terça-feira, 31 de agosto de 2010

«OLYMPIC»


Paquete britânico saído a 20 de Outubro de 1910 dos estaleiros Harland and Wolff, de Belfast, para integrar a frota da White Star Line (de Liverpool). Companhia que o lançou, em Julho do ano seguinte, na prestigiosa e rentável linha Southampton-Nova Iorque. Até à chegada do «Titanic» (seu gémeo, cujo comprimento era ligeiramente superior), o «Olympic» foi considerado o maior paquete do mundo. Tambén ele começou a carreira sob maus auspícios, visto ter colidido, nos seus primeiros dois meses de vida, com o cruzador HMS «Hawk» e ter sofrido alguns estragos, que justificaram uma passagem pelo estaleiro de reparação naval. Após o soçobro histórico do «Titanic», o «0lympic» passou todo o inverno 1912-1913 em trabalhos de reestruturação dos seus compartimentos estanques; Nessa altura foi-lhe também acrescentado um número importante de baleeiras, de modo a prevenir, em caso de necessidade, o drama sofrido (por falta de meios de salvamento) pela maioria dos passageiros do seu ilustre e desditoso companheiro da White Star. Mobilizado durante a Grande Guerra, o «Olympic» recebeu uma camuflagem adequada e foi utilizado como transporte de tropas. Os incidentes mais importantes da sua carreira militar ocorreram em Outubro de 1914, quando lhe foi dado assistir o vaso de guerra 'Audacious», esventrado, no mar da Irlanda, por uma mina derivante. O navio socorrido acabou por afundar-se, mas toda a sua tripulação foi salva pelo «Olympic»; e, a 12 de Maio de 1918, quando o navio se lançou voluntária e impetuosamente contra o submarino alemão U-103 (que tentara torpedeá-lo) afundando-o. Apesar de ter sofrido duas modernizações para o tornar competitivo na linha-chave da América do norte, o «Olympic» nunca mais recuperou o prestigio que tivera antes da guerra. E, em Abril de 1935 (já depois da fusão da sua companhia armadora com a Cunard), o paquete foi abandonado num ancoradouro de Southampton; até que, em Setembro desse mesmo ano, achou comprador na pessoa de um industrial de ferro-velho, que o mandou rebocar para Inverkeithind, na Escócia, onde se consumou -em 1937- o seu total desmantelamento. O «Olympic» deslocava 45 000 toneladas e media 269 m de comprimento por 28,20 m de boca. Podia receber cerca de 2 500 passageiros. A sua velocidade máxima era de 23 nós.

domingo, 29 de agosto de 2010

«ALFERRAREDE»


Saíu dos estaleiros J. C. Tacklenborg , de Geestemunde, na Alemanha, em 1913 (certas fontes dizem 1905), para integrar a frota do armador Dampfs. Ges. Neptun, de Bremen, que o baptizou com o nome de «Pluto». Era um cargueiro com 2 118 toneladas de porte bruto, medindo 73,91 metros de comprimento por 11,02 metros de boca. O seu sistema propulsor (1 máquina de tripla expansão/1 caldeira com três fornalhas) desenvolvia uma potência de 700 cavalos. A sua velocidade de cruzeiro era de 7,5 nós, mas, em caso de necessidade, o navio podia atingir os 10 nós. Funcionava normalmente com uma tripulação de 26 homens. Em 1914, após a eclosão da Grande Guerra, refugiou-se no mar da Palha (com outros navios de bandeira alemã), por temer um ataque da marinha real inglesa. Foi aí, em frente de Lisboa, que o navio foi apresado por uma força armada, no dia 24 de Março de 1916. Acto hostil, que levou o império alemão a declarar guerra a Portugal pouco depois. Requisitado pela marinha de guerra, o navio recebeu o nome de «Sado» e foi equipado para funcionar como lança-minas. Depois do armistício, foi dispensado pela Armada e, em 1919, passou a fazer parte da frota dos Transportes Marítimos do Estado (TME), até que, em 1927, foi adquirido pela Sociedade Geral e baptizado com um novo nome : «Alferrarede». Executou muitos e variados serviços para essa conhecida empresa do grupo CUF, tendo ido, por exemplo, várias vezes à Terra Nova, de onde trouxe bacalhau para os portos do norte do país. Foi no decorrer de uma dessas suas viagens ao Canadá que o «Alferrarede» recolheu os náufragos do petroleiro holandês «Lucrecia», torpedeado e afundado pelo submersível «U-34», da marinha de guerra nazi. Um outro episódio importante da história deste velho navio ocorreu em meados da década de 50 (do século XX), quando o «Alferrarede», açoitado por ventos ciclónicos, foi atirado para a praia de Algés, onde encalhou. Resgatado por vários rebocadores do porto de Lisboa, o «Alferrarede» prosseguiu a sua carreira na frota da S. G., até que, em 1961, foi adquirido pela sociedade Sofamar, que lhe deu o seu derradeiro nome : «João Diogo». E o utilizou no tráfego costeiro, sobretudo no transporte de produtos siderúrgicos do Seixal para Leixões e de minério de ferro na viagem de retorno ao estuário do Tejo. Foi no decorrer de uma dessas carreiras que, a 8 de Janeiro de 1963, o navio encalhou na costa norte de Peniche por causa de denso nevoeiro. Considerado irrecuperável, por lá ficou até ser desmantelado.

sábado, 28 de agosto de 2010

«HANNOVER»


Couraçado da marinha imperial alemã, pertencente à classe ‘Deutschland’. Foi construído em 1905 pelos estaleiros Kaiserliche Werft, de Wilhelmshaven. Deslocava 14 218 toneladas em plena carga e media 127,60 metros de comprimento por 22, 20 metros de boca. Fortemente blindado, este navio tinha como armamento principal 4 canhões de 280 mm, 14 de 170 mm, 22 de 88 mm e 6 tubos lança-torpedos de 450 mm. O seu sistema propulsivo inicial era constituído por 3 máquinas a vapor de tripla expansão e por 12 caldeiras a carvão, que geravam uma potência global de 17 768 cv e podiam imprimir ao navio a velocidade de 18 nós. O raio de acção do «Hannover» era de 4 800 milhas náuticas, com a marcha estabilizada a 10 nós. A sua guarnição completa era formada por 35 oficiais e por 708 sargentos e praças. Este navio era o ‘sister-ship’ do já referido «Deutscland», mas também do «Pommern», do «Schlesien» e do «Schleswig-Holstein». Pertenceu à 2ª Esquadra do Báltico, da qual chegou a ser o navio-almirante. Participou activamente na batalha naval da Jutlândia (31 de Maio de 1916), de onde saiu ileso. Julgado obsoleto -o couraçado «Hannover» era um pré-‘Dreadnought’- foi, depois de uma intervenção no arsenal de Kiel, ocorrida em finais do ano de 1916, designado navio-alvo e, no ano seguinte, foi-lhe retirada parte da sua artilharia para reforçar a defesa costeira. Depois do fim da Grande Gerra e da assinatura do tratado de Versalhes, a Alemanha foi autorizada a conservar certos navios de tecnologia ultrapassada, figurando, entre eles, o «Hannover»; que foi rearmado e até chegou a usar (a partir de Junho de 1921) a flâmula de navio-almirante da frota do Báltico. Serviu nas forças navais da república de Weimar até à sua desqualificação definitiva em 1931. A sua carcaça, de novo utilizada como alvo, sobreviveu até finais do regime nazi, sendo desmantelada entre 1944 e 1946.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

«RESOLUTION»


Construído provavelmente em Plymouth, o «Resolution» era um navio de 462 toneladas, propriedade da marinha real britânica, que o recepcionou e integrou nos seus efectivos em 1772. Tinha três mastros e media 34 metros de comprimento por 11 metros de boca. Nesse mesmo ano de 1772, foi colocado sob a responsabilidade do capitão James Cook, explorador que o apreciava tanto, que disse desta embarcação «que era um navio de valor» e o mais adequado às missões que lhe incumbiram. Na primeira viagem que executou às ordens de Cook, o «Resolution» levou 112 homens a bordo (toda a antiga tripulação do «Endeavour»), número que incluia marinheiros e cientistas. Em 1773 este navio foi o primeiro da História a franquear o Círculo Polar Antárctico, feito que repetirá por mais duas vezes. Em 1974 o «Resolution» atingiu as coordenadas 71º 10' S 106º 54' W, provando que, afinal a 'Terra Australis Incognita' de Alexander Dalrymple não passava de um mito. Esteve com Cook até à sua morte trágica (ocorrida em 1779), percorrendo e descobrindo com esse ilustre capitão-explorador mares e terras até então desconhecidas ou pouco visitadas : ilhas da Sociedade, Nova Zelândia, costa oriental da Austrália, ilhas Sandwich (actual Hawai), Marquesas, Novas Hébridas, Nova Caledónia, etc, etc. Após o desaparecimento de Cook, o navio foi colocado sob o mando do oficial Charles Clerke, que o trouxe de volta a Inglaterra. Em 1780 o navio foi convertido em transporte armado e expedido para os mares do Oriente. A 9 de Junho de 1782 foi capturado pelo navio francês «Le Sphinx», do futuro almirante Pierre André de Suffren. E, a 22 desse mesmo mês e ano, o «Resolution» desapareceu misteriosamente no estreito de Sonda, onde foi visto pela última vez...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

«ROYAL SOVEREIGN»


Couraçado construído em 1915 para a 'Royal Navy', no estaleiro Parsons de Portsmouth. Pertencia à classe R ('Revenge') e deslocava 37 500 toneladas em plena carga. Fortemente blindado, o «Royal Sovereign» era um navio com 190 metros de comprimento e 27 metros de boca, cujo armamento principal era constituído por 8 impressionantes canhões de 381 mm e por 14 peças de 152 mm. As suas máquinas (4 turbinas, 8 caldeiras, 4 hélices) desenvolviam uma potência global de 80 000 cv, podendo o navio deslocar-se à velocidade máxima de 23,5 nós. Tinha uma equipagem de 950 homens. Participou na Grande Guerra, mas a sua carreira militar desenvolveu-se, essencialmente durante o 2º conflito mundial. Depois de ter pertencido à 'Home Fleet' e de estar baseado em Scapa Flow, o navio foi transferido para o mar Mediterrâneo, onde se bateu contra a armada italiana; na batalha de Calábria, entre outros combates. Depois regressou ao Atlântico para participar (entre 1940 e 1941) na defesa dos comboios vindos da América do norte com produtos vitais à sobrevivência das ilhas britânicas. Esteve depois nos mares da Índia (com base em Trincomalee, Ceilão), de onde foi rapidamente retirado (com alguns outros navios da sua classe), por se temer que não aguentasse o confronto com as modernas unidades da marinha imperial japonesa e com a aeronaval inimiga. Em 1942/43 esteve nos Estados Unidos, onde sofreu trabalhos de revisão, e em Maio de 1944, quando já era considerado um navio obsoleto, foi emprestado à marinha soviética, que lhe deu o nome de «Arkhangelsk» e o utilizou na protecção aos navios mercantes aliados com destino ao porto de Murmansk. Devolvido à Grã-Bretanha em 1948, o antiquado couraçado foi imediatamente desmantelado. Como todos os sobreviventes da sua geração que sobreviveram à guerra.

«SAN SALVADOR»


Nau espanhola de 200 toneladas construída, entre 1536 e 1540, algures na América central (provavelmente na Guatemala) por ordem e a expensas de João Rodrigues Cabrilho, o descobridor português da Califórnia. Não se conhece grande coisa sobre as características físicas deste navio, presumindo-se, no entanto, que fosse uma embarcação de vela em tudo similar às do seu tempo. O navegador português -que serviu a coroa espanhola- era, no entender dos seus próximos, uma pessoa muito conhecedora das técnicas de construção naval, além de ser «persona muy plática en las cosas de la mar» e homem de uma valentia irreprovável. Foram aliás estas suas qualidades, muito apreciadas no fervilhante século XVI, que lhe valeram passar, progressivamente, da simples condição de soldado besteiro (embora ele se auto-intitulasse «portugués, hombre de caballo») à de almirante. O «San Salvador» integrou a esquadra de Pedro de Alvarado, que deveria executar uma viagem às ilhas «das especiarias» (as Molucas). Mas, após o fracasso dessa missão, Cabrilho recebeu ordens para explorar o norte do litoral mexicano. Foi assim que, no ano de 1542, à testa de uma frota de três navios, tendo a nau «San Salvador» como capitânea, ele empreendeu o reconhecimento metódico da costa californiana, descobrindo e cartografando, sucessivamente e entre outros lugares, o cabo San Lucas (Baixa Califórnia), o porto de San Mateo (hoje Ensenada), a baía de San Diego, várias ilhas costeiras (Santa Catalina, San Clemente, Santa Cruz, Santa Rosa, San Miguel, etc), as baías de Monterey e de Santa Mónica, os cabos San Martin e Mendocino e outros lugares, cujo limite certos cronistas (entre eles Lázaro Cárdenas) situam a 45º de latitude N. Cabrilho morreu na viagem de regresso à América central, na ilha por ele chamada Posesión (que hoje é conhecida pelo nome já referido de San Miguel), onde foi enterrado pelos seus companheiros. Quanto à nau «San Salvador», dela só restam alguns escritos e a lembrança perpetuada numa maqueta (construída, ao que parece, à sua imagem e semelhança) exposta no Museu do ‘Cabrillo National Monument’, de San Diego, realizado para exaltar os feitos do primeiro herói da Califórnia e seu ilustre capitão.

«SANTÍSIMA TRINIDAD»


Navio da armada argentina, construído no estaleiro estatal de Rio Santiago (Ensenada) e lançado à água no dia 12 de Novembro de 1974. Pertence ao tipo 42, desenvolvido para a ‘Royal Navy’, que cedeu aos sul-americanos a respectiva licença de construção. Com 4 820 toneladas de deslocamento, 125 metros de comprimento e 14,30 metros de boca, o «Santísima Trinidad» foi concebido para operar com um sistema de lança-mísseis, que constituíu, aliás, o seu armamento principal. Além de 1 peça de artilharia clássica de 115 mm, de 2 metralhadoras AA de 20 mm e de 6 tubos lança-torpedos, este ‘destroyer’ foi dotado com 1 rampa dupla para mísseis ‘Sea Dart’ e 2 outras para mísseis ‘Exocet’. O navio podia atingir a velocidade máxima de 30 nós, graças às suas 4 turbinas a gás Rolls-Royce. Tinha uma autonomia de 4 500 milhas náutica com a velocidade estabilizada a 18 nós. Do seu equipamento fizeram parte 1 helicóptero Westland ‘Lynx’ e 1 ‘Alouette III’. Este navio era gémeo do ARA «Hércules». Na sua primeira fase de realização, o navio foi parcialmente afundado, na sequência de um atentado (com explosivos) cometido pela organização antigovernamental dos Montoneros. Em 1981, fez uma viagem probatória a Portsmouth, com escalas no Brasil e nas Canárias. Durante a guerra das Malvinas (ou das Falkland), fez parte da força naval que conquistou o arquipélago, chagando a ser (em Março de 1982) navio-almirante da Força ‘Tareas 40’. Assegurou também, com outras unidades da armada argentina, uma apertada protecção do porta-aviões «Veinticinco de Mayo», o navio mais precioso lançado nesse conflito pela ditadura sul-americana. Depois da derrota dos argentinos nesta guerra do fim do mundo, o «Santísima Trinidad» recolheu à sua base de Puerto Belgrano, de onde só saiu para efectuar manobras de carácter caseiro ou internacional, com as armadas do Brasil (Outubro/Novembro 1982) e de Itália (1987). Devido ao embargo lançado pela Grã-Bretanha sobre material de guerra com destinho à Argentina, o «Santísima Trinidad» começou a ser canibalizado em proveito do «Hércules». O ‘destroyer’ «Santísima Trinidad» foi descomissionado em 2005, mas parece existir um projecto para o transformar em navio-museu, o que o pouparia ao efeito demolidor do camartelo.

domingo, 22 de agosto de 2010

«SANTA-ANNA»


Navio dos Cavaleiros de São João de Jerusalém lançado à água em Nice (França), no dia 21 de Dezembro de 1522; data que, curiosamente, coincide com a da tomada de Rodes (então sede da ordem dos Hospitalários) pelas forças turcas de Solimão II, o Magnífico. O «Santa Anna», de propulsão mista (velas/remos), foi construído para substituir o «Santa-Maria», antigo navio-almirante do sultão do Egipto, capturado pelos cristãos e transformado em capitânea da frota dos Cavaleiros de São João; navio que explodiu (na sequência de um acidente ocorrido no seu paiol), quando se encontrava sob o comando de Jacques de Gastineau, comendador do Limousin. Este altaneiro navio -uma carraca- tinha uma guarnição de 500 homens, estava poderosamente armado (50 canhões e numerosas outras armas de fogo de pequeno calibre) e dispunha de equipamentos jamais vistos numa outra nave : uma forja (que dava trabalho a três ferreiros), um moinho, fornos, onde era moído o cereal e cozido o pão necessário a toda a sua tripulação (forçados incluídos) e até um jardim. O «Santa-Anna» foi também um dos primeiros navios da história naval a ser couraçado, visto o seu casco ter sido envolvido por uma placa de chumbo. Distinguiu-se na luta contra a frota otomana, principal inimiga da Ordem, e contra os piratas barbarescos. Em 1532, esteve -sob as ordens de Andrea Dória- na expedição vitoriosa do Peloponeso; e, em 1535, foi um dos navios dos Hospitalários que reforçou a frota do imperador Carlos V, que atacou Tunis, onde os cristãos conseguiram capturar ou destruir mais de 100 navios corsários magrebinos. Curiosamente, o «Santa-Anna» foi desmantelado, em 1540 (por decisão do Capítulo Geral da ordem), por motivos de natureza económica e também por ser demasiado grande para poder entrar nalguns dos portos controlados pelos futuros Cavaleiros de Malta.

«CANOT IMPÉRIAL»


Sem verdadeiro nome de baptismo, esta embarcação de parada (similar às galeotas reais conservadas no nosso Museu de Marinha) é conhecida por esta designação, por ter sido utilizada por Napoleão I, imperador dos Franceses. Foi construído em segredo -e em apenas 21 dias- para servir de transporte a Napoleão e ao seu séquito na visita ao porto e arsenal de Antuérpia, iniciada a 30 de Abril de 1810. O 'canot impérial' assegurou, durante vários dias, o transporte do autoproclamado soberano entre o navio-almirante «Charlemagne» e os diferentes pontos da sua visita. Os planos deste elegante bergantim com 17,21 m de comprimento por 3,35 m de boca, servido por 28 remeiros, foram estabelecidos pelo engenheiro Guillemard e a sua construção foi executada sob a supervisão do mestre carpinteiro normando Théau (de Granville); as belíssimas esculturas que ornamentam o casco e a camarinha são obra do artista flamengo Van Petersen; que se excedeu na decoração da proa, de onde sobressai uma impressionante estátua em talha dourada de Neptuno. Em 1814, a galeota foi expedida para Brest, onde se procederam aos acabamentos ornamentais. Em 1858 esta embarcação serviu de transpote a Napoleão III e à imperatriz Eugénia, na sua visita a este porto de guerra. O 'canot impérial' esteve ali esquecido durante muitos anos e sobreviveu, quase milagrosamente, aos violentos bombardeamentos da aviação aliada durante o segundo conflito generalizado. Em Maio de 1943, com a autorização e a protecção dos ocupantes nazis, a embarcação foi transportada para Paris, onde deveria enriquecer o espólio do Museu de Marinha local. Mas, porque foi necessário demolir uma parede do edifício (palácio Chaillot) para permitir a passagem do 'canot', este só aí foi exposto em Agosto de 1945, depois da libertação da cidade. O 'canot impérial' é, sem dúvida, a peça mais espectacular exibida por aquela instituição.

«LA BOURGOGNE»


Paquete francês de propulsão mista (vapor/velas) construído em 1885 nos estaleiros navais de la Seyne, pela firma Forges & Chantiers de la Méditerranée. Tinha casco de aço e deslocava 7 090 toneladas. Media 150 metros de comprimento por 15,96 metros de boca. Com as suas máquinas em pleno esforço e vento de feição nas suas velas, este navio podia atingir uma velocidade aproximada de 18 nós. Pertenceu a um tipo de quatro navios idênticos (todos com nomes de regiões francesas) integrados na frota da Compagnie Générale Transatlantique, que os utilizou na linha Havre-Nova Iorque. Após uma colisão com o «Ailsa» (da Atlas Line), que não sobreviveu ao abalroamento, o «La Bourgogne» foi imobilizado, para receber trabalhos de beneficiação. Foi por essa altura (1897) que lhe foram suprimidos dois dos seus quatro mastros e que o navio recebeu um jogo de caldeiras novas e uma máquina de quádrupula expansão. No dia 2 de Julho de 1898, o navio zarpou de Nova Iorque para uma das suas rotineiras viagens transatlânticas. Levava a bordo os seus habituais 200 membros de equipagem e 500 passageiros, quando, dois dias mais tarde, envolvido por um nevoeiro denso, colidiu violentamente com o veleiro inglês «Cromartyshire», que navegava para Filadélfia. O choque destruíu todas as embarcações de salvamento de estibordo, o que implicou a morte de um número elevado de viajantes, incluindo o seu comandante. Os 166 sobreviventes do naufrágio foram recolhidos pelo outro navio implicado no desastre e pelo paquete «Grecian» (da Allan Line Steamship), que o rebocou até ao porto de Halifax. O soçobro do paquete misto «La Bourgogne» foi a pior catástrofe sofrida pelo seu armador em tempo de paz.

«MICHAEL»


Encomendado pelo rei Jaime IV da Escócia aos estaleiros ingleses de New Haven (que o lançaram à água a 12 de Outubro de 1511), este navio de 1 000 tonéis (também conhecido pelo epíteto de «Grest Michael») gozou da fama de ser o maior vaso de guerra europeu do seu tempo. Media (segundo certas informações) 73 metros de comprimento por 11 metros de boca. Era um veleiro de quatro mastros, artilhado com 24 (e depois com 30) bocas de fogo, servidas por um corpo de artilheiros que compreendia 120 homens. Da sua guarnição faziam parte, igualmente, 300 marinheiros e 1 000 soldados. Um cronista da época -Lindsay Pitscottie- contou num dos seus escritos, que o «Michael» absorvera todas as reservas de uma floresta próxima do seu local de construção e que, para o acabar, se tornou necessário importar madeiras da Escócia, da Noruega, de França e de certas regiões ribeirinhas do mar báltico. O navio parece ter impressionado toda a gente pelo seu gigantismo, a tal ponto que o rei de Inglaterra se apressou a encomendar o «Henri Grâce à Dieu», para poder rivalizar com o soberano vizinho. O nome do navio foi-lhe dado em honra do arcanjo São Miguel, em previsão de uma cruzada que certos reinos cristãos queriam lançar contra o império otomano. Sabe-se que o navio esteve implicado, ao lado dos franceses, em vários combates navais contra a Ingleterra e que executou, em Agosto de 1513, um raide vitorioso contra o porto irlandês de Carrickfergus. Após a morte de Jaime IV e da fina flor da fidalguia escocesa na batalha de Flodden Field , o navio foi vendido à França por 40 000 libras e rebaptizado com o nome de «Grande Nef d’Écosse». Certos historiadores afirmam que o navio, desactivado, acabou por apodrecer no porto de Brest; outros pretendem que o antigo «Michael» ainda chegou a combater na batalha de Solent (travada, em 19 de Julho de 1545, perto da ilha de Wight), onde terá ajudado a afundar uma outra nave célebre : a «Mary Rose»…

«COLBERT»


Assim baptizado em honra do industrioso ministro da marinha de Luís XIV, este cruzador de 10 600 toneladas foi construído no arsenal de Brest e lançado à água en 1956. Concebido para a luta antiaérea, o «Colbert» era um impressionante navio de 181 metros de comprimento por 20 metros de boca. O seu sistema propulsor desenvolvia 86 000 cv de potência e podia imprimir ao cruzador 32 nós de velocidade máxima. A sua guarnição contava 600 homens. O armamento principal do navio era constituído por 6 reparos duplos de 57 mm AA e por duas peças de 127 mm. Mais tarde, entre 1970 e 1972, aquando de um programa de modernização, o «Colbert» recebeu 2 rampas duplas para lançamento de mísseis ‘Masurca’ (mar-ar) e 4 dispositivos de disparo de mísseis ‘Exocet’. O «Colbert», que foi destacado para o mar Mediterrâneo e tinha a sua base em Toulon, executou missões de protecção antiaérea dos porta-aviões da armada francesa, de navio de comando (chegou a ser navio-almirante da esquadra do Mediterrâneo), humanitárias, etc. Esteve na evacuação de civis de Agadir (1960), em consequência do terramoto que devastou essa cidade marroquina e de Bizerta (1961), aquando dos distúrbios provocados pela independência da Tunísia. Também assegurou as funções de embaixador itinerante da República Francesa, fazendo visitas de cortesia a vários países. Nessa sua específica função, levou, em 1967, Charles De Gaulle em visita oficial ao Canadá e foi (com o chefe do estado) protagonista de um incidente diplomático que levou à expulsão do general desse país da América do norte. Foi o famoso caso do «Viva o Quebeque livre», lançado (por obscuras razões) para a multidão de canadianos francófonos que acolheram o general diante da câmara municipal da cidade de Montreal. Em 1988 o «Colbert» representou a França nas festas do bicentenário da Austrália. Depois de desactivado, em 1991, o cruzador esteve atracado num cais do porto de Bordéus, onde funcionou, durante treze anos, de 1993 a 2006. Actualmente, a sua carcaça enferrujada e despojada de tudo aquilo que fez o seu poderio, espera num recanto da ria de Landévennec (Bretanha) a oportunidade de ser desmantelada.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

«ANGRA DO HEROÍSMO»


Paquete da Empresa Insulana de Navegação. Foi construído em 1955 na cidade de Hamburgo pelo estaleiro da firma Deutsche Werft A. G.. Baptizado com o nome de «Israel», foi oferecido nesse mesmo ano ao estado judaico, como indemnização pelos prejuízos causados à comunidade hebraica entre 1933 e 1945 pelos nazis e integrado na frota da companhia Zim Israel Navigation, com sede em Haifa. Colocado na linha regular de Nova Iorque, o navio manteve esse serviço durante dez anos. Em 1959 foi abalroado por um cargueiro norte-americano e reparedo no estaleiro naval de Brooklyn. Foi adquirido em 1966 pela Insulana, que o registou no porto de Lisboa (após tê-lo submetido a diversas transformações), lhe deu o nome de uma das mais bonitas cidades açorianas e o iniciou no circuito Lisboa-Madeira-Açores. O «Angra» também esteve no negócio dos cruzeiros, que, nos anos 60, começava verdadeiramente a despontar no nosso país. Durante o ano de 1971, fretado pelo Ministério do Exército, o navio fez várias viagens de ida e volta à então Guiné portuguesa com tropas e material de guerra. Depois da retirada do paquete «Funchal» da carreira das ilhas (Setembro de 1972), o «Angra do Heroísmo» substituiu-o, sendo o último navio da Insulana a assegurar esse serviço. E, em 1974, com a fusão desta empresa com a Companhia Colonial de Navegação, o navio passou a ser propriedade da sociedade resultante dessa união : a Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos. Mas já não chegou a entrar ao seu serviço, por ter sido considerado obsoleto. Foi rebocado até Castellon (Espanha), onde, ainda em 1974, foi desmantelado por um sucateiro local. O «Angra do Heroísmo» (irmão gémeo do «Amélia de Mello», também ele de bandeira portuguesa) era um navio com 13 900 toneladas de deslocamento, que media 152,70 metros de comprimento por 19,85 metros de boca. O seu sistema propulsivo (constituído por um grupo de turbinas a vapor) impelia o navio a uma velocidade máxima de 19 nós. O «Angra do Heroísmo» funcionava com 139 tripulantes e podia receber a bordo 323 passageiros, distribuídos por quatro classes distintas.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

«SHINANO»


Porta-aviões da marinha imperial japonesa, construído a partir de um casco de couraçado da classe 'Yamato'. Lançado à água em 1944, o «Shinano» foi o maior navio do seu tipo até ao aparecimento do «Forrestal», da armada dos Estados Unidos, em 1955. O «Shinano» media 266 metros de comprimento por 40 metros de boca máxima (pista) e podia deslocar cerca de 72 000 toneladas em plena carga. O seu sistema de propulsão (12 caldeiras a petróleo e turbinas a vapor, movimentando 4 hélices) desenvolviam 153 000 cv de potência global e podiam imprimir ao navio uma velocidade máxima de 28 nós. A sua cintura de protecção lateral era constituída por uma blindagem de 127 mm. 17 000 toneladas de aço couraçavam a sua pista que podia, teoricamente, resistir à explosão de bombas de 1 000 libras. Do armamento defensivo deste grande porta-aviões faziam parte canhões de calibre 120 mm e 100 mm, além de 145 peças antiaéreas de 25 mm e 12 rampas de lança-foguetes. O seu parque de aeronaves podia ascender a 100 unidades, se a natureza da missão confiada ao «Shinano» o exigisse. A sua equipagem era de 2 400 homens. A existência deste mastodonte foi mantida secreta e, quando o navio foi afundado a 29 de Novembro de 1944 (no percurso de Yokusuka a Kure) pelos torpedos do submarino USS «Archerfish», a vitória norte-americana foi anunciada, de boa fé, como se a unidade nipónica posta fora de combate fosse um banal porta-aviões de 28 000 toneladas. A maior parte da sua guarnição pôde salvar-se devido à lentidão do soçobro. Segundo os sobreviventes, a perda do navio ficou a dever-se à inundação da casa das máquinas à qual não foi possível remediar. O «Shinano» resta, na história naval, como o maior navio jamais afundado por um submarino.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

«SÃO JOÃO BAPTISTA»


Galeão português de 700 tonéis construído na cidade do Porto em 1642, dois anos após a restauração da independência e no quadro da renovação da marinha real. Foi armado com 36 peças de artilharia. As suas qualidades náuticas eram de tal modo excelentes, que a marinhagem lhe chamava o «São João Pérola»; mas, em virtude de ter sido feito na grande cidade nortenha, houve também quem o designasse pela alcumha de «São João Porto» (ou «…do Porto»). Em 1644 zarpou de Lisboa integrado na armada de Luís Velho que demandou a Índia. Dois anos mais tarde, em 1646, integrou uma esquadra portuguesa que esteve no Japão com uma embaixada. E, em 1654, fez parte da frota lusíada que pretou socorro a Ceilão e ali desbaratou uma forte esquadra holandesa. O «São João Baptista» perdeu-se, nesse mesmo ano, quando, no seu regresso a Goa, os portugueses tiveram de enfrentar nova esquadra batava e foram vencidos.

domingo, 15 de agosto de 2010

«LE RENARD»


Aviso que entrou ao serviço da armada francesa em 1865. Era um navio de 813 tonéis, dotado com propulsão mista (vela/vapor), contruído pelos Chantiers et Ateliers de l'Océan-Pastoureau, de Bacalan (Bordéus). O seu casco era de madeira, mas assente numa robusta carcaça metálica. Media 70 metros de comprimento por 8 metros de boca. O seu sistema propulsor era constituído por uma máquina a vapor de 150 cv e pelo aparelho vélico de 503 m2, que vestia os seus três mastros. A sua acção combinada podia, em condições de vento favoráveis, lançar o «Renard» a uma velocidade máxima de 14 nós. O navio estava armado com 4 peças de artilharia e com um impressionante esporão de 3 metros de alongamento, capaz de esventrar os cascos de madeira de eventuais inimigos. Este aviso fez parte, durante oito meses, da Divisão Couraçada do Norte, antes de ser comissionado para o Mediterrâneo; onde, graças à sua rapidez, se revelou de grande utilidade, no encaminhamento de correios urgentes entre a metrópole e a Agélia e o Levante. O «Renard» voltou ao oceano Atlântico -ao arsenal de Brest- em 1873 para substituir as suas caldeiras; mas logo regressou ao Mediterrâneo, para aí voltar a cumprir as suas tarefas habituais entre as duas margens do 'mare nostrum' e cumprir missões de soberania ao longo das costas norte-africanas e em águas da Síria. Na noite de 3 para 4 de Junho de 1885, depois de ter atravessado o canal de Suez, o «Renard» encontrava-se no oceano Índico, ao largo de Aden, quando foi surpreendido por um violento tufão; que o afundou com as 130 pessoas que embarcara em Obock, porto da Costa Francesa dos Somalis. Não houve sobreviventes.

sábado, 14 de agosto de 2010

«SEA DIAMOND»


Paquete lançado à água em 1985, na Finlândia (pelos estaleiros Valmet, de Helsínquia), com o nome de «Birka Princess». Adquirido em segunda mão pelo armador cipriota Louis Hellenic Cruise, este bonito navio de 22 400 toneladas passou a chamar-se «Sea Diamond» e a operar, sobretudo, no Mediterrâneo oriental. Media 143 metros de comprimento por 24,70 metros de boca e movia-se à velocidade máxima de 22 nós, graças a um conjunto de 4 poderosas máquinas diesel. Dispunha de dez cobertas, nas quais podiam acomodar-se (ou distrair-se) 1 537 passageiros. Estava equipado com tudo aquilo que pode oferecer um navio de cruzeiros moderno : piscinas, salas de espectáculos, restaurantes, butiques, ginásios, áreas de jogos e ‘tutti quanti’. A sua fama não está, no entanto, ligada ao conforto que oferecia aos seus passageiros, mas a um acontecimento inesperado : o seu naufrágio, num dia claro e de mar calmo. O soçobro do «Sea Diamond» (navio de bandeira grega) ocorreu no dia 6 de Abril de 2007, junto à ilha grega de Santorini, muito apreciada pelos turistas. O navio, que transportava, nesse fatídico dia, passageiros originários (na sua esmagadora maioria) dos E.U.A., de Espanha e de França, rasgou o fundo do casco num baixio rochoso, abrindo uma via de água irreparável e fatal. O soçobro do navio foi bastante lento, facto que permitiu salvar a quase totalidade dos passageiros e tripulantes (391). Na realidade só pereceram no desastre dois turistas franceses, cujos corpos nunca chegaram a ser encontrados.

«UKISHIMA MARU»


Navio mercante japonês de 4 730 toneladas lançado à água a 1 de Agosto de 1936 pelo estaleiro Kokusai Kisen K. K., de Tóquio, com um primeiro nome que desconhecemos. Media 108,40 metros de comprimento por 15,70 metros de boca. Depois de ter assegurado por conta da sua companhia armadora -a Nippon Yusen K. K.- o tranaporte de passageiros e frete, o navio foi requisitado, durante a 2ª Guerra Mundial, pela marinha imperial e transformado em cruzador-auxiliar. Para tanto, recolheu ao estaleiro naval de Tamano, onde foi armado (com 4 peças de 140 mm, 4 outras de 25 mm, 2 tubos lança-torpedos de 533 mm e 1 hidroavião Kawanishi E7K2), ao mesmo tempo que recebeu o seu segundo e último nome : «Ukishima Maru». O seu casco e superstruturas foram camuflados à maneira dos navios-corsários alemães da Grande Guerra, de modo a poder surpreender o tráfego marítimo aliado contra o qual o seu poder foi dirigido. Pouco ou nada sabemos sobre a sua carreira militar. O que melhor se conhece do historial deste navio é que, em 1945, foi protagonista de um drama que vitimou 524 trabalhadores-escravos, além de 25 tripulantes japoneses. Esse desastre ocorreu no porto nipónico de Maizuru a 24 de Agosto de 1945, onde o navio entrara com 4 000/5 000 passageiros forçados em proveniência da Coreia. O «Ukishima Maru» explodiu e afundou-se, na sequência de um crime premeditado (segundo os coreanos) ou de uma deflagração acidental (segundo os japoneses). Parece que o processo para saber a verdade, apurar responsáveis e determinar as indemnizações a pagar aos familiares das vítimas ainda decorre nos tribunais.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

«BELFAST»


Este cruzador britânico da classe ‘Edinburgh’ (evolução da classe ‘Southampton’), foi contruído pelo estaleiro de Harland & Wolff de Belfast e lançado ao mar em 17 de Março de 1938, sendo sua madrinha a esposa do primeiro-ministro Neville Chamberlain. Encontrava-se nas imediações de Scapa Flow, onde procedia a exercícios, quando rebentou a 2ª Guerra Mundial. A 21 de Novembro de 1939, ainda sem operações bélicas na sua folha de serviços, o «Belfast» chocou com uma mina, que praticamente o destruiu. O navio foi, no entanto, recuperado e, depois de dois anos de trabalhos intensivos no arsenal de Davenport, retomou a sua actividade normal em Novembro de 1942, assegurando a protecção dos comboios mercantes que cruzavam o Árctico. Em Dezembro do ano seguinte, o cruzador «Belfast» foi um dos navios da ‘Royal Navy’ que deram caça ao «Scharnhorst» e que o afundaram. Em 6 de Junho de 1944 fez parte -enquanto navio-almirante da Força E- da numerosa armada aliada que participou no dia D e que bombardeou, com sucesso, as posições nazis da costa normanda. Depois da guerra foi enviado para os mares do Oriente e, a partir de 1950, participou no conflito da Coreia. Foi desarmado em 21 de Agosto de 1963 e, com o estatuto de navio-museu (o único da 2ª Guerra Mundial conservado pela Grã-Bretanha), encontra-se, aberto ao público, amarrado a um dos cais do Tamisa, no centro da cidade de Londres. O «Belfast» deslocava em plena carga 11 553 toneladas e mede 187 metros de comprimento por 21 metros de boca. A sua artilharia principal era constituída, como a de todos os outros navios da sua classe, por 12 peças de 152 mm, por 8 outras de 100 mm e por 6 tubos lança-torpedos. Dispunha de dois hidros Walrus catapultáveis. A sua guarnição em tempo de guerra comportava 880 homens.

«BERGANTIM REAL»


Designação pela qual é conhecida a mais bela de todas as galeotas preservadas e expostas pelo Museu de Marinha, de Lisboa. O bergantim real foi construído em 1780 por encomenda da rainha D. Maria I (daí também ser chamada, por vezes, ‘galeota de D. Maria I’) e distingue-se pelos riquíssimos trabalhos de talha dourada que adornam todo o seu casco, mas com mais visível requinte na popa. Esta magnífica embarcação, concebida para ser usada no estuário do Tejo pelos monarcas e por outros proeminentes membros da casa real, era movida por 40 remos accionados por 78 robustos marujos, dirigidos por um patrão e por um cabo proeiro. A sua única superestrutura, a camarinha, está decorada com elementos luxuosos, dos quais se destacam uma deslumbrante pintura do artista Pedro Alexandrino de Carvalho e uma magnífica caixilharia de espelhos venezianos. Depois de retirado do serviço da família real, este bergantim foi utilizado em várias ocasiões solenes, nomeadamente aquando das visitas oficiais ao nosso país dos soberanos de Inglaterra Eduardo VII e, mais tarde, Isabel II (ocorrendo esta em 1957, última vez em que navegou), do rei Alberto I da Bélgica, do imperador da Alemanha Guilherme II e do presidente da República Francesa Émile Loubet. A preciosa galeota recolheu definitivamente ao Museu de Marinha em 1963, onde foi soberbamente restaurada e onde desperta a admiração dos muitos milhares de turistas que visitam, anualmente, aquela prestimosa instituição.

«SAINT FRANÇOIS D'ASSISE»


Construído em 1900 pelo estaleiro naval da firma Delabrosse & Fouché, de Nantes, o «Saint François d’Assise» era um veleiro (600 tonéis, 50 m x 9,20 m) de três mastros e casco de aço dotado de propulsão mista (vela/vapor). Equipado com 40 camas e guarnecido de pessoal médico e de enfermagem, o navio foi colocado (em 1901) ao serviço da Société des Oeuvres de Mer, na qualidade de navio-hospital. Esta unidade sanitária acompanhou e prestou assistência à frota francesa de pesca do bacalhau -que operava nas águas da Islândia e nos Grandes Bancos canadianos- até 1924, ano em que foi retirado dessa função e vendido a um armador particular. Com uma interrupção, porém, durante a Grande Guerra, altura em que foi requisitado pela autoridade militar e transformado em cruzador-auxiliar, com o nome de «El Hadj». Nessa sua função bélica (que contrastava com a sua missão inicial), o navio transferiu parte do corpo expedicionário francês para a frente do Levante, patrulhou as costas da Síria e transportou peregrinos para Meca. Em 1920 recuperou o seu primeiro nome de baptismo e o seu estatuto e configuração inicial para voltar aos mares do bacalhau, onde a sua actividade foi sempre muito apreciada e louvada pela corporação piscatória. Foi vendido em 1925 a um armador nórdico (provavelmente dinamarquês), que lhe atribuiu o nome de «Nylhom» e lhe deu um destino que se ignora. A administração postal francesa emitiu um selo em lembrança do «Saint François d’Assise» e dos bons serviços prestados aos pescadores.

«ESSEX»


Porta-aviões da armada dos Estados Unidos, construído e lançado à água em 1942 pelos estaleiros navais da Newport News Shipbuilding & Drydock Company (Virgínia). Foi o primeiro de uma classe de navios -com o seu nome- realizada entre 1942 e 1950 e que compreendeu 24 unidades; dispondo já as últimas delas de uma pista oblíqua, capaz de receber aviões de jacto. O «Essex» (CV-9) deslocava aproximadamente 35 000 toneladas (em plena carga) e media 266 metros de comprimento por 45 metros de boca. O seu aparelho propulsor (4 turbinas, 8 caldeiras e 4 hélices) desenvolvia uma potência global de 150 000 cv e proporcionava ao «Essex» a velocidade excepcional de 33 nós. Do seu armamento principal sobressaiam 12 canhões de 127 mm, 32 de de 40 mm, 46 de 20 mm, para além da sua guarnição de 91 aeronaves. Este porta-aviões e os seus meios aéreos participaram em várias operações importandes da guerra contra o Japão (batalhas e recontros de Tarawa, Truck, Saipan, Guam, Marianas, Okinawa, Leyte, etc) recebendo por essa notável participação bélica uma citação do presidente dos E. U. A., 13 ‘battle stars’, além de outras honrosas distinções. Mas também sofreu danos e perdas importantes, tais como os infligidos, em 25 de Novembro de 1944, por um ataque de aviões suicidas, que lhe causou danos materiais de monta, 15 mortos e 44 feridos. O «Essex», que, entretanto fora modernizado, foi também um dos navios do seu tipo mobilizado pela armada estadunidense para participar na guerra da Coreia. Foi durante esse conflito que recebeu a bordo os primeiros caças de reacção. E foi um desses aparelhos, um McDonnell ‘Banshee’, que provocou um acidente causador da morte de 7 dos seus tripulantes. No pós-guerra da Coreia, em 1956, o navio recebeu uma pista oblíqua e várias outras beneficiações estruturais. No seu historial registam-se, ainda, dois desastres : um ocorrido (em Maio de 1959) com um jacto ‘Fury’, que causou explosões a bordo, matou 2 homens e feriu 21 outros; e uma colisão (em Novembro de 1966) com o submarino nuclear USS «Nautilus». Este histórico navio foi retirado do serviço activo em 31 de Dezembro de 1969.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

«SÃO GABRIEL»


Este navio-tanque reabastecedor da Armada Portuguesa (número de amura A5206) foi construído nos estaleiros navais de Viana do Castelo e entrou em serviço a 27 de Março de 1963 . Deslocando 14 200 tonelada e com 146 metros de comprimento por 18,20 metros de boca, o «São Gabriel» chegou a ser a maior unidade da nossa marinha de guerra. O navio tinha uma capacidade de transporte que rondava os 9 400 m3 no que diz respeito a cargas líquidas (em doze tanques) e 780 m3 de cargas sólidas (arrimadas em dois porões). O seu sistema propulsor -duas caldeiras e grupo de turbinas- desenvolviam 9 500 SHP. O «São Gabriel» podia navegar à velocidade máxima de 17 nós e tinha uma autonomia de 10 380 milhas náuticas em velocidade económica. Estava equipado com modernos sistemas de comunicação e de navegação. Dispunha de uma pista de aterragem para helicópteros situada à popa. Para além da sua guarnição normal, constituída por 9 oficiais, 16 sargentos e 66 praças, o «São Gabriel» podia receber mais 116 homens, acomodados em alojamentos diferenciados segundo as patentes. Possuía, igualmente, 2 paus de carga para sólidos e 6 postos de reabastecimento para líquidos. Com estes últimos era possível assistir, simultaneamente, três navios : dois lateralmente (um de cada bordo) e um outro pela popa. O «São Gabriel» -que participou em várias manobra de âmbito nacional e da NATO- esteve ao serviço da Armada durante mais de um quarto de século, sendo substituído pelo «Bérrio». Foi abatido do serviço em 1990 e logo desmantelado por um sucateiro em Alhos Vedros.

«TRENCHANT»


Submarino britânico da classe T, lançado à água em 24 de Março de 1943 pelos estaleiros de Chatham. Deslocava, como todos os seus congéneres, 1 290 toneladas (1 560 t em imersão) e as suas dimensões eram as seguintes : 84, 28 metros de comprimento por 7,77 metros de boca. A propulsão era assegurada por 4 motores, dois diesel e dois eléctricos. A sua velocidade superava os 15 nós quando navegava à superfície e era de 9 nós em imersão. Podia mergulhar a 91 metros de profundidade máxima. O seu armamento era constituído por 1 peça de 100 mm e por 3 metralhadoras AA, além de 8 de tubos lança-torpedos situados à proa e 3 à popa. Enviado para a frente Ásia-Pacífico, o «Trenchant» afundou vários navios do Eixo, nomeadamente o submarino alemão U-859 (no estreito de Malaca, em 24 de Setembro de 1944) e o transporte japonês «Maru Sumatra» (no porto de Phuket, em 27 de Outubro do mesmo ano). Mas a sua acção de maior vulto ocorreu a 8 de Junho de 1945, quando torpedeou e mandou para o fundo -no estreito de Bangka- o cruzador nipónico «Ashigara», que para além da sua guarnição transportava 1 600 soldados do exército. Este feito valeu ao navio e ao seu comandante (capitão Arthur Hezlet) várias condecorações. Em Julho de 1963, o HMS «Trenchant» foi vendido a um sucateiro e desmantelado em Faslane. (Grã-Bretanha).

«CABO SAN VICENTE»


Este elegantíssimo paquete de 18 000 toneladas de deslocamento foi construído, em 1956, pela Sociedad Española de Construcción Naval (de Setao, Biscaia) para o armador sevilhano Ybarra y Cia. O «Cabo San Vicente», que media 170 metros de comprimento por 21 metros de boca, podia receber 820 passageiros, distribuídos por duas classes distintas. Era o irmão gémeo do «Cabo San Roque», também ele propriedade da companhia Ybarra. As suas máquinas desenvolviam 14 600 cv de potência, que permitiam ao paquete navegar à velocidade máxima de 22 nós. Iniciou a sua carreira na linha regular Génova-Barcelona-Santa Criz de Tenerife-Buenos Aires, onde se manteve vários anos. Depois do triunfo definitivo do avião nas viagens transatlânticas, este navio passou (como muitos outros da sua categoria) a realizar cruzeiros. Sobretudo ao longo das costas sul-americanas e à Antárctida, destino no qual foi um dos pioneiros. Em 1975, com praticamente 20 anos de vida activa em águas do mundo ocidental, o navio foi vendido à Mogul Line, de Bombaim (Índia), que -com o nome de «Noor Jehan»- o utilizou, essencialmente, no transporte de peregrinos. Foi retirado do serviço dez anos mais tarde (1985) e desmantelado por um sucateiro local.

«JAVA»


Cruzador ligeiro (7 050 t em plena carga) da marinha real neerlandesa. Foi construído nos estaleiros do Escalda e lançado à água em 9 de Agosto de 1921. Mas só integrou os efectivos da armada em Maio de 1925. Deu o seu nome a uma classe de navios que também compreendia o «Sumatra», seu ‘sister ship’. Media 158 metros de comprimento por 16 metros de boca. Dispunha de uma guarnição de 480 homens (oficiais, sargentos e praças). O seu sistema propulsor desenvolvia uma potência global de 72 000 cv, o que permitia ao navio atingir 31 nós de velocidade máxima. Do seu armamento principal constavam 10 peças de 150 mm e 8 AA de 40 mm. Tinha, a bordo, 2 hidroaviões Fokker do tipo C11W. Cumpriu uma das suas primeiras missões operacionais durante a guerra civil de Espanha, escoltando comboios de navios mercantes em zonas de risco. Depois foi enviado para águas das Índias Orientais Neerlandesas (a actual Indonésia) em vésperas da invasão nipónica desse território. Participou, integrado numa força naval aliada, na batalha do Estreito de Bandung, ocorrida no início de Fevereiro de 1942. Foi afundado -no dia 27 desse mesmo mês e ano- pelo fogo do cruzador japonês «Nachi», durante os encarniçados combates do mar de Java.

sábado, 7 de agosto de 2010

«PERAL»


O submarino de propulsão eléctrica «Peral», assim conhecido por ter sido concebido pelo 1º tenente Isaac Peral da armada espanhola, foi construído em 1888 no Arsenal de la Carraca (San Fernando, Cádiz). Com a forma de um fuso, este submersível -um dos primeiros da História- deslocava 77 toneladas (85 t em imersão) e media 23 metros de comprimento por 2,87 m de boca. Era propulsado por 2 motores eléctricos, dispondo de uma bateria de 480 acumuladores de 220 v, desenvolvendo uma potência de 30 cv. A sua velocidade em imersão era de 10 nós e podia mergulhar (por meio de 2 hélices de eixo vertical) à profundidade de 30 metros. O seu armamento era constituído por um tubo lança-torpedos (com três recargas) situado à proa. O «Peral» -que tinha uma autonomia de 66 horas e um raio de acção de 284 milhas náuticas- era tripulado por 12 homens. Depois de submetido a vários testes e simulacros de ataques a navios de superfície -nem todos coroados de sucesso- o projecto de torpedeiro submarino foi abandonado, pelo ministério da marinha, apesar de Isaac Peral afirmar (talvez com razão) que os defeitos do seu invento poderiam ser superados numa nova fase de estudos. Arrumado num canto do arsenal que o construiu, o «Peral» deveria ter sido desmantelado em 1913, em conformidade com uma ‘orden real’ datada de 3 de Novembro desse mesmo ano. Por felicidade esse despacho nunca foi executado e a carcaça do navio foi preservada até aos nossos dias. O «Peral» está agora exposto numa zona pública da cidade de Cartagena, em frente da base de submarinos dessa cidade da costa mediterrânica.

«NOSSA SENHORA DOS MÁRTIRES»


Conhecida no mundo inteiro (sobretudo nos meios da arqueologia marinha) como a ‘nau da pimenta’, este navio da companhia das Índias foi, muito provavelmente, construído na Ribeira das Naus, em Lisboa. Deslocaria entre 1 100 e 1 600 toneladas e teria 68 metros de comprimento. A «Nossa Senhora dos Mártires» zarpou da capital do império, rumo a Goa, a 27 de Março de 1605, sob o comando de Manuel Barreto Rolim, integrada na armada de Brás Teles de Meneses. Chegou à Índia em fins de Setembro do mesmo ano e, depois de ter carregado 250 toneladas de pimenta e outras mercadorias preciosas (porcelanas da China, por exemplo), fez-se à vela para a Europa a 16 de Janeiro de 1606, na companhia da nau «Nossa Senhora da Salvação». A torna viagem decorreu sem incidentes até à chegada as costas portuguesas, onde os dois navios se perderam em circunstâncias trágicas. Depois de ter fundeado na baía de Cascais, onde a «Nossa Senhora da Salvação» fez naufrágio (sem perdas humanas), a «Mártires» tentou forçar a barra do Tejo num dia (14/09/1606) particularmente tempestuoso. Açoitada (em plena vazante) por chuva rija e fustigada por ventos quase ciclónicos, a nau de Rolim foi atirada contra o esporão rochoso denominado Ponta da Lage (a curta distância do forte de São Julião da Barra), onde se destroçou completamente. No naufrágio morreram mais de 200 dos seus tripulantes e passageiros e perdeu-se parte substancial da carga. A pimenta transportada provocou -durante muitos dias- uma verdadeira maré negra, que os habitantes de Carcavelos e de outras zonas ribeirinhas se apressaram a pilhar, apesar da vigilância apertada dos oficiais régios e de militares. Pesquizas arqueológicas recentes permitiram recuperar parte do espólio da «Nossa Senhora dos Mártires», sobretudo alguns dos seus canhões. Mas também astrolábios e outros aparelhos de ajuda à navegação, para além de porcelanas orientais, loiça de bordo, etc. Esses objectos foram mostrados ao público no Pavilhão de Portugal, aquando da realização da Expo 98.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

«NARVAL»


Lançado à água no ano de 1899 pelo arsenal de Cherburgo (Normandia), o «Narval» foi o primeiro submarino da História a ter uma vida realmente operacional. Concebido pelo engenheiro naval Maxime Laubeuf , o «Narval» media 34 metros de comprimento e deslocava 116 toneladas (200 em imersão). Foi dotado com 2 máquinas : uma a vapor, para a navegação à superfície e um motor eléctrico, para assegurar a navegação submarina. O seu raio de acção era de 500 milhas náuticas. Uma quinzena de homens era necessária para assegurar a sua operacionalidade. A preparação para o mergulho era muito lenta, já que exigia, inicialmente, 25 minutos. Tempo que, com o treino da guarnição e algumas modificações no próprio submersível, passaria para metade. O nome deste pioneiro foi dado, mais tarde, a dois outros submarinos franceses, um construído em 1925 e um outro (designativo de uma ‘classe’ que compreendeu 6 unidades) que surgiu na armada gaulesa em 1954.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

«ADAMASTOR»


Cruzador da Armada Portuguesa construído em 1897 no estaleiro Fratelli Orlando, de Livorno (Itália). Deslocava 1 757 toneladas e media 73,80 metros de comprimento por 10,70 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por um conjunto de 2 máquinas a vapor e 4 caldeiras (alimentadas a carvão), que desenvolvia 4 000 cv e permitia que o navio se deslocasse a 18 nós de velocidade máxima. O armamento principal do navio era constituído por 2 peças de 150 mm (com um alcance de 14 km), 4 de 105 mm e 8 de 47 mm, além de 3 tubos lança-torpedos. O «Adamastor» tinha uma autonomia de 5 400 milhas náuticas (com velocidade estabilizada a 10 nós) e dispunha de uma guarnição de 206 homens, oficiais incluídos. Este navio foi adquirido graças á subscrição nacional de 1890, que surgiu na sequência do famigerado ultimato inglês. Esteve comissionado em mares de quatro continentes, mas as acções mais espectaculares do «Adamastor» foram a sua implicação na acção anti-monárquica de 1910 (foi este navio que disparou as salvas de intimidação contra o palácio das Necessidades, dando assim o aviso aos revoltosos republicanos) e a sua participação, durante a Grande Guerra, na campanha do Rovuma (norte de Moçambique), contra as tropas alemãs de von Bullow. Foi desactivado em 1934, após 37 anos de serviço, e vendido a uma firma de ferro velho, que o desmantelou.

«SANTA ANA»


Navio de linha espanhol construído na Galiza, nos Reais Astilleros de Esteiro (Ferrol), e lançado à água no dia 28 de Setembro de 1784. Os seus planos de construção são atribuídos a José Romero y Fernández de Landa. Media 59,46 metros de comprimento por 16,56 metros de boca. O seu calado era de 7,36 metros. Estava armado com 120 bocas de fogo (distribuídas por três cobertas), o que fazia dele um dos mais poderosos navios do mundo de finais do século XVIII. O «Santa Ana» deixou nome na história naval, por ter tido -com a sua guarnição- um comportamento honroso durante a batalha de Trafalgar. Aquando desse confronto ocorrido em 21 de Outubro de 1805 e do qual Horácio Nelson foi o grande vencedor, o «Santa Ana» (sob comando do capitão Gardoqui) bateu-se directamente com o «Royal Sovereinh», que descarregou sobre ele, em duas passagens, as salvas dos seus 100 canhões. Que causaram no navio espanhol avarias de monta (popa completamente destroçada, mastreame danificado, etc) e provocaram 97 mortos e 141 feridos entre os oficiais e marinheiros ibéricos. O rival britânico também sofreu desgastes devastadores. De tal modo importantes que, após a rendição (com glória) do seu adversário, todos os sobreviventes do «Royal Sovereign» (vaso de guerra que ostentava as insígnias do almirante Collingwood) tiveram de ser transferidos para navio espanhol; que sobreviveu à batalha. Sabe-se que o «Santa Ana» teve um fim desastroso, pois acabou por naufragar, em 1816, em águas de Cuba, quando se preparava para dar entrada no arsenal de Havana.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

«BELLE POULE» (III)


Esta fragata da armada francesa foi lançada à água em 1834 pelo arsenal de Cherburgo, na Normandia. Foi um dos primeiros navios a ser construído numa doca totalmente coberta. A não confundir com dois outros navios da mesma categoria e do mesmo nome (um de meados do século XVIII e outro de inícios da centúria seguinte), que pertenceram aos efectivos da marinha de guerra gaulesa. Deslocava (em plena carga ) cerca de 2 500 tonéis e media 54 metros de comprimento por 14,10 metros de boca. Esta fragata parece ter sido construída segundo o desenho da «Constitution», a sua famosa congénere norte-americana, e dela, ter herdade excelentes qualidades náuticas. A «Belle Poule» tinha uma guarnição de 450 homens e estava armada com 60 peças de artilharia de diversos calibres. A sua velocidade média era de 11 nós. Pertenceu à Esquadra do Levante (baseada em Toulon) e esteve, durante um tempo, sob o mando do príncipe de Joinville, filho terceito do rei Luís-Filipe. Patrulhou no Atlântico norte (fazendo nomeadamente um cruzeiro à Terra Nova) e desempenhou missões nas costas do Magrebe, da África negra e do Brasil, além de ter participado activamente na guerra da Crimeia. Mas a missão mais conhecida da fragata «Belle Poule» foi a de ter expatriado em 1840, da ilha de Santa Helena, os restos mortais de Napoleão Bonaparte. Para essa ocasião, o navio foi integralmente pintado de preto, cor que conservou até ao fim da sua carreira. Depois de ter sofrido avarias graves em 1854, aquando de uma missão, no oceano Índico, este navio acabou por ser transformado em transporte de tropas e, mais tarde, em paiol flutuante. A outrora explendorosa fragata «Belle Poule» (terceira do nome) foi desmantelada em 1888. Um veleiro-escola da ‘marine nationale’ ostenta hoje esse nome.

«ZARYA»


Construído em finais do século XIX no estaleiro de Colin Archer em Larvik (Noruega), este brigue de três mastros usava um sistema de propulsão mista (vela/vapor) e chamou-se inicialmente «Harald Halfager». O seu casco, de madeira, apresentava algumas similitudes com o do revolucionário «Fram» (do explorador Nansen), que foi realizado pelo mesmo construtor. Quase nada se sabe sobre as suas características físicas, para além daquelas que algumas fotografias deixam adivinhar. Sabe-se, no entanto, que deslocava 450 toneladas e o seu calado era de 5 metros. A sua utilização requeria uma equipagem de 20 homens. Em 1899 (depois de ter sido certificado como apto à navegação polar pelas autoridades norueguesas) o navio foi adquirido (por 60 000 rublos) pela Academia Imperial das Ciências da Rússia e colocado à disposição do investigador e explorador barão Eduard Toll. Em 1900, depois de ter recebido o nome de ‘Zarya» (que significa ‘alvorada’, na nossa língua), o navio largou de São Petersburgo –sob o comando de Nikolai Nikolaievitch Kolomeistsev, um futuro herói da batalha de Tsushima- para explorar determinadas regiões árcticas e investigar a existência da chamada ilha de Sannikov . Terra assinalada no relatório de vários viajantes russos de séculos precedentes e que, de facto, nunca existiu, como o estabeleceu rigorosamente o barão Toll durante este cruzeiro polar do «Zarya». O navio regressou à sua base das margens do rio Neva em 1903. Sabe-se que a sua carcaça esteve abandonada durante muitos anos (existem fotografias do navio, já em estado lamentável, datadas de 1913 a 1933), até que desapareceu por completo, devorado pela intempérie. O seu nome («Zarya») foi dado, pelos russos, a um dos módulos da Estação Espacial Internacional.

domingo, 1 de agosto de 2010

«RITA MARIA»


Construído em 1952, nos estaleiros da CUF da Rocha do Conde Óbidos (Lx), para a Sociedade Geral, o «Rita Maria» foi pensado para a carreira de África, muito especialmente para assegurar as ligações entre a metrópole e o arquipélago de Cabo Verde e a antiga Guiné Portuguesa. Era um navio de vocação mista (carga diversa e passageiros) de linhas elegantes, capaz de transportar 70 viajantes distribuídos por três classes e um volume importante de mercadorias, já que a sua capacidade superava os 5 600 m3. O «Rita Maria» foi alvo de uma operação de alongamento em 1959 (a primeira dessa importância executada em Portugal) e as suas dimensões definitivas passaram a ser as seguintes : 103,32 metros de comprimento e 13,86 metros de boca. O seu porte bruto era de 3 458 toneladas. O sistema propulsivo do navio era constituído por duas máquinas diesel (de origem sueca) de 7 cilindros cada uma. Velocidade máxima : 13,5 nós. A tripulação normal do «Rita Maria» compreendia 54 homens. O «Rita» foi um dos navios da S.G. que, em 1972, foi transferido para a frota da Companhia Nacional de Navegação. A sua visível vetustez obrigou o armador a retirá-lo da linha de África em 1977; e após um quarto de século de bons serviços, o «Rita Maria» foi vendido à empresa SOCARMAR, que o utilizou como batelão no estuário do Tejo; De onde desapareceu pouco depois para ser desmantelado.