiras, 4 turbinas (desenvolvendo 130 000 cv de potência) e 4 hélices. Podia navegar à velocidade de 31 nós e o seu raio de acção era de 7 500 milhas náuticas. A blindagem do «Dunkerque» era satisfatória e o seu armamento constituído por 8 canhões de 330 mm, por 16 canhões de 130 mm, e por uma multitude de peças de menor calibre, incluindo 8 AA de 37 mm. Estava dotado com um dispositivo de catapultagem e recolha de hidroaviões. Contava com uma guarnição de 1 500 homens. Teve um gémeo : o «Strasbourg». Imediatamente após a declaração de guerra à Alemanha, este cruzador participou na perseguição aos corsários nazis actuando no Atlântico. Em Abril de 1940, o «Dunkerque» foi integrar a força naval do almirante Gensoult baseada em Mers-el-Kebir, na Argélia. Foi ali que, depois da França ter capitulado, o navio (e o resto da esquadra gaulesa do norte de África) foi surpreendido pelo raide britânico de 3 de Julho, que o colocou temporariamente fora de combate. Aquando desse ataque (que causou, em França, uma enorme onda de antipatia contra a Inglaterra), o navio encaixou quatro impactos de obus de 380 mm, disparados por unidades da ‘Royal Navy’. Três dias mais tarde, o «Dunkerque» foi atacado por aparelhos Fairey ‘Swordfish’ do porta-aviões «Ark Royal», que conseguiram atingi-lo com um torpedo. Depois de uma reparação sumária, o cruzador logrou atravessar o Mediterrâneo e atingir a base de Toulon, onde deveria ser submetido a trabalhos de maior envergadura. Mas, no dia 27 de Novembro de 1942, a frota ali estacionada, recebeu ordens para se afundar voluntariamente, a fim de escapar a uma eventual captura pelos nazis. O «Dunkerque» foi, assim, um dos cerca de noventa navios a consentir esse inaudito sacrifício. Reemergido em 1945, o cruzador permaneceu inactivo no porto de Toulon até 1958, ano em que foi desmantelado.

«DORCHESTER»


Paquete de bandeira norte-americana construído -em 1926- num estaleiro de Newport (Rhode Island) para a Merchants & Miners Line. Era um navio de 5 650 toneladas com um comprimento de 112 metros por 16 metros de boca. Antes de ter sido requisitado pelas forças armadas dos Estados Unidos, em Fevereiro de 1942, o «Dorchester», que tinha uma tripulação de 90 elementos, podia receber 314 passageiros. Passando esse número para 751, na sua versão de transporte de tropas. Nessa sua configuração militar, o navio foi equipado com um número adicional de baleeiras e de balsas salva-vidas, além, naturalmente, de várias armas de fogo, de entre as quais se destacavam alguns canhões de bom calibre. O «Dorchester» recebeu também, nessa ocasião, uma guarnição de combatentes (‘marines’) aptos a utilizar as ditas armas e a defender o navio. Durante a guerra, o «Dorchester» realizou várias travessias do Atlântico e operou nas águas do golfo do México e das Antilhas. Na noite de 3 de Fevereiro de 1943, quando assegurava (com outras unidades) a protecção do comboio de navios SG-19, que navegava entre São João da Terra Nova e uma base norte-americana da Groenlândia, o «Dorchester» foi torpedeado pelo submarino alemão ««U-223» e afundou-se em 20 minutos. Pouco mais de 200 homens (dos mais de 900 que se encontravam a bordo) sobreviveram ao soçobro do antigo paquete, sendo a maioria deles salvos pelos «Escanaba» e «Comanche», dois outros navios de escolta. Da memória do afundamento do «Dorchester» sobressaiem as figuras de quatro capelães que, abnegadamente, renunciaram aos meios de salvamento colocados à sua disposição, para que outros náufragos se pudessem salvar. Esses heróis, quase anónimos, seriam medalhados a título póstumo -em 14 de Julho de 1960- pelo Congresso dos Estados Unidos da América.

«DOM DINIZ»


Lugre bacalhoeiro, com casco de madeira, pertencente à frota da firma gafanhense Pascoal & Filhos Lda. Foi construído na Gafanha da Nazaré, em 1940, no estaleiro de mestre António Maria Bolais Mónica. O «Dom Diniz», assim baptizado em homenagem a um dos maiores reis da dinastia de Borgonha e da História de Portugal, era um navio de três mastros, com um porte máximo de 732 toneladas, medindo 52,11 metros de comprimento fora a fora por 10,24 metros de boca. Este lugre-motor (estava equipado com uma máquina auxiliar Deutz) participou nas campanhas de pesca longínqua (nos bancos da Terra Nova e da Groenlândia) entre 1940 e 1966. A sua equipagem era constituída por 15 homens de bordo, mais 45 a 50 pescadores, que utilizavam na faina uns 50 a 60 dóris. O «Dom Diniz» foi um navio sem história, cumprindo a sua missão, metodicamente, ano após ano, até que, a 27 de Agosto de 1966, se perdeu por alquebramento (precedido de um incêndio) em Virgin Rocks, na Terra Nova. Não há notícia de mortos entre a sua corajosa tripulação.

«MARIS-STELLA»


Este palhabote (corruptela das palavras inglesas ‘pilot boat’) foi um dos inúmeros veleiros desportivos da família real portuguesa. Parece ter sido oferecido, em 1905, por D. Carlos I a sua esposa, a rainha D. Amélia. O «Maris-Stella» participou em várias competições de carácter nacional e internacional. Era o antigo «Sunshine», realizado na Escócia, no ano de 1901, pelos reputados estaleiros da firma William Fife & Sons, de Farlie. Esta embarcação de competição deslocava 118 toneladas e media 25,92 metros de comprimento por 5,55 metros de boca. O «Maris-Stella» gozou da reputação de ser um barco de grandes qualidades veleiras e de excepcional leveza; além de ser, indubitavelmente, muito bonito. Numa das regatas mais famosas que ganhou, disputada na baía de Cascais e com el-rei no posto de timoneiro, o «Maris-Stella» defrontou-se com dois outros afamados palhabotes do seu tempo : o «Dinarah» (do Dr. Castro Guimarães) e o «Elisa» (do Sr. Miguel Paxinta). Este barco da família real percorreu, nessa ocasião, a distância de 30 milhas em 4 horas e 42 minutos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

«CAIO DUILIO»


Construído no arsenal de La Spezia em 1876, este navio couraçado foi integrado nos efectivos da marinha de guerra italiana quatro anos mais tarde. Foi cabeça da classe que recebeu o seu nome e que compreendeu mais um navio, o «Dandolo». Concebidos a partir de um projecto revolucionário do arquitecto naval Benedetto Brin, estas unidades da ‘Regia Marina’ receberam as mais poderosas peças de artilharia que alguma vez armaram um navio de combate : 4 canhões de 450 mm. Tudo foi sacrificado a bordo em proveito dessas pesadíssimas armas construídas em Inglaterra pela firma Armstrong : blindagem, super-estruturas, acomodações da guarnição, etc. Julgava-se, então, que o uso de um armamento desta natureza seria capaz de incapacitar, definitivamente, um eventual adversário; que sucumbiria (pensava-se) às primeira salvas disparadas por estes couraçados italianos. Mas a utilização da artilharia pesada dos navios da classe ‘Caio Duilio’ comprometeu a solidez da plataforma e o casco dos navios foi modificado, de modo a subdividir-se em compartimentos estanques, em previsão de alagamentos originados pelas vibrações. Nunca se chegou a verificar, de facto, a eficácia destes navios -então considerados os mais poderosos do mundo- porque jamais tiveram a oportunidade de entrar em combate. Os britânicos construíram algumas armas similares às que equiparam os navios italianos, mas nunca as montaram nos navios da sua própria frota. As ditas equiparam baterias de defesa costeira em Gibraltar (onde subsistem) e na ilha de Malta. O «Caio Duilio» , navio de 12 267 toneladas de deslocamento (em plena carga) e com 109,20 m de comprimento por 19,80 m de boca, foi mantido no activo até ao ano de 1909. O casco deste navio, transformado em depósito de carburante flutuante, ainda sobreviveu até aos anos 20 do século passado.

«DAMIÃO DE GOES»


Esta embarcação fluvial, de tipo catamarã, é uma das 9 construídas em Singapura, pela firma Damen Shipyards, para assegurar a carreira entre o Barreiro e Lisboa-Terreiro do Paço; onde vieram substituir a frota precedente da Soflusa, composta, essencialmente, por barcos da classe ‘Viana do Castelo’. Estas novas embarcações originárias da Ásia podem receber 600 passageiros (distribuídos por dois salões) e oferecem aos seus utentes serviços de bar, música ambiente, televisão e instalações sanitárias, sendo uma delas reservada a pessoas com deficiência física. O «Damião de Goes», aqui referido por ser cabeça de série destes catamarãs, foi construído em alumínio e é muito mais rápido do que os seus antecessores. Apresenta as seguintes características : 713 toneladas de arqueação bruta; 49,20 metros de comprimento; 12,30 metros de boca; 1,58 metro de calado. A sua propulsão é assegurada por 1 potente motor ‘de jactos de água’, que lhe oferece uma velocidade máxima de 30 nós. A velocidade de serviço foi, no entanto, estabelecida a 22 nós, devido a problemas de erosão causados, à partida do Barreiro, na zona antiga de Alburrica. As outras embarcações congéneres da «Damião de Goes» chamam-se : «Augusto Gil», «Miguel Torga», «Fernando Namora», «Gil Vicente», «Jorge de Sena», «Almeida Garrett», «Fernando Pessoa» e «Antero de Quental». Entraram em serviço, progressivamente, a partir de 2004.

«DOM CARLOS I»


Este cruzador da nossa armada foi construído em 1898 nos estaleiros da casa Vickers-Armstrong, em Newcastle-on-Tyne (G.B.). Era um navio de 4 250 toneladas, com 117 metros de comprimento por 14,40 metros de boca, de cujo armamento principal se destacavam 4 peças de 150 mm e 5 tubos lança-torpedos. A sua propulsão era assegurada por 2 máquinas a vapor (com 12 caldeiras), desenvolvendo uma potência de 12 730 cv, que lhe permitiam navegar à velocidade máxima de 22 nós. Tinha uma guarnição de 442 homens (20 oficiais, 46 sargentos e 376 praças). O «Dom Carlos I» foi, no seu tempo, a melhor unidade da marinha militar portuguesa e, por essa razão, ostentou -durante a Grande Guerra- a flâmula de navio-almirante da nossa esquadra. O seu primeiro comandante foi o então capitão-de-mar-e-guerra Hermenegildo Capelo, que se tornaria famoso (com Roberto Ivens) pela sua exploração dos sertões africanos. Após a implantação da República, este cruzador passou a usar o nome de «Almirante Reis». Isso, depois de ter sido palco da Revolta dos Marinheiros de 1906. O navio sofreu um espectaculat encalhe (felizmente resolvido), frente a Esposende, em Julho de 1912. Em Setembro de 1914 largou para África, integrado na escolta aos transportes de tropas para ali enviadas pelo estado português. E, em 1917, entrou no estaleiro para receber trabalhos de beneficiação. Saiu para o mar, pela última vez, em 1925, quando foi rebocado para os Países-Baixos para ali ser desmantelado. Certas fontes pretendem que o navio ainda prestou serviço na armada real holandesa, até vésperas da 2ª Guerra Mundial. Do antigo espólio do cruzador «Dom Carlos I» conserva-se -no Museu de Marinha- um cofre que contém uma preciosa bandeira nacional, bordada pelas mãos da rainha D. Amélia, esposa do (primeiro) patrono do navio.

sábado, 18 de dezembro de 2010

«CÔTE D'ÉMERAUDE»


Este bacalhoeiro foi um dos últimos navios do seu tipo a ser construído em França. O «Côte d’Émeraude» era um lugre-patacho com 830 toneladas de deslocamento (em plena carga), construído -no ano de 1925- em Saint Malo, cidade bretã com grandes tradições na pesca do bacalhau. Assim baptizado para homenagear um dos trechos mais bonitos da costa da Bretanha, este veleiro, com casco de madeira, media 42,55 metros de comprimento por 9,70 metros de boca e o seu calado era de 4,40 metros. Matriculado no porto de Cancale, o «Côte d’Émeraude» (‘Costa de Esmeralda’, na tradução portuguesa) tinha uma equipagem de 35 homens, estava guarnecido com 14 dóris e operou entre 1925 e 1941 nos grandes bancos bacolhoeiros da Terra Nova e da Groenlândia. Perdeu-se, por encalhe, em ano que ainda não conseguimos apurar, na foz do rio Sebou (perto de Rabat) , quando fazia uma viagem de Saint Pierre et Miquelon para Port-Lyautey (agora Kenitra), no então protectorado francês de Marrocos. A administração postal gaulesa emitiu, em 1972, um bonito selo postal (obra do conhecido artista Roger Chapelet), que mostra o «Côte d'Émeraude» navegando a todo o pano em mar aberto.

«BOGUE»


Porta-aviões de escolta da armada dos Estados Unidos, o «Bogue» (assim chamado em homenagem a uma cidadezinha da Carolina do Norte) foi construído pelos estaleiros da firma Seattle-Tacoma Shipbuilding, do estado de Washington, e lançado à água em 1942. Foi o primeiro de uma série de 45 navios da mesma classe, concebidos para a luta anti-submarina no Atlântico norte. A maioria deles foi transferida para a ‘Royal Navy’. Realizado a partir do casco de um cargueiro do tipo C3, o «Bogue», cujo identificativo de amura era CVE-9, era um navio que podia deslocar umas 16 000 toneladas em plena carga e que media 151 m de comprimento por 21,20 m de boca. O seu sistema propulsivo, capaz de desenvolver uma potência de 8 500 cv, compreendia 2 caldeiras, 2 turbinas a vapor e 1 hélice. A sua velocidade de cruzeiro era de 18 nós. O «Bogue» estava armado com 10 canhões de médio e pequeno calibre e com 35 armas antiaéreas. Podia embarcar uma vintena de aviões : 12 Grumman F4B ‘Wildcat’ e 9 Grumman TBF ‘Avenger’. A guarnição desta plataforma era composta por 646 homens da marinha e pelo pessoal da aviação que operava os aeroplanos e lhes assegurava a manutenção. Durante as suas campanhas no Atlântico norte, a aviação embarcada do «Bogue» afundou 13 submersíveis alemães. Depois de vencida a guerra naval em águas europeias, o «Bogue» foi enviado -em inícios de 1945- para a frente do Pacífico, onde ainda teve tempo de participar nos combates pela libertação de várias ilhas ocupadas pelos japoneses. A sua meritória acção na luta contra as forças do Eixo, valeu-lhe uma citação do presidente dos Estados Unidos e três ‘Battle Stars’. O porta-aviões de escolta «Bogue» foi desactivado em 30 de Novembro de 1946 e enviado para a sucata em 1959. No ano seguinte procedeu-se ao seu desmantelamento.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

«PLASTIKI»


Curiosa embarcação do tipo catamaran, construída, essencialmente, com garrafas de plástico (12 500 no total, que asseguram 68% da sua flutuabilidade) e com outros produtos de mesma natureza -todos recicláveis- incluindo uma cola orgânica feita com substâncias residuais da noz de caju e da cana de açúcar. O «Plastiki» (cujo nome se inspirou do da célebre jangada de Thor Heyerdahl), foi idealizado pelo jovem David de Rothschild (herdeiro da conhecida família de banqueiros) e construído -segundo os planos do arquitecto naval Andrew Dovell- em San Francisco, Califórnia, por Andy Fox. O «Plastiki» desloca 12 toneladas e mede 18 metros de comprimento por 7 metros de boca. Usa dois mastros e respectivas velas para mover-se e, a bordo, só se utilizam energias naturais : vento, sol e força muscular para alimentar geradores. O estranho navio (será que é um ?) partiu da cidade da Porta Dourada no dia 20 de Março de 2010 e chegou a Sidney (Austrália) a 26 de Julho, após uma bem sucedida travessia do oceano Pacífico. Nesses 128 dias de viagem, o «Plastiki» percorreu 8 393 milhas náuticas, distância que corresponde a cerca de 15 500 km. A sua tripulação (6 homens, incluindo Jo Royle, capitão, David de Rothschild e Olav Heyerdahl, neto do herói da «Kon Tiki») tentou, com esta aventura, sensibilizar a população mundial para diversos problemas ambientais, tais como o do aquecimento global do nosso planeta, a acidificação dos oceanos e a poluição marinha.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

«BORODINO»


Couraçado da marinha imperial russa, construído no arsenal de São Petersburgo no início do século XX. Foi integrado nos efectivos da armada de Nicolau II (esquadra do Báltico) no dia 1º de Setembro de 1904 e logo enviado para o Pacífico, onde teve o destino de muitos outros navios do czar : foi afundado -a 27 de Maio de 1905- na violentíssima batalha naval de Tsushima. O «Borodino», que era cabeça de série de uma classe de navios couraçados com o seu nome, foi atingido por várias salvas do seu congénere japonês «Fuji» e explodiu, antes de adornar e afundar-se. Da sua tripulação de mais de 800 homens, apenas um marinheiro sobreviveu ao desastre. O «Borodino» deslocava mais de 14 000 toneladas, estava fortemente blindado e contava, entre o seu armamento principal, 4 canhões de 305 mm, 12 outros de 152 mm e 4 tubos lança-torpedos de 381 mm. O navio media 121 metros de comprimento por 23,20 metros de boca e movia-se graças a um sistema propulsivo alimentado por carvão. A sua velocidade máxima não excedia os 18 nós.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

«RED JACKET»


Veleiro de três mastros desenhado pelo arquitecto naval Samuel Hart Pook. Foi construído em 1853 no estaleiro de George Thomas, de Rockland (Maine) para o armador bostoniano Seacomb & Taylor. O seu nome fazia alusão à alcunha de Sagoyewatha, um famoso chefe ameríndio (Séneca) do século XVIII. Foi considerado um dos mais velozes navios do seu tempo, facto que o «Red Jacket» confirmou logo na sua primeira viagem transatlântica, ao estabelecer um novo record de velocidade, entre Nova Iorque e Liverpool. Comprado em 1854 pela White Star Line, o navio mudou de bandeira e passou a assegurar carreiras entre a 'Velha Albion' e a Austrália, levando para esse longínquo território da coroa britânica muitas centenas de emigrantes europeus. Em 1868, teve novo proprietário, que passou a utilizá-lo como transporte de madeiras entre Quebeque (Canadá) e Inglaterra. Em 1883, este veleiro de 2 300 toneladas, foi, finalmente, adquirido pela firma Blandy Brothers & Coº (armadores e negociantes do Funchal), matriculado na ilha da Madeira e utilizado, como navio de carga diversa, entre o arquipélago da Madeira e os Estados Unidos. País para onde o navio transportou os generosos vinhos da ilha, entre outras mercadorias. Não conseguimos apurar se o famoso veleiro, que, por essa época, hasteava à popa a bandeira azul e branca do reino de Portugal, chegou a mudar de nome. É sabido, isso sim, que o navio deixou de navegar no dia 15 de Dezembro de 1885, data em que foi atirado à costa madeirense por um violento temporal. O seu casco foi recuperado e ainda serviu alguns anos, ao que parece, como barcaça carvoeira num porto de Cabo Verde.

«ADMIRAL HIPPER»


Cruzador pesado da marinha hitleriana, pertencente à classe do mesmo nome. Este navio de 14 000 toneladas (18 200 t em plena carga), com 215,90 metros de comprimento por 21,30 metros de boca, foi construído pelos estaleiros Blohm und Voss, de Hamburgo, e lançado à água em 1937. Era gémeo do «Blücher» e, como este, bem couraçado e poderosamente armado com 8 canhões de 203 mm, 12 outros de 105 mm e 12 tubos lança-torpedos de 533 mm. A sua tripulação compreendia 1 600 homens : oficiais, sargentos e praças. O seu sistema propulsor era diferente do do seu ‘sister-ship’, mas desenvolvia, sensivelmente, a mesma potência, permitindo que o navio vogasse a uma velocidade máxima que ultrapassava os 32 nós. Contrariamente ao «Blücher», que teve vida efémera, o «Admiral Hipper» só seria posto fora de combate em 1945, ano em que foi destruído pelos bombardeamentos da ‘Royal Air Force’ contra o porto de Kiel. Entretanto, este cruzador havia participado na guerra de corso e afundado 60 000 toneladas de navios inimigos. Esteve um tempo baseado num porto norueguês, de onde efectuou -até 1945- alguns espectaculares raides contra os comboios aliados do Árctico. O «Hipper» foi sem dúvida, um dos melhores navios do seu tempo, na sua categoria.

«CHELLA»


Paquete francês construído pela firma Forges et Chantiers de la Méditerranée (de La Seyne-sur-Mer) em 1934. Substituiu, na frota da companhia marselhesa Paquet um navio (o «Nicolas Paquet») perdido por encalhe no ano precedente. Rápido e confortável, o «Chella» foi colocado na linha do norte de África (com extensão sazonal até Dacar) em 1935. Deslocava 11 000 toneladas em plena carga e media 138 metros de comprimento por 18,50 metros de boca. O seu sistema propulsor desenvolvia 15 300 cv de potência, o que permitia ao «Chella» navegar à velocidade máxima de 22 nós. O navio podia receber 556 passageiros distribuídos por três classes. Logo em 1935, o paquete foi afretado pelo governo de Paris para transportar os familiares e personalidades que acompanharam a transladação solene das cinzas do marechal Lyautey -grande figura da França colonial- feita de África para a metrópole pelo cruzador «Dupleix». Em 1940, em plena guerra, o «Chella» foi o triste protagonista de um drama que enlutou a ‘Royal Navy’, ao cortar em dois um dos seus avisos nas proximidades de Gibraltar. Deste incidente, que provocou a morte de 24 marinheiros ingleses, deixou testemunho (verbal e epistolar) o médico de bordo do paquete francês, o Dr. Destouches, figura que se ilustrou no mundo das letras com o pseudónimo de Louis-Ferdinand Céline. Com um rombo de 16 metros de longitude no casco, o «Chella» conseguiu chegar com alguma dificuldade a Marselha, onde entrou na doca seca para sofrer as reparações que se impunham. Foi nesse grande porto do Mediterrâneo, que o paquete (entretanto requisitado e transformado em transporte de tropas) foi alvo -ao mesmo tempo que a cidade- do bombardeamento da ‘Luftwaffe’ de 2 de Junho de 1940. Atingido por várias bombas incendiárias, o navio (cujos porões abarrotavam de munições) ainda foi retirado do cais onde se encontrava atracado, para ir estoirar a pouca distância do porto de Marselha. Os seus restos, que constituíam um perigo para a navegação, foram parcialmente afundados pelo tiro do «Cyrnos», um antigo mercante da companhia Fraissinet, que as circunstâncias haviam transformado em cruzador auxiliar. Em 1954, parte do casco do «Chella» ainda era visível no sítio do soçobro. Esse importante fragmento do navio foi desmantelado 'in situ' por especialistas desse género de operações.

«ALMIRANTE CERVERA»


Cruzador construído em 1925 nos estaleiros da S.E.C.N. do Ferrol e oficialmente integrado na armada espanhola no dia 15 de Setembro de 1928. Deslocava 9 240 toneladas e media 176,60 m decomprimento por 16,60 m de boca. A propulsão do navio era assegurada por um sistema motor desenvolvendo 80 000 cv de potência, que lhe ofereciam 34 nós de velocidade máxima e cerca de 5 000 milhas náuticas de autonomia, com andamento limitado a 15 nós. O «Almirante Cervera» -que tinha uma guarnição de 566 homens- estava armado com 8 canhões de 152 mm, 4 peças de artilharia AA e com 4 dispositivos lança-torpedos (triplos) de 533 mm. Depois de modernizado, ficou preparado para poder transportar e utilizar um hidroavião Heinkel He-114. A primeira acção bélica do «Cervera» ocorreu em 1934, quando foi utilizado -durante a insurreição asturiana- para bombardear algumas zonas costeiras do Cantábrico. Quando eclodiu a guerra civil, em 1936, o cruzador estava na doca seca do Ferrol, sendo capturado pelas forças franquistas e integrado na armada rebelde. O seu comandante, capitão Juan Sandalio Sánchez-Ferragut foi fuzilado pelos nacionalistas, que não lhe perdoaram a sua fidelidade à República. Nos primeiros tempos do conflito, participou em acções contra posições governamentais do Cantábrico, bombardeando Gijón, Santander Portugalete, etc. Foi por essa altura, que (por erro ?) alvejou o iate «Blue Shadow», de bandeira britânica, matando o seu comandante e criando um incidente diplomático. Em 1937, esteve no bloqueio do estreito de Gibraltar e na batalha do Cabo Espartel. Atribui-se-lhe o apresamento de vários navios republicanos (entre os quais o paquete «Marqués de Comillas») e britânicos, além do abate de um avião trimotor da aviação legalista, que tentara interceptá-lo. Esteve, em 1938, no bombardeio da cidade de Valência e resistiu a um ataque aéreo, que lhe causou alguns estragos. Participou, na noite de 5 para 6 de Março desse mesmo ano, na batalha do Cabo de Palos, ilustrando-se por ter salvo parte dos náufragos do cruzador franquista «Baleares». Esta batalha (que se desenrolou ao largo de Cartagena) foi, claramente, uma vitória dos Republicanos, que não sofreram a mínima baixa, enquanto a marinha sublevada perdeu um cruzador pesado e 786 homens, entre os quais se contava o almirante Manuel Vierna Belendo. A última acção notória do «Almirante Cervera» ocorreu no mar Cantábrico, já no final da guerra civil, quando aí afundou (com o auxílio do «Galerna») o «Andra», um navio de bandeira panamenha que tentava furar o bloqueio imposto pelos franquistas. Modernizado, o cruzador «Almirante Cervera» (que teve vários ‘sister-ships’) manteve-no no activo até 31 de Agosto de 1965.