quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

«CANTABRIA»


Cargueiro com 5 650 toneladas de arqueação bruta, construído em 1919 nos estaleiros canadianos da firma J. Coughlan & Sons, de Vancouver. Media 120 metros de comprimento por 16 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por 1 máquina a vapor de tripla expansão, desenvolvendo uma potência de 532 nhp, que lhe garantia uma velocidade máxima de 10 nós. A sua tripulação era constituída por 33 homens, oficiais incluídos. Depois de ter usado o primeiro designativo de «War Chief», foi adquirido pelo armador A. F. Pérez, de Santander, que lhe chamou «Alfonso Pérez». Em 1937, já depois de ter eclodido a guerra civil de Espanha, o navio foi requisitado por um departamento naval do governo republicano, rebaptizado com o nome de «Cantabria» e alugado (com a sua equipagem) à empresa britânica Mid-Atlantic Shipping Company; que o colocou numa linha comercial com a União Soviética. A 2 de Novembro de 1938, o «Cantabria» saiu de Londres com destino a Leninegrado. Além do frete, o cargueiro levava a bordo 45 pessoas, entre membros da tripulação e passageiros, sendo alguns destes últimos familiares do capitão Manuel Arguelles. Às 11 h 30, quando já navegava em águas internacionais, o «Cantabria» foi interceptado e intimado a parar por um navio de aparência civil, mas que acabou por revelar ser o «Nadir», um cruzador auxiliar (armado com 1 peça de artilharia de 120 mm, 2 de 105 mm e 2 AA de 47 mm) das forças navais franquistas. Recusando-se o capitão do cargueiro a imobilizá-lo e, posteriormente, a seguir a nave agressora, o «Nadir» abriu fogo. Após vários tiros ao alvo, Arguelles mandou arriar as baleeiras e evacuar o seu navio; que acabou por soçobrar. A tripulação e passageiros do «Cantabria» foram recolhidos por várias embarcações (de pesca, nomeadamente), que os conduziram a território inglês, enquanto o cruzador auxiliar dos nacionalistas tomava o rumo de um porto rebelde. Soube-se, ulteriormente, que o navio militarizado dos franquistas (ex-«Ciudad de Valencia») só pôde levar a cabo a sua missão com o concurso da Alemanha nazi e da Gestapo, os seus serviços secretos.

«SALAMIS»


Este elegante ‘clipper’ foi concebido segundo os planos do famoso «Thermopylae» (que chegou a hastear bandeira portuguesa, com o nome de «Pedro Nunes») e destinado ao comércio das lãs com a Austrália e com a Nova Zelândia. Foi construído (em aço) pelos estaleiros de Walter Hood & Cº., de Aberdeen (Escócia) e lançado à água no mês de Maio de 1875. Tal como o seu ilustre predecessor, este navio foi baptizado com o nome de uma batalha decisiva da História da Grécia Antiga, já que ‘Salamis’ é o termo com o qual os falantes de língua inglesa designam a vitória naval de Salamina. Este bonito veleiro (um três mastros galera) deslocava 1 130 toneladas em plena carga e media 67,50 metros de comprimento fora a fora por 11 metros de boca. O seu primeiro armador foi George Thompson, também de Aberdeen. Este navio ainda fez uma das famosas viagens do chá, percorrendo a distância entre Hong Kong e Inglaterra em 110 dias. Essa experiência única ficou a dever-se à supremacia dos vapores, que, por essa época, começavam a suplantar os veleiros nesse rendoso negócio. Assim, o «Salamis» viu-se obrigado a executar tarefas consideradas menos nobres, tais como o tal comércio das lãs e, até, transportes de carvão. Cargueiro puro e exclusivo, este 'clipper' não foi dotado (como muitos dos seus contemporâneos) de camarotes para passageiros. Em 1899, o navio foi vendido ao armador norueguês L. Gunderson, de Porsgrund, que, depois de ter procedido a algumas alterações no seu mastreame e sistema vélico, o manteve no comércio da lã (mas também de guano) com os países da Oceania. O «Salamis» (os nórdicos conservaram-lhe o seu nome de origem) perdeu-se no Pacífico sul, por naufrágio ocorrido nas costas da ilha de Malden no dia 20 de Maio de 1905.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

«BULGARIA»


Barco de cruzeiros fluviais, que operou no rio Volga até 2011. Esta unidade turística media 78 metros de comprimento e podia receber 120 passageiros nas suas duas cobertas. Foi construído num estaleiro da antiga Checoslováquia em 1955 e tinha uma tripulação de 30 elementos. Quando, a 10 de Julho de 2011, naufragou no maior rio da Rússia, o «Bulgaria» transportava uma sobrecarga de viajantes (uns 200, segundo a imprensa que deu cobertura ao trágico acontecimento) e apresentava sinais evidentes de má conservação do casco. Estes dois factos e uma tempestade imprevista conduziram a uma das maiores tragédias ocorridas nos rios russos. Segundo dados, mais ou menos definitivos, o naufrágio do «Bulgaria» (que ocorreu em, apenas, 8 minutos) saldou-se em 120 mortos e desaparecidos, entre os quais se contavam muitas crianças. O drama ocorreu a 80 km de distância da cidade de Kazan e a 3 km da margem mais próxima; e só não foi mais mortífero, porque os socorros acorreram rapidamente ao lugar do sinistro. Esta catástrofe alertou para a responsabilidade de manter em serviço embarcações obsoletas, que concorrem para a insegurança dos respectivos passageiros e equipagens : o «Bulgaria» navegava havia 56 anos e, de toda evidência, já há muito tempo que deveria ter sido retirado do activo, ou sofrido reparações estruturais profundas.

«NORSKE LOEVE»


Navio do século XVIII pertencente às armadas do reino da Dinamarca. Foi construído no estaleiro naval de Nyholm (perto de Copenhaga) inspirado no desenho dos vasos de guerra franceses da época. O «Norske Loeve» (‘Coração Norueguês’) foi lançado ao mar no dia 9 de Fevereiro de 1735. Deslocava 2 352 toneladas e media 51,50 metros de comprimento por 14 metros de boca. Estava armado com 70 bocas de fogo de vários calibres e a sua guarnição era composta por 452 marinheiros e soldados. Considerado um navio de alta qualidade, o «Norske Loeve» serviu de modelo a mais cinco outras unidades. O aparecimento deste navio na marinha de guerra dinamarquesa coincidiu com um período de relativa acalmia na história do país, o que levou o «Norske Loeve» a ter uma vida operacional sem atribulações. Vários navios (em várias épocas) usaram este nome em honra do território norueguês, submetido durante séculos à autoridade dos reis da Dinamarca. Este navio foi retirado do activo em inícios dos anos 60 (do século XVIII, obviamente) e desmantelado em 1764. Nota final : permanece a dúvida sobre a maqueta que ilustra este ‘retrato’ do «Norske Loeve». Será verdadeiramente, a miniatura do navio aqui apresentado, ou a de um vaso de guerra com o mesmo nome, que sucedeu -na armada real dinamarquesa- ao navio construído em 1735 ?

sábado, 4 de fevereiro de 2012

«HÄMEENMAA»


Fragata da armada finlandesa importada da vizinha e antiga rival U.R.S.S.. Pertencia à classe ‘Riga’ e foi construída, em 1956, no estaleiro Yantar, de Kaliningrado. Só foi incorporada na marinha de guerra da Finlândia no ano de 1964. Sofreu algumas modificações, sobretudo a nível de equipamentos e de armamento. Era um navio com 1 500 toneladas de deslocamento (em plena carga), que media 91,50 metros de longitude por 10,10 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por turbinas a vapor (14 900 kW), que lhe permitiam navegar à velocidade máxima de 28 nós e lhe facultavam uma autonomia de 2 000 milhas náuticas. Na sua versão finlandesa, esta fragata estava armada com 3 peças de artilharia de 100 mm, 2 peças AA de 37 mm (mais tarde substituídas por 2 armas de 40 mm) e 2 outras AA de 25. Ainda chegou a estar equipada com 3 tubos lança-torpedos de 533 mm, que seriam removidos. A fragata «Hämeenmaa» teve um gémeo no seio da armada finlandesa : o «Uusimaa», que foi desactivado em 1979 e que acabou por fornecer peças sobressalentes ao navio sobrevivente; que só foi retirado do serviço em 1985. A fragata aqui em apreço serviu vários anos nas esquadras da União Soviética e, como outros navios vendidos em segunda mão à Finlândia, foi subaproveitada. Isto, porque a armada deste país nórdico teve, durante muito tempo, recursos humanos limitados pelos tratados assinados depois do armistício de 1945, que o penalizaram e lhe conferiram um estatuto de neutralidade especial.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

«SAINTE-MARIE»


Este pequeno arrastão com casco de aço foi o segundo navio do seu género (pesqueiro a vapor) a ser realizado em França. Foi construído pelos Chantiers de Normandie, de Grand Quevilly (perto de Rouen), no ano de 1895. O seu comanditário e primeiro armador foi a sociedade de pesca Auguste Gelée de Dieppe, que se serviu dele para intensificar a sua actividade ao largo da costa normanda. O «Sainte-Marie», que tinha 2 mastros e usava 4 velas latinas como elementos propulsivos alternativos ou complementares, tinha uma arqueação bruta de 109 tonéis e media 27 metros de comprimento por 5,95 metros de boca. A sua motorização era composta por 1 máquina a vapor Pilon de 220 cv e por 1 caldeira; sendo, também, estes artefactos de fabrico local, já que concebidos e elaborados, respectivamente, por Établissements Augustin Lemarchand e Renaud et Compagnie & Bompain, duas unidades industriais de Rouen. A velocidade do «Sainte-Marie» rondava os 10 nós. A sua chegada a Dieppe provocou um enorme alvoroço popular e atraiu a esse activo porto da agora denominada Alta Normandia muitos jornalistas; que ali vieram admirar (para depois divulgarem através dos seus jornais) esse pesqueiro de técnica inovadora, que oferecia aos trabalhadores do mar mais conforto e mais segurança. O «Sainte-Marie» manteve-se na sua actividade piscatória até 1909, ano em que foi vendido em Rouen e transformado em rebocador. No ano seguinte mudou, uma vez mais, de proprietário, passando a usar as cores da sociedade Battelerie Rouennaise; que o colocou (enquanto unidade polivalente) em serviço no porto de Rouen, onde operou até 1944. Nesse mesmo ano, o «Sainte-Marie» foi afundado no Havre, em circunstâncias que não conseguimos apurar. A sua carreira durara cerca de meio século. Curiosidade : esta pequena embarcação foi a segunda realizada pelos Chantiers de Normandie, estaleiro naval quase secular, já que fundado em 1893 e extinto no ano de 1987.