quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

«PIEMONTE»

Pouca coisa se sabe sobre as características físicas deste navio misto (velas/vapor). A não ser que tinha casco em madeira, deslocava 1 512 toneladas e arvorava dois mastros, uma altaneira chaminé (situada a meia-nau) e duas rodas laterais de pás. Sabe-se, igualmente, que esta embarcação estava equipada com 1 máquina a vapor de 519 cv. O «Piemonte» foi construído num estaleiro de Glásgua (Escócia) em 1851, para assegurar o serviço postal e o transporte de passageiros entre vários portos do Reino Unido. Uma década mais tarde, estava a operar no Mediterrâneo por conta de um armador de nome Rubattino. Encontrava-se no porto de Génova quando, na noite de 5 para 6 de Maio de 1860, foi investido (assim como o «Lombardo», da mesma empresa) por um grupo de homens de Giuseppe Garibaldi; que o colocaram ao serviço da causa desse grande obreiro da unidade italiana. Foi, pois a bordo, deste navio que Garibaldi viajou até à Sicília, aquando da famosa 'Expedição dos Mil'; que culminou com um desembarque dos bravos 'camicie rosse' em Marsala (11 de Maio de 1860). O «Piemonte», depois de abandonado pelos garibaldianos, foi alvo dos tiros do cruzador «Bourbon», que hasteava bandeira do Reino das Duas Sicílias e, posteriormente, rebocado para Nápoles. O seu legítimo proprietário (Rubattino) acabaria por receber uma indeminização de 150 000 libras pela perda do «Piemonte». Em 1861 foi reconhecido o seu valor histórico e foi recomendada a sua preservação. O que infelizmente não aconteceu, já que, em 1866, o navio foi desmantelado sem remissão.

«SANTA FE»

Submarino da armada argentina, na qual serviu durante 11 anos. Era um navio da classe 'Balao' (ex-USS «Catfish»), que -no imediato pós-guerra- foi modernizado e convertido em submersível da classe 'Guppy II'. Cedido ao governo de Buenos Aires em 1971, o «Santa Fe» havia atingido o limite de idade em 1982, quando rebentou o conflito das Falkland e o navio foi mobilizado para lutar contra a força naval britânica que acudiu ao hemisfério sul, para ali restabelecer a soberania de Londres sobre o arquipélago das também chamadas ilhas Malvinas. Em finais do mês de Março de 1982, o «Santa Fe» participou na chamada Operação Rosário, transportando parte das primeiras tropas especiais argentinas que puseram pé no arquipélago em disputa. Cerca de um mês mais tarde, logrou furar o já instalado bloqueio inimigo e desembarcar mais tropas (desta vez uma força de fuzileiros navais) na Geórgia do Sul.   Mas, surpreendido, durante essa operação, por vários navios e helicópteros britânicos, o «Santa Fe» (que usava o número de amura S-21) sofreu danos materiais importantes causados pelo fogo adverso. Obrigado a encalhar numa das praias da ilha investida, o «Santa Fe» acabou por ser capturado -a 27 de Abril de 1982- pelos britânicos; que aprisionaram a sua guarnição. Este submarino afundou-se a 27 de Abril de 1985, quando estava a ser rebocado para o Reino Unido, em consequência de violento temporal. Este navio de propulsão diesel-eléctrica media 95 metros de comprimento por 8,30 metros de boca. Estava armado com 1 canhão de convés de 127 mm, com 2 peças AA de 40 e de 20 mm, com 2 metralhadoras de 12,7 mm e com 10 tubos lança-torpedos de 533 mm. A sua velocidade máxima (à superfície) ultrapassava os 20 nós. Tinha uma autonomia de 11 800 milhas náuticas, com andamento limitado a 10 nós. Podia mergulhar a 400 metros de profundidade. A sua tripulação era de 80 oficiais, sargentos e praças. Curiosidade : enquanto arvorou bandeira dos EUA, esta unidade não teve acção directa no conflito com o Japão, embora tenha chegado a Pearl Harbour antes da rendição nipónica. Depois do conflito e até à sua cedência aos sul-americanos, o «Catfish» esteve integrado na 7ª Frota (baseada em San Diego), para a qual executou patrulhas e outras missões de segunda linha.

domingo, 15 de dezembro de 2013

«ORION»

Paquete britânico pertencente à frota da Orient Steam Navigation Company. Com 23 671 toneladas de arqueação bruta, o «Orion» media 203 metros de comprimento por 25 metros de boca. Em 1935, ano em que foi dado como concluído pelos estaleiros Vickers Armstrong, de Barrow-in-Furness (G.B.), este navio podia transportar mais de 1 400 passageiros, para além da sua tripulação normal de 466 elementos. O «Orion» -que foi concebido para as longas ligações entre a Europa e a Austrália- era gémeo do «Orcades», lançado em 1937. O seu sistema propulsor, que usava turbinas a vapor, desenvolvia uma potência de 24 100 shp; o que lhe permitia navegar à velocidade de 24 nós. Considerado «um marco na evolução dos modernos navios de passageiros» pela «Architectural Review», o «Orion» foi 'vestido' por Brian O'Rorke, um famoso 'designer néo-zelandês do tempo. De uma grande funcionalidade, beneficiando de ar condicionado em todos os camarotes (o que aconteceu pela primeira vez num navio britânico), este paquete foi um dos preferidos dos viajantes europeus que rumavam aos antípodas. O «Orion» também chegou a fazer, antes do segundo conflito generalizado, alguns cruzeiros, nomeadamente à Noruega, onde a beleza dos fiordes começava a atrair turistas. Requisitado (aquando da eclosão da guerra) para transportar tropas, este navio levou militares para vários destinos. No seu historial conta-se um abalroamento com o «Revenge», vaso de guerra de Sua Majestade, facto que obrigou o navio em apreço a recolher a um estaleiro sul-africano, onde sofreu trabalhos de reparação. O «Orion» esteve na evacuação de Singapura, levando para a Austrália muitos civis; que assim puderam escapar aos horríveis campos de prisioneiros nipónicos. Esteve também na chamada Operação Tocha, levando para a frente de combate do norte de África milhares de militares aliados. No final da guerra, estimou-se que este navio tenha transportado mais de 175 000 pessoas (essencialmente militares) e percorrido 380 000 milhas náuticas. De regresso à Europa, sofreu trabalhos de transformação (no estaleiro que o havia construído), que duraram um ano inteiro. Devolvido à vida civil, o «Orion» voltou à linha da Austrália (em 1947) e a dedicar-se, agora com maior frequência, ao negócio dos cruzeiros. Retirado do serviço activo em 1963, este paquete ainda foi utilizado, nesse mesmo ano, como hotel flutuante, aquando da Expo Internacional de Horticultura de Hamburgo. Após essa sua derradeira missão, o navio foi vendido como sucata e desmantelado em Antuérpia.

«COMANDANTE CAPPELLINI»

Submarino da classe 'Marcello', construído em 1939 para a 'Regia Marina'. Realizado pelos estaleiros CRDA, de Trieste, o «Comandante Cappellini» teve uma vida operacional das mais atribuladas, visto ter hasteado -durante a Segunda Guerra Mundial- as bandeiras das três principais potências do Eixo. Depois de ter efectuado patrulhas no oceano Atlântico, onde destruiu ou danificou 31 000 toneladas de navios inimigos, este submersível italiano passou para o Índico; onde tomou parte no salvamento dos náufragos do «Laconia», paquete britânico afundado (em Setembro de 1942) pelo seu congénere alemão «U-156». Posteriormente, foi convertido em transporte de materiais estratégicos e enviado para o Japão com um carregamento de mercúrio, alumínio, armas ligeiras, munições, etc. Após a reviravolta política operada em Itália em 1943, com a prisão do 'Duce', o «Cappellini» foi arrestado pela marinha imperial japonesa e remetido à marinha nazi, que lhe chamou «UIT-24» e que lhe deu uma guarnição italo-germânica. Mais tarde, com a rendição incondicional da Alemanha (em Maio de 1945) o submarino recebeu a designação de  «I-503» e passou a usar o pavilhão de guerra nipónico. Essa transição foi de curta duração, já que, passados quatro curtos meses, chegou a vez do Japão baixar as armas e render-se às forças aliadas do Pacífico. Apreendido pela armada dos Estados Unidos, o antigo submarino italiano foi afundado por esta, a 16 de Abril de 1946, ao largo de Kobe. Na sua configuração inicial, o «Comandante Cappellini» deslocava 1 313 toneladas (em imersão) e media 73 metros de longitude por 7,20 metros de boca. A sua propulsão era assegurada por 2 máquinas diesel e por 2 motores eléctricos, que lhe proporcionavam as velocidades máximas de 17,4 nós à superfície e de 8 nós em imersão. O armamento deste submersível compreendia 2 canhões de 99 mm, 4 metralhadores de 13,20 mm e 8 tubos lança-torpedos de 533 mm. Da sua guarnição faziam parte 58 homens, oficiais incluídos. Curiosidade : a classe a que pertenceu o «Cappellini» compreendeu um total de 9 submarinos; que afundaram 25 navios aliados e neutros.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

«ABSECON»

Navio-patrulha da Guarda Costeira norte-americana. Construído, em 1943, para guarnecer os efectivos da 'USS Navy', esta unidade foi, posteriormente (em 1949), transferida para o serviço de vigilância naval das costas dos Estados Unidos; onde se manteve até 1972, ano em que foi cedido à marinha de guerra sul-vietnamita. Pertenceu à classe 'Barnegat' e foi construído pela firma Lake Washington Shipyard, de Houghton. Deslocava 2 610 toneladas e media 95 metros de comprimento por 12,50 metros de boca. As suas 2 máquinas diesel desenvolviam uma potência de 6 080 cv, que lhe asseguravam uma velocidade máxima de 17,3 nós. Este navio, que, quando arvorava bandeira norte-americana, estava armado com 1 canhão de 127 mm e com várias outras peças de menor calibre, era servido por uma guarnição de 150 homens, 10 dos quais eram oficiais. Aquando do naufrágio do «Pamir», o famoso veleiro alemão que se afundou em 1957 -nos mares dos Açores- o «Absecon» foi o primeiro navio que acorreu ao lugar do drama para lhe prestar socorro, conseguindo resgatar um dos raros sobreviventes dessa tragédia. Tragédia que mobilizou 60 navios de treze nações, auxiliados pelas aviações dos EUA e de Portugal. Mas esta não foi a única vez em que este patrulha participou em missões humanitárias desta natureza. Com efeito, o «Absecon» teve a ocasião de prestar socorro a outros navios em dificuldade. Em 1958, o «Absecon» fez um cruzeiro por vários portos europeus, tendo escalado Lisboa. A sua transferência para o Vietnam do Sul -em cuja armada usou o nome de «Pham Ngu Lao» não foi das mais felizes, visto, logo em 1975, após a queda do regime pró-americano, este navio ter sido capturado pelos vencedores da longa guerra pela unificação do país. Ignora-se o que aconteceu ao navio em apreço. Presume-se, no entanto, que, passados tantos anos, tenha sido desmantelado.

«SAINT JEAN BAPTISTE»

Navio francês do século XVII. Ignora-se o ano e o lugar da sua construção. Sabe-se, no entanto, que partiu de Dieppe (Normandia) no início da década de 70 da supracitada centúria, com o senhor de la Bouteillerie (um fidalgo do País de Caux) e com mais de uma centena de pioneiros e de artesãos (entre os quais se encontravam 2 carpinteiros,  e 2 pedreiros) para colonizar a região do Canadá onde hoje se situam as cidades de Trois Rivières e de Montreal. Este navio de 300 tonéis (segundo as parcas informações que sobre ele se conhecem), levou também para o Quebeque uma dezena de burros, 50  cabeças de gado ovino e caprino, rolos de tecido, mantas e outros objecto para permuta, com os indígenas, de produtos locais. Segundo consta, o «Saint Jean Baptiste» regressou ao porto de proveniência (Dieppe) no dia 10 de Janeiro de 1672 com um carregamento constituído por peles de castor, 400 peles de alce, madeiras do Novo Mundo, pez e outras valiosas mercadorias; cuja comercialização na Europa compensou largamente os dinheiros investidos na expedição. Entre as ditas mercadorias figuravam também vários animais vivos (um alce, uma raposa e 12 abetardas), que um nobre local apresentou -a título de curiosidade- ao rei de França. Esta embarcação seiscentista (uma das muitas que, ao longo dos tempos, usou o nome de São João Baptista) teve, pois, um papel relevante na colonização do Canadá descoberto e administrado pelos franceses. Curiosidade : a imagem apresentada não ilustra o navio em apreço, mas uma outra embarcação do seu tempo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

«LA LOIRE»

Veleiro (barca de 4 mastros) pertencente à frota do famoso armador francês A. D. Bordes. Este navio foi construído pelos Chantiers de la Loire de Nantes, no ano de 1897, e considerado um dos melhores 'cap-horniers' do seu tempo. Tinha casco em aço e apresentava uma arqueação bruta de 3 109 toneladas. As suas dimensões eram as seguintes : 102,05 metros de comprimento fora a fora por 13,70 metros de boca e o seu calado era de 7,30 metros. Os seus porões tinham uma capacidade de 6 325 m3 e os seus mastros podiam arvorar 4 300 m2 de velas.  O veleiro «La Loire» foi concebido para o tráfego comercial entre os portos europeus (franceses, nomeadamente) e os portos americanos do oceano Pacífico. No decorrer da sua carreira, que durou, efectivamente, até 1921, realizou 30 viagens completas de longo curso, durante as quais trouxe, essencialmente, fosfatos do Chile para a Europa. A sua vida foi das mais tranquilas, visto nunca ter sido vítima de incidentes dignos de menção. Inclusivamente durante os tempos conturbados da Grande Guerra, que este veleiro atravessou incólume. A única história que marca a sua passagem pelos mares e oceanos que percorreu, é uma história feliz, já que teve a ver com o salvamento dos 26 náufragos do navio inglês «Dalgonar» (de Liverpool), que a sua tripulação salvou -em Outubro de 1913- ao largo das costas chilenas. Em 1924, atingido pelo limite de idade, este magnífico veleiro da casa Bordes foi vendido como sucata e desmantelado.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

«EXCALIBUR»

Construído na Nova Jérsia em 1930, pelos estaleiros da firma New York Shipbuilding Company of Camden, este transatlântico fez parte de uma frota designada 'The Four Aces', pertencente ao armador American Export Lines; frota que foi utilizada numa linha ligando Nova Iorque a vários portos da Europa, nomeadamente do mar Mediterrâneo. Os seus gémeos da 'Four Aces', receberam os nomes de «Excambion», «Exochorda» e «Exeter». Antes que os Estados Unidos se deixassem envolver na 2ª Guerra Mundial, este navio fez escalas em Lisboa, levando para as Américas (entre outros passageiros) muitos refugiados judeus. Foi, aliás, nessa altura (em 1940) que este navio foi palco de um inaudito caso de contrabando de obras de arte, que culminou com a intervenção da 'Royal Navy' e com a apreensão, nas Bermudas, da mercadoria ilegal. O «Excalibur», com 9 360 toneladas de arqueação bruta, media 140 metros de comprimento por 19 metros de boca e tinha um calado de 8 metros. As sua máquinas a vapor (turbinas) permitiam-lhe vogar à velocidade máxima de 16 nós. Este navio podia transportar várias centenas de passageiros, dos quais 125 em 1ª classe. A sua carreira civil terminou em 1942, ano em que foi cedido à armada dos Estados Unidos para servir como transporte de tropas. Depois das necessárias transformações e de se ter procedido ao seu armamento, o navio passou a chamar-se «Joseph Hewes» e a usar o identificativo de amura AP-50. O antigo paquete da American Export cumpriu a sua primeira missão militar no quadro da Operação Torch, levando para a frente do norte de África um reforço de 1 150 militares da 3ª Divisão do exército americano; que desembarcou em Fedhala no dia 8 de Novembro de 1942. Mas, no dia 7 de Dezembro desse mesmo ano, quando encetava a sua viagem de regresso à costa leste dos Estados Unidos, o ex-«Excalibur» foi interceptado pelo submarino hitleriano «U-173» e afundado por torpedeamento. No seu provocado naufrágio pereceu uma centena de membros da tripulação. E entre as vítimas contou-se o próprio capitão do navio.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

«MARCEAU»

Este navio integrou a armada francesa entre 1946 e 1958. Era o antigo contratorpedeiro «Z 31» da marinha de guerra hitleriana; que, capturado intacto, foi atribuído aos gauleses no quadro das compensações de guerra. Construído nos estaleiros da firma Deschimag, de Bremen, este navio foi lançado à água no dia 15 de Maio de 1941, mas só integrou os efectivos da 'Kriegsmarine' em Abril do ano seguinte. Este tipo de 'destroyrs' pertenceu à chamada classe '1936A`, chamada pelos Aliados como classe 'Narvik'; que era, aliás, imprecisa, pois chegou a designar (no campo dos inimigos da Alemanha) navios de vários modelos. O «Z 31» chegou a participar em várias operações bélicas, mas saiu ileso do segundo conflito generalizado. Deslocava 3 691 toneladas (em plena carga) e media 127 metros de longitude por 12 metros de boca. O seu calado era de 3,92 metros. O seu sistema propulsor desenvolvia 71 900 cv, o que lhe garantia 36 nós de velocidade máxima e um raio de acção que se aproximava (com andamento reduzido a 19 nós) das 30 000 milhas náuticas. O seu armamento principal era constituído por 3 canhões de 150 mm, 1 de 105 mm, 8 armas AA de 37 mm, 8 tubos lança-torpedos de 533 mm, 4 calhas de lançamento de morteiros e por 60 minas anti-navio. No tempo em que este navio servia a armada hitleriana, a sua guarnição era composta por 265 homens, 14 dos quais pertenciam ao quadro de oficiais. Os franceses deram-lhe o nome de «Marceau» e o indicativo de amura D601. Colocaram-no na base de Cherburgo e procederam a bordo (antes de o tornarem operacional) a várias modificações; nomeadamente no que respeitava a sua artilharia pesada. Este navio foi desmantelado após a sua retirada do activo, em 1958. Curiosidade : a ilustração aqui incluída (da autoria dos desenhadores da marca de 'kits' Heller), mostra o navio tal como ele era em meados dos anos 50 do passado século.

«RAINHA»

As fontes informativas sobre este navio português da segunda metade do século XV são praticamente inexistentes. Daí este texto -sobre a nau «Rainha»- se apoiar, exclusivamente, no que dela disse o historiógrafo Mário Domingues na sua obra «D. João II, o Homem e o Monarca». Assim chamado em honra de D. Leonor, sua esposa, este navio «com 1 000 toneladas de capacidade» terá sido um dos maiores, mais fortes e mais belos que alguma vez sulcaram os mares. Estava armado com 36 grandes bombardas e com 180 peças de artilharia ligeira. Nunca chegou a fazer expedições longínquas, resumindo-se a sua carreira a viagens efectuadas entre Lisboa e alguns portos do Mediterrâneo. Nomeadamente Tunis e Orão, onde era fácil estabelecer contactos com tripulações e viajantes em proveniência do Oriente e colher deles informações preciosas sobre essa região distante e sobre as condições de navegação no oceano Índico. Isto, em previsão de uma já projectada viagem às Índias, pela futura rota do cabo da Boa Esperança. Segundo o autor supracitado, o «Rainha» também trazia para a capital portuguesa, aquando dessas suas viagens ao mar Mediterrâneo, tapetes (cuja indústria el-rei D. João II queria implementar no nosso país) e artigos locais que serviriam de permuta com as tribos negro-africanas com as quais os Portugueses já mantinham relações comerciais profícuas. Ainda segundo Mário Domingues, no livro referido, a tripulação do «Rainha» era selecionada, de modo a reunir os marinheiros do Reino «mais vivos e cultos, por forma a criarem simpatias e a prestigiarem o nome do país». Curiosidade : a imagem anexada não é representativa do «Rainha». Mostra, isso sim, uma nau portuguesa da mesma época (fins do século XV/inícios do século XVI).

domingo, 1 de dezembro de 2013

«TAUBATÉ»

Navio mercante (de 5 099 toneladas), que navegou, de 1917 até 1954, com bandeira brasileira. Foi construído em 1905, na Alemanha, nos estaleiros navais da firma Bremer Vulkan Vegesacker, para a Lloyd germânica (Norddeutsche Lloyd). «Franken» foi o seu nome de baptismo e o designativo usado até 1917, ano em que foi confiscado pelo governo brasileiro, em consequência da entrada em guerra do Brasil contra os Impérios Centrais. Este navio media 124,80 metros de comprimento por 16,10 metros de boca e estava equipado com 1 máquina a vapor de quádrupla expansão, que lhe proporcionava uma velocidade de cruzeiro de 12 nós. Integrado na frota do Lloyd brasileiro, o navio em apreço recebeu o nome de «Taubaté» e foi colocado nas suas linhas internacionais. No dia 22 de Março de 1941, este navio rumava -com um carregamento de batatas, vinho e lã- de Chipre para Alexandria (no Egipto), quando, inesperadamente, foi bombardeado por um avião da 'Luftwaffe'; que não logrando atingi-lo dessa maneira, varreu o convés do «Taubaté» com rajadas de metralhadora, provocando a morte de um dos membros da tripulação e causando ferimentos, mais ou menos graves, em 13 outros. Isto, apesar do navio brasileiro estar perfeitamente identificado com bandeiras nacionais (nomeadamente duas de grandes dimensões pintadas no casco) e do seu comandante ter mandado hastear, durante a agressão, uma bandeira branca. Apresentada queixa junto à embaixada alemã no Rio de Janeiro, a reclamação brasileira ficou sem resposta. O «Taubaté» foi o primeiro de todos os navios brasileiros a ser agredido pelas forças nazis durante o segundo conflito generalizado. Sobreviveu à guerra e perdeu-se, por encalhe, no Recife, a 3 de Julho de 1954. Curiosidades : o nome brasileiro do navio é o de um município do estado de São Paulo; na impossibilidade de encontrar uma ilustração do «Taubaté» ou do «Franken», que devem ser raríssimas, aqui fica (em seu lugar) reprodução das bandeiras arvoradas pelo navio na sua segunda fase de vida, o pavilhão nacional e a bandeira do Lloyd Brasileiro.

«COLUMBIA EAGLE»

Este navio mercante pertenceu à classe 'Victory' (da qual foram construídos centenas de exemplares), um dos modelos de cargueiros que, pouco a pouco, foram substituindo nas frotas comerciais os celebérrimos 'Liberty Ship' da Segunda Guerra Mundial. «O «Columbia Eagle» foi construído, em 1945, para os serviços da armada dos E.U.A., nos estaleiros da firma Oregon Shipbuilding Corporation, de Portland. Usou o primitivo nome de «Pierre Victory», até que -em 1968- foi vendido a uma empresa civil, a Columbia Steamship Company», que lhe alterou o nome. A celebridade deste navio advém do facto de ter sido o teatro de um inaudito motim. Que ocorreu em águas do Extremo Oriente, em Março de 1970. Estava-se, então em plena guerra do Vietnam e o navio (fretado pelo Serviço de Transporte Marítimo Militar dos Estados Unidos) transportava um carregamento de bombas incendiárias (de napalm) destinadas à aviação militar norte-americana a operar na península indochinesa. Dois homens armados, membros da tripulação do navio e contestatários da política externa do seu país, obrigaram o comandante do «Columbia Eagle» a rumar para o porto cambojano de Sihanoukville, depois de terem abandonado à deriva, no mar alto, 24 marinheiros do cargueiro. Chegados ao seu novo destino, os amotinados solicitaram asilo político ao governo de Phnom Penh, que lho concedeu. Mas, passadas poucas semanas, devido à forte pressão exercida pelas autoridades americanas, o navio foi devolvido ao seu armador e um dos rebeldes (Alvin L. Glatkowski) entregue à justiça dos E.U.A., que o condenou a uma pena de prisão. Quanto ao seu companheiro de aventura, Clyde W McKay Jr., esse logrou escapar à extradição, juntando-se (ao que relatou a imprensa do tempo) à guerrilha dos Khmers Vermelhos. A sua morte seria confirmada anos mais tarde. Aquele que foi o primeiro motim ocorrido num navio ianque em mais de 150 anos de história marítima, mobilizou enormes recursos (sobretudo navais) e ditou a presença, por muitos anos, da armadas dos Estados Unidos naquela zona do globo. Desconhecemos o destino final do «Columbia Eagle». Presumimos, no entanto, que terá cumprido o seu tempo de vida a transportar mercadoria diversa entre diferentes portos do mundo. E que, quando se tornou obsoleto, foi desmantelado sem remissão, como acontece a todo o ferro-velho, nomeadamente navegante. Características físicas dos navios do tipo 'Victory' : 15 200 toneladas de deslocamento; 139 metros de comprimento; 19 metros de boca; 7,60 metros de calado. Com propulsão assegurada por 1 máquina a vapor e por 1 hélice, este navio podia navegar à velocidade de 15 nós.

«SAM BRAZ»

Navio-tanque da Armada Portuguesa, cujos efectivos integrou em 1942. Foi construído pelo Arsenal do Alfeite. Durante os duros anos da Segunda Guerra Mundial, foi o único navio português a assegurar o transporte dos combustíveis  que abasteceram o nosso país. Na sua configuração primitiva, o «Sam Braz» deslocava 7 375 toneladas e media 107,75 metros de longitude por 15,15 metros de boca. O seu calado era de 5 metros. A sua única máquina (acoplada a 1 hélice) desenvolvia uma potência de 2 820 bhp e autorizava-lhe uma velocidade de cruzeiro de 13 nós. Em 1942, contava com uma tripulação de 41 membros. No ano de 1967 esta unidade foi objecto de grandes transformações, que a converteram em navio de apoio logístico. O antigo petroleiro foi, então, equipado com novas valências, nomeadamente com um hospital, alojamentos suplementares para a marinhagem e especialistas (a sua guarnição passou, então, para 100 homens), pista para receber e operar 1 helicóptero, 2 lanchas de desembarque pequenas, etc. As suas capacidades de transporte de líquidos passaram a ser as seguintes : 3 000 toneladas de fuel, 40 toneladas de gasolina 'aviação', 50 toneladas de lubrificantes e 100 toneladas de água potável. O nome do navio também foi alterado para «São Brás» (para respeitar a grafia do tempo) e foi-lhe conferido o designativo de amura A 523. Em 1970, o «São Brás» -que foi chamado a participar nas guerras coloniais- recebeu 1 peça de artilharia de 76 mm, 2 AA de 40 mm e mais 2 outras antiaéreas de 20 mm. Este navio esteve em serviço operacional nas águas de Moçambique, aquando do conflito armado com a FRELIMO. Curiosidades : esta unidade da Armada, que foi retirada do activo em 1976 e desmantelada posteriormente, perdeu -depois da sua modernização- 1 000 toneladas de deslocamento. A fotografia anexada (que pertence às colecções do Museu de Marinha) mostra o navio na sua segunda fase de vida.