segunda-feira, 31 de agosto de 2009

«SEEADLER»


Três mastros galera construído em 1888 nos estaleiros Robert Duncan & Cº (Escócia) para a sociedade armadora River Platte Shipping, de Nova Iorque. O navio foi lançado à água com o nome de «Pass of Balmaha» e serviu como navio de transporte de mercadorias várias até 1915, ano da sua captura (por contrabando) pelo submarino alemão U-36. Media 75 m de comprimento fora a fora, deslocava perto de 2 000 toneladas e dispunha de um aparelho constituído por 24 velas. Estava equipado com um motor auxiliar (já instalado pelos alemães ?) que desenvolvia 1 000 cv. Os germânicos atribuiram-lhe, depois de o terem modificado, o nome de «Seeadler» e a designação de cruzador-auxiliar, provido de 2 canhões de 105 mm. O seu comando foi confiado ao capitão-tenente conde Felix von Luckner, que, na sua juventude, já havia navegado em todos os mares do mundo e que, enquanto oficial subalterno da marinha imperial alemão, estivera na mortífera batalha de Jutlândia. O primeiro e último cruzeiro do «Seeadler» -consagrado à guerra de corso- iniciou-se num porto do Báltico, de onde o veleiro zarpou, no dia 21 de Dezembro de 1916, rumo às águas livres do Atlântico e do Pacífico. Durante esse raide, que durou 225 dias, o veleiro alemão serviu-se da arte da camuflagem desenvolvida pela sua tripulação para se aproximar, sem despertar desconfianças, de navios inimigos e atacá-los. Durante esse período de 8 meses, fazendo jus ao seu nome de 'Águia dos Mares', o corsário imperial canhoneou 14 navios de várias nacionalidades (3 vapores e 11 veleiros), afundando-os sem remissão. Mas também sem causar mortes. A carreira do «Seeadler» terminou em princípios de Agosto de 1917, quando uma tempestade o atirou contra a costa rochosa da ilha de Mopélia (Polinésia francesa).

«MORA»


Navio normando do século XI. Parece ter sido construído em Barfleur por encomenda de Matilde de Flandres, que o ofereceu a seu marido Guilherme, o Bastardo, duque de Normandia. Era um navio inspirado pelas técnicas nórdicas de construção naval e pela tradição franca. Segundo a tapeçaria dita de Bayeux -que é, na realidade, um bordado- na qual o «Mora» (ou similar) está representado várias vezes, este assemelhava-se bastante aos navios viquingues dos séculos precedentes, embora fosse de maior porte, mais estável e melhor adaptado ao transporte de equídeos. O «Mora» era uma nave de propulsão mista (vela de pendão/30 remadores), que serviu de modelo às muitas centenas de embarcações que o Bastardo mandou construir em previsão da invasão da Grã-Bretanha. Chamados 'moras' em homenagem ao seu ilustre predecessor, esses navios levaram até às costas inglesas os 15 000 guerreiros normandos que haveriam de infligir uma histórica derrota a Haroldo II na batalha de Hastings, travada em 14 de Outubro de 1066. Derrota que permitiu a Guilherme trocar o seu pouco reluzente cognome pelo de O Conquistador e de cingir a coroa real de Inglaterra. Durante a memorável travessia do mar da Mancha, o «Mora» foi comandado pelo capitão barfleurense Etienne. Curiosidade : o poeta Côtis-Capel (1915-1986) dedicou um sentido poema (escrito em 'patois' normando) ao «Mora» e à sua odisseia.

domingo, 30 de agosto de 2009

«CUTTY SARK»


Famoso clipper britãnico do século XIX. Foi construído em 1869 nos estaleiros escoceses de Scott & Lindon, de Dumbarton. Deslocava 921 toneladas e dispunha de três mastros aparelhados em galera. Esteve implicado nos lucrativos comércios do chá do Oriente e da lã neo-zelandesa e australiana. Perdeu uma célebre corrida de velocidade contra o «Thermopylae» (futuro «Pedro Nunes») em 1872, o que não o impediu de ser um dos mais rápidos e admirados navios do seu tempo. O andamento máximo do «Cutty Sark» era impressionante, atribuindo-se-lhe um record, por ter percorrido a distância de 360 milhas náuticas em apenas 24 horas. O seu capitão e proprietário, John Willis, vendeu-o -em 1895- à sociedade portuguesa de Joaquim Antunes Ferreira, que lhe mudou o nome de baptismo para «Ferreira» e o conservou durante 27 anos. No final da sua longa carreira em Portugal, o navio -que aqui aparelhou em patacho a partir de 1916- ainda viu (por um curtíssimo espaço de tempo) o seu nome alterado para «Maria do Amparo». O veleiro voltou à Inglaterra em 1922, ano em que o seu novo proprietário lhe restituiu o nome e aspecto originais; e onde o célebre clipper ainda chegou a exercer funções de navio-escola. O ano de 1953 marcou, definitivamente, o fim da sua actividade. Depois de alguns trabalhos de restauro, o «Cutty Sark» foi rebocado (em 1954) para Greenwich, onde ficou exposto à admiração do público. Em 21 de Maio de 2007, o navio foi ali quase totalmente destruído por um incêndio, cujas causas ainda não foram muito bem elucidadas. Um programa de recuperação do clipper já foi montado, subsistindo, no entanto, o problema dos custos dessa delicada operação, que poderiam ascender a uns 10 milhões de libras.

«WILHELM GUSTLOFF»


Paquete construído nos estaleiros Blohm & Voss, de Hamburgo, para a KdF/Kraft durch Freude, uma organização da Alemanha hitleriana (cujo nome significa 'Força pela Alegria') muito semelhante, nos seus objectivos, à nossa antiga F.N.A.T.. Este navio de 25 000 toneladas, que recebeu o seu nome em homenagem ao líder do partido nazi suíço, media 208,50 m de comprimento por 23,60 m de boca e podia deslocar-se a uma velocidade superior a 15 nós. Tinha uma tripulação de 417 homens e mulheres e podia receber 1 465 passageiros. Foi lançado à água no dia 15 de Março de 1938 e inaugurado num cruzeiro à ilha da Madeira, que fez escala em Lisboa. O «Wilhem Gustloff» foi um dos navios mobilizados para repatriar a Legião Condor de Espanha, logo após a vitória franquista de 1939. Durante o segundo conflito mundial foi transformado em navio-hospital. A sua celebridade data de inícios de 1945 -mais precisamente da noite de 30 de Janeiro desse derradeiro ano de guerra- pelo facto de ter sido atingido por três torpedos disparados do submarino soviético «S-13» e de ter afundado na sequência desse ataque. O «Wilhelm Gustloff» navegava, nessa altura, ao largo da península de Hel (no mar Báltico) e transportava entre 6 000 e 10 000 pessoas (as fontes de informação divergem muito) provenientes de Gotenhafen (hoje Gdynia) e que eram, essencialmente, refugiados, soldados feridos da frente leste e especialistas da frota submarina alemã. Das águas gélidas do Báltico só foi possível resgatar 904 náufragos. O número de perdas humanas elevou-se, assim, a muitos milhares de pessoas, fazendo deste afundamento a maior tragédia de toda a história marítima.

«SCORPENE»


Moderno submarino francês vocacionado para missões de natureza vária : luta contra navios de superfície e submersíveis, operações especiais, reconhecimento, guerra electrónica, lança-minas, etc. O seu conceptor e construtor é a firma D.C.N.S., que firmou contrato com a Navantia (de Espanha) para a execução de encomendas oriundas de certos países estrangeiros. O «Scorpene», que tem a reputação de ser extremamente silencioso, desloca 1 650 toneladas à superfície e 2 000 em imersão. Pode mergulhar a mais de 300 metros de profundidade e o seu raio de acção é da ordem das 6 500 milhas náuticas à velocidade de cruzeiro de 8 nós. A sua tripulação é de 31 homens, podendo, no entanto, ser reduzida se o navio receber -por opção do comanditário- um sistema automatizado de navegação. Os aparelhos de detecção, assim como o armamento do «Scorpene» (6 tubos lança-torpedos de 533 mm, guarnecidos com 18 projécteis) são dos mais performantes da actualidade. Além dos navios deste tipo destinados à armada francesa, a D.C.N.S. recebeu pedidos do Chile (2) e da Malásia (2). 10 outras unidades foram encomendadas pelas marinhas de guerra da Índia (6 construídas ou a construir, sob licença, nos estaleiros desse país da Ásia) e do Brasil (4). Também no que respeita os submersíveis deste último país haverá transferência de tecnologia, visto que os navios de classe 'Scorpene' brasileiros deverão ser, todos eles, realizados pelo arsenal do Rio de Janeiro. No quadro deste último contrato, a França aceitou ajudar a armada brasileira a desenvolver o seu próprio projecto de realização de um submarino nuclear de ataque.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

«AMERICAN PRIDE»


Veleiro de 200 toneladas (arvorando bandeira norte-americana), construído em 1941 pelos estaleiros Muller Boat Works, de Nova Iorque. Mede 30,70 metros de comprimento por 6,40 metros de boca. Tem agora um motor auxiliar. Chamou-se inicialmente «Virginia» e pescou bacalhau nos grandes bancos do Canadá durante quase quatro décadas. Ainda usou, sucessivamente, os nomes de «Alaho», de «Ste. Catherine», de «Lady in Blue» e de «Natalie Todd», antes de receber a sua actual designação. É reconhecível por apresentar um velame de cor ocre. Em 1986 sofreu uma restauração aprofundada e, dez anos mais tarde, este bonito navio foi adquirido pelo American Heritage Marine Institute (hoje Fundação Marítima das Crianças), que lhe atribuíu Long Beach, na Califórnia, como porto de abrigo. O «American Pride» é, actualmente, utilizado para formar jovens na arte da navegação à vela e na realização de viagens de estudos científicos relacionados com as seguintes disciplinas : oceanografia, biologia marinha e ciências do ambiente. Eventualmente o veleiro também recebe turistas e participa em regatas. A sua tripulação permanente conta com 6 marinheiros.

«INFANTE DOM HENRIQUE»


Paquete português que pertenceu à frota da Companhia Colonial de Navegação e, posteriormente, à da C.T.M.. Foi construído nos estaleiros belgas de John Cockerill (Hoboken/Antuérpia) em 1961. Era um gracioso, estável e luxuoso navio com 195,50 m de comprimento por 24,50 m de boca, capaz de deslocar 24 000 toneladas. A sua propulsão era assegurada por duas poderosas máquinas que lhe imprimiam uma velocidade máxima de 21 nós. A tripulação completa do «Infante Dom Henrique» era composta por 318 pessoas e o navio podia receber a bordo 1 018 passageiros distribuídos por três classes : 1ª, turística e turística B. O paquete dispunha de 4 salões com bar, 2 restaurantes, 1 hospital, 2 capelas, biblioteca e sala de leitura, salão de cabeleireiro, etc. A sua decoração, que fora confiada ao arquitecto José Manuel Barreto, era sumptuosa. O «Infante Dom Henrique» foi inaugurado a 4 de Outubro de 1961 numa viagem às colónias portuguesas de África. Serviu sobretudo nessa linha (Lisboa-Luanda-Lobito-Lourenço Marques-Beira-Lisboa) e em cruzeiros até 1976. Já inactivo, o «Infante» foi comprado (em 1977) pelo Gabinete da Área de Sines, para alojar os trabalhadores das muitas obras em realização no complexo industrial desse porto alentejano. Em 1986 o navio foi adquirido pelo conhecido armador grego Potamianos, que lhe mudou o nome para «Vasco da Gama» e o utilizou como unidade de cruzeiros em diferentes mares do globo. O navio deu, nessa altura e nessa função, várias voltas ao mundo. Em 1994 passou para a posse da Premier Cruises, uma sociedade turística norte-americana que lhe deu o seu derradeiro nome : «Seawind Crown». Depois de várias peripécias ligadas à falência do seu último proprietário, o velho navio esteve arrestado, uns tempos, no porto de Barcelona. Até que, no ano de 2004, foi parar à China, país onde foi desmantelado.

«CISNE BRANCO»


Desenhado no gabinete de arquitectos navais de Gerard Dijkstra, o navio-escola «Cisne Branco» foi lançado à água em 1999 pelos estaleiros holandeses que o construiram : Damen Orajewerf, de Amsterdão. Foi entregue à armada do Brasil no ano seguinte, quando se celebravam nesse país lusófono da América do sul os 500 anos da chagada de Pedro Álvares Cabral a terras de Vera Cruz. O veleiro, um três mastros galera, mede 76 metros de comprimento por 10,60 metros de boca. Desloca 1 038 toneladas, em plena carga, e o seu calado é de 4,80 metros. O sistema propulsor do navio compreende um motor auxiliar e 31 velas correspondendo a 2 195 m2 de superfície. A velocidade máxima do veleiro ultrapassa os 15 nós. Transporta uma tripulação de 22 membros e pode acolher meia centena de cadetes. O seu porto de abrigo é o do Rio de Janeiro. Além de estar vocacionado para formar futuros oficiais, o «Cisne Branco» deve, igualmente, cumprir a missão de embaixador itinerante do Brasil e participar nos grandes acontecimentos náuticos nacionais e internacionais, susceptíveis de aproximar a sociedade civil da instituição militar.

«PESTAROLA»


É um varino típico do Tejo de outros tempos, pertencente à autarquia barreirense. Parece ter sido construído em Vila Franca de Xira, pelo facto do seu primeiro registo o dar em Alhandra, por volta de 1930, com o curioso nome de «Camponês». Nos anos 50 do século passado, foi adquirido pela firma Armazéns José Luís da Costa Lda., proprietária de uma seca de bacalhau em Palhais (na margem direita do Coina), que o utilizou no transbordo de peixe verde dos navios para terra. O varino «Pestarola» é, como os seus congéneres, uma embarcação com um único mastro vestido de pano latino, que se distingue da fragata estuarina por ter fundo chato (sem quilha), característica que lhe permite navegar em águas pouco profundas. O «Pestarola» apresenta uma proa ricamente decorada com motivos da arte (dita popular) desenvolvida pelos homens da beira rio. Foi adquirido pela Câmara Municipal do Barreiro em 1999 e completamente restaurado, sendo utilizado, actualmente, em viagens pelo estuário do Tejo (quando o tempo as permite), com o intuito de dar a conhecer esse espaço -de grande interesse paisagístico e ecológico- à população da cidade. O «Pestarola» está preparado para acolher 23 passageiros.

«HORNET»


O porta-aviões «Hornet» (identificado com o código CV-8) entrou ao serviço da armada dos E.U.A. em 20 de Outubro de 1940, quer dizer um ano antes do inesperado ataque japonês contra a base de Pearl Harbour. Este navio ganhou fama internacional, quando, no dia 18 de Abril de 1942, descolaram da sua pista os primeiros aviões norte-americanos que alvejaram o território do Japão : 16 bombardeiros médios Mitchell B-25, colocados sob o comando do então tenente-coronel James Doolittle. Depois deste episódio que galvanizou a opinião pública dos Estados Unidos e a fez acreditar na vitórial final contra os nipónicos, o «Hornet» ainda participou em duas batalhas aeronavais relevantes : a de Midway e a das ilhas de Santa Cruz. No decorrer deste último confronto, o porta-aviões «Hornet» foi atacado por aeronaves inimigas muito superiores em número àquelas que asseguravam a sua própria protecção e afundado, no dia 26 de Outubro de 1942; quando o navio contava apenas dois anos de vida operacional. O «Hornet» era um navio com 25 600 toneladas de deslocamento (em plena carga), que media 251,40 m de comprimento por 37,70 m de boca. A sua velocidade máxima rondava os 33 nós. Foi construído no Newport News Shipbuilding & Dry Dock Cº, no estado de Virginia. Tinha uma tripulação próxima dos 2 000 homens e podia receber e tornar operativos 90 aviões.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

«RAINBOW WARRIOR»


Navio de propulsão mista que pertenceu ao movimento ecológico Greenpeace. Estava registado no porto de Amsterdão e hasteava bandeira neerlandesa. Pelo facto de Greenpeace denunciar veementemente as experiências nucleares realizadas pela França em Muroroa (no oceano Pacífico), o «Rainbow Warrior» foi alvo -em 10 de Julho de 1985- de um atentado perpetrado pelos serviços secretos gauleses (D.G.S.E.) e afundado, com explosivos, no porto neozelandês de Auckland. No soçobro do navio morreu um dos membros da sua tripulação, o fotógrafo luso-holandês Fernando Pereira. Provada a natureza política do atentado (que teve larga repercussão na imprensa mundial) e a identidade dos seus autores, a França viu as suas relações com a Nova Zelândia abaladas e foi condenada pelos tribunais a indemnizar o movimento Greenpeace (que recebei 8,16 milhões de dólares pela perda do navio e por danos morais) e a família da vítima da explosão do «Rainbow Warrior». Este navio era o ex-«Sir William Hardy», um antigo pesqueiro do mar do Norte, comprado em 1977 pela Greenpeace -com a ajuda financeira do ramo neerlandês da associação World Wildlife Fund- e convertido em navio de apoio às suas actividades contestatárias. O «Rainbow Warrior» foi construído em Aberdeen (Escócia) em 1955. Deslocava 418 toneladas e media 44 metros de comprimento. Podia atingir a velocidade de 12 nós com o auxílio simultâneo dos seus dois sistemas de propulsão : 2 máquinas diesel e 620 m2 de velas. A sua equipagem compreendia, normalmente, 15 pessoas. O navio era reconhecível pelo seu casco verde, no qual haviam sido pintados dois símbolos do movimento ambientalista : um arco iris e uma pomba branca com um ramo de oliveira no bico.

«VALLADARES 2º»


Pequeno veleiro português de dois mastros, registado no porto de Viana do Castelo. Foi construído, em 1902/1903, pelo mestre carpinteiro António Dias dos Santos, de Fão. Media 22,74 metros de comprimento por 6,50 metros de boca e deslocava 76 toneladas. Fazia transporte de mercadorias várias ao longo da costa portuguesa. Em inícios de Janeiro de 1917, o «Valladares 2º» foi interceptado ao largo de Peniche por um submarino alemão não identificado e afundado com oito tiros de peça. Os tudescos pouparam a vida aos sete tripulantes do veleiro vianense (cujo mestre era António Santos Machado), apoderando-se, no entanto, da bandeira nacional e roubando parte da carga do pequeno navio : cerca de 100 caixas de figos, provenientes do Algarve e embarcadas dias antes em Portimão. Dois dos tripulantes do «Valladares 2º» ainda estiveram detidos a bordo do submarino (para se submeterem a interrogatório), onde notaram que um dos seus membros de equipagem falava fluentemente português e castelhano.

domingo, 23 de agosto de 2009

«FAR WEST»


Embarcação do século XIX, do tipo 'sternwheeler', que operou no curso do rio Missouri e no de alguns dos seus tributários. Foi construída num estaleiro de Pittsburg (Pensilvâvia) para a Coulson Packet Company. O seu casco (chato) media 59 metros de comprimento por uns 10 metros de largura e o seu calado não excedia 80 centímetros, mesmo quando navegava com a carga completa, ou seja com toda a tripulação, com 30 passageiros e com 200 toneladas de mercadoria. O «Far West» estava equipado com uma caldeira a vapor, cuja energia fazia mover uma roda de palhetas situada à popa. A roda, que media 7,50 metros de longitude por 5,50 metros de diâmetro, tinha uma velocidade de rotação de 20 voltas por minuto. A celebridade do «Far West» provém do facto deste vapor ter sido utilizado pelo general Alfred H. Terry em 1876 -durante a campanha militar contra os índios da chamada Grande Pradaria- como transporte de tropas, unidade de apoio logístico e posto de chefia móvel. Essa campanha militar, da qual Terry era comandante supremo, terminou, como é sabido, com a derrota inesperada do tenente-coronel George A. Custer e o aniquilamento quase completo do 7º Regimento de Cavalaria dos Estados Unidos por uma coligação de guerreiros Sioux, Cheyennes e Arapahos. Foi também este vapor que evacuou elementos do exército, que não chegaram sequer a participar na desastrosa batalha de Little Big Horn. Para executar essa missão, o «Far West» teve de aproximar-se o mais perto possível do lugar do confronto (situado no território de Montana), utilizando as águas baixas e perigosas do rio Little Big Horn, mas também as do Yellowstone e as do Missouri, antes de chegar ao forte Abraão Lincoln (no Dacota), onde deu a infausta notícia da morte de Custer e de mais de 260 dos seus cavaleiros. A Secretaria de Estado da Guerra dos E.U.A. gastou a quantia de 350 dólares diários com o aluguer do «Far West» (que se encontrava sob as ordens do experimentado capitão Grant Marsh), soma importante para a época. Este histórico vapor continuou a transportar passageiros e frete durante alguns anos mais; até que chocou -no dia 30 de Outubro de 1883- contra o ilhéu de Mulhanthy (situado a 7 milhas da cidade de Saint Charles do Missouri) e se afundou.

«PEDRO TEIXEIRA»


Patrulheiro fluvial brasileiro, construído pelo arsenal de marinha do Rio de Janeiro e acrescentado aos efectivos da armada em 17 de Dezembro de 1973. Desloca 900 toneladas (plena carga) e mede 63,56 m de comprimento por 9,71 m de boca. O seu calado é de apenas 2,40 m. Os seus 4 motores diesel facultam-lhe uma velocidade máxima de 16,4 nós. Opera nas águas do rio Amazonas, em missões de fiscalização, prevenção e repressão de actos ilícitos e de apoio sanitário e social às populações ribeirinhas. Deu o nome à sua classe, que compreende mais um navio : o «Raposo Tavares» O patrono do «Pedro Teixeira» é um militar português, natural de Cantanhede, que -nos anos 30 do século XVII- chefiou uma expedição que subiu os cursos do rio Amazonas e de alguns dos seus tributários, atingindo Quito pela via fluvial. Este patrulheiro está armado com 1 canhão de 40 mm, com 6 metralhadoras de calibres diversos e com 2 morteiros. Dispõe de 2 lanchas ditas de acção rápida e pode acolher um helicóptero ligeiro. A sua tripulação é constituída por 58 homens. Pode, quando necessário, transportar uma força de 20/80 fuzileiros navais. Popularmente conhecido pelo designativo de boto (nome dado a um golfinho do Amazonas), o lema deste navio-patrulha é o seguinte : «Onde a Amazônia precisar, o Boto vai chegar».

«QUEEN ELIZABETH»


Paquete britânico de 83 000 toneladas, que pertenceu à prestigiosa frota da Cunard. Foi lançado à água em 1938 pelo estaleiro de John Brown (Clydebank, Escócia) e estreado no dia 3 de Março de 1940. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o navio foi imediatamente mobilizado pela autoridade militar e começou por assegurar o transporte de soldados aliados entre a Grã-Bretanha e os 'states' e as diferentes zonas de combate. A sua tripulação compreendia 1 200 homens e o navio fora concebido para receber 2 880 passageiros. Mas, aquando da sua utilização como transporte de tropas, o «Queen Elizabeth» acolheu, obviamente, um número de pessoas muito superior. Calcula-se que, durante os anos de conflito contra as forças do Eixo, o «QE» tenha transportado 750 000 militares e percorrido meio milhão de milhas náuticas. Este paquete da Cunard era um verdadeiro gigante dos mares, que media 314 m de comprimento (mais 4 m do que o «Queen Mary») por 36 m de boca. O seu calado era de 12 m. Equipavam-no 16 turbinas alimentadas por 12 caldeiras a vapor, que asseguravam a rotação de 4 hélices pesando, cada uma delas, 32 toneladas. A electricidade necessária ao bom funcionamento do navio era fornecida por uma central capaz de satisfazer as necessidades primárias de uma cidade de 200 000 habitantes. Depois do armistício, o navio foi readaptado ao transporte civil e passou a assegurar a carreira Southampton-Cherburgo-Nova Iorque, na qual se tornou famoso pela excelência do serviço oferecido. Em 1969, depois de ter efectuado 896 travessias do oceano Atlântico, o «Queen Elizabeth» foi retirado do serviço activo. Ainda esteve uns tempos atracado em Port Everglades, na Florida, onde um grupo de negociantes o tentou converter em hotel de luxo. Depois do fracasso dessa operação, o navio foi vendido em leilão (por 3 200 000 dólares) ao armador chinês C. Y. Tung, que o mandou levar para Hong Kong, onde o «Queen Elizabeth» devia ser transformado numa universidade flutuante. Perdeu-se ao largo da cidade (então sob administração britânica), no dia 9 de Janeiro de 1972, na sequência de um gigantesco incêndio ateado (segundo a comissão de inquérito) por mão criminosa.

«DAPHNÉ»


Submarino francês que deu o nome a uma classe de navios submersíveis da qual também faziam parte os portugueses «Albacora», «Barracuda», «Cachalote» e «Delfim». Além de terem equipado a marinha de guerra francesa e a nossa armada, os submarinos deste tipo também arvoraram pavilhão de Espanha, do Paquistão e da África do Sul. O «Daphné», que foi lançado à água em 1964, deslocava 1 043 toneladas em imersão e tinha as seguintes dimensões : 57,75 m de comprimento por 6,74 m de boca. Podia navegar á velocidade máxima de 12 nós à superfície e de 15 nós em imersão. Foi concebido para poder mergulhar até 300 m de profundidade, com uma tripulação de 53 homens. Estava armado com 12 tubos lança-torpedos de 550 mm (não recarregáveis durante a mesma operação) e dispunha de meios de detecção (radar e sonars) iguais aos melhores da sua geração. 11 submarinos da classe do «Daphné» foram construídos para a França, nos arsenais militares de Cherburgo e de Brest, mas também nos estaleiros civis da casa Dubigeon, em Nantes. Dois deles -o «Minerve» e o «Eurydice»- desapareceram (com as suas tripulações) no Mediterrâneo, quando ali efectuavam manobras de rotina. O «Daphné» foi desactivado em 1989 e todos os outros submarinos do seu tipo foram riscados da lista de efectivos da 'Marine Nationale' até 1996.

«JOOLA»


Navio senegalês de transporte de passageiros e carga, que assegurava o serviço regular entre Ziguinchor (seu porto de registo) e Dacar. Foi construído em 1990 nos estaleiros alemães da firma Schiffswerft Germersheim. Media 79,50 metros de comprimento por 12,50 metros de boca e estava habilitado a transportar 536 passageiros, além dos seus 44 tripulantes. Soçobrou no oceano Atlântico -a 29 de Setembro de 2002- quando navegava com uma lotação que se calcula ser muitíssimo superior àquela que legalmente podia transportar. Em todo o caso, foram recolhidos, depois do desastre, cerca de 1 000 cadáveres. O «Joola» fora alvo de uma revisão total pouco antes do naufrágio e encontrava-se em bom estado de funcionamento; presumindo-se, pois, que o afundamento se deu por causa da sobrecarga de passageiros e de mercadorias que levava a bordo. O governo do Senegal lamentou o sucedido, mas o movimento independentista M.F.D.C. (Mouvement des Forces Démocratiques de la Casamance) acusou o poder central de ter «organizado e planificado o massacre de centenas de pessoas», que eram, no essencial, originárias da Casamança, território (enclavado entre a Gâmbia e a Guiné-Bissau) com veleidades separatistas.

«ALBARQUEL»


Veleiro de bandeira francesa, actualmente registado no porto de Dieppe (Alta Normandia). Pertence à sociedade de cruzeiros turísticos Albarquel Expé. O se nome -o de uma praia setubalense- denuncia as suas origens portuguesas. O «Albarquel» foi, com efeito, construído num estaleiro de Pedrouços em 1957 e utilizado, durante uma dúzia de anos, no transporte de sal entre o estuário do Sado e certos portos bacalhoeiros. O navio mede 20 metros de comprimento por 6 metros de boca e desloca 55 toneladas. Tem casco de madeira e possui dois mastros capazes de arvorar 260 m2 de pano. Está equipado com um motor de 160 cv. Foi adquirido em meados dos anos 70 (do século XX) por dois oficiais da marinha mercante francesa, que o adaptaram à indústria turística. Nessa actividade, o antigo navio salineiro percorreu águas da Europa do norte, da América do sul e do mar Mediterrâneo. Andou, depois, de mão em mão, até ser comprado, em 2007, pelo seu actual proprietário e completamente renovado. Desde 2008 que passa (com turistas) 8 meses por ano longe do seu porto de abrigo; a navegar nos fiordes da Noruega e nas águas frígidas do mar de Barentz e do arquipélago de Spitzberg, situadas para lá do Círculo Polar Árctico. Nestas suas viagens longínquas, o «Albarquel» embarca, para além da sua habitual tripulação de 4 homens, 12 passageiros, instalados em quatro camarotes relativamente confortáveis. O seu capitão é o francês Claude Minaudo, um professional com experiência de navios deste tipo e familiarizado com expedições polares e com o turismo de aventura.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

«GRANDCAMP»


Este cargueiro era do tipo 'Liberty Ship' e foi construído em 1942, nos estaleiros da firma California Shipbuilding, de Los Angeles. Deslocava, como os seus congéneres, 10 830 toneladas (em plena carga) e media 128,82 m de comprimento por 17,37 m de boca. Chamou-se, enquanto navegou com bandeira norte-americana, «Benjamin R. Curtis», mudando de nome quando foi transferido -em 1946- para a frota francesa da Compagnie Générale Transatlantique. A sua (triste) fama provém do facto do «Grandcamp» ter estado na origem de uma das maiores catástrofes portuárias de todos os tempos. Aquela que ocorreu no dia 16 de Abril de 1947, quando o navio carregava nitrato de amónio no porto de Texas City, perto de Houston. Um incêndio tendo-se declarado a bordo, o navio começou a ser rebocado para fora dos limites do porto e da importante zona industrial adstrita. Mas, antes de se poder consumar essa manobra, produziu-se uma enorme explosão no cargueiro, que projectou matéria incandescente sobre outros navios e sobre os imóveis do porto. Um maremoto de importantes proporções ameaçou a cidade, que acabou por ser evacuada. As exlosões sucederam-se durante 6 longos dias e, na hora, do balanço, registou-se a morte de 600 pessoas, ferimentos em 5 000 outras e prejuízos materiais incalculáveis. O cargueiro «Grancamp» volatilizou-se ! Apenas uma das suas âncoras foi encontrada enterrada num jardim, situado a 3 km do sítio onde estivera o navio e onde se produzira a deflagração que causou a catástrofe. Segundo aquilo que foi apurado pela comissão de inquérito, a explosão do navio francês poderá ter sido provocada por uma ponta de cigarro deixada cair sobre o seu carregamento por um tripulante negligente.

«KONGO»


Era um cruzador de batalha da marinha imperial japonesa, de concepção e construção britânicas. Foi lançado à água no dia 18 de Maio de 1912 pelos estaleiros Vickers Armstrong, de Barrow-in-Furness. A classe de navios à qual o «Kongo» deu o seu nome, compreendia três outras unidades : o «Hei», o «Kirishima» e o «Haruna», todas elas já construídas no Japão. O navio deslocava (antes da transformação sofrida em 1929-1931) 26 230 toneladas; e, depois desta, 36 600, passando desde então a ser designado como um couraçado. Media 222 metros de comprimento por 31 metros de boca. O seu armamento principal era constituído por 8 canhões de 356 mm, por 16 de 152 mm, por 8 de 127 mm e por 118 peças de artilharia antiaérea de 25 mm. Podia navegar à velocidade máxima de 30 nós. A sua autonomia (a 14 nós) era de 9 500 milhas náuticas. E a sua guarnição normal compreendia 1 360 homens. Após a entrada em guerra do Japão contra os Estados Unidos e os seus aliados, o «Kongo» participou em inúmeras operações bélicas, tanto no Índico (Índias Orientais Neerlandesas, Ceilão) como no Pacífico (Midway, ilhas Salomão, Guadalcanal, Santa Cruz). Na noite de 21 de Novembro de 1944, quando o navio cruzava o estreito de Formosa, foi alvejado por três torpedos disparados do submarino norte-americano «Sealion». O couraçado nipónico prosseguiu, no entanto, o seu caminho. Mas, duas horas mais tarde, produziu-se uma estrondosa explosão no seu paiol de munições e o navio virou-se. Acabando por afundar-se, causando a morte de 1 200 dos seus tripulantes. O drama foi presenciado, de perto, pelo submarino agressor, que perseguira o «Kongo», na expectativa de poder lançar um segundo ataque contra o poderoso couraçado.

«NUMANCIA»


Fragata couraçada da armada espanhola. Foi construída em França, nos estaleiros de La Seyne (perto de Toulon), que a lançaram à água em 19 de Novembro de 1863. Era um navio de propulsão mista (vela/vapor), que deslocava 7 500 toneladas. Media 96 metros de comprimento por 17,30 metros de boca. A sua artilharia era substancial (40 peças), mas de pequeno calibre. A «Numancia» participou em três guerras : naquela que a Espanha suportou contra as suas antigas colónias do Chile e do Perú; na chamada guerra civil carlista; e no conflito contra os nacionalistas rifenhos. Em 1867-1868, foi o primeiro navio couraçado a dar a volta ao mundo, ganhando, nessa ocasião, a sua prestigiosa divisa «Enloricata navis que primo terram circuivit». A «Numancia» foi completamente remodelada em 1898, ano em que se substituiu a sua artilharia inicial por 8 canhões de 254 mm, 7 de 203 mm e dois tubos lança-torpedos. Em vésperas da Grande Guerra, já a obsoleta fragata couraçada havia sido convertida em navio de treino. Desactivada, pouco tempo depois, foi vendida a um sucateiro de Bilbau, a cujo estaleiro ela nunca chegou, por ter encalhado junto à praia de Sesimbra, quando procedia de Cádiz. Ali se perdeu no dia 17 de Dezembro de 1916.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

«EMPIRE SANDY»


O «Empire Sandy» é um veleiro canadiano de três mastros, aparelhado em lugre, que, durante o verão, assegura passeios turísticos nos lagos Ontário e Erié e no curso inferior do rio São Lourenço. E que, no inverno setentrional, exerce a mesma função em águas caribenhas. Construído, em 1943, no estaleiro britânico Clellands Ltd, de Quay-on-Tyne, este veleiro de 740 toneladas (com um casco de 41,86 m de comprimento por 9,15 m de boca) serviu a 'Royal Navy' durante a batalha do Atlântico, resgatando náufragos, socorrendo pilotos da R.A.F. abatidos sobre o oceano, rebocando navios aliados em dificuldade, etc. Estava, nessa altura, armado com várias peças antiaéreas, servidas por 4 artilheiros da marinha real. Foi, depois da guerra, vendido a um particular, que o baptizou «Ashford». Em 1950 mudou, de novo, de proprietário, ao ser cedido à firma canadiana Paper Company (de Thuder Bay, Ontário) que, com o nome de «M. Chris», o utilizou no reboque de troncos de árvore no lago Superior e nos rios tributários do dito. Nos anos 70, quando já não era rentável, foi enviado para a sucata e estava para ser desmantelado, quando foi salvo, in extremis, pelo seu actual proprietário : Norman Rogers, fundador da sociedade Nautical Adventures Cº.. Que lhe reatribuiu o seu nome de origem e o modificou para lhe dar o aspecto de um veleiro de finais do século XIX. O «Empire Sandy» pode transportar 275 passageiros. A sua tripulação normal é de 25 homens.

«CHARLES W. MORGAN»


Este navio baleeiro norte-americano é o último sobrevivente dos mais de 700 veleiros idênticos que foram construídos, durante os séculos XVIII e XIX, na costa leste dos E.U.A.; em New Bedford e na ilha de Nantucket, sobretudo. O «Charles W. Morgan» foi encomendado por um negociente de óleo de cetáceos (e membro influente da seita religiosa dos Quakers) ao estaleiro naval da firma Jethro Zachariah & Hillman, de New Bedford (Massachusetts), que o lançou à água em 1841. O «Charles W. Morgan», que recebeu o nome do seu proprietário, é um navio de três mastros, aparelhado em galera, que desloca um pouco mais de 300 toneladas. Está (como o esteve qualquer outro navio da sua especialidade) equipado com canoas baleeiras e respectivos apetrechos de caça à baleia e ao cachalote, e com um forno, no qual se derretiam e transformavam em óleo as gorduras dos cetáceos capturados. O «Charles W. Morgan» -que se manteve activo durante 80 anos- empregou, durante a sua longa vida, mais de 1 000 homens, entre os quais se contaram alguns portugueses e cabo-verdianos. Este navio foi, incontestavelmente, o campeão de capturas e o recordista de milhas navegadas. Figurou em quatro filmes ambientados no mar e no mundo dos marinheiros, de entre os quais se destaca a famosa fita «Moby Dick» (parcialmente rodada na ilha da Madeira), inspirada pelo livro homónimo de Melville e realizada, em 1956, por John Huston. Em 1941, esta relíquia de uma época heróica (mas, durante a qual, quase se exterminou uma das mais extraordinárias espécies animais que povoaram mares e oceanos), foi comprado -e salvo- pelo Mystic Seaport Museum, do Connecticut, que o expõe à curiosidade dos muitos amantes de velhos navios. O «Charles W. Morgan» mede uma trintena de metros de comprimento por 9,70 metros de boca. Pode arvorar 1 200 m2 de pano e deslocar-se, teoricamente, à velocidade máxima de 10 nós.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

«SAN JUAN NEPOMUCENO»


Vaso de guerra espanhol dos séculos XVIII e XIX, construído (em 1765) pelos estaleiros reais de Guarnizo, Santander. Estava armado com 74 canhões de vários calibres. A sua guarnição compunha-se de 531 homens (oficiais, sargentos e praças). Operou, essencialmente, no Atlântico e em águas caribenhas; mas também se lhe conhecem acções no Mediterrâneo, já que o navio participou na decisiva batalha de Trafalgar -21 de Outubro de 1805- brilhantemente ganha por Horácio Nelson. Durante esse violento embate entre as marinhas de guerra mais poderosas da Europa, o «San Juan Nepomuceno», que se encontrava sob o mando de Cosme Damián Churruca, um grande capitão, acabou por ser vencido -com glória- por seis navios ingleses, entre os quais se contavam o «Defiance», o «Tonnant» e o «Dreadnought». Com uma perna arrancada pela metralha adversa e com o seu navio cheio de mortos (mais de 400 !) e de feridos graves, Churruca lutou galhardamente até ao extremo limite das suas forças. Acabando, quando estas o abandonaram definitivamente, por arriar o pavilhão do «San Juan Nepomuceno». Churruca e a sua equipagem escreveram, nesse memorável e sangrento dia, uma das páginas mais brilhantes da história naval de Espanha.

«SULTANA»


Navio fluvial de rodas propulsivas laterais, típico da navegação no Mississippi. Assegurava uma carreira regular entre as cidades de Nova Orleães e Saint Louis. Fretado pelo governo dos Estados Unidos, este vapor transportava -no dia 21 de Abril de 1865, poucos dias depois do final da guerra civil e da vitória dos federais- 1 800 soldados da União, libertados dos campos de concentração sulistas, que regressavam aos seus lares, após anos de ausência e de sofrimento. O «Sultana» também levava a bordo um pequeno grupo de prisioneiros confederados e 12 enfermeiras militares, além de um número indeterminado (mas elevado) de passageiros civis. Enfim, o navio navegava com uma carga excessiva, que punha em risco a sua progressão rio acima. O vapor fez uma etapa técnica no porto de Vicksburg, para reparar uma caldeira avariada. E, depois da paragem em Memphis (no Tennessee), o «Sultana» foi sacudido por uma tremenda explosão ocorrida na casa das máquinas. Explosão que deu origem a um incêndio de grandes proporções e lançou o pânico entre os seus passageiros, tanto militares como civis. Muitos deles atiraram-se às águas lamacentas do Mississippi para escapar ao fogo que lavrava a bordo; outros, por não saberem nadar, optaram por permanecer no navio, morrendo ali, sufocados ou queimados. O «Sultana» acabou por afundar-se. O número oficial das vítimas mortais da catástrofe elevou-se a 1 438. Mas é provável que muitas mais tenham perecido nesse desastre, que é considerado, ainda hoje, como o maior drama fluvial de toda a história dos Estados Unidos da América.

«TIRPITZ»


Couraçado alemão, irmão gémeo do «Bismarck». Foi lançado à água no dia 1º de Abril de 1939 pelos estaleiros navais de Wilhelmhaven e dado como concluído em inícios de 1941. Deslocava 50 900 toneladas (em plena carga) e media 251 m de comprimento por 36 de boca. O seu armamento principal compreendia 8 peças de 380 mm, distribuídas por quatro reparos duplos. Dizia-se da sua formidável blindagem, que era capaz de resistir a todos os projécteis existentes. O «Tirpitz» podia navegar a uma velocidade máxima que excedia os 30 nós. A sua tripulação normal era de 2 600 homens. Depois do trágico afundamento do «Bismarck» pela marinha real britânica, as autoridades navais do 3º 'Reich' quiseram preservar este couraçado dos ataques inimigos e deram instruções ao seu comandante para fundear o navio num recôndito fiorde da Noruega. O sítio escolhido foi o Altafjord, onde este poderoso vaso de guerra hitleriano (sem paralelo na Europa) se refugiou até ao fim do conflito. Depois de ter sido alvo de vários ataques (sem consequências graves) de submarinos de bolso da 'Royal Navy' e de aviões da R.A.F., o «Tirpitz» foi, finalmente, afundado -a 12 de Novembro de 1944- por bombas perfurantes de 6 toneladas, que atingiram uma das suas reservas de munições. As perdas humanas foram de pouca monta, já que a sua guarnição se resumia (devido à imobilização do navio) aos artilheiros antiaéreos e a meia dúzia de técnicos. O couraçado foi desmantelado pelos noruegueses logo após o fim da Segunda Guerra Mundial.

«TORREY CANYON»


Petroleiro de bandeira liberiana. Quando, em 1958, foi construído no estaleiro de Newport News Shipbuilding (Virgínia, EUA) os seus tanques tinham capacidade para 60 000 toneladas de crude. Mas, depois de uma operação de aumento de porte efectuada no Japão em 1964, a capacidade do navio duplicou. Nessa sua última configuração, o «Torrey Canyon» media 267,30 m de comprimento por 41,25 m de boca e o seu calado máximo era de 17,20 m. O derradeiro armador do «Torrey» foi a Barracuda Tanker Corporation (sedeada nas Bermudas), filial da Union Oil of California; e a sociedade B.P. foi a responsável pelo seu último afretamento. Em 19 de Fevereiro de 1967, o navio -que carregara no Koweit- tomou o caminho de Milford Haven, na Grã-Bretanha, onde devia entregar o seu carregamento de petróleo em rama. A longa viagem (a efectuar pela rota do cabo da Boa Esperança) passou-se sem incidentes até à manhã de do dia 18 de Março; altura em que o navio já se encontrava perto do seu porto de destino e se esventrou nos rochedos de Pollard's Rock, situados ao largo das ilhas Scilly. O desastre teve várias causas, sendo provado que uma delas se ficou a dever a desentendimentos entre o comandante do petroleiro e o seu imediato, por questões de navegação. Na sequência do encalhe, o «Torrey Canyon» perdeu imediatamente 30 000 galões de petróleo, que, devido à acção das marés e do vento, começaram a poluir as costas inglesa e francesa. Para evitar um derrame de maiores proporções, a chamada célula de crise, reunida na base aérea de Culdrose, decidiu lançar fogo ao navio, alvejando-o com 42 bombas incendiárias. Mas tudo isto não chegou para evitar à Europa marítima a maior catástrofe ecológica da sua história. Na sequência da qual o nome do «Torrey Canyon» ficou associado a algo de apocalíptico. Tanto mais que, por falta de experiência no domínio da luta antipoluição, britânicos e franceses usaram, nas suas praias, produtos de limpeza ainda mais tóxicos do que o líquido derramado pelo petroleiro naufragado. Um longo e complexo processo nos tribunais teve lugar, para determinar culpas e estabelecer o montante das indemnizações a atribuir às vítimas dos estragos causados pela gigantesca maré negra do «Torrey Canyon», petroleiro de triste memória.

«VICTORIA»


Este navio foi o único sobrevivente (entre cinco) da frota com a qual Fernão de Magalhães empreendeu -em 1519- a primeira viagem de circum-navegação da História. Era uma nau de 85 tonéis, construída, segundo a tradição, nos desaparecidos estaleiros de Zarauz, na Biscaia. O nome do navio provém da igreja de Santa Maria da Vitória, em Triana, onde o navegador português jurou servir lealmente o futuro imperador Carlos V, promotor do extraordinário périplo à volta do globo. O regresso a Sanlúcar de Barrameda da nau «Victoria» (um navio com 26 m de comprimento por 6,72 m de boca) verificou-se no dia 6 de Setembro de 1522, após quase 3 anos de navegação e 78 000 km percorridos. Com a «Victoria» regressaram a Espanha apenas 18 dos 234 homens que integraram a histórica e ousada expedição. É verdade que outros já, há muito tempo, haviam demandado o ponto de partida, na sequência de avarias nas suas naus ou da deserção dos seus capitães. Depois da morte de Magalhães, nas Filipinas, a nau «Victoria» foi colocada sob o comando de Juan Sebastián de Elcano, um sabido marinheiro biscainho. O primeiro navio a dar uma volta completa ao mundo perdeu-se -em data incerta- no oceano Atlântico, quando regressava de uma viagem a Santo Domingo.

domingo, 16 de agosto de 2009

«SILVINA»


Bonito lugre de três mastros construído, em 1919, por mestre Manuel Maria Bolais Mónica, no seu estaleiro da Gafanha da Nazaré. Chamou-se inicialmente «Águia» e pertenceu à Companhia Aveirense de Pesca. Deslocava 207 toneladas e media 35,50 metros de comprimento por 8,80 metros de boca. Depois de ter mudado de proprietário e de nome, o navio recebeu um motor auxiliar de origem alemã. Foi várias vezes à Terra Nova à pesca ao bacalhau, levando normalmente, aquando dessas campanhas de pesca longínqua, um efectivo que superava os 35 homens. Em 25 de Maio de 1941, quando se encontrava nos Grandes Bancos, declarou-se um violento incêndio a bordo do «Silvina», que a sua equipagem não conseguiu dominar. Antes do naufrágio do infortunado navio (que tinha casco em madeira), a sua tripulação -completa- pôde salvar-se graças à utilização dos dóris; sendo depois recolhida por outros bacalhoeiros portugueses pescando na zona da catástrofe.

«SHABAB OMAN»


Navio-escola da marinha real omanita. É um veleiro com casco de madeira e com três mastros, que arvoram 1 020 m2 de pano. É facilmente reconhecível graças às armas do sultanato (duas cimitarras cruzadas e um punhal tradicional) que ele ostenta nas suas velas. O seu nome significa Juventude de Oman. O navio -com 52 m de comprimento fora a fora, 8,50 m de boca e com 380 toneladas de deslocamento- foi construído no estaleiro escocês da casa Herd & Mackenzie e usou, primeiramente, o nome de «Captain Scott». Foi adquirido, em 1979, pelo ministério omanita da juventude e serve na formação de cadetes. O «Shabab Oman» desloca-se muitas vezes aos portos da Europa ocidental, sendo corrente vê-lo nas concentrações de grandes veleiros; onde a sua presença é sempre alvo de uma grande curiosidade por parte dos amantes da marinha à vela e também por parte do público em geral. O seu porto de abrigo é o de Mascate, situado no golfo de Oman.

«VITTORIO VENETO»


Couraçado italiano da classe 'Littorio', lançado à água a 25 de Julho de 1937 em Trieste, pelos Cantieri Riuniti dell'Adriatico. Media 237 metros de comprimento por 32,90 metros de boca e deslocava 45 700 toneladas, em plena carga. Podia navegar à velocidade máxima de 31 nós e o seu raio de acção (a 15 nós) era de 18 500 km. O seu armamento principal compreendia 9 peças de artilharia de 381 mm, 12 de 155 mm, 12 de 90 mm (AA), 20 de 37 mm e 30 de 20 mm. A sua guarnição normal era de 1 800 homens. O «Vittorio Veneto» sofreu várias modificações, até ser dado como apto em 1940. Em Março de 1941, participou na batalha do cabo Matapan contra a 'Royal Navy', sendo gravemente danificado por aviões-torpedeiros 'Swordfish' da guarnição do porta-aviões «Formidable». O «Vittorio Veneto» conseguiu, no entanto, regressar à sua base de Tarento, contrariamente à sua escolta de cruzadores, que foi, toda ela, afundada pela armada britânica. Em Dezembro de 1941, o poderoso couraçado italiano foi, de novo, atingido por um torpedo inimigo, disparado, desta vez, pelo submarino «Urge»; e ficou fora de combate durante três meses. Em 1943, aquando do volta-face italiano, o «Vittorio Veneto» e a sua guarnição entregaram-se às forças britânicas estacionadas na ilha de Malta. Dali seguiu para o Egipto, mantendo-se inactivo no Grande Lago Amargo (canal de Suez) até 1948. Ano em que se procedeu ao seu desmantelamento.

«LUZO»


Paquete português de propulsão mista (vapor/vela) registado no porto de Ponta Delgada (Açores). Pertencia à Empresa Insulana de Navegação, que o adquirira em Inglaterra, em 1875, ao construtor Bowdler Chaffer, de Seacombe, Liverpool. O «Luzo» deslocava 1 071 toneladas e media 72,10 metros de comprimento por 8,90 metros de boca. O navio, que assegurava a carreira entre as ilhas de Santa Maria e de São Miguel, podia receber a bordo 134 passageiros, distribuídos por três classes. Na noite de 26 de Julho de 1883, quando navegava debaixo de nevoeiro cerrado, o «Luzo» foi encalhar na ponta da Lagoa, não muito longe da cidade de Ponta Delgada, seu porto de destino. Apesar do violento impacto sofrido e do mau estado das baleeiras (que quase todas metiam água), não houve vítimas a lamentar. Já parte da carga transportada foi considerada como perdida; assim como o navio, que só dali sairia desmantelado. Assinale-se que duas corvetas francesas, fundeadas no porto de Ponta Delgada, ajudaram nas operações de salvamento dos náufragos do vapor «Luzo».

«ITAPAGÉ»


Paquete brasileiro de 5 000 toneladas construído, em 1926/1927, nos Chantiers de Normandie, de Grand Quevilly (França), para a Companhia Nacional de Navegação Costeira. Media 119,70 m de comprimento por 15,80 m de boca. Tinha uma tripulação de 70 homens. Este navio, que assegurava a linha regular Rio de Janeiro-Recife, navegava ao largo das costas alagoanas, quando -às 13h50 do dia 26 de Setembro de 1943- foi sacudido por duas violentas explosões provocadas por outros tantos disparos de torpedos feitos por um submarino alemão; que se presume ter sido o U-161. O «Itapagé» adernou para o lado onde se haviam produzido os impactos (estibordo) e afundou-se em menos de 5 minutos. No desastre pereceram 18 membros da sua equipagem e 9 passageiros. A carga do navio (constituída por tonéis de ácido muriático, óleo diesel, duas mil caixas de cerveja, dois camiões e 30 000 vasos para recolha de latex nas plantações de héveas) perdeu-se na sua totalidade. O brutal ataque ao «Itapagé», navio civil hasteando bandeira de um país neutro, revoltou a população do Brasil e determinou a entrada em guerra deste país ao lado das nações aliadas. Os restos do «Itapagé» (que repousam a 25 metros de profundidade) têm sido visitados por equipas (devidamente autorizadas) de arqueólogos submarinos.

«CENTRAL AMERICA»


Este navio movido por rodas laterais (acionadas pela energia fornecida por uma caldeira a vapor) e por um adicional sistema vélico, chamou-se -quando foi lançado à água no dia 28 de Outubro de 1852- «George Law». Foi construído pelos estaleiros novaiorquinos de William H. Webb para a casa armadora United States Mail Steamship Company. Em 1857 mudou de proprietário e de identidade, e foi com o nome de «Central America» que se tornou tristemente célebre. A 3 de Setembro desse mesmo ano de 1857, o navio zarpou do porto panamenho de Colón com destino a Nova Iorque. Encontrava-se, então, sob a autoridade do capitão William L. Herndon e transportava, além de 101 membros de equipagem, 477 passageiros. No seu bojo carregava, também, cerca de 15 toneladas de ouro, provenientes das minas da Califórnia. Depois de ter feito uma breve escala em Havana (Cuba), o «Central America» retomou a sua rota normal, para norte; mas -no dia 9 de Setembro- foi surpreendido, ao largo das costas da Carolina, por ventos ciclónicos de uma tal violência (165 km/h), que o avariaram seriamente, antes de o afundar. Grande parte das pessoas que viajavam a bordo do 'navio do ouro', como ficou conhecido, pereceu no naufrágio. Depois de, já no século XX, os seus restos terem sido localizados e identificados, várias tentativas para recuperar o tesouro foram feitas. Até que, no dia 27 de Setembro de 1988, meios técnicos muito sofisticados permitiram, finalmente, trazer à superfície parte substancial do ouro carregado pelo «Central America». Uma fortuna !

«TRIDENTE»


Submarino da Armada Portuguesa, construído na Alemanha pela firma H. D. W. de Kiel. Pertence à classe germânica 'U-214' e foi lançado à água em 2008. O «Tridente» vem substituir (com o «Arpão», seu irmão gémeo) os obsoletos submersíveis da classe 'Daphné/Albacora'. É um navio com 68 metros de comprimento e 6,35 metros de boca, capaz de deslocar (em imersão) 2 020 toneladas. A sua propulsão e funcionamento são assegurados por 2 geradores de 240 kW, 2 motores diesel de 6,24 MW e 1 motor eléctrico de 2,85 MW. O «Tridente» pode atingir 12 nós de velocidade máxima navegando à superfície e 20 nós em imersão. Esta moderna unidade da nossa marinha de guerra tem uma autonomia de 1 200 milhas náuticas e pode mergulhar até 350 metros de profundidade. Está dotado com sistemas de navegação e de detecção de última geração e armado com um dispositivo de lançamento para 6 mísseis 'Harpoon' e com 12 torpedos convencionais. Tem uma tripulação de 33 homens (7 oficiais, 10 sargentos e 16 praças). O «Tridente» e o «Arpão» constituem a quinta geração de submarinos da Armada Portuguesa desde 1913, ano de entrada em serviço operacional do «Espadarte».

«MOÇAMBIQUE»


Paquete português da frota da Companhia Nacional de Navegação. Foi construído em 1949 nos estaleiros britãnicos da firma Swan, Hunter & Wigham Richardson, de Newcastle-on-Tyne. Media 167 metros de comprimento por 20,50 metros de boca e deslocava cerca de 13 000 toneladas. Os seus 2 motores diesel, de 6 cilindros cada um, facultavam ao «Moçambique» uma velocidade de cruzeiro da ordem dos 17 nós. O navio funcionava com 213 membros de equipagem e podia receber a bordo 749 passageiros, distribuídos por cinco classes distintas : luxo, 1ª, 2ª, 3ª e 3ª suplementar. O paquete esteve colocado na linha de África até 1972, ano em que foi desactivado. Este navio não deixaria grandes recordações, se não tivesse sido com ele e com os seus passageiros que nos chegou, em 1957, proveniente do continente negro, a malfadada gripe asiática; que contaminaria Lisboa e, logo a seguir, o resto do país.

«GAUSS»


Navio científico alemão, famoso por ter levado à Antárctida (1901-1903) a expedição conduzida pelo professor Erich von Drygalski. O «Gauss» foi construído num estaleiro de Kiel em 1900. O se casco, largo e extremamente robusto, foi inspirado pelo do «Fram», de Fridtjof Nansen. Era de propulsão mista : estava equipado com uma pequena máquina a vapor e dispunha de três mastros aparelhados em patacho. A expedição do «Gauss» partiu da Alemanha a 11 de Agosto de 1901 e atingiu as ilhas Kerguelen no dia 31 de Dezembro. Ali desembarcou uma pequena parte do corpo científico que viajava a bordo, para se entregar a estudos de vária natureza. Todos os outros membros da expedição prosseguiram viagem até à Antárctida, indo explorar uma região desconhecida, à qual Drygalski chamou Terra do Imperador Guilherme II. Um vulcão dessas longínquas e inóspitas paragens recebeu o nome de Gaussberg, em honra do navio utilizado pelos expedicionários alemães. Drygalski e os seus companheiros (que foram os primeiros a empregar um balão de ar quente no sexto continente) recolheram ali dados científicos da mais alta importância -sobre a geologia, a flora e a fauna locais- que, de 1905 até 1931, forneceram matéria para publicar 20 volumes e 2 atlas. O «Gauss» e a gente do professor Erich von Drygalski regressaram a Kiel em Novembro de 1903. O navio ainda foi utilizado pelo explorador Joseph Bernier para reconhecer -em 1906- a Terra de Baffin e para afirmar oficialmente a soberania do Canadá sobre esse vasto e gélido território.

sábado, 15 de agosto de 2009

«MAC MAHON»


Pequeno navio da Armada Portuguesa utilizado em Moçambique pelos nossos serviços aduaneiros e de fiscalização de portos. Foi construído na Inglaterra em 1889 e recebeu o seu exótico nome para honrar a memória de um presidente da República Francesa que arbitrou (a favor de Portugal) um conflito suscitado pelos britânicos, a propósito dos direitos lusos à baía de Lourenço Marques; região da África oriental cobiçada por aqueles nossos interesseiros aliados. Este humilde navio (37,79 m de comprimento por 6,40 m de boca; 304 toneladas de deslocamento; 25 homens de guarnição; armado com uma fraca peça de artilharia), tornou-se célebre por ter interceptado e apreendido -em 1891, nas águas do rio Limpopo- o vapor «Countess of Carnarvon», que, à revelia de tratados e convenções, transportava armas e munições para a South African Company através daquela via fluvial. Este incidente diplomático foi empolado pela fantasiosa imprensa londrina do tempo, que apresentou o «Mac Mahon» como um poderoso navio de guerra, que terá recorrido ao abuso da força para reter o navio britânico. O «Mac Mahon» perdeu-se, por encalhe na barra do Limpopo, em Abril de 1893.

«PORTUGAL»


Paquete de propulsão mista (vela/vapor) da Companhia Nacional de Navegação para a África Portuguesa. Foi construído em 1881 pelos estaleiros Earl'Ship Buiding Cº, de Cardiff. Media 90 metros de comprimento por 7,60 metros de boca e deslocava cerca de 2 000 toneladas. Podia acolher 212 passageiros distribuídos por três classes. Segundo um reclame da época, oferecia, entre outras comodidades, alojamentos separados para doentes, quartos de banho, botica, depósito de bagagem, quarto de fumo e, até, um camarote independente para o seu facultativo. Foi destacado pelo armador, para a linha da África ocidental, iniciando a sua viagem inaugural no dia 5 de Outubro de 1881. Depois de 16 anos de bons serviços, o vapor «Portugal» naufragou -em Fevereiro de 1897, no decorrer de uma viagem de África para Lisboa- por via de um encalhe ocorrido na costa da ilha do Sal (Cabo Verde). A sua carga mercante perdeu-se, mas a tripulação e os passageiros sobreviveram ao desastre.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

«CAIRO»


Era um dos muitos navios fluviais (de transporte de passageiros e carga diversa) que, antes da guerra civil, cruzavam o rio Mississippi e os seus principais tributários. O «Cairo» era um barco com 53 m de comprimento, 15,60 m de boca e fraco calado (2 m, se tanto). Porvido de duas máquinas a vapor, que movimentavam, graças a um par de embôlos, uma grande roda traseira de palhetas, o «Cairo» podia navegar à velocidade de 4 nós. Requisitado pela força militar da União, foi chapeado, dotado com 6 peças de artilharia e lançado no combate contra os Confederados. A este tipo de navios, assim, modificados para missões de guerra, foi dado, pela sua conceptora -a firma James B. Eads & Cº, de Mound City, Illinois- o nome de 'Ironclad gunboat'. O «Cairo» foi colocado sob o mando do tenente da marinha James M. Prichett e integrado na chamada Flotilha do Oeste. Actuou, essencialmente, nos rios Mississippi e Ohio, tendo participado a várias acções bélicas contra os rebeldes, nomeadamente no desembarque das tropas que ocuparam as cidades de Clarksville e Nashville, no Tennessee. Afundou-se no rio Mississippi no dia 12 de Dezembro de 1862, depois de ter chocado com uma mina sulista. Parte dos seus restos foi localizada em 1956 e recuperada. Graças a uma legislação especial votada pelo Congresso dos E.U.A. em 1972, esse espólio está a ser utilizado na resconstituição do famoso vapor. Um antigo barco comercial, que a vontade política de Lincoln em manter a integralidade da União acabou por transformar em temível couraçado fluvial.

«ÁRGUS»


Lugre-motor português de quatro mastros e casco em aço, construído e lançado à água no ano de 1939 pelo estaleiro holandês De Haan & Oerlmans, de Heusden. Pertenceu à Parceria Geral de Pescarias (casa Bensaúde) e teve como fundeadouro de inverno o lugar da Azinheira Velha (Telha, Barreiro), na foz do rio Coina. Era ligeiramente maior do que os seus irmãos «Creoula» e «Santa Maria Manuela», visto a sua capacidade de carga superar a destes navios em 120 toneladas. O «Árgus» participou em inúmeras campanhas bacalhoeiras nos mares da Terra Nova e da Groenlândia e gozou de uma grande notoriedade após a publicação de artigos de imprensa, livros e documentários escritos e realizados pelo australiano Alan Villiers, que esteve a bordo do lugre aquando da campanha de pesca de 1950. Deve-se ao «Árgus» o salvamento dos pescadores e restante tripulação do «Santa Quitéria», que, em 1941, naufragou nos Grandes Bancos. O navio da P. G. P. foi considerado obsoleto em 1970 (ano em que foi pela última vez ao bacalhau) e vendido -em 1974- ao comandante Mike Burke, proprietário de uma sociedade promotora de cruzeiros de luxo a operar em águas caribenhas : a Windjammer Barefoot Cruises. O navio foi, então, transformado para se adaptar às exigências dos turistas e baptizado com o nome de «Polynesia». Depois da morte de Burke e da falência da Windjammer, o navio foi abandonado no porto de Aruba (Antilhas Neerlandesas), de onde foi, em boa hora, resgatado por agentes da casa Pascoal & Filhos (da Gafanha da Nazaré). Esta empresa, que já salvou da ruina o «Santa Maria Manuela», propõe-se agora recuperar o velho «Árgus», um navio com nome e história nos anais da pesca do bacalhau.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

«MIGUEL DE CERVANTES»


Cruzador ligeiro espanhol da classe 'Almirante Cervera'. Foi construído nos estaleiros S.E.C.N. do Ferrol (Galiza) em 1930. Era uma unidade com 172,62 m de comprimento por 16,65 m de boca, capaz de deslocar 9 200 toneladas e de navegar à velocidade máxima de 34 nós. A sua guarnição era constituída por 566 homens (oficiais, sargentos e praças). Estava armado com 12 peças de artilharia e com 4 tubos lança-torpedos triplos. Em 1936, quando se encontrava no Ferrol e ali foi conhecida a rebelião franquista, o «Cervantes» recebeu ordens de Madrid para se dirigir ao Mediterrâneo, a fim de, com outras unidades navais fiéis à República, participar no bloqueio aos portos espanhóis do norte de África. O cruzador levava uma marinhagem sublevada, que se apoderara do navio para impedir que a oficialidade aderisse à facção rebelde, como já acontecera noutros navios. O «Miguel de Cervantes» participou no bombardeamento de La Línea (27/07/1936) e no de Ceuta (ocorrido três dias mais tarde). A 22 de Novembro desse mesmo ano, o navio foi seriamente danificado por torpedos expedidos do submarino «Torricelli» (futuro «General Sanjurjo»). Por essa razão, o cruzador esteve em reparação no arsenal de Cartagena até Março de 1938. O «Miguel de Cervantes» encontrava-se entre os navios republicanos que -a 11 de Março de 1939- se refugiou em Túnis, onde as respectivas guarnições solicitaram asilo político. O navio foi posteriormente entregue pelas autoridades francesas à marinha nacionalista, que ainda o utilizou na guerra do Ifni. Foi desclassificado em 1964 e desmantelado.

«GRAND SAINT ANTOINE»


Veleiro de três mastros (galera) do século XVIII. Foi construído na Holanda, mas hasteava bandeira gaulesa. A 22 de Julho de 1719 zarpou de Marselha para o Levante. No regresso a França, em Maio do ano seguinte, trouxe um carregamento de tecidos finos da Síria, avaliados em 100 000 Écus, além da bactéria da peste, a temível 'Yersinia pestis'. Apesar de terem perdido (durante a viagem) sete dos seus marinheiros e o médico de bordo, o capitão e os influentes armadores do navio interferiram junto das autoridades sanitárias e administrativas para evitar a quarentena que a mais elementar prudência recomendava. O «Grand Saint Antoine» pôde, assim, atracar no porto de Marselha no dia 25 de Maio de 1720, infectando a cidade. Por ordem do regente Filipe de Orleães (datada de 28 de Julho de 1720) o navio foi, finalmente, isolado e instruções foram dadas às autoridades locais para que o queimassem, assim como tudo o que ainda restava da sua perigosa carga. Mas essas instruções só foram executadas cerca de três meses mais tarde, dando-se tempo, por via desse imperdoável desleixo, a que a epidemia se propagasse à Provença inteira. A peste veiculada pelo sinistro veleiro provocou (até 1722) cerca de 40 000 mortos. Os restos calcinados do «Grand Saint Antoine» foram encontrados em 1978 por mergulhadores submarinos, que entregaram os artefactos de interesse arqueológico emergidos ao museu do Hospital Caroline, da ilha de Ratonneau.

«ROYAL CLIPPER»


Cópia moderna do grande veleiro alemão «Preussen», este bonito navio foi construído na Polónia pelos estaleiros Stocznia Gdanska e Cenal. Destinava-se, inicialmente, a funcionar como navio-escola. Os acabamentos foram executados nos Países Baixos, pela firma especializada Merwede. O navio começou a ser utilizado em cruzeiros de luxo no ano 2000, por conta da companhia Star Clippers. É um gigantesco veleiro (o maior que actualmente navega), que arvora pano redondo nos seus cinco mastros. Mede 134 metros de comprimento fora a fora por 16,50 metros de boca. O seu deslocamento é de 5 050 toneladas, o que corresponde a cerca de metade do do seu ilustre modelo. Além de compreender mais de 5 000 m2 de velas, o «Royal Clipper» dispõe de 2 motores Caterpillar desenvolvendo uma potência global de 1 865 cv. Vocacionado para o turismo VIP, o navio (que tem uma tripulação de 100 homens e mulheres) pode receber 226 passageiros, aos quais são oferecidos cabines confortáveis, 3 piscinas, 1 restaurante, 1 piano-bar e até um salão de observação submarina. O «Royal Clipper», que opera, sobretudo em águas caribenhas (o seu porto de abrigo é o de Nassau), ostenta, curiosamente, a bandeira do Grão Ducado do Luxemburgo, país que não tem costa marítima.

«MIKASA»


Couraçado da marinha imperial japonesa, célebre por ter arvorado as insígnias do almirante Togo, aquando da guerra de 1904-1905 contra os russos. Foi construído em 1902 (pelos estaleiros Vickers, de Barrow-in-Furness, G.B.) no quadro do programa de expansão naval de 1896. Em Fevereiro de 1904, o «Mikasa» participou nos bombardeamentos de Porto Artur e, em Agosto desse mesmo ano, distinguiu-se na batalha naval do mar Amarelo, sofrendo danos causados pelo fogo inimigo. Aquando da terrível e decisiva batalha de Tsushima, este couraçado de 15 400 toneladas de deslocamento -armado com 4 canhões de 305 mm e 14 outros de 152 mm- encaixou 32 projécteis disparados por unidades russas. Mas o maior desaire sofrido pelo «Mikasa» ocorreu, curiosamente, em tempo de paz. Com efeito, a 12 de Setembro de 1905, quando o navio se encontrava fundeado no porto de Sasebo, produziu-se uma violenta explosão num dos seus paióis de munições, que o afundaram. 114 membros da sua guarnição morreram nesse desatre. Recuperado, o couraçado ainda esteve em serviço operacional até 1921, ano em que foi transformado em unidade de defesa costeira. Dois anos mais tarde foi desactivado e guardado como testemunha de um tempo em que o Japão se afirmava como a grande potência emergente da Ásia. Hoje, este raro exemplar da marinha de guerra de inícios do século XX (com 131 m de comprimento por 23,20 m de boca), funciona como navio-museu na cidade portuária de Yokosuka.

«THOMAS W. LAWSON»


Foi o único veleiro de sete mastros jamais construído. Aparelhava em lugre e a sua superfície vélica excedia os 4 000 m2. O comprimento fora a fora do navio era de 144 metros e a boca de 15,25 metros. Deslocava mais de 10 800 toneladas e podia atingir a velocidade de 14 nós. Era tripulado por cerca de 20 homens. O «Thomas W. Lawson» foi construído em 1902 em Quincy, Massachusetts (E.U.A.), nos estaleiros da Fore River Ship & Engine Building Cº, para a casa armadora bostoniana Coastwise Transportation Cº, de John G. Crowley. Este gigantesco veleiro foi, sobretudo, utilizado no transporte de carvão entre Boston e vários outros portos da costa atlântica dos 'states'. O seu primeiro capitão foi Arthur L. Cowley, irmão do proprietário. Em 1907, o «Thomas W. Lawson» mudou de poiso e de actividade, passando a transportar barris de petróleo do Texas para os portos situados junto à fronteira canadiana. Na noite de 13 para 14 de Dezembro de 1907, quando estava quase a finalizar a sua primeira travessia do oceano Atlântico, este singular veleiro -então às ordens do capitão George W. Dow- arrostou uma violenta tempestade e naufragou ao largo das ilhas Scilly. O «Lawson» levava no seu bojo 58 000 barris de 'ouro negro'. À tragédia apenas sobreviveram o seu comandante e um outro tripulante de apelido Rowe.

«KIEV»


Foi o primeiro porta-aeronaves da marinha soviética com pista corrida. A sua classe comportou três outras unidades idênticas ou muito semelhantes : o «Minsk», o «Novorossysk» e o «Kharkov». Construído em 1972 no estaleiro nº 444 de Nikolaiev, no mar Negro, o «Kiev» tornou-se operacional em Setembro de 1975. Podia receber a bordo e lançar em operações 12 aviões Yak 36MP, com características ADAV (VTOL), e 18 helicópteros Kamov Ka-25. Este navio com 273 m de comprimento, 32,60 m de boca e 43 000 toneladas de deslocamento (em plena carga) estava, por outro lado, armado com mísseis (mais de uma centena e meia) de vários tipos, além de peças de artilharia convencional. O «Kiev», que podia deslocar-se à velocidade máxima de 32 nós, tinha uma guarnição de 1 200 homens. Dispunha dos mais aperfeiçoados sistemas de detecção (radares, sonares) da época. Com o colapso da U.R.S.S. (e a consequente falta de verba), este porta-aeronaves foi cedido à armada da União Indiana, que o vendeu, por sua vez, à China. As últimas notícias assinalam a sua presença em Tajin (China), onde o navio estaria a ser convertido em local de diversões.

«ÉVORA»


Foi construído para a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses (vulgo C.P.) nos estaleiros Krupp, de Kiel (Alemanha), com chapas recicladas de navios da Grande Guerra. A cerimónia do bota-abaixo teve lugar no dia 18 de Julho de 1931. O «Évora» media 38,48 metros de comprimento por 8 metros de boca e o seu deslocamento bruto era da ordem das 300 toneladas. Dispunha de 350 lugares sentados. Os seus dois motores diesel -com uma potência aproximativa de 500 cv- imprimiam-lhe uma velocidade de pouco mais de 22 km/hora. O seu armador destinou-o à linha Terreiro do Paço-Barreiro, na qual o pequeno navio operou durante várias décadas. O «Évora» era o mais elegante e o mais rápido navio da frota da C.P.; sendo, por isso, o preferido dos passageiros que, diariamente e por razões profissionais, cruzavam o mar da Palha. Depois de desclassificado, o «Évora» desapareceu do estuário do Tejo, onde se tornara uma embarcação emblemática dos anos 40 e 50 do século passado. Até que surgiu, remodelado e quase irreconhecível (mas com o mesmo nome), no rio Sado; onde faz agora, a partir do porto de Setúbal, mini-cruzeiros com turistas desejosos de descobrir e admirar os encantos da Arrábida (serra e Portinho) e de outras maravilhas locais.

«MERCATOR»


Navio-escola da marinha mercante belga. Foi construído na Escócia pelos estaleiros Ramage & Ferguson, de Leith, em 1931/1932. É um navio de três mastros com aparelho de lugre-escuna. Desloca cerca de 780 toneladas e mede 78,40 m (fora a fora) de comprimento por 10,60 m de boca. O seu velame, composto por 15 panos, totaliza uns 1 400 m2. O «Mercator» está também equipado com um propulsor diesel de 500 cv. É, desde há vários anos, a principal atracção do porto de Ostende, de onde já raras vezes sai. De 1934 a 1935 levou até à ilha de Páscoa uma expedição científica franco-belga, que de lá trouxe a gigantesca e misteriosa estátua que se pode admirar nos Museus Reais de Arte e de História de Bruxelas. O navio visitou, pela mesma ocasião, Pitcairn, Tahiti, as Marquesas e Hawai. Em 1936 foi o «Mercator» que trouxe para a Bélgica os restos mortais do padre Damien, um missionário que consagrou a sua vida a dar assistência a uma comunidade havaiana de leprosos e que acabou por morrer dessa terrível doença. Durante a Segunda Guerra Mundial o veleiro arvorou pavilhão britãnico, sendo devolvido à Bélgica em 1947 num estado lastimável. Esteve inactivo até 1950, para se sujeitar a trabalhos de recuperação. Participou, com sucesso, nalgumas regatas organizadas para os grandes veleiros-escola. O «Mercator» navegava, normalmente, com 95 marinheiros e 45 cadetes.

«MAGALLANES»


Paquete espanhol da frota da Compañia Transatlántica. Foi lançado à água no dia 1º de Maio de 1926, amadrinhado pela rainha Victória Eugénia. Realizou a sua viagem inaugural em 2 de Outubro de 1928, na linha Barcelona-Havana-Nova Iorque, passando pouco depois a efectuar o trajecto Mediterrãneo-Venezuela-Colômbia, com escalas intermediárias nas Canárias, em Porto Rico, na Dominicana e em Curaçau. Em 1936, quando rebentou a guerra civil, o navio foi ao México buscar um carregamento de material de guerra (no qual figurava um lote de 17 000 espingardas novas) para o exército legalista, sendo escoltado -desde o cabo São Vicente até ao porto militar de Cartagena- pelo cruzador «Miguel de Cervantes» e por vários contratorpedeiros. Fez, depois, várias viagens aos portos soviéticos do mar Negro, de onde trouxe ajuda para o campo dos republicanos. Em 11 de Junho de 1937 iniciou em Cartagena um cruzeiro dos mais azarados, abalroando (durante uma noite de mar bastante agitado) um dos seus navios de escolta, o «Alcalá Galiano». No regresso dessa mesma viagem à U.R.S.S., no estreito dos Dardanelos, o «Magallanes» abordou acidentalmente um navio mercante italiano (o «Capo Pino») e ficou retido na Turquia, para se apurar as responsabilidades do acidente. O paquete da Transatlántica por ali se quedou até ao fim das hostilidades em Espanha, sendo depois entregue pelos turcos aos vencedores do conflito. Já em tempo de paz, o «Magallanes» voltou a operar na linha Mediterrâneo-América Latina até 1953. Nesse ano, o navio foi levado para Bilbau para ali receber trabalhos de beneficiação, que nunca chegaram a ser efectuados. Em 1957 o paquete foi vendido a um sucateiro, que o desmantelou (em Santurce) no ano seguinte.