sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

GENNESARETH (Barca de)


Os restos desta barca (muito provavelmente de pesca) foram descobertos em 1986 numa margem lodosa do mar da Galileia. Afirmaram peritos em arqueologia que a estudaram (e que recorreram à utilização das técnicas de datação do carbono 14), que a dita poderá ter sido construída há 20 séculos, coincidindo, assim, com os tempos em que Cristo e os seus seguidores calcorreavam aquela região da Palestina, propagando a fé num Deus único e misericordioso. Daí até se ter pretendido que esta modesta embarcação -que mede uns 8,20 metros de longitude por 2,30 metros de boca- possa ter sido usada por Jesus e pelos seus apóstolos foi um passo. Por isso, também muita gente apoda esse achado (preservado por se encontrar envolvido numa espessa e protectora camada de argila) a 'barca de Jesus'. Administradores do território onde foi descoberta esta relíquia, os israelitas que descobriram a barca de Gennesareth (de um dos nomes que dão a um espaço lagunar, também chamado mar da Galileia ou lago de Tiberíade), empreenderam, com notável êxito, uma longa, delicada e inovadora operação de salvaguarda e de conservação da preciosa embarcação. Que se, muito provavelmente, nada teve a ver com Jesus, permitirá elucidar muitos estudiosos sobre os costumes e as técnicas usadas pelas populações locais há 2 000 anos. Entre outras coisas, os peritos destacam o facto de a chamada barca de Jesus ter sido realizada com 12 madeiras diferentes; o que atesta que o seu proprietário não era rico e não tinha recursos para encomendar um lote homogéneo de material para a sua construção. Esta antiquíssima barca (ou o que dela resta) está exposta no museu Ygal Alon, pertencente ao 'kibbutz' Ginosar, de onde são originários os seus dois felizes descobridores.

«ALTAIR»

Lugre bacalhoeiro português, construído no estaleiro da Gafanha da Nazaré, por mestre Manuel Maria Bolais Mónica.  O navio (de 3 mastros, com casco em madeira) foi lançado ao mar a 25 de Março de 1918 e resultou de uma encomenda feita pela Companhia Aveirense de Navegação e Pesca. Que, ao tempo, tinha à sua frente um importante comerciante da Cidade da Ria «com ligações fortes ao poder político e económico locais». Isto, num tempo em que, com o aproximar do fim da Grande Guerra, se previa um forte incremento da construção naval civil, nomeadamente de embarcações para a pesca longínqua. Ao navio em apreço foi dado o poético nome de «Altair», que é também o da estrela mais brilhante da constelação da Águia; à qual está associada uma lenda, que tem como protagonistas Zeus e a bela Ganímedes. Este navio, registado na capitania do porto de Aveiro, apresentava uma arqueação bruta de 242,36 toneladas e media 35,70 metros de comprimento (entre perpendiculares) por 8,90 metros de boca e por 3,85 metros de pontal. Navegava exclusivamente à vela, pois naquele tempo ainda não era comum, na nossa marinha de pesca, o uso de motores auxiliares. A escolha do seu primeiro capitão recaiu na pessoa de um lobo do mar chamado Fernão Domingues Magano; que o comandou durante as suas primeiras campanhas de pesca : as de 1918 e de 1919. A história do «Altair» terminou em 1921, ano em que foi vendido à Companhia Portuguesa de Pesca do Bacalhau (igualmente de Aveiro) e passou a denominar-se «Vega». Mais tarde, em 1924,  mudou mais uma vez de mãos, sendo integrado na frota da Sociedade Continental de Pesca (de Lisboa) e mudando o seu registo para a capital. Finalmente, regressou a Aveiro (onde voltou a ser matriculado com o derradeiro nome de «Vaz»), mercê de uma transacção feita a favor do armador João Cândido Vaz. O fim deste bacalhoeiro chegou no dia 31 de Agosto de 1940 (já depois de ter eclodido a Segunda Guerra Mundial) nos mares da Terra Nova, onde se afundou com água aberta. Naufrágio sem vítimas.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

«REWA»

Paquete britânico da companhia da B.I.S.N. Co. (British India), de Glásgua. Foi construído em Dumbarton, nos estaleiros William Denny & Brothers, que o lançaram ao mar no dia 14 de Fevereiro de 1906. Era um navio com 7 308 toneladas de arqueação bruta e com 139 metros de comprimento por 17 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por turbinas a vapor, que desenvolviam uma potência de 9 344 shp; força que lhe permitia navegar à velocidade máxima de 18 nós. Destinado à carreira do Oriente (via canal de Suez), este paquete cumpriu a sua missão com regularidade e sem incidentes dignos de menção; até 1914, ano em rebentou a Grande Guerra e o «Rewa» foi requisitado pelo governo de Sua Majestade e entregue à 'Navy', que o transformou em navio-hospital. Operou, no desempenho dessas suas novas funções, alternativamente no Atlântico e no Mediterrâneo. Foi torpedeado e afundado pelo submarino alemão «U-55, que se encontrava sob as ordens de um oficial de nome Wilhelm Werner. O navio-hospital -que regressava da Grécia com feridos- fizera escalas técnicas em Malta e Gibraltar. Dirigia-se para Cardiff e soçobrou no estreito de Bristol perto da meia-noite de 4 de Janeiro de 1918. No momento do ataque germânico, o «Rewa» navegava com as luzes acesas e ostentava todas as marcas exigidas pela Convenção da Haia e não atravessara a pretensa zona perigosa, delimitada unilateralmente pelo governo alemão em 29 de Janeiro de 1917. O seu afundamento pode, pois, considerar-se criminoso aos olhos das leis da guerra. No naufrágio do «Rewa» apenas pereceram 3 membros da sua equipagem, sendo os restantes ocupantes -marinheiros, pessoal de saúde e feridos- salvos por navios (nomeadamente de guerra) que apareceram no local do desastre. Os destroços do «Rewa» foram descobertos por uma equipa de mergulhadores em Setembro de 2003. Repousam a 60 metros de profundidade, a 33 milhas náuticas de Newquay, na costa norte das Cornualhas. Alguns dos objectos recuperados do seu bojo foram decisivos na identificação do navio-hospital.

«PIONEERING SPIRIT»


Diz-se deste mastodôntico navio, que é a maior estrutura flutuante e automóvel jamais construída pelo homem. O que não é surpreendente, quando se sabe que -em plena carga- o «Pioneering Spirit» pode deslocar 932 000 toneladas. Este navio com 382 metros de comprimento por 124 metros de boca e por 30 metros de calado, tem propulsão assegurada por um conjunto de 12 máquinas diesel-eléctricas Rolls-Royce desenvolvendo, unitariamente, uma potência de 6 050 kW. Força que lhe confere uma velocidade máxima de 14 nós. Foi construído nos estaleiros da firma Daewoo (em 2013), na Coreia do Sul e pertence à companhia Allseas Engineering BV, com sede na Suíça. O navio está, quanto a ele, registado em Valletta, na ilha-estado de Malta. Não vou descrevê-lo fisicamente, deixando aos leitores deste blogue a oportunidade de descobrir este extraordinário navio de trabalho, através da fotografia anexada. O «Pioneering Spirit» (que terá custado a faraminosa soma de 2,6 milhares de milhões de dólares) foi concebido para operar -junto das companhias petrolíferas 'off shore'- no levantamento e transporte de cargas com peso excepcional. Para tanto, o navio dispõe de material de elevação específico, que pode suportar umas surpreendentes 24 000 toneladas. O que permitiu à Allseas fechar contratos com diversas companhias extractoras de petóleo e de gás para remover (no mar do Norte, nomeadamente) plataformas de prospecção inteiras. E obsoletas. O «Pioneering Spirit» chamou-se, primitivamente, «Pieter Schelte» (nome do pai do seu propritário); mas essa designação foi violentamente contestada (o que obrigou a mudá-la), pelo facto do seu patrono ter sido identificado como um antigo oficial das sinistras SS, que deixou escritos anti-semitas de uma indignidade só possível por parte de um servidor obediente de Hitler. O tal monstro com forma humana que está na origem da exterminação de 6 milhões de judeus europeus, para além de milhões de outras etnias não-arianas, prisioneiros de guerra indefesos, etc. Mas isso é, naturalmente, uma outra história...

«KALMAR NYCKEL»

Construído nos Países-Baixos por volta de 1625, este navio (primitivamente chamado «Sleutel») foi adquirido, três ou quatro anos mais tarde, por um consórcio comercial da cidade sueca de Kalmar. Compra feita com o intuito de transportar emigrantes nórdicos para o Novo Mundo, onde a Suécia desejava estabelecer uma colónia. Mais tarde, o «Kalmar Nyckel» seria comprado pela armada real sueca e dotado de armamento defensivo. Sabe-se que, em 1637, este navio e um outro de menor porte chamado «Fogel Grip» partiram de Gotemburgo para a América setentrional -sob o comando de um capitão de nome Jan Hindrksen van der Water- mas que a viagem correu mal e requereu adiamento. Apanhados, com efeito, por violenta tempestade no mar do Norte, os dois navios foram encaminhados para um porto da Holanda, onde receberam reparações. Depois de, novamente, serem dados como aptos para atravessar o Atlântico, dali partiram no dia 1º de Janeiro de 1638, atingindo o seu porto de destino a 3 de Março desse mesmo ano. Os pioneiros suecos fundaram ali um colonato ao qual deram o nome de Forte Cristina. À volta do qual se desenvolveria a actual cidade de Wilmington, no estado de Delaware. Sabe-se que o «Kalmar Nyckel» realizou outras três viagens transatlânticas todas elas com o mesmo fim e destino. Numa delas  (que terminou em 17 de Abril de 1640) este navio transportou Reorus Torkillus, que foi o primeiro clérigo luterano a desembarcar nas Américas. Depois do seu regresso definitivo à Europa, o navio em apreço foi readquirido pelos batavos e afundado a 12 de Julho de 1652 -durante a Primeira Guerra Anglo-Holandesa- ao largo das costas da Escócia, por um navio inglês da esquadra do almirante Blake. Uma réplica deste histórico navio foi realizada, em 1997, nos 'states' à escala 1/1. Este último navio pertence a uma associação sediada em Wilmington (a antiga Fort Christina) chamada Kalmar Nyckel Fondation. Acreditando que as dimensões do novo navio correspondam às do modelo, o «Kalmar Nyckel» seria um navio com 27 metros de comprimento (na linha de flutuação) e com 7,60 metros de boca. A ilustração que aqui anexei é uma tela a óleo representando o «Kalmar Nyckel», pintada em 1922 pelo artista Jacob Hägg.

«LIBERAL»

Canhoneira da Armada Real Portuguesa, construída em 1884, na Grã-Bretanha, no estaleiro da firma Laydrs. Tinha uma 'sister ship' na sua congénere «Zaire», de idêntica origem e a cuja classe pertenceu. A «Liberal» deslocava 558 toneladas e apresentava as seguintes dimensões : 42,56 metros de longitude por 7,50 metros de boca por 3,43 metros de calado. Era um navio  de madeira e ferro, de propulsão mista (vela/vapor), dispondo de 3 mastros (aparelhados em barca) e equipada com uma máquina com 500 cv de potência. Estava armada com 6 bocas de fogo de distintos calibres : 2 canhões de 150 mm, 2 de 100 mm e 2 metralhadoras de 11 mm. Com uma guarnição de cerca de 100 homens, a «Liberal» serviu em águas metropolitanas, mas também esteve em comissões no ultramar, a saber em Angola, Ajudá, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Índia e Macau. Entre os oficiais ilustres que, temporariamente, integraram a sua guarnição, ressalve-se o nome do futuro almirante (que também foi geógrafo e inventor) Carlos Viegas Gago Coutinho. Este navio -que já havia sofrido um acidente de mesma índole em águas moçambicanas, dois anos antes- perdeu-se no dia 22 de Junho de 1910, perto do Ambriz. Todos os seus marinheiros e passageiros (entre os quais se encontrava o tenente-coronel Alves Roçadas, então governador geral de Angola) foram socorridos pela equipagem do vapor «Vilhena», que os desembarcou, sãos e salvos, em Luanda. Nesse mesmo ano, a canhoneira «Liberal» foi riscada da lista de efectivos da nossa Armada.