domingo, 27 de dezembro de 2015

«SÃO TOMÉ»

Nau portuguesa do século XVI. Ignoram-se a sua tonelagem e principais características físicas; que não seriam, no entanto, muito diferentes das dos demais navios construídos, nessa época, em grande série pelos nossos estaleiros navais para a carreira do Oriente. A «São Tomé» integrou a esquadra de Martim Afonso (constituída por 1 galeão, 2 naus e 2 caravelas), que, em 1531, foi mandada pelo rei de Portugal para águas sul-americanas para ali combater o tráfico de pau-brasil montado por contrabandistas franceses. Aquando dessa sua missão, este navio das armadas de D. João III esteve sob o mando de João de Souza, um familiar próximo do capitão-mor. O naufrágio da nau «São Tomé» ocorreu (depois de muitos anos de leais serviços) em 1589 nas costas da África oriental, entre o actual Moçambique e o cabo da Boa Esperança; quando, em proveniência da Índia e já no tempo de Filipe I, navegava para Lisboa carregada com produtos locais. O desastre foi relatado pelo piloto Gaspar Ferreira Reimão (que fora seu tripulante) na sua famosa obra «Navegação da Carreira da Índia»; que seria editada, pela primeira vez, em 1612. Esse naufrágio também foi referido na «História Trágico-Marítima», colectânea de relatos compilada pelo erudito Bernardo Gomes de Brito. Nota final : a imagem que ilustra este texto não representa a nau «São Tomé», mas um navio do seu tipo e da sua época.

«NIOBE»

Este navio foi utilizado pela marinha de guerra alemã como escola de vela para instrução de cadetes. Construído em 1913, no estaleiro dinamarquês Frederikshavns Vaerf og Flydedok, este veleiro navegou, inicialmente e transportando carga geral, com o nome de «Morten Jensen». Hasteava, então, pavilhão da Dinamarca e usava as cores da companhia FL Knakkergaard, de Nykobing Mors. Foi vendido, em 1916, a um armador norueguês, que lhe deu novo nome : «Tyholm». Embora se desconheçam as circunstâncias e o lugar, sabe-se que este navio foi capturado, ainda em 1916, pelo submarino germânico «UB-41», rebocado para a Alemanha e vendido a um particular. Também se sabe, que, entre esse segundo ano de conflito generalizado e o início da década de 20, este veleiro mudou várias vezes de mãos e usou diferentes nomes («Aldebaran», «Niobe», «Schwalbe»), até que, em 1922, foi adquirido, como acima se referiu, pela armada alemã; que lhe devolveu um nome que já usara durante a sua vida civil. Transformado numa barca de 3 mastros, o «Niobe» (que tinha casco de aço e que fora primitivamente uma escuna) passou a deslocar 645 toneladas e a medir 57,80 metros de comprimento fora a fora por 9,17 metros de boca. O seu calado atingia 5,20 metros. Foi equipado com 1 motor diesel auxiliar, com uma potência de 160 shp. O seu sistema vélico compreendia 943 m2 de pano, o que lhe permitia alcançar uma velocidade de 7,5 nós. Este navio navegava com uma tripulação permanente de 34 homens (dos quais 7 eram oficiais) e podia acolher a bordo até 65 cadetes. Depois de 10 anos de bons e leais serviços, o «Niobe» foi surpreendido -no dia 26 de Julho de 1932- por uma repentina rajada de vento, que o afundou em poucos minutos. O desastre ocorreu no mar Báltico, ao largo da ilha (alemã) de Fehmarn. Como o tempo estava quente, todas as escotilhas e vigias do «Niobe» estavam escancaradas e grande parte dos ocupantes que se encontravam no bojo do navio (69 marinheiros e cadetes) morreram afogados. 40 dos homens do veleiro-escola sobreviveram ao naufrágio, tendo sido resgatados pelo mercante «Theresia LM Russ»; que os deixou em terra firme. O navio naufragado seria reemergido ainda nesse ano e rebocado para Kiel; de onde foram retirados os corpos das vítimas, para se lhes dar uma sepultura cristã. O casco do «Niobe» foi, depois levado para o alto mar, e afundado (no decorrer de uma cerimónia que contou com a presença das altas patentes da marinha de guerra alemã) pelo torpedeiro «Jaguar». Um monumento aos mortos deste navio-escola foi levantado perto de Gammendorf, na ilha de Fehmarn.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

«BAUDOINVILLE»

..... O «Baudoinville» (primeiro a usar este nome) era, aquando do seu lançamento à água em 1939, o maior de todos os navios a içar a bandeira da Bélgica. O seu baptismo teve lugar nas instalações do estaleiro que o construiu, o de John Cockerill, em Hoboken. A cerimónia desenrolou-se na presença do seu patrono -o príncipe herdeiro Balduíno- e de Leopoldo III, rei dos Belgas. Este elegante navio apresentava 13 517 toneladas de arqueação bruta e media 165,10 metros de comprimento por 20,60 metros de boca por 7,85 metros de calado. Pertenceu à frota da Compagnie Maritime Belge, que, nesse ano de 1939, era composta por 28 navios navegando (à partida de Antuérpia) nas rotas ligando a Europa à África e às Américas. Dotado de todos os requisitos de conforto da época, o «Baudoinville» estava equipado com 433 camarotes de 1ª e 2ª classes. Em 1940, quando o segundo conflito generalizado se alargou à Bélgica, e já depois de ter realizado várias viagens regulares ao Continente Negro (com passagem, refira-se, por portos de Angola), o navio foi atacado pela aviação germânica ao largo de Vlissingen, no estuário do rio Escalda. Na eventualidade da sua captura pelos invasores nazis, o comandante do navio recebeu ordens para rumar a França e procurar refúgio num porto do sudoeste desse país. Depois de uma breve estadia em La Pallice, o navio belga seguiu para Bordéus. Onde acabou por ser capturado pelas tropas hitlerianas em Junho de 1940. Transformado, num primeiro tempo, em navio-hospital, o paquete em apreço (entretanto renomeado «Lindau») foi transferido, em 1943, para Nantes (na Bretanha do sul), onde foi utilizado como quartel flutuante das tropas de ocupação. Ali, encalhado num braço do rio Loire ('Bras' de Permil), foi alvo de violenta explosão (por acção de minas antinavio) e ardeu durante dias. No imediato pós-guerra, a carcaça calcinada do malogrado navio foi rebocada para Antuérpia, onde foi julgada irrecuperável e enviada para a sucata. Os trabalhos de demolição do antiga paquete belga estavam consumados em Agosto de 1946.

«IBO»


Canhoneira portuguesa pertencente à classe 'Beira'; da qual foram realizadas 8 unidades. A «Ibo» foi lançada à água em 1911 pelo Arsenal de Lisboa (que a construiu) e oficialmente integrada nos efectivos da Armada a 15 de Fevereiro de 1913. Como todas as suas congéneres da referida classe a «Ibo» destinava-se a cumprir missões de soberania em águas do Ultramar. Com 492 toneladas de deslocamento, esta canhoneira media 44,80 metros de comprimento fora a fora por 8,30 metros de boca e por 2,10 metros de calado. Com uma guarnição inicial de 59 homens (4 oficiais, 6 sargentos e 49 praças), a «Ibo» estava equipada com 2 máquinas de tríplice expanção desenvolvendo 700 cv de potência global (acopladas a 2 eixos), que lhe permitiam navegar à velocidade máxima de 13 nós e de dispor de uma autonomia real de 3 200 milhas náuticas com andamento limitado a 9 nós. Do seu armamento constavam 2 peças de artilharia de 75 mm, 2 de 47 mm e 2 metralhadoras de 6,5 mm. Em 1914, cumpriu missões no golfo da Guiné e no arquipélago de Cabo Verde. A 4 de Dezembro de 1916, pôs em fuga -com a ajuda da canhoneira «Beira»- um submersível alemão que foi, detectado em frente do Porto Grande de São Vicente. Com o presumível intuito de destruir os cabos submarinos ali existentes. Em Abril de 1918 estava já nos Açores, onde se ilustrou resgatando 12 náufragos do caça-minas «Augusto de Castilho»; que, sob o comando do 1ª tenente Carvalho Araújo, enfrentara dias antes, num combate desigual (e fatal para o navio português), o submarino germânico «U-139». A canhoneira «Ibo» regressou a águas do continente no ano seguinte, tendo participado (em Dezembro de 1919) numa operação de intimidação (com disparos sobre o litoral de Vila Praia de Âncora) dirigida contra militantes da chamada Monarquia do Norte. Este pequeno navio da Armada Portuguesa também teve participação activa na Revolta da Madeira, ao dar apoio a uma operação de desembarque de tropas, ali ocorrida em 1931. Em 1943, o NRP «Ibo» sofreu trabalhos profundos, que o reconverteram em navio-hidrográfico. Desarmado, passou a ter uma tripulação de 38 homens e a dispor do equipamento científico necessário à sua nova missão. Nessa condição, operou ao longo de todo o litoral português ao serviço da Brigada Hidrográfica Independente, para a qual realizou trabalhos considerados de valor inestimável. Este navio foi riscado oficialmente da lista de unidades da Armada em 20 de Fevereiro de 1953 e foi posteriormente desmantelado.

domingo, 20 de dezembro de 2015

«TUDOR VLADIMIRESCU»

Embarcação fluvial romena, que é, ao que parece, a mais antiga do mundo em actividade. Baseando-se esse critério no facto de a dita usar, ainda hoje, as suas máquinas 'made in Swiss' de origem. O «Tudor Vladimirescu» foi construído no estaleiro Ganzdanubius, de Budapeste (Hungria), no ano de 1854. Num tempo anterior ao da fundação da Roménia moderna. Veio para este país em 1918, incluído num lote de material austro-húngaro entregue a título de indemnizações de guerra. O navio chamara-se, anteriormente, «Croatia» e servira de rebocador no apoio à navegação no Danúbio. O governo de Belgrado mandou transformar esta embarcação em transporte de passageiros (para navegar no troço fluvial entre Braila e Sulina) e deu-lhe o nome de «Sarmisegetuza». Em1923 passou a usar a denominação de «Grigori Manu». E, anos mais tarde, a de «Tudor Vladimirescu», que conservou até aos nossos dias. Sobreviveu à Segunda Guerra Mundial -que, no entanto, havia causado grandes danos no país- e, em 1958, foi completamente renovada, para poder operar enquanto unidade turística no delta do rio Danúbio. Durante a sua longa existência, esta singular embarcação recebeu a bordo algumas personagens históricas de primeiro plano, tais como o rei Carol II, o marechal Antonescu e Nikita Krustchev. Este agora paquete fluvial desloca 560 toneladas e mede 60,80 metros de comprimento por 14,40 metros de boca. As suas máquinas desenvolvem uma potência global de 600 hp e gastam 640 litros de carburante diesel por hora. O «Tudor Vladimirescu» dispõe de uma autonomia de 80 horas. Tem uma equipagem de 27 membros e capacidade para receber 450 passageiros. Para além dos turistas que transporta, esta antiquíssima embarcação também tem sido (mediante aluguer) palco de convenções, festas sociais e outros eventos. A administração postal romena prestou-lhe homenagem ao editar um selo representando esta venerável embarcação danubiana.

sábado, 19 de dezembro de 2015

«WESTERN WORLD»

Navio da armada federal que -durante a Guerra Civil americana- participou em inúmeras campanhas militares contra as forças secessionistas. O «Western World» foi construído, em 1856, por um estaleiro de Brooklyn (Nova Iorque) e iniciou a sua carreira como transporte civil de passageiros (entre as cidades de Buffalo e Detroit) por conta da Michigan Central Railroad Line. A 21 de Setembro de 1861, foi adquirido pela marinha de guerra da União, armado e intimado para, com outros vapores da sua categoria, se juntar à frota que bloqueava os portos sulistas. Eventualmente também transportou tropas para zonas de combate. O seu pequeno calado de embarcação lacustre-fluvial, tornava esta unidade num dos meios ideais para actuar em cursos de água de baixo débito e levar a destruição às plantações de algodão (primeira fonte de receita do Sul) e destruí-las com a ajuda de destacamentos de bordo especialmente treinados para o efeito.  Foi no decorrer de raides dessa natureza, que o «Western World» logrou aprisionar uma escuna de contrabandistas ingleses (a «Volante») e libertar mais de 400 escravos negros. Depois dessa série de operações no sul, o navio entrou num arsenal novaiorquino para ali sofrer reparações,  passando, depois disso, a operar nas costas da Virgínia e na baía de Chesapeake. Foi durante essa nova campanha que, em Abril de 1863, este navio ajudou a capturar vários navios do inimigo e/ou entregues à prática do contrabando com a Confederação. No seu historial consta, igualmente, o transporte (em várias viagens) de 300 soldados de cavalaria e de 150 marinheiros. No final do conflito, muito usado pela sua utilização permanente, o «Western World» ainda se viu implicado no apoio às tropas do Potomac, em operações que foram decisivas para a vitória do presidente Lincoln. Esta embarcação (que esteve armada com 3 peças de artilharia) foi desmobilizada no último ano de guerra e vendida em hasta pública e para demolição no dia 26 de Maio de 1865. Na sua versão civil, este vapor deslocava 441 toneladas e media 54 metros de longitude por 10,44 metros de boca. O seu calado era de 1,80 metro. Navegava à velocidade máxima de 7 nós. Curiosidade : a ilustração representa o «Western World» antes da sua conversão em navio de guerra.

«TRONDHJEMSFJORD»

Lançado à água no dia 21 de Dezembro de 1911, pelos estaleiros ingleses Northumberland Shipbuilding Cº, de Newcastle-upon-Tyne, este navio serviu durante três anos -com o nome de «Cotswold Range»- os interesses da companhia Neptune Steam Navigation, de Sunderland. Em Dezembro de 1914, mudou o nome para «Trondhjemsfjord», hasteou bandeira norueguesa e passou a integrar a frota da companhia Norwegian-America Line. Navegou -até meados de 1915- entre a Escandinávia e os 'states', com escala em portos britânicos. Este transatlântico apresentava uma arqueação bruta de 4 248 toneladas e media 120 metros de comprimento por 15 metros de boca. O seu calado era de 8 metros. No dia 28 de Julho do segundo ano da Grande Guerra, o «Trondhjemsfjord» navegava a noroeste das ilhas Shetland, quando foi avistado pelo submarino alemão «U-41» (colocado sob o comando do oficial Claus Hansen), que o torpedeou e afundou. A tripulação e os passageiros do navio agredido puderam sobreviver ao ataque, graças à pronta intervenção de um veleiro britânico de nome «Glance»; que, depois de os recolher, os foi desembarcar em terra firme. Curiosidades : 1) o submarino agressor, o «U-41», não se vangloriou durante muito tempo da sua 'façanha', visto ter sido ele próprio destruído -a 24 de Setembro do mesmo ano- por forças navais das nações aliadas. 2) A Noruega foi um país neutro durante o conflito que estalou em 1914 e se prolongou atá 1918. Facto que não a impediu, porém, de ver cerca de metade da sua frota mercante ser destruída por actos de guerra. Actos inamistosos e condenados pelas leis internacionais, que causaram a morte de perto de 2 000 oficiais e marinheiros civis noruegueses.

«MORNING LIGHT»

Este veleiro de bandeira britânica foi construído em 1856 nos estaleiros da sociedade William & Richard Wright, de Wilmot, na Nova Escócia (Canadá). Foi, primitivamente, propriedade de um consórcio formado por William e Richard Wright, Jacob V. Troop e William Thompson, que o registou em Saint John (New Brunswick) e o utilizou no frutuoso negócio entre a América do norte e a Europa. O «Morning Light» era um elegante navio com casco de madeira e 3 mastros aparelhados em galera. Deslocava 2 377 toneladas e media 80,90 metros de comprimento por 13,40 metros de boca. o seu calado atingia os 6,40 metros. O seu registo passou, em 1867 para a capitania do porto de Liverpool. Depois de uma carreira praticamente sem história em mãos britânicas, este navio foi vendido em 1881 para a Alemanha, passando a usar -com o novo nome de «JW Wendt»- as cores do armador Jacob Fritz, de Bremen. No dia 21 de Fevereiro de 1889, este veleiro zarpou de Bremen para Nova Iorque com um carregamento de ferro e de petróleo e desapareceu em parte incerta. Foi encontrado, um mês mais tarde, varado numa praia situada a 3 milhas ao norte de Barnegat, na Nova Jérsia, para onde fora atirado por violento vendaval; que o destruiu. As fontes consultadas (que são parcas em quantidade e informação) nada dizem sobre o destino da sua tripulação.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

«K21»

Este submarino da Segunda Guerra Mundial foi uma das 11 unidades da classe 'K' terminadas, num total das 60 programadas para apetrechar a armada soviética. O «K21» foi construído no arsenal de Leninegrado, que o lançou à água no dia 16 de Agosto de 1939.  O «K21» deslocava 2 600 toneladas em imersão e media 97,65 metros de longitude por 7,40 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por 2 máquinas diesel (8 400 hp) e por 1 motor eléctrico (2 400 hp), que lhe imprimiam a velocidade de 22,5 nós à superfície e 10 nós em imersão. O seu raio de acção era de 14 000 milhas náuticas com andamento limitado a 11 nós. Com uma guarnição composta por 67 homens (dos quais 10 eram oficiais), este submarino estava armado com 10 tubos lança-torpedos, com 2 canhões de convés de 100 mm e com 2 peças de 45 mm. Podia carregar e largar 20 minas antinavio. O «k21» pertenceu à Frota do Norte e foi o único dos submersíveis da sua classe a sobreviver ao último conflito generalizado. Desempenhou operações de relevo durante a guerra, entre as quais constam o afundamento de vários navios de bandeira alemã e norueguesa. Sendo que estes últimos tinham a sua actividade controlada pela forças de ocupação nazi. Há que assinalar, ainda, no seu historial, uma tentativa (gorada) de torpedeamento do couraçado «Tirpitz»; quando este gigante dos mares tentou interceptar -a 5 de Julho de 1942- os navios aliados do comboio PQ 17, que rumava a Murmansk. Disse-se, igualmente, deste submarino, que foi (em 1948) o primeiro navio de guerra soviético a aproximar-se do litoral norte-americano numa missão de espionagem. Em 1982, o «K21» -que, entretanto, havia terminado a sua carreira operacional- foi transformado em museu e exposto na Praça Severomorsk, da cidade portuária de Murmansk (noroeste da Rússia). Onde ainda se encontra.

sábado, 12 de dezembro de 2015

«B-11»

Submarino britânico da Grande Guerra. Foi o derradeiro exemplar construído da classe 'B', à qual pertencia. Realizado nos estaleiros Vickers, de Barrow (G.B.), foi lançado à água no dia 24 de Fevereiro de 1906. Deslocava (em imersão) 313 toneladas e media 43 metros de comprimento por 4,11 metros de boca por 3,70 metros de altura. A sua propulsão era assegurada por 1 motor a gasolina (acoplado a 1 hélice), que lhe imprimia uma velocidade de 13 nós, quando navegava à superfície, e de 8 nós, em configuração de mergulho. O seu raio de acção era de 740 milhas náuticas. Estava armado com 2 tubos lança-torpedos de 460 mm. A sua guarnição era constituída por 14 homens, dois dos quais eram oficiais. Depois de uns 6 anos a operar em águas do Atlântico e mares adjacentes, o «B-11» foi transferido, em 1912, para o Mediterrâneo, ficando com base na ilha de Malta. Com o desencadeamento do primeiro conflito generalizado, este submersível foi destacado para a zona de guerra dos Dardanelos, em Setembro de 1914. E, no dia 13 de Dezembro desse primeiro ano de combates, o «B-11» e a sua equipagem cometeram a proeza que ditou a sua celebridade. Depois de ter transposto uma área fortemente minada, este submariNo da 'Royal Navy' aproximou-se do couraçado turco «Messudieb» e afundou-o com a ajuda dos seus torpedos; retirando, depois, pelo mesmo perigoso caminho. Este acto de grande risco, a requerer uma coragem a toda a prova, valeu a 'Victoria Cross' ao tenente Norman Holbrook (o primeiro comandante de submarinos a merecer essa honraria) e a Mdalha dos Serviços Distintos a todos os outros membros da guarnição. Assim como, posteriormente, um prémio pecuniário. Em homenagem a esse feito, a cidade australiana de Germanton (na Nova Gales do Sul) passou a chamar-se Holbrook. Já no final do conflito e devido à sua vetustez, o HMS «B-11» foi convertido (após profundos trabalhos) em unidade de superfície. E, em 1919, foi enviado para Itália, onde um estaleiro especializado o desmantelou.

sábado, 5 de dezembro de 2015

«SKIBLADNER»

Vapor de rodas laterais de paletas, que opera nas águas do lago Mjosa, na Noruega. Foi construído pelos estaleiros de Motala e lançado em 1856; ano em que efectuou a sua viagem inaugural. O que faz, muito provavelmente, desta embarcação a mais antiga do seu tipo no activo. O seu armador actual é a companhia A/S Oplandske Dampskipsselskap, que o utiliza -somente na estação estival- em passeios turísticos e como plataforma de eventos culturais. O «Skibladner» apresenta 206 toneladas de arqueação bruta e mede 50,10 metros de longitude por 5 metros de boca (até às caixas onde se movimentam as rodas) por 2,50 metros de calado. Está equipado com 1 máquina  vapor de tripla expansão, que lhe imprime uma velocidade de cruzeiro de 12 nós. Tem uma equipagem de 16 marinheiros e técnicos e pode acolher 230 passageiros. O seu nome faz referência a um navio da mitologia escandinava. No historial do «Skibladner» há que referenciar dois afundamentos durante as suas imobilizações invernais : uma em 1937 e outra em 1967. Que implicaram, naturalmente, operações de recuperação do vapor em apreço. O «Skibladner» é Património Cultural da Noruega desde 2005.

«ROBERT FULTON»

Vapor fluvial de bandeira norte-americana, que operou exclusivamente no rio Hudson, fazendo carreiras regulares entre Albany e Nova Iorque. Pertenceu à companhia Hudson River Day Line Steamer, que o mandou construir no estaleiro da firma New York Shipbuilding Cº, de Camden, na Nova Jérsia. Estaleiro que o lançou à água no dia 20 de Março de 1909. Na supracitada linha, o «Robert Fulton» substituiu o vapor «New York» (que ardera acidentalmente em 1908), do qual recuperou máquinas, caldeiras e outro equipamento. Com casco de aço e deslocando 2 168 toneladas, esta embarcação media 106 metros de comprimento por 23 metros de boca. Era perfeitamente identificável graças à sua silhueta imponente, da qual sobressaiam 3 chaminés alinhadas transversalmente, e pela sua cor branca resplandecente. Tinha capacidade para assegurar o transporte de 4 000 passageiros; que se alojavam em cabines colectivas ricamente decoradas. As suas rodas laterais eram accionadas por máquinas que, inicialmente, eram alimentadas a carvão e, anos mais tarde, a gasóleo. Este vapor foi uma das vedetas da grande parada naval organizada no rio Hudson em 1909, para comemorar mais um século sobre os trabalhos do seu patrono, o insigne inventor Robert Fulton. Desfile que reuniu mais de 750 embarcações de todos os tipos e dimensões. A viagem final deste transporte de passageiros ocorreu a 13 de Setembro de 1948. O «Robert Fulton» acabou os seus dias nas Baamas, na Great Abaco Island, onde serviu de quartel e de centro comercial e de negócios flutuante. Foi desmantelado em 1966, quase 60 anos após a sua construção.

«HERZOGIN SOPHIE CHARLOTTE»

Inicialmente denominado «Albert Rickmers», este navio foi construído (em 1894) nos estaleiros da famosa companhia Rickmers, situados em Geestemund, na Alemanha. E funcionou, simultaneamente, como cargueiro e unidade de formação de cadetes (da marinha mercante) para a respectiva frota. Era um veleiro (barca) com casco de aço e equipado com 4 mastros, que podiam arvorar até 2 935 m2 de pano. A sua primeira viagem levou-o ao Japão, de onde trouxe um carregamento de arroz, destinado às moagens Rickmers. Depois dessa viagem ao país do Sol Nascente, efectuou outras ao Extremo Oriente com o mesmo fim. Em 1899, este navio foi cedido à Reederei Norddeutscher Lloyd, que continuou a utilizá-lo como navio-escola. Tendo, para o efeito, procedido a modificações estruturais que permitiram ao navio em apreço receber 60 cadetes, futuros oficiais da sua frota. Por essa altura, o veleiro recebeu o novo nome de «Herzogin Sophie Charlotte» ('Duquesa Sofia Carlota', membro da família imperial) e navegou em todos os mares do mundo. Em 1913, este navio foi parar às mãos da companhia de navegação Schluter und Maack, que a colocou no negócio do guano e nas rotas do Chile. Tendo sido surpreendido, nesse país da América do Sul, pela eclosão do primeiro conflito mundial, a barca acabou por ser arrestada pelas autoridades locais; que a entregaram, em 1921, à Inglaterra, a título de indemnizações de guerra devidas pela Alemanha. Este veleiro -com 2 377 toneladas de arqueação bruta e com 82,30 metros de comprimento por 13,17 metros de boca- passou, depois disso, por vária mãos : Matson Lines, Germanischer Lloyd (que lhe atribuiu o nome de «Gjertrud») e Sarpsborg, este um armador norueguês. Até que, em 1927, o navio foi encaminhado para Geestemunde, onde foi desmantelado.

«AMBACA»

Este paquete da ENN - Empresa Nacional de Navegação (antiga Mala Real Portuguesa) foi construído pelos estaleiros da empresa Earle's Shipbuilding and Engineering, de Kingston-upon-Hull, no Reino Unido. Que o lançaram à água em 1889. Era um navio com 2868 toneladas de arqueação bruta, que media 103,40 de comprimento por 12 metros de boca por 5,70 metros de pontal. Estava equipado com 1 máquina a vapor (acoplada a 1 hélice) desenvolvendo uma potência de 447 nhp; força que lhe concedia uma velocidade de cruzeiro de 13 milhas náuticas por hora. O «Ambaca» foi (tal como o seu gémeo «Cazengo») um dos primeiros paquetes portugueses a beneficiar de luz eléctrica a bordo. Estava registado na capitania do porto de Lisboa e tinha condições para receber uns 200 passageiros e importante carga geral. A sua tripulação era, geralmente, constituída por 64 membros. Navegou muito especialmente nas linhas de África e há notícias de (pelo menos por duas vezes) ter transportado, para Angola, tropas do Corpo Expedicionário Português. Naufragou a 23 de Dezembro de 1917 -estava-se, então, em plena Grande Guerra- a pouca distância do cabo Torinhana, em águas territoriais espanholas. O navio, que viajava da capital portuguesa para Bordéus, terá sido afundado -na versão do seu capitão- por um torpedo disparado por um submarino alemão. Já -na opinião de terceiros- a sua perda terá ocorrido por se ter despedaçado contra os rochedos do litoral galego. No desastre, houve 57 sobreviventes e 7 desaparecidos. Curiosidade : o nome deste paquete foi-lhe dado em homenagem a um município de Angola (Quanza Norte), fundado por colonos portugueses em 1611.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

«MONA'S ISLE»

..... Foi o primeiro de todos os navios utilizados pela companhia de navegação Isle of Man Steam Packet na carreira entre Douglas (porto da ilha de Man, onde o «Mona's Isle» foi registado) e Liverpool. Cidades entre as quais movimentou passageiros, correio e frete, de 1830 até 1851. Este navio -um vapor de rodas laterais- foi construído em 1830 no estaleiro de John Wood, de Wednesdey (situado nas cercanias de Glásgua). De propulsão mista (vapor/velas), o seu casco era de madeira e dispunha de 2 mastros devidamente aparelhados. Estava equipado com 1 máquina a vapor potenciando 100 shp, que lhe proporcionava (com a combinação da força eólica) uma velocidade de cruzeiro de 8,5 nós. O «Mona's Isle» (primeiro navio a usar este nome) fazia o referido trajecto em 8 horas de navegação, com um máximo de 325 passageiros a bordo. Com 200 toneladas de arqueação bruta, este navio media 35 metros de comprimento por 5,80 metros de boca e por 3 metros de calado. O seu primeiro capitão (que comandava 16 homens de tripulação) foi um experimentado lobo do mar chamado William Gill; que durante anos alimentou uma rivalidade sã, mas renhida, com os navios da St. George Company, a grande rival da sua casa armadora. O «Mona's Isle» foi retirado do serviço activo em 1851 e desmantelado em ano e lugar não apurados.

domingo, 22 de novembro de 2015

«KALIAKRA»

Veleiro utilizado como escola de formação de cadetes. O «Kaliakra», da armada da Bulgária, é uma escuna de 3 mastros, construída em 1984 nos estaleiros de Gdansk (na Polónia) com planos do famoso arquitecto naval Zygmunt Choren. Este belíssimo veleiro, que desloca 408 toneladas em plena carga e que mede 48,50 metros de comprimento fora a fora por 8,20 metros de boca e por 3,30 metros de calado, pode içar 18 velas com uma área total de 1 080 m2. Foi estudado para acolher uma tripulação permanente de 16 membros e, temporariamente, um contingente de 34 formandos e respectivo corpo professoral. O seu porto de abrigo é o de Varna, no mar Negro. Este navio escola tem dois 'sister-ships', o «Pogoria» e o «Iskra II», ambos de bandeira polaca e também eles destinados à formação de oficiais da marinha. Tal como a maioria dos seus congéneres, o «Kaliakra» é, também ele, uma espécie de embaixador itinerante do seu país. E é presença habitual nas concentrações de grandes veleiros que, regularmente, se organizam por essa Europa fora. O autor destas linhas já o viu (e esteve a bordo deste navio) pelo menos duas vezes, aquando de eventos dessa natureza realizados em Ruão, na Normandia.

«BALKAN»

Navio de passageiros (e carga) de bandeira francesa, pertencente à companhia de transportes Freissinet. Com a mobilização militar -durante a Grande Guerra- dos grandes navios afectados às linhas da Córsega, o supracitado armador disponibilizou, em sua substituição e para execução do mesmo trabalho, três navios de menor porte, entre os quais se encontrava o «Balkan»; um navio (construído nos estaleiros de Dunberton, na Escócia, em 1882) de 1 709 toneladas, medindo 79,24 metros de comprimento por 11,31 metros de boca. Depois de muitas viagens sem incidentes dignos de registo, o «Balkan» zarpou de Marselha na noite de 15 de Agosto de 1918 com destino a Bastia. Encontrava-se integrado num comboio de navios devidamente escoltados por unidades da armada francesa e a viagem decorreu com normalidade, até ao avistamento de um presumível submarino inimigo. O ataque do «UB-48» ocorreu durante a madrugada de 16 de Agosto e foi fulminante. O único torpedo expedido pelo submersível quebrou o «Balkan» em dois e afundou-o (ao largo de Calvi) em menos de 1 minuto. Só às 10 horas da manhã, uma patrulha de hidros militares descobriu os destroços do vapor (que estava equipado com 1 máquina de 1 500 cv) e deu o alarme. O balanço do desastre foi trágico; das 519 pessoas que viajavam a bordo (equipagem e passageiros), 417 pereceram. Entre os mortos encontravam-se mais de duas centenas de soldados naturais da Córsega e que iam à terra gozar um período de licença. Um monumento à memória das vítimas (militares e civis) do «Balkan» foi erigido na costa, a escassos 15 quilómetros do lugar onde soçobrou este pequeno navio da companhia Freissinet.

«ANTELOPE»

Navio de combate inglês dos séculos XVI e XVII (1546-1649). Realizado no reinado de Henrique VIII e reconstruído três vezes (em 1558, 1581 e 1618), este navio atravessou um século da História de Inglaterra, participando em várias guerras;  deste a épica luta contra a Invencível Armada até aos combates fratricidas da 2ª Guerra Civil Inglesa. As suas características físicas e potência de fogo foram-se modificando aquando das modernizações que sofreu ao longo da sua vida operacional. No início, era um navio de 300 toneladas, manobrado por 200 homens de equipagem e armado com uma quarentena de canhões de fraco calibre. Em 1558, tomou a forma de um galeão de 341 toneladas, guarnecido com 160 homens e armado com 38 bocas de fogo com maior poder de destruição do que as anteriores. Em 1581, era dado como um navio de 350 toneladas, tripulado por 160 marinheiros e soldados e conservando o seu arsenal de 38 canhões. E, finalmente, em 1618, fazendo fé num documento coevo, o «Antelope» passou a deslocar 450 toneladas e a transportar 34 peças de artilharia. Nesse tempo, o seu comprimento seria de 28 metros (na quilha), mediria 9,80 metros de boca e o seu calado cotaria 3,81 metros. Do seu historial constam (entre outras) participações na guerra contra a frota de Filipe II (já referida), uma frustrada expedição contra a Escócia (em 1559), a expedição de 1597 (também ela mal sucedida) aos Açores, sob o comando conjunto do conde de Essex e de 'sir' Walter Raleigh, a expedição contra Argel de 1620/1621, etc. Em Outubro de 1624, este navio foi muito maltratado por uma violenta tempestade ocorrida no mar da Mancha, que o atirou para o areal de Goodwin. Tendo perdido todo o seu mastreame e sofrido outros danos importantes, o navio foi rebocado para Downs, onde foi inteiramente recuperado pelo reputado mestre carpinteiro Phineas Pett. O «Antelope» viu-se, finalmente, implicado na 2ª Guerra Civil que conheceu o país e foi queimado, por partidários dos Parlamentares, que -em 1649- o tomaram quase sem luta.

sábado, 21 de novembro de 2015

«HARALD HAARFAGER»

Navio de defesa costeira da marinha real norueguesa. Foi construído em Elswick (Inglaterra) no ano de 1897 e estava posto de lado -por incapacidade ao combate- quando os hitlerianos o capturaram, em 1940, e o reactivaram para resistir às tentativas de reconquista da Noruega por parte dos Aliados. Aquando do seu lançamento à água, o «Harald Haarfager» (nome do primeiro rei da Noruega modernamente unificada) deslocava 3 850 toneladas e media 92,66 metros de comprimento por 14,78 metros de boca. As suas máquinas a vapor desenvolviam 4 500 hp, potência que lhe permitia navegar a uma velocidade rondando os 17 nós. Tinha uma guarnição de 245 homens. Do seu armamento principal destacavam-se 2 canhões de 210 mm, 6 de 120 mm, 2 tubos lança-torpedos de 450 mm e várias armas (de menor calibre) de tiro rápido. Estava razoavelmente blindado, em particular na cinta envolvente (178 mm) e nas torres (203 mm).  Após a sua captura, os alemães procederam a mudanças significativas no seu arsenal, substituindo o essencial da artilharia inicial por armamento antiaéreo : 6 canhões de 105 mm, 2 de 40 mm e 14 de 20 mm. Utilizado como bateria 'flak' -usando o novo nome de «Thetis»- este navio sobreviveu ao conflito e foi remetido às autoridades norueguesas após a derrota do nazismo. Ainda serviu algum tempo como navio-prisão de soldados alemães e como quartel flutuante. Em 1948, foi vendido para o ferro-velho e desmantelado. Nota : a fotografia anexada mostra o «Harald Haarfager», hasteando pavilhão norueguês, antes de 1930.

«PANAY»

Canhoneira da armada dos Estados Unidos da América, que usou o indicativo de amura PR-5. Foi construída nos estaleiros Kiangnan Dockyard Engineering Works, de Xangai, em 1927, e serviu no rio Yangtzé até Dezembro de 1937. A USS «Panay» deslocava 482 toneladas e media 58 metros de comprimento por 8,80 metros de boca. O seu calado era minimalista, pois não ultrapassava (em plena carga) 1,60 metro. A sua velocidade máxima era de 15 nós. Tinha uma tripulação de 59 homens, incluindo oficiais e sargentos. A canhoneira em apreço estava equipada com 2 peças de artilharia de calibre 50 e com 8 metralhadores, para além das armas individuais distribuídas à sua guarnição. Participou em variadíssimas operações de polícia e de auxílio a cidadãos norte-americanos vivendo e/ou trabalhando no vale do Yangtzé, num tempo de grande perturbação na China. Situação que se agravou em 1937, com a invasão nipónica do país. A canhoneira «Panay» foi um dos navios dos EUA que, em Novembro desse ano, foi indigitado para proceder à evacuação do pessoal da embaixada de Nanquim e para socorrer os civis dispostos a abandonar a cidade. Apesar dos americanos terem assinalado aos ocupantes japoneses o carácter humanitário dessa missão, a sua canhoneira (nessa altura comandada pelo tenente James J. Hughes) foi bombardeada e metralhada -a 12 de Dezembro de 1937- por aparelhos exibindo as marcas da aviação nipónica. A agressão (que durou 1 hora e meia) provocou 4 mortos e mais de 40 feridos a bordo. Tanto militares como civis. E culminou com o afundamento do navio atacado. As autoridades estadunidenses apresentaram um protesto formal às autoridades de Tóquio; que apresentaram desculpas e declararam que o ataque ao navio de guerra americano não fora intencional. Que, se tratara de uma infeliz confusão dos seus aviadores, que haviam tomado a bandeira dos 'states' pela da República chinesa. Em Abril de 1938 o assunto foi dado como arrumado, depois do Japão ter vertido aos Estados Unidos uma indemnização de quase 2 milhões de dólares. Mas, desde então, as relações entre os dois países continuaram a degradar-se. Até que, a 7 de Dezembro de 1941, com o ataque-surpresa à base aeronaval de Pearl Harbour, as duas poderosas nações entraram (como é sabido) em guerra aberta.

«CIRCASSIA»

Paquete da frota Anchor Line. Foi construído em 1937 nos estaleiros escoceses da empresa Fairfield Govan, de Glásgua. O «Circassia» apresentava 11 170 toneladas de arqueação bruta e media 154 metros de comprimento por 20 metros de boca. Equipado com motores diesel e com 2 hélices, o «Circassia» podia navegar à velocidade de cruzeiro de 16,5 nós. Era o terceiro navio da Anchor a usar o seu nome. Registado no porto de Glásgua, estava preparado par receber 300 passageiros de 1ª classe e 80 de 3ª, na linha Reino Unido-Bombaim (Índia), pela via do canal de Suez. Reputado pelas comodidades oferecidas aos seus passageiros, o «Circassia» viu a sua carreira comercial interrompida nos anos 40 (do passado século, obviamente) por causa do 2º conflito mundial. Modificado para poder servir como transporte de tropas, este navio voltou à posse dos seus legítimos proprietários no pós-guerra (em 1947), depois de ter cumprido várias missões e carácter bélico, transportando militares e respectivo material de combate. Regressou, em 1948, às viagens habituais entre Glásgua (seu porto de registo) e Bombaim, com escalas intermediárias em portos do Mediterrâneo e do oceano Índico; e ali permaneceu até 1966, ano em que essa linha foi encerrada, após 110 anos de funcionamento. Foi também nesse ano, que o «Circassia» (então com quase 30 anos de bons serviços, mas já obsoleto) rumou a Alicante, no sul de Espanha, onde foi desmantelado.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

«WILHELM HEIDKAMP»

Saído do mesmo estaleiro em 1938 e em tudo idêntico ao navio anterior (o 'Anton Schmitt»), este contratorpedeiro germânico teve -no mesmo dia e praticamente à mesma hora- igual destino : foi destruído por unidades da armada britânica, aquando do primeiro recontro naval de Narvik. No dia 9 de Abril de 1940, o «Wilhelm Heidkamp» afundou (por torpedeamento) o «Eidsvold», um velho navio norueguês de defesa costeira, depois do seu capitão ter recusado render-se aos agressores alemães. O «Wilhelm Heidkamp» (Z.21) era, então, navio-almirante da flotilha de 'destroyers' que Hitler destacara para a Noruega no quadro da Operação Weserubung. O seu comandante era o comodoro Friedrich Bonte, que pereceu -a 11 de Abril de 1940- aquando do afundamento do seu navio. A vitória dos Aliados em Narvik não teve consequências no início do conflito, visto não ter impedido a invasão terrestre e aérea da Noruega e a sua subsequente ocupação militar pelas forças nazis.

«ANTON SCHMITT»

Contratorpedeiro da marinha de guerra alemã. Pertenceu à classe dita 'de 1936', cujas unidades deslocavam, em plena carga, 3 470 toneladas e mediam 125,10 metros de longitude por 11,80 metros de boca. O seu calado era de 4,50 metros. O «Anton Schmitt» (também conhecido por Z.22) dispunha de um conjunto propulsivo (turbinas a vapor) que desenvolvia uma potência global de 69 000 shp, força que lhe permitia navegar à velocidade máxima de 36 nós e de dispor de uma autonomia de 2 050 milhas náuticas com andamento reduzido a 19 nós. Este navio tinha uma guarnição de 323 homens, dos quais 10 eram oficiais. Do seu armamento normal constavam 5 canhões de 127 mm, 4 peças AA de 37 mm, 6 AA de 20 mm, 8 tubos lança-torpedos de 533 mm e vários 'racks' de lançamento de cargas de profundidade. Em finais de 1939, este 'destroyer' foi um dos navios da armada hitleriana que recebeu um sistema sonar para detecção atempada de submarinos. Construído pelos estaleiros AG Weser, de Bremen, o «Anton Schmitt» foi lançado à água a 20 de Setembro de 1938 e oficialmente incorporado nos efectivos da 'Kriegsmarine' um ano mais tarde. Teve vida operacional brevíssima, já que foi afundado -a 11 de Abril de 1940- na primeira Batalha de Narvik, travada aquando da campanha da Noruega; cuja vitória sorriu às forças navais dos Aliados.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

«CHAMPION OF THE SEAS»

'Clipper' que usou, sucessivamente, bandeiras dos E.U.A. e do Reino Unido. Com casco de madeira (aplicada sobre esqueleto metálico), 3 mastros e 3 conveses, o «Champion of the Seas» foi construído em 1854 nos estaleiros de Donald McKay, de East Boston, e tornou-se (aquando do seu lançamento) o mais importante veleiro do seu tipo e do seu tempo. Com 2 447 toneladas de arqueação bruta, este navio  apresentava as seguintes dimensões : 76,80 metros de longitude por 13,90 metros de boca por 8,80 metros de calado. O seu primeiro proprietário foi a James Baines & Cº, que geria a famosa e numerosa frota da Black Ball Line. Depois de uma primeira travessia transatlântica sem história, o «Champion of the Seas» partiu de Liverpool para Melbourne com 780 passageiros a bordo, efectuando essa sua primeira viagem para os antípodas -pela rota do cabo da Boa Esperança- em apenas 72 dias de navegação. Ao longo das muitas outras viagens que fez para (e da)  Austrália, o 'clipper' em apreço fez a cabal demonstração da sua rapidez e da segurança e do conforto oferecidos aos seus passageiros; que disso deixaram testemunhos. Do seu historial consta uma viagem que fez, em 1857, de Portsmouth (no sul de Inglaterra) para Calcutá com 1 000 militares, que foram para a índia participar na repressão dos cipaios revoltados. A rainha Vitória visitou o «Champion of the Seas» antes da partida do navio. Nove anos depois desse acontecimento, em 1866, o navio foi vendido a uma firma britânica (a T. Harrison & S. T. Stowe), que o usou até 1874, ano em que passou a ser propriedade da companhia A. Cassels, de Liverpool. Apesar do seu mau estado de conservação, o «Champion of the Seas» ainda foi capaz de realizar viagens comerciais entre San Francisco e Hong Kong em 39 dias e San Francisco e Callao em 45 dias. Este extraordinário veleiro perdeu-se em inícios do mês de Janeiro de 1877, quando, metendo água e perdendo carga (guano do Chile), foi voluntariamente abandonado -ao largo do cabo Horn- pela sua tripulação; que acabou por ser resgatada pela «Windsor», uma barca britânica.

«COLUMBIAN»

..... O «Columbian» foi um vapor de modestas dimensões (45 metros de comprimento por 9 metros de boca), construído no Oeste do Canadá em 1898, pelos estaleiros de John Todd. O seu comanditário e primeiro utilizador foi uma empresa estatal de nome Canadian Development Company; que acabou por vender este vapor de roda traseira à British Navigation Cº, que operava no rio Yukon, transportando frete e passageiros. Em circunstâncias normais, o «Columbian» podia acolher 175 viajantes, para além dos seus 25 homens de equipagem. Navegou até 25 de Setembro de 1906 sem incidentes dignos de registo. Mas, nesse dia, tornou-se o protagonista do mais trágico desastre fluvial ocorrido naquele que -com os seus 3 185 km de extensão- é um dos maiores rios da América setentrional. O «Columbian» viajava, nessa data, sem passageiros (à excepção de um clandestino), devido à perigosidade de parte da carga que transportava e que era constituída por cerca de 3 toneladas de pólvora; Substância altamente explosiva que era destinada a um complexo mineiro : a Tantalus Butte Coal Mine, instalado numa das margens canadianas do Yukon. A bordo, também viajava uma manada de bovinos. O capitão do vapor (J. O. Williams) avisou para o perigo do carregamento e instruiu a tripulação para que tomasse as precauções necessárias. Apesar disso, em determinado momento da viagem, junto à passagem de Eagle Rock, o clandestino e um membro de equipagem do vapor decidiram divertir-se com uma carabina. Tão desajeitadamente, que a carga explosiva do vapor de rodas foi atingida por um tiro dessa arma de fogo. Facto que provocou uma colossal explosão e ocasionou a perda total da embarcação e do seu carregamento comercial. Morreram 6 homens e outros ficaram feridos com maior ou menor gravidade. Devido ao isolamento da região da Columbia Britânica onde ocorreu o desastre, os sobreviventes só puderam ser socorridos no dia seguinte. Um monumento à memória das vítimas do «Columbian» foi erigido na cidade de Whitehorse.

domingo, 8 de novembro de 2015

«TOPAZ»

O «Topaz» é um dos maiores e mais luxuosos iates privados jamais realizados.  Foi construído pela reputada sociedade Lursen, de Bremen, na Alemanha, por encomenda do príncipe Mansour ben Zayed Al Nahyan; que é um dos políticos que governam os Emirados Árabes Unidos e o proprietário do clube de futebol Manchester City. Este belíssimo navio de lazer desloca 11 590 toneladas e mede 147 metros de comprimento por 21,50 metros de boca. O seu calado é de 5,70 metros. Tem 8 conveses e foi concebido para acolher principescamente 12 passageiros. Tem casco de aço e superestruturas em alumínio. Move-se graças a 2 motores diesel Pielstick, desenvolvendo (unitariamente) uma potência de 7 990 hp, que lhe garantem uma velocidade máxima de 25,5 nós. E está equipado com 3 geradores, que fornecem energia ao equipamento e comodidades de bordo. Muitas das suas características permanecem confidenciais. O «Topaz» foi desenhado por Terence Disdale (exterior) e por Tim Heywood (interiores) e terá custado 400 milhões de euros. Este navio de sonho pode operar 2 helicópteros e, entre outros luxos, tem piscina, jacuzzi, parque de motas de água, ar condicionado, cinema, ginásio, sala de conferências, etc. Parece que o seu proprietário (ou a sociedade que por ele gere este autêntico palácio flutuante) não tem desdenhado alugar -pelas somas exorbitantes que se imaginam- o «Topaz» a figuras públicas e milionárias; que, por 2 dias ou por 1 semana, queiram experimentar viver um conto das 1001 noites.

«REGINA ELENA»

Vaso de guerra italiano, construído no Arsenal de La Spezia na primeira década do século XX. Deu o seu nome a uma classe que compreendeu 3 outros navios couraçados. A saber : o «Vittorio Emanuele», o «Napoli» e o «Roma». O «Regina Elena», que foi dado como concluído em 1907 e que integrou, nesse mesmo ano, os efectivos da 'Regia Marina', deslocava 13 800 toneladas em plena carga e apresentava as seguintes dimensões : 132,60 metros de comprimento por 22,40 metros de boca por 8,58 metros de calado. A sua propulsão era assegurada por 2 máquinas a vapor de tripla expansão (acopladas a 2 hélices), desenvolvendo uma potência global de 19 300 ihp; força que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 20,8 nós e uma autonomia de 1 700 milhas náuticas. A sua blindagem era de 250 mm de espessura na cinta e na torre de comando, as zonas melhor protegidas do navio. Do seu armamento principal, destacavam-se 2 peças de artilharia de 305 mm, 12 de 203 mm, 16 de 76 mm e 2 tubos lança-torpedos de 450 mm. A sua guarnição podia elevar-se a 764 homens, incluindo o quadro de oficias. O «Regina Elena» -que sofreu trabalhos de modernização em 1912- participou na Guerra da Cirenaica, contra o Império Otomano, e na 1ª Guerra Mundial. Durante este último conflito, esteve particularmente activo no mar Adriático, tendo sido utilizado na defesa do porto de Otranto. Depois do armistício, foi retirado da primeira linha e passou a cumprir missões de interesse secundário e/ou a dar formação a marinheiros. Este navio foi desactivado em 1927 e desmantelado em 1931.

sábado, 7 de novembro de 2015

«BOUSSOLE»

Navio francês do século XVIII. Foi construído num estaleiro de Bayonne (no País Basco francês) em 1782, de onde saiu com o primitivo nome de «Portefaix». Era um mercante (com características físicas que desconhecemos), que foi adquirido e transformado pela armada de Luís XVI, para poder participar numa expedição científica promovida por este rei de França. E cuja chefia foi entregue a Jean-François de Galaup, conde de La Pérouse. Com o novo nome de «Boussole» e acompanhado pelo «Astrolabe», este navio zarpou de Brest no dia 1º de Agosto de 1785, rumo às costas da América meridional e ao cabo Horn. Que transpôs para ganhar o oceano Pacífico. Depois de ter visitado (entre outras longínquas terras) a ilha de Páscoa, Havai, o Alasca, as costas siberianas, a China, as Filipinas e as ilhas Samoa, o navio em apreço (mais o «Astrolabe») foi visto, pela última vez, na Austrália, em Março d 1788. Animada do mais puro espírito do Século das Luzes, a expedição -que integrava 220 membros- levava a bordo inúmeros cientistas (astrónomos, hidrógrafos, botânicos, entomologistas, etc) e artistas (desenhadores e pintores), que deveriam trazer para a Europa o fruto pluridisciplinar das suas descobertas, estudos e observações. Depois de terem desaparecido misteriosamente, várias expedições foram montadas para tentar descobrir o paradeiro dos navios de La Pérouse. Incluindo uma comandada pelo ilustre navegador Dumont D'Urville; que também ela não produziu resultados definitivos, embora este grande marinheiro normando (que por lá recolheu alguns elementos susceptíveis de terem pertencido à malograda expedição de La Pérouse) tenha aventado a hipótese da «Boussole» e do «Astrolabe» se terem perdido ao largo da ilha de «Vanikoro», no arquipélago das Salomão. Mas só em 2005 foram formalmente identificados (nesse lugar) os restos do naufrágio. Verdade confirmada pelos autóctones de Vanikoro, que têm conhecimento do trágico acontecimento, por tradição oral. Quanto às causas do desaparecimento dos navios e seus ocupantes, essas permanecem enigmáticas.

«CANBERRA»

Paquete e navio de cruzeiros britânico, que navegou entre 1961 e 1997. Foi um dos navios mais emblemáticos da companhia Peninsular & Oriental Steam Navigation; que o mandou construir nos estaleiros Harland and Wolff, de Belfast (Irlanda do Norte). O «Canberra» foi lançado à água em 1960 e efectuou a sua viagem inaugural no ano seguinte : de Londres (onde o navio foi matriculado) a Sydney, via canal de Suez. Foi essa a sua rota habitual até 1973. Ano em que uma quebra significativa no fluxo de emigrantes europeus para a Austrália se acentuou e que o transporte marítimo começou a ceder à concorrência da aviação comercial. Transformado em navio de cruzeiros, o «Canberra» (que recebeu o seu nome em clara homenagem à capital federal australiana) passou a navegar -com turistas- para os mais variados destinos. Em 1982, no começo da guerra que opôs, no hemisfério sul, o Reino Unido à República Argentina, por causa das contestadas ilhas Falkland (ou Malvinas), este navio foi requisitado pelo governo de Londres e rapidamente convertido em transporte de tropas. O «Canberra» levou para a zona de guerra muitas centenas de combatentes e, depois disso, foi buscar à Georgia do Sul o contingente (3 000 homens) levado para aquela região pelo seu congénere «Queen Elizabeth 2». Paquete que as autoridades não quiseram expor aos perigos já afrontados pelo navio da P. & O., que chegou a operar debaixo do fogo inimigo. Disse-se que o navio britânico em questão, que passou a ser conhecido pelos militares como a 'Grande Baleia Branca', só não foi afundado pelos argentinos, pelo facto dos pilotos sul-americanos o terem poupado deliberamente, por tê-lo confundido com um navio-hospital. No final da guerra, o «Camberra» voltou à Inglaterra repleto de militares desmobilizados. À sua chegada a Southampton -no dia 11 de Julho de 1982- o antigo paquete foi recebido em apoteose por uma multidão de cidadãos britânicos, numa manifestação de fervor popular sem precedentes. O facto de ter participado na campanha das Falkland granjeou-lhe, curiosamente, nova clientela e os seus cruzeiros foram um sucesso durante anos. Em 1997, visivelmente obsoleto, o «Canberra» foi vendido a um sucateiro paquistanês, que procedeu ao seu desmantelamento num estaleiro de Gadani. Este navio, que passou progressivamente (depois de várias operações de modernização) das 45 270 toneladas de arqueação bruta iniciais para 49 073 toneladas, media 250 metros de comprimento por 31 metros de boca. O seu calado era de 10,80 metros. Dotado de poderoso e revolucionário sistema propulsivo, aquele que também foi chamado a 'First Lady of the P. & O.', podia navegar -nos seus melhores tempos- à velocidade máxima de 29 nós; andamento que caiu, a partir dos anos 70, para 23,5 nós. No início da sua carreira, o «Canberra» transportava 2 238 passageiros, 548 dos quais em 1ª classe. E quando foi transformado em navio de cruzeiros passou a acolher (numa classe única) 1 737 viajantes. A sua equipagem também variou em número, passando de 900 para 795 membros nos seus derradeiros anos.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

«AVEIRO»

..... O cargueiro denominado «Aveiro», foi um dos navios de bandeira germânica apresados no mar da Palha (em 23 de Fevereiro de 1916), por iniciativa do governo de Afonso Costa. Acto hostil, que esteve na origem da declaração de guerra do Império Alemão a Portugal e da nossa subsequente participação no primeiro conflito planetário. Este vapor foi construído no ano de 1894 nos estaleiros da empresa Flensburger Schiffbau Gasellschaft, de Flensburg,. Apresentava uma arqueação bruta de 2 296 toneladas e media 85,15 metros de comprimento por 12,15 metros de boca por 4,45 metros de calado. Estava equipado com 1 máquina a vapor de tripla expansão, desenvolvendo uma potência de 1 200 ihp; força que lhe facultava uma velocidade de cruzeiro da ordem dos 10 nós. Chamou-se «Harzburg» (de 1894 até 1904), quando esteve ao serviço da companhia Deutscher D. G. Hansa, de Bremen, e «Naxos» (de 1904 a 1916), quando serviu na frota da Deutsche Levante Linie, de Hamburgo. Registado em Lisboa no seguimento da sua captura e da sua derradeira mudança de nome, o «Aveiro» integrou a frota dos Transportes Marítimos do Estado (T.M.E.), que foi formada com os navios apresados à marinha mercante tudesca. Fretado posteriormente à companhia britânica de transportes Furness, o «Aveiro» navegava em águas do mar Jónico, (Mediterrâneo) com uma carga mercante, quando -no dia 10 de Abril de 1918- foi interceptado pelo submarino «UB-53», que o afundou a tiros de canhão. A sua tripulação pôde, no entanto, embarcar nas baleeiras de bordo e sobreviver ao ataque. Nota : a ilustração aqui apresentada é da autoria de Luís Filipe Silva, conhecido (e reconhecido) desenhador dos perfis longitudinais de muitos navios portugueses.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

«PETER POMEGRANATE»

Navio de guerra inglês do século XVI.  Pertenceu à armada dos Tudores e foi realizado em 1510 nos estaleiros de Portsmouth. Deslocava, aquando da sua construção, 450 toneladas, não sendo, no entanto, conhecidas referências sobre as suas reais dimensões, nomeadamente sobre o seu comprimento e boca. Pensa-se, hoje, que o seu nome encerre uma alusão a S. Pedro (tomado como santo protector do navio) e à romã, elemento principal do brasão de armas da rainha Catarina de Aragão; que foi a primeira das muitas mulheres de Henrique VIII. Em 1536,  o «Peter Pomegranate» entrou no estaleiro para ser restaurado e ampliado, passando a deslocar, desde então, 600 toneladas. O seu nome foi, pela mesma ocasião, reduzido para «Peter», pelo facto de, entretanto, se ter procedido à anulação do matrimónio do supracitado rei Henrique com a princesa espanhola. Da sua guarnição passaram a fazer parte 185 marinheiros (incluindo o respectivo corpo de oficiais), 185 soldados e 30 artilheiros, num total de 400 homens. Do seu armamento faziam parte canhões (de bronze e de ferro) de diferentes calibres. E -de acordo com um inventário da época- também 259 arcos de teixo, 160 alabardas e 160 lanças 'mouras'. Este histórico navio participou na batalha de St. Mathieu (contra os franceses) e no bombardeio naval de Pinkie (durante a campanha contra os escoceses). Desconhece-se o destino deste navio. As últimas noticias sobre a sua existência datam de 1558. Curiosidade : a ilustração do «Peter Pomegranate» aqui apresentada é a que consta no 'Anthony Roll', um registo marítimo inglês do tempo da dinastia Tudor.

«LA UNIÓN»

...... O «La Unión» é o novo navio-escola da armada peruana. Trata-se de um magnífico veleiro de 4 mastros, envergando pano redondo (essencialmente), que foi concebido por engenheiros nacionais e inteiramente construído nos estaleiros da SIMA (Servicios Industriales de la Marina) de Callao. Lançado à água no dia 22 de Dezembro de 2014, este navio encontra-se ainda na fase de testes. Desloca 3 200 toneladas e mede 115,50 metros de comprimento por 13,50 metros de boca. O seu calado é de 6,50 metros. A sua guarnição compreende 25 oficiais e 86 membros de equipagem de categoria subalterna; podendo o navio, na sua fase operacional, receber e dar instrução a 134 cadetes. O «La Unión» dispõe de 1 motor auxiliar (como manda a lei) e pode navegar à velocidade máxima de 12 nós. Este bonito veleiro é, actualmente, o maior do seu tipo existente em toda a América latina. Para além da actividade académica que irá desenvolver, este navio também se consagrará à investigação científica, à acção humanitária e agirá (tal como os seus congéneres) como um embaixador itinerante do seu país. No seu bojo, o «La Unión» conterá uma biblioteca, um auditório, uma plataforma informática e, naturalmente, várias salas de aulas, onde os aspirantes a oficial receberão lições de navegação astronómica, de meteorologia, de oceanografia, de hidrografia, de guerra naval e serão, obviamente, iniciados na ancestral arte de navegar à vela.

«MÉNDEZ NUÑEZ»


Moderna fragata espanhola pertencente à classe de navios 'Álvaro de Bazán'. Construído no Ferrol (Galiza) pelos estaleiros Izar/Navantia, este navio (o F-104) está no activo da armada dos nossos vizinhos desde 2002. O seu nome constitui uma homenagem a um brilhante almirante espanhol do século XIX. A «Méndez Nuñez» desloca 5 800 toneladas e apresenta as dimensões seguintes : 146,72 metros de comprimento; 18,60 metros de boca; 4,75 metros de calado. A sua potência (turbinas a gás, 46 648 cv e máquinas diesel, 12 000 cv) conferem-lhe uma velocidade máxima de 28,5 nós e uma autonomia de 5 000 km, com andamento reduzido a 18 nós. Este navio tem uma guarnição de 216 membros. Esta fragata está armada com 1 canhão de 5 polegadas, capaz de disparar 20 projécteis por minuto a uma distância de 23 km, com 2 lança-mísseis quádruplos antinavios 'Harpoon', com 2 tubos lança-torpedos, um 1 lança-mísseis vertical Mk-41, com 1 helicóptero 'Seahawk' equipado para o combate a submarinos e unidades de superfície. Dispõe de moderníssimos sistemas de navegação, de detecção e de guerra electrónica e foi (com as outras unidades da sua classe) o primeiro navio de guerra europeu a beneficiar do sistema de combate norte-americano 'Aegis', que é, provavelmente, o mais avançado do mundo. O seu casco foi construído com aços de alta resistência, de modo a poder resistir a impactos balísticos de grande intensidade destrutora. O «Méndez Núñez» participou em vários exercícios e manobras da NATO (nomeadamente em águas territoriais portuguesas) e esteve empenhado -no oceano Índico- em missões contra a pirataria. Assim como em missões de carácter humanitário, como o salvamento, no mar Mediterrâneo, de refugiados e, noutras águas, de náufragos. Este navio tem a sua base no Ferrol. Curiosidade : as outras unidades da classe 'Álvaro de Bazán' são as fragatas «Álvaro de Bazán», «Almirante Juan de Borbón», «Blas de Lezo» e Cristóbal Colón».

«ADVICE»

Navio da marinha real inglesa de 4ª categoria (40 canhões), construído em 1650 nos estaleiros de Woodbridge (Suffolk), sob a orientação do reputado mestre carpinteiro Peter Pett, segundo do nome. O «Advice» (a não confundir com outros navios homónimos que serviram na 'Royal Navy') era uma fragata de 560 toneladas, medindo 36 metros de longitude por 9,90 metros de boca. O seu calado cotava 3,70 metros. Em 1677, foi aumentado o seu potencial de fogo, com a adjunção de mais outras 8 peças de artilharia. Depois de ter cumprido satisfatoriamente todas as missões próprias a um navio de guerra britânico do tempo, o «Advice» regressou -em 1698- ao estaleiro naval que o construíra, para se submeter a grandes trabalhos de restauro, que lhe conferiram, entre outros melhoramentos, uma potência de fogo acrescida, passando o seu arsenal a contar com 54 canhões. No dia 27 de Junho de 1711, já com a respeitável idade de 61 anos de idade e de actividade, esta fragata -que procedia a trabalhos de carenagem em Yarmouth Roads- foi atacada por cinco navios corsários franceses, que lhe causaram danos de monta e que mataram 2/3 da sua guarnição. O seu próprio capitão, lorde Duffus, foi gravemente ferido e não encontrou outra alternativa que não fosse a da rendição. A fragata inglesa foi levada como troféu para Dunkerque, do outro lado do mar do norte, onde se perdeu o seu rasto.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

«KREPOST»

Navio russo, pertencente à esquadra de Azov, constituída durante o reinado de Pedro, o Grande por Fiodor Alexeievich Golovin, um militar e político da máxima confiança do czar. O desenho deste navio foi inspirado no de uma embarcação mediterrânica de origem turca e teve vida operacional entre os anos 1699 e 1709.  O «Krepost» (cujo nome significa 'fortaleza', na nossa língua) era um veleiro de 3 mastros (envergando, essencialmente, pano redondo), que media 37,80 metros de longitude por 7,30 metros de boca. O seu calado era de 4 metros. Tinha uma guarnição de 110 homens, oficiais e marinheiros, e esteve armado inicialmente com 46 canhões e, numa segunda fase, com 52 bocas de fogo. Foi construído num estaleiro naval de Panchin sobre o Don. O «Krepost» (que fez parte de uma classe de navios, da qual foram realizadas 10 unidades) participou em várias missões (nomeadamente militares) no tempo do conflito de fronteiras entre a Rússia e o império otomano. Esteve estacionado em Constantinopla durante 1 ano inteiro, enquanto duraram, nessa cidade (hoje chamada Istambul), as negociações entre as duas partes envolvidas no diferendo. Desconhecem-se as circunstâncias que presidiram à sua retirada do serviço (em 1709) e qual foi o seu destino, depois de ter deixado o activo.

«SOLEIL D'ORIENT»

...... Navio mercante -mas armado com 60 canhões- que pertenceu à Companhia (francesa) da Índias Orientais. Não encontrámos referências sobre as suas dimensões. Sabe-se, no entanto, que era um navio de 1 000 tonéis e que tinha uma guarnição permanente de 300 homens. Foi construído no estaleiro naval de Lorient e foi lançado ao mar em 1671. Foi o primeiro de uma série de grandes navios ali realizados, num tempo em que a cidade de Lorient ainda não existia. E diz-se qua esse futuro porto francês da costa atlântica foi baptizado em recordação deste navio; que era, ao tempo, o maior de todos os que hasteavam a bandeira do Rei-Sol.  A obra parece não ter saído perfeita e o «Soleil d'Orient» teve vários problemas de navigabilidade. Mas, e apesar disso, este navio realizou cinco viagens às Índias, de onde trouxe mercadorias preciosas, que o navio descarregava no porto de La Rochelle. Foi a última dessas viagens que lhe granjeou alguma fama. Trágica nomeada ! A 6 de Setembro de 1681, este soberbo navio zarpou de Bantan com uma embaixada (constituída por 20 personagens ilustres) enviada pelo rei de Sião à corte de França. Nação europeia com a qual o monarca oriental desejava estabelecer um tratado de paz e de cooperação. A par dos embaixadores, o navio em apreço transportava mercadorias diversas e negociáveis e um tesouro (avaliado em 800 000 libras), presente do rei do Sião a Luis XIV. O «Soleil d'Orient» -provavelmente em mau estado e em sobrecarga- afrontou uma série de tempestades, mas conseguiu atingir a ilha de Bourbon (hoje chamada da Reunião), onde fez aguada e procedeu a pequenas reparações. Depois disso (Outubro/Novembro de 1681), nunca mais foi visto, presumindo-se que tenha naufragado no oceano Índico, quando navegava na rota do cabo da Boa Esperança.

«RAJULA»

Paquete inglês do armador British India Steam Navigation Company. Foi registado no porto de Londres e destinado à linha do Oriente, via Mediterrâneo e canal de Suez. Construído na Escócia, em Glásgua, pelos estaleiros Barclay Curle & Company -que o lançaram ao mar em 22 de Setembro de 1926- este excelente navio apresentava uma arqueação bruta de 8 496 toneladas e media 145,40 metros de longitude por 18,90 metros de boca. O seu calado era de 8 metros. Movia-se graças a 2 máquinas a vapor desenvolvendo uma potência global de 5 200 ihp, força que lhe facultava uma velocidade de cruzeiro de 13 nós. Devido às normas de segurança menos rígidas (ou mais fáceis de violar) aplicadas no Oriente, o «Rajula» chegou a transportar cerca de 5 000 passageiros (por viagem) entre os portos da Índia e da Malásia; com muita gente 'empilhada' nos seus porões, obviamente. Quando rebentou a Segunda Guerra Mundial, este paquete foi requisitado pela 'navy' e passou a funcionar como navio tropeiro. O «Rajula» foi um dos transportes que levou para Singapura um reforço de tropas indianas; força que não conseguiu resistir aos ataques inimigos e que -com o resto da guarnição britânica- acabou por entregar essa praça aos japoneses no dia 15 de Fevereiro de 1942. Também levou tropas australianas para a Nova Guiné e, em 1943, transportou uma força dos Aliados que desembarcou em Ânzio, aquando da invasão de Itália. Depois do conflito, este navio foi readaptado à vida civil e voltou ao seu serviço normal, entre a Europa e a Ásia. Em 1962, sofreu grandes trabalhos de modernização, que foram efectuados nos estaleiros Mitsubishi, de Kobé. Do seu historial consta uma viagem atormentada que fez -em 1966- entre os portos indianos de Nagapatam e de Madrasta, durante a qual o navio afrontou um devastador furacão, mas ao qual o «Rajula» resistiu e saiu ileso. Em meados de Abril de 1973 passou a usar as cores da companhia P & O.. Durante muito pouco tempo, já que, no ano seguinte e após 48 anos de serviço, foi despojado do seu recheio, antes de tomar o caminho (com o nome de «Rangat») de um estaleiro de Bombaim, onde foi desmantelado em 1974.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

«A. J. FULLER»

Este navio -com casco em madeira, 3 mastros e 3 'decks'- foi construído pelo estaleiro de John McDonald, de Bath (Maine, EUA) e lançado à água no mês de Maio de 1881. O seu primeiro proprietário foi a Flint & Company, de Nova Iorque, que o encomendou para o colocar no comércio com a costa do Pacífico; cuja rota se fazia, então, obrigatoriamente, pelo cabo Horn. Com as suas 1 849 toneladas de arqueação bruta, o «A. J. Fuller» apresentava as seguintes dimensões : 70 metros de comprimento fora a fora por 12,60 metros de boca e por 5,40 metros de calado. Depois de 8 anos de navegação sem histórias dignas de menção, este navio foi vendido a uma empresa de São Francisco, a Califórnia Shipping & Cº e passou a activar-se no negócio das madeiras entre a Cidade da Porta Dourada e a costa norte da Austrália. País para onde levava materiais de construção e de onde trazia carvão. Em 1909, passou a fazer parte da frota da Northwest Fisheries Company of Seattle, que o utilizou no negócio que estabelecera com a região de Puget Sound (Alasca), transportando víveres e outros produtos para as comunidades pesqueiras dessa zona e trazendo, para Seattle, conservas de salmão produzidas naquele território recentemente comprado pelo governo estadunidense à Rússia czarista.  Em 20 de Outubro de 1918, estava este veleiro fundeado em Elliott Bay (fora do porto de Seattle), quando -devido à neblina- foi violentamente abalroado pelo vapor japonês «México Maru». O veleiro americano afundou-se rapidamente, mas os dois membros da sua tripulação que se encontravam a bordo puderam salvar-se num bote. Alguns meses após o naufrágio, um mergulhador local explorou a carcaça do «A. J. Fuller» e pôde recuperar alguns objectos do navio; confirmando, por outro lado, a impossibilidade de o reemergir. A companhia do navio abalroador -a Osaka Shosen Kabushiki Kaisha Line- foi condenada por um tribunal marítimo a indemnizar o armador do veleiro (que, no momento do desastre, estava carregado com enlatados e salmão, cujo valor ascendia a meio milhão de dólares), vertendo-lhe uma soma de 850 000 dólares.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

«RIO LIMA»

Lugre bacalhoeiro de bandeira verde-rubra construído, em 1919/1920 (foi lançado à água no dia 22 de Janeiro desse último ano), nos estaleiros do Campo da Feira, em Viana do Castelo, e pertença, ao tempo, da Parceria de Pescarias de Viana. Os trabalhos de realização deste veleiro decorreram sob a supervisão do mestre carpinteiro José Lopes Pereira Maiato. O «Rio Lima» era um navio com casco em madeira, de 3 mastros, que apresentava uma arqueação bruta de 317,33 toneladas. O seu comprimento (entre perpendiculares) era de 48 metros, a boca media 9,80 metros e o pontal 4,47 metros. Só em 1934 foi equipado com 1 máquina. A equipagem deste bacalhoeiro -destinado à pesca longínqua- era, geralmente constituída por 41 homens, incluindo marinheiros e os pescadores dos dóris. Durante a sua vida activa, o «Rio Lima» teve vários capitães, sendo o primeiro de todos eles José Francisco Carrapichano; que o comandou de 1920 a 1922. Este navio cumpriu a sua missão de pesqueiro nos mares da Terra Nova até ao dia 6 de Maio de 1951, data em que naufragou, com água aberta, nos Grandes Bancos canadianos. Não há notícias de ter havido vítimas entre os seus tripulantes. Na altura da sua perda, o navio já navegava com as cores da Empresa de Pesca de Viana.  Que, na lista dos seus armadores, sucedeu à Companhia Marítima de Transportes e Pescas, Lda., também ela sedeada na bonita cidade da foz do Lima.

domingo, 20 de setembro de 2015

«SAN JUSTO»

Navio de guerra espanhol dos séculos XVIII e XIX. Foi construído no arsenal de Cartagena, que o lançou ao mar em 1779. Nesse tempo, este veleiro de 1 672 toneladas estava armado com 74 canhões e dispunha de uma guarnição de 700 homens, marinheiros e soldados. O «San Justo» (colocado sob a protecção de São Luís Obispo) foi desenhado pelo famoso arquitecto naval François Gautier e considerado, no seu tempo, um navio de grandes qualidades náuticas. Media 50,93 metros de comprimento por 14,10 metros de boca e o seu calado era de 6,60 metros. O seu baptismo do fogo não foi dos mais felizes. Ocorreu durante a tarde e a noite de 16 de Janeiro de 1780, nas águas do estreito de Gibraltar, onde uma esquadra espanhola de 13 velas afrontou uma força naval inglesa -comandada pelo almirante Rodney- superior em número. Nesse combate -que a História registou com o nome de batalha de Santa Maria ou batalha da Luz da Lua- os espanhóis perderam 5 navios, logrando, no entanto, o «San Justo»  escapar ileso. A 20 de Outubro de 1782, este navio -então sob o mando do capitão Morales y Souza- viu-se envolvido (sem grande relevância) na batalha do cabo Espartel, travada ao largo de Tânger. E que foi uma das maiores batalhas navais da época, na qual estiveram envolvidos mais navios do que na futura e decisiva batalha e Trafalgar. Depois, o «San Justo» esteve em praticamente todos os combates da armada espanhola : desembarque de Toulon, em 1793, aquando do conflito contra a Revolução Francesa, batalha do cabo de São Vicente, em 1797, batalha do cabo Finisterra, em 1805, e, finalmente, a 21 de Outubro desse mesmo ano, na renhida batalha de Trafalgar; que viu a vitória (e a morte) de Horácio Nelson. Nessa luta -na qual se decidiu o futuro da Europa- o «San Justo» teve um papel relativamente importante, sustentando combates com vários navios da frota vencedora. Depois de se ter refugiado em Cádiz, onde chegou com 5 mortos e 12 feridos, o «San Justo» foi um dos navios que, no dia seguinte, se fez ao mar, para tentar resgatar algumas unidades da armada espanhola capturadas pelo inimigo. Mas, açoitado por medonha tempestade (que afundou alguns dos seus congéres), o veleiro regressou ao porto andaluz desarvorado e, por consequência, inoperacional. Depois do desaire de Trafalgar, o «San Justo» ainda participou em várias operações de importância, nomeadamente numa expedição que, em 1809, trouxe de Cuba e do México 9 milhões de pesos para os depauperados cofres reais. Em 1810, ainda esteve activo na defesa de Cádiz, assediada por tropas francesas. Em 1816, assinala-se a sua presença em Puerto Mahón (Minorca, Baleares) e quatro anos mais tarde estava, de novo, em Cádiz, implicado na trama do levantamento liberal; que teve a sua origem na recusa das tropas em embarcar para as Américas, aquando das revoltas independentistas das colónias O «San Justo» foi desmantelado em 1828, após quase meio século de serviço. Curiosidade : a imagem que ilustra este texto é a de uma maqueta do navio em apreço existente no Museu Naval de Madrid; que julgamos ser o único testemunho material da sua passagem pela rica História marítima de Espanha.

sábado, 19 de setembro de 2015

«ELETTRA»

Este pequeno navio foi construído -em 1904- nos estaleiros Ramage & Ferguson, Ltd., de Leith, na Escócia, para um membro da família imperial austríaca : o arquiduque Carl Stephan. Que, com o nome de «Rovenska», o utilizou no Mediterrâneo como iate, como embarcação de recreio. Em 1910, o navio foi vendido a 'sir' Maxim Waechter, súbdito de Sua Majestade britânica, que, por sua vez, o cedeu, em 1914, ao industrial Gustav Pratt; usando o navio, durante esse tempo, pavilhão civil do Reino Unido. Com o rebentar da Grande Guerra, o antigo iate foi requisitado pela marinha real britânica e convertido em patrulheiro armado; que operou no canal da Mancha entre as costas de Inglaterra e os portos franceses de Saint Malo e de Brest. No final do conflito, ao qual sobreviveu, a embarcação foi despojada do seu material militar e leiloada, em Southampton, onde Guglielmo Marconi, o famoso sábio italiano, o resgatou (em 1919) por 21 000 libras. Registado em Itália com o novo nome de «Elletra», o antigo iate e patrulheiro sofreu trabalhos de restauro e de transformação nos estaleiros de La Spezia, que o converteram em navio-laboratório. No qual Marconi levou a cabo muitas das suas extraordinárias experiências no campo das telecomunicações. Com a morte do cientista, em 1937, o «Elletra» foi parar às mãos do estado fascista. Mas, durante a 2ª Guerra Mundial e depois do golpe de 8 de Setembro de 1943, o navio (que se encontrava no porto de Trieste) foi tomado pelas tropas nazis, armado com 5 metralhadoras e colocado à disposição da 'Kriegsmarine'. Surpreendido (a 22 de Janeiro de 1944) por aviões de guerra dos Aliados a patrulhar nas costas da Dalmácia, o navio (que, entretanto, usou os indicativos «G-107» e «NA-6») foi colocado fora de combate, tendo o seu comandante alemão conseguido encalhá-lo. Com o fim do conflito, o navio passou a ser propriedade do estado jugoslavo, tendo o próprio marechal Tito aceitado devolvê-lo à Itália. O que aconteceu no ano de 1959. A ideia de o restaurar ainda foi equacionada, mas os peritos chegaram à conclusão de que tais trabalhos de recuperação iam custar um preço incomportável e o projecto foi abandonado. O famoso navio acabou, pois, por ser desmantelado (já nos anos 70 do século XX) e alguns dos seus restos conservados e expostos em museus. A proa do «Elletra», por exemplo, é uma das curiosidades mostradas no Parque das Ciências da cidade de Trieste. Principais características do «Elletra» : 633 toneladas de arqueação bruta; 63,40 metros de comprimento por 6,31 metros de boca; 1 máquina a vapor de tripla expansão, de 127 cv; velocidade de cruzeiro de 12 nós. Curiosidade : um novo navio da armada italiana foi baptizado «Elletra» (A 5340), em homenagem a tão ilustre antepassado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

«PRINCESA LEOPOLDINA»

Construído, em 1962, num estaleiro naval espanhol -o Eskalduna, de Bilbau- este navio foi o primeiro da famosa frota denominada dos Cisnes Brancos a chegar ao Brasil; para assegurar uma carreira que percorria todo o litoral brasileiro e que tinha o seu término em Manaus, em plena Amazónia. O «Princesa Leopoldina» era um elegante navio, que apresentava uma arqueação bruta de 9 820 toneladas e que media 145,60 metros de comprimento fora a fora por 18,70 metros de boca. Deslocava-se graças a 2 máquinas diesel com uma potência global de 9 200 Bhp; que facultava a este navio uma velocidade de 17 milhas horárias. O «Princesa Leopoldina» -cujo nome evoca a insigne personagem da História brasileira que aboliu a escravatura- ostentou, sucessivamente, as cores da Companhia Nacional de Navegação Costeira e (após o colapso desta) as do Lloyd Brasileiro. Fez a sua viagem inaugural em Janeiro de 1963, com visita a Buenos Aires. Famoso ficou o cruzeiro que, em 1966, o conduziu do Brasil a Liverpool, cidade para onde transportou 600 torcedores da selecção 'canarinha', que ia disputar, em Inglaterra, o Campeonato Mundial de Futebol. Este navio (que, segundo a imprensa do tempo, custou 5,5 milhões de dólares) tinha 4 'decks' (2 para uso exclusivo dos passageiros e os restantes para alojar a tripulação e para os serviços) e oferecia um conforto até então nunca visto no trajecto marítimo entre Porto Alegre e Belém do Pará. Era navio era gémeo do «Princesa Isabel» (também ele realizado em Bilbau) e dos «Anna Nery» e «Rosa da Fonseca» (ambos construídos na Jugoslávia). O «Princesa Leopoldina» (que os brasileiros recordam com muitas saudades) chegou ao fim de vida activa em finais do século XX e, em 2001, foi vendido a um ferro-velho e encaminhado para Alang, na Índia, onde se procedeu ao seu desmantelamento.

«BAMBARA»

Este navio (um 'destroyer') navegou de 1943 a 1950 com as cores da armada dos Estados Unidos e com o primitivo nome de «Swearer» (DE-186). Pertenceu à classe 'Cannon', da qual foram realizados 72 exemplares durante o segundo conflito generalizado e no imediato pós-guerra. Participou -no oceano Pacífico- nos combates finais da guerra nipo-americana. No início da década de 50, foi vendido à marinha de guerra francesa (com mais 13 outras unidades idênticas), que quis, assim, reforçar as suas esquadras, muito abaladas pelos anos de ocupação nazi do país. O navio tomou, então o nome de «Bambara» (e o indicativo de amura F 719) e foi integrado (enquanto navio de luta anti-submarina) nas forças navais do Mediterrâneo, com base em Mers-el-Kebir, na Argélia. Construído em 1943, pelos estaleiros da  companhia Federal Shipbuilding & Drydock, de Newark (Nova Jérsia), este navio deslocava 1 650 toneladas e media 93,70 metros de longitude por 11,60 metros de boca. A propulsão do «Bambara» era assegurada por um grupo de 4 motores diesel-eléctricos (acoplado a 2 hélices), que desenvolvia uma potência global de 6 000 hp e que lhe garantia uma velocidade máxima de 21 nós. Do seu armamento constavam 3 canhões de 76 mm, 3 reparos equipados com peças de 40 mm e 14 calhas de lançamento de granadas anti-submarinas. Estava equipado com radares e com sonares. Da sua guarnição faziam parte 120 sargentos e praças, para além do corpo de oficiais de enquadramento. No seu historial figura uma bem sucedida operação de busca e salvamento, levada a cabo no Mediterrâneo, que permitiu salvar a vida a dois pilotos militares que, após acidente, caíram ao mar. Como muitos outros navios adquiridos no estrangeiro, em segunda mão, o «Bambara» foi uma dessas unidade de transição, que, pouco a pouco, seria substituída por navios -de fabrico nacional-  mais modernos e melhor adaptados às necessidades espeficidades da armada gaulesa. Este navio foi retirado do activo e desmantelado em 1959. Curiosidade : o seu nome foi-lhe atribuído em homenagem a um numeroso grupo étnico (com língua própria) da África Ocidental, com particular relevância no Mali.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

«JULES VERNE»

..... Em 2013, ano em que se tornou operacional, este porta-contentores de bandeira francesa foi considerado o maior navio do mundo do seu tipo. Hoje, com a corrida desenfreada à tonelagem, já foi ultrapassado por uma dúzia de congéneres, nomeadamente (diga-se a título de curiosidade) por um navio de bandeira britânica baptizado «Vasco da Gama». O «Jules Verne» foi construído na Coreia do Sul, em Opko, pelos estaleiros da firma Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering, Ltd., para o armador gaulês CMA CGM, que o registou no porto de Marselha. Este navio desloca 241 380 toneladas e mede 396 metros de comprimento por 53,60 metros de boca; o seu calado é de 16 metros. Tem capacidade para embarcar 16 020 contentores EVP, que alinhados, um atrás dos outros, formariam uma fila de 96 quilómetros. O seu sistema propulsivo compreende uma gigantesca máquina diesel (acoplada a 1 hélice com 9 metros de diâmetro e com 100 toneladas de peso), que desenvolve uma potência de 108 000 cv, força equivalente à de 1 100 automóveis. Notável é, também, a central energética de bordo, que produz a electricidade necessária ao consumo de uma cidade de 16 000 habitantes. Este navio, que se desloca à velocidade de cruzeiro de 24 nós, tem uma tripulação de, apenas, 26 membros : 6 oficiais franceses e 20 outros elementos de nacionalidade filipina. O «Jules Verne» foi encomendado antes da crise económica de 2008, numa altura em que o frete marítimo se revelava em progressão constante. Apesar dos problemas que se seguiram, este porta-contentores continua a ser rentável, graças ao seu vanguardismo : optimização hidrodinâmica, reduzido consumo de carburante (120 toneladas/dia), etc. A vertente ecológica do navio também é assinalável, visto o «Jules Verne» dispor de várias estações de tratamento de águas, de lixo e de redutores de dióxido de carbono. O que faz dele um dos navios mais limpos a cruzar os oceanos. Este porta-contentores liga -via canal de Suez- o Extremo Oriente à Europa mediterrânica e do norte.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

«EDUARD BOHLEN»

Navio alemão, propriedade da companhia marítima Woermann Linie, de Hamburgo, e registado nesse porto. Foi construído, em 1891, nessa mesma cidade da foz do Elba, pelos estaleiros da firma Blohm und Voss. Era de valência mista, podendo transportar passageiros (32, em duas classes distintas) e carga. Apresentava 2 272 toneladas de arqueação bruta e media 94,64 metros de comprimento por 11,61 metros de boca. A sua única máquina a vapor (acoplada a 1 hélice) assegurava-lhe uma velocidade de cruzeiro de 11 nós. O «Eduard Bohlen» tinha uma tripulação de 46 membros. Destinado ao tráfego com a África austral, este vapor navegou para o Sudoeste Africano (então colónia do império alemão e hoje nação independente com o nome de Namíbia), fazendo também viagens frequentes a outros portos da região. Este navio esteve implicado num incidente, que alguns jornais do tempo, não hesitaram em classificar como um verdadeiro acto de tráfico de escravos. Depois de ter esmagado militarmente a Revolta dos Hereros (grupo étnico local), o general alemão Lothar von Trotha entregou às autoridades do território um número elevado de prisioneiros de guerra. Que foram embarcados no «Eduard Bohlen» e levados à força para a África do Sul, onde esses homens foram literalmente vendidos aos proprietários das minas de diamantes locais; e onde, segundo notícias do tempo, eles passaram a laborar em regime de trabalhos forçados. No dia 5 de Setembro de 1909, quando já hasteava bandeira da Bélgica (que, entretanto, o havia adquirido), o navio em apreço foi arremessado -devido à neblina- para a chamada Costa dos Esqueletos. Onde a sua carcaça enferrujada permanece, desde então, agora semienterrada no areal -a várias centenas de metros da costa- devido ao avanço natural do deserto do Namibe.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

«GUGLIELMO MARCONI»

Belíssimo paquete de bandeira italiana, construído em 1963 nos estaleiros Cantieri Riuniti Adriatico de Monfalcone, por encomenda do armador Lloyd, de Itália. Que o destinou (assim como o gémeo «Galileo Galilei») à sua linha de longo curso Génova-Sydney, frequentada por muitos emigrantes, desejosos de se instalarem na Austrália. O paquete «Guglielmo Marconi» apresentava 27 905 toneladas de arqueação bruta e media 213,65 metros de comprimento por 28,70 metros de boca. O seu sistema propulsivo, constituído por 4 máquinas diesel, desenvolvia uma potência de 35 365 kW, que lhe asseguravam uma velocidade de cruzeiro de 24 nós. Este paquete podia transportar 1 600 passageiros, distribuídos por duas classes distintas e oferecendo novos padrões de conforto aos viajantes da classe mais modesta. Na década de 70 da passada centúria, com a subida vertiginosa do preço do petróleo e com a concorrência da aviação comercial, o «Guglielmo Maconi» deixou de ser rentável e foi retirado da linha da Austrália em 1974. Dois anos mais tarde, este navio passou a usar as cores da companhia Italia di Navigazione SpA e colocado na linha Itália-Brasil-Argentina, que partia de Nápoles e tinha o seu término em Buenos Aires. Em 1979, o navio foi vendido à Italian Cruises International, que o adaptou à indústria dos cruzeiros e o pôs a navegar para vários destinos turísticos do mar das Caraíbas. Pouco depois, com a falência desta empresa, o navio passou para mãos do famoso armador Costa, que o manteve na mesma actividade com o nome de «Costa Riviera». E que, entre 1993 e 1994, o fretou à A. F. C. (American Family Cruises), que o utilizou para viagens de lazer (a baixo preço) às Antilhas e ao Alasca. No limiar do século XXI, o navio foi considerado obsoleto e imobilizado, até que, em 2001, lhe arranjaram um comprador, um sucateiro, que o mandou desmantelar num estaleiro especializado de Alang, na Índia (2002).

«FUSO»

Couraçado da armada imperial japonesa lançado à água em 1914 pelo arsenal de Yokosuka. Que o deu por terminado no ano seguinte. Foi cabeça de série de uma classe de navios à qual foi dada o seu nome. Na época da sua realização, o «Fuso» deslocava 30 600 toneladas e apresentava características que haveriam de mudar profundamente aquando da modernização sofrida no estaleiro de Kure; cujos trabalhos duraram vários anos e foram concluídos em 1935. A partir de então, este navio passou a apresentar as seguintes características : 39 150 tonelada de deslocamento; 213 metros de longitude; 30,60 metros de boca; 9,70 metros de calado. O seu sistema propulsivo (caldeiras/turbinas/4 hélice) desenvolvia uma potência de 75 000 cv, força que lhe permitia atingir velocidades da ordem dos 25 nós e de dispor de uma autonomia de 8 000 milhas náuticas (com andamento limitado a 14 nós). O «Fuso» estava poderosamente armado, sendo a sua artilharia principal (depois da renovação de 1935) constituída por 12 canhões de 356 mm, 16 de 152 mm, 8 de 127 mm e 109 peças AA. O navio em apreço estava ainda equipado com 3 hidroaviões de reconhecimento. A sua guarnição era formada por 1 400 homens, corpo de oficiais incluído. O «Fuso» participou activamente em várias operações da marinha imperial na zona Índico-Pacífico, até que, na noite de 25 de Outubro de 1944, durante a batalha aeronaval do golfo de Leyte, foi afundado por forças norte-americanas no estreito de Surigao, em águas territoriais das Filipinas. As perdas humanas (não contabilizadas) foram pesadíssimas. Até pelo facto de muitos dos náufragos do couraçado japonês terem preferido morrer afogados, do que ser salvos pelo inimigo. Nessas mesmas paragens, nesse mesmo dia e menos de uma hora depois do afundamento do «Fuso», foi também a pique, devido à acção da armada ianque, o «Yamashiro», seu gémeo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

«JOHN BELL»

Veleiro puro aquando do seu lançamento à água, em 1854, o «John Bell» (pertença de companhia homónima) foi construído, em aço, pelo estaleiro da firma Alexander Stephen & Sons, de Glásgua. Apresentava 1 101 toneladas de arqueação bruta e media 70,40 metros de longitude por 10,10 metros de boca. Arvorava 3 mastros vestidos com pano redondo e foi concebido para o transporte transoceânico de passageiros e frete. Em 1857, o navio foi equipado com uma máquina a vapor, que desenvolvia uma potência de 250 cv e que estava acoplada a 1 hélice. Esteve, por conta da Anchor Line (em regime de aluguer e, depois, de propriedade plena), nas carreiras que ligavam Glásgua a Nova Iorque e a diversos portos do Canadá, como os de Montreal e Québec. Em 1858, foi alugado pelo governo britânico para transportar tropas para a Índia, onde rebentara a chamada Revolta dos Cipaios. Depois, o navio regressou às suas rotineiras travessias transatlânticas, transferindo para a América do norte um número importante de emigrantes, atraídos pelas perspectivas de vida melhor oferecidas pelo Novo Mundo. Em 1862 foi vendido à companhia J. & A. Allan, que o manteve nas mesmas rotas, mas que lhe alterou, no ano seguinte, o nome para «St. Patrick». Em 1875, passou a ser propriedade do armador alemão CMD Jorgensen, que o guardou até 1894. Nesse ano foi cedido a um armador italiano (B. Fravega), que lhe retirou toda a maquinaria e que o transformou, uma vez mais, em veleiro integral. Pouca coisa se conhece sobre a sua actividade nessa época. Sabee-se, no entanto, que -já com o derradeiro nome de «Diamante»- foi enviado para a sucata em 1905 e que foi desmantelado num estaleiro especializado de Génova nesse mesmo ano. Diz quem nele navegou nos seus tempos áureos (presume-se que não os passageiros do porão), que este navio era confortável, rápido e que tinha linhas esbeltas, das mais bonitas de então.