sexta-feira, 31 de julho de 2009

«SÃO GABRIEL»


Nau portuguesa dos séculos XV e XVI. Foi a capitânia da frota que levou Vasco da Gama à Índia em 1498. Deslocava 120 tonéis e foi construída numa das tercenas reais do estuário do Tejo. Tinha três mastros que arvoravam essencialmente pano redondo. Estava armada com uma vintena de bocas de fogo. Na sua histórica viagem ao Oriente foi pilotada por Pêro de Alenquer. Nela também embarcou, na viagem de regresso a Lisboa, o barreirense Álvaro Velho (marinheiro ou soldado ?), que redigiu a crónica dessa gloriosa viagem. Certos estudiosos pensam que esta nau poderá ter participado noutras expedições manuelinas. Nomeadamente naquela que D. Francisco de Almeida fez, em 1505/1506, à ilha de Angediva e em cuja frota figurava uma nau «São Gabriel»; não havendo, porém, a certeza se esse navio era o da primeira viagem à Índia ou um seu homónimo.

«LE PONANT»


É um moderno e elegante navio de cruzeiros francês, que combina a propulsão clássica oferecida por um motor diesel com a propulsão vélica. O luxuoso «Le Ponant» (que tem 3 mastros de tipo Marconi) pode atingir uma velocidade máxima de 16 nós, se conjugar os seus meios modernos com a força eólica proporcionada pelos 1 300 m2 de pano do seu aparelho vélico. Foi construído nos estaleiros da Société Française de Constructions Navales (em Villeneuve-la-Farenne) para a frota da Compagnie des Îles du Ponant. Pode receber 64 passageiros, aos quais oferece serviços de qualidade VIP. Este navio, que mede 88,60 m de comprimento por 12 metros de boca e que desloca cerca de 1 500 toneladas, foi o protagonista de um ataque de piratas ocorrido, em Abril de 2008, ao largo das costas da Somália; assalto do qual resultou a captura dos seus 32 membros de equipagem. Esses tripulantes, maioritariamente franceses e ucranianos, só seriam libertados após o pagamento de um avultado resgate aos piratas somalis. Piratas que acabaram por ser capturados, algum tempo mais tarde, por um comando das forças armadas francesas.

«SÃO RAFAEL»


Cruzador da Armada Portuguesa. Foi construído nos estaleiros franceses Forges et Chantiers du Havre no ano de 1900. Era um navio de 1 850 toneladas de deslocamento, que media 75 metros de comprimento por 10,80 metros de boca. A sua coberta estava protegida por uma couraça de 35 mm. O armamento principal deste cruzador compreendia 2 canhões de 150 mm, 4 de 120 mm, 8 peças de 75 mm e um tubo lança-torpedos. A sua propulsão era mista, coisa corrente no seu tempo : 2 máquinas de tríplice expansão que desenvolviam 3 000 cv e mastros podendo arvorar pano latino e áurico. A velocidade máxima deste navio (irmão gémeo do «São Gabriel») era de 16 nós. Este cruzador foi construído no quadro do programa naval do ministro Jacinto Cândido, que pretendia dar novo incremento à nossa marinha de guerra. No historial do «São Rafael» inscrevem-se missões de repressão da escravatura e o refreamento de tumultos ocorridos na Praia da Vitória por motivos eleitorais. Em 1911 o navio foi destacado para as costas do norte do país, para ajudar a por fim aos desmandos provocados pela incursão monárquica. A 21 de Outubro desse ano, quando se encontrava sob o comando do capitão-de-fragata João António Ludovice, o «São Rafael» arrostou uma violenta tempestade que o empurrou para a costa de Vila do Conde, onde encalhou e se perdeu.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

«DAKAR»


Submarino da classe 'T' (como 'Triton') construído, em 1943, para a marinha real britânica. Foi lançado à água pelos estaleiros Dockyard, de Devonport, com o nome de «Totem». Em 1967 foi integrado na armada do estado de Israel, depois de ter sido comprado à Grã-Bretanha e de ali ter sido modernizado. Após o necessário treino de familiarização com o navio da sua nova tripulação (69 homens), o «Dakar» largou de Portsmouth para Haifa no dia 9 de Janeiro de 1968. O seu comandante era um jovem oficial de nome Yaacov Raanan. O primeiro cruzeiro do «Dakar» passou-se bem até Gibraltar, porto de guerra britânico, onde o submarino fez uma escala técnica. O «Dakar» zarpou do Rochedo a 15 de Janeiro, num clima de grande secretismo. Isso, porque Israel se encontrava, pela terceira vez na sua curta história, em guerra contra a nação árabe (guerra dos 6 Dias). O submarino foi dando notícias regulares sobre o seu trajecto no Mediterrâneo. Mas, a 25 de Janeiro, o seu sistema de comunicações deixou definitivamente de emitir. A 6 de Fevereiro, o ministro da defesa de Israel (que era, então, o general Moshe Dayan) anunciou oficialmente a perda do «Dakar». Os serviços de propaganda egípcios pretenderam (sem convencer quem quer que fosse) ter sido a sua armada a responsável pelo afundamento do submarino inimigo. No mês de Maio de 1999, os restos do submarino desaparecido acabaram, finalmente, por ser detectados no fundo do Mediterâneo, a uns 3 000 metros de profundidade. Por uma razão ainda não divulgada, o «Dakar» interrompera a sua viagem para Haifa, quedando-se algures entre as ilhas de Creta e de Chipre. Os israelitas conseguiram resgatar das profundezas do mar Mediterrâneo alguns pedaços do Dakar, que são guardados como preciosas relíquias no Museu Naval de Haifa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

«AMÉLIA» (V)


O último iate utilizado pelos derradeiros reis da dinastia de Bragança (1640-1910), o «Amélia» (5º do nome), nada tinha a ver com os seus predecessores. Porque o antigo «Banshee» era de muito maior porte -70 m de comprimento, 1 370 toneladas de deslocamento- mais luxuoso e mais rápido (15 nós). Foi comprado à firma construtora Ramage & Ferguson (de Leith, Escócia), que já havia realizado o terceiro «Amélia». Projectado como um cruzador ligeiro, este navio assemelhava-se, nas dimensões e no aparato, ao célebre «Princesse Anne II» de Alberto I do Mónaco, outro príncipe que fez da oceanografia a paixão da sua vida. Além de ter participado nas mais ambiciosas campanhas de estudos oceanográficos organizadas pelo rei D. Carlos, o derradeiro «Amélia» também efectuou dois cruzeiros régios aos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Em condições de conforto excepcionais, como o deixam adivinhar as camarinhas do navio, conservadas no Museu de Marinha (Lisboa). Quando foi implantada a República em Portugal -a 05/10/1910- foi a bordo deste navio (entretanto baptizado «Cinco de Outubro») que a família real -já então chefiada por D. Manuel II- abandonou o território nacional para se refugiar, num primeiro tempo, em Gibraltar. Até ao seu abate, ocorrido em 1937, este histórico navio participou em várias missões hidrográficas, tanto na costa de Portugal continental como nas das ilhas da Madeira e de Porto Santo.

«AMÉLIA» (IV)


Chamava-se «Yacona», quando foi comprado, em 1899, pelo rei D. Carlos I à Kinghorn, J. Scott & Co. Já em Portugal, recebeu (tal como os seus predecessores) o nome de «Amélia». Era de dimensões muito maiores do que os outros iates seus homónimos. Com efeito, este navio tinha um comprimento de 54,40 m, 8,22 m de boca e deslocava 650 toneladas. Estava equipado com uma máquina de 650 cv, que lhe imprimia uma velocidade máxima de 14 nós. A sua guarnição oscilava entre 36 e 45 homens. Mais do que uma embarcação de recreio, o quarto «Amélia» era um navio orientado para a pesquiza oceanográfica, a actividade estrapolítica preferida do monarca. Que, com o passar do tempo e com a experiência adquirida no decorrer de três campanhas de estudo, se tornara, incontestavelmente, uma figura reconhecida pela comunidade científica. Este «Amélia» era um navio praticamente novo, já que fora construído em 1898. Sendo muito mais espaçoso do que os primeiros iates de D. Carlos, foi possível converter as suas áreas de lazer em laboratórios e outros locais de estudo. Estava armado com um canhão-arpão para captura de cetáceos. Participou em duas campanhas oceanográficas : em 1899 e 1901. Apesar das suas evidentes qualidades, o «Amélia» (IV) não conseguiu satisfazer, ainda assim, as ambições do cientista Carlos de Bragança. Que, em 1901, o substituiu pelo quinto e último navio a receber o nome de Amélia de Orleães. Vendido para o estrangeiro, voltou a navegar com o seu nome original.

«AMÉLIA» (III)


Ex-«Giralda», ex-«Geraldine». O vapor de recreio «Amélia» (III) foi adquirido por D. Carlos (ainda então duque de Bragança) em 1888. Era um navio de propulsão mista (vela/vapor), de três mastros, que dispunha de uma máquina Compound desenvolvendo uma potência de 320 cv. Media 44,90 m de comprimento por 6,38 m de boca e deslocava 301 toneladas. Foi construido em Leith, na Escócia, pelo estaleiro Ramage & Ferguson e era muito maior do que os primeiros «Amélia». Podia atingir a velocidade máxima de 11 nós. A sua equipagem compreendia 20 homens e reunia condições para receber a bordo uma equipa de 20 investigadores, que assistia o rei, cada vez mais envolvido na pesquiza oceanográfica. O «Amélia» (III) apoiou as campanhas científicas promovidas por D. Carlos I nos anos de 1897 e de 1898. Apesar das melhorias oferecidas por um espaço mais vasto, também este iate carecia das condições julgadas ideais pelo rei. Que, por essa razão, decidiu trocá-lo, em 1899, pelo novo «Amélia», um navio até então denominado «Yacona».

«AMÉLIA» (II)


Este navio (com casco de ferro) foi construído em 1878 pelos estaleiros ingleses W. Alissup & Co, de Preston. Adquirido, em segunda mão, por D. Carlos, duque de Bragança, recebeu o nome de «Amélia» -em honra da futura rainha de Portugal- e a designação oficial de iate de recreio, embora tenha servido de base móvel aos primeiros trabalhos oceanográficos empreendidos por Carlos de Bragança. Deslocava 148 toneladas, media 33,84 m de comprimento e dispunha de propulsão mista : vela e vapor. A sua velocidade máxima não excedia os 10 nós. Apesar de já dispor de algum equipamento científico (mas não de um verdadeiro laboratório) e de estar dotado com três pequenas embarcações de suporte logístico, era muito instável, mesmo em mar pouco agitado, e rapidamente descontentou o príncipe, que o considerou inadequado para o apoiar nos estudos marinhos que ele queria desenvolver. D. Carlos acabou, rapidamente, por trocá-lo por um novo iate, que recebeu o mesmo nome de «Amélia».

«ADLER VON LÜBECK»


Esta nau da Liga Hanseática foi lançada à água no ano de 1566. E foi, nessa época, um dos navios mais poderosos do mundo. Media 78,30 m de comprimento por 14,50 de boca. Deslocava mais de 2 000 toneladas e podia desfraldar cerca de 1 800 m2 de pano. O seu armamento era constituido por 138 canhões de bronze e por 86 outros de menor calibre em ferro. Este navio (popularmente conhecido pelo nome de «Gross Adler») assegurou a proteção dos navios mercantes da Liga no mar Báltico, aquando da guerra contra a Suécia. Depois do tratado que trouxe a paz à Europa do norte, o «Adler von Lübeck» (a 'Águia de Lubeque') foi transformado em navio mercante e utilizado no comércio com a península Ibérica. Esta grandiosa nau (da qual existem maquetes nos museus de Lubeque e de Munique) foi desmantelada em 1588, depois de mais de 30 anos de navegação.

«STOCKHOLM»


Paquete sueco construido (pelo estaleiro Götaverken, de Gotemburgo) para a companhia Svenska Amerika Linjen. Foi lançado à água em 9 de Setembro de 1946 e começou a operar na linha da América do norte em Fevereiro de 1948. Depois de trabalhos de remodelação, executados em 1952, o «Stockholm» passou a oferecer comodidades para 670 passageiros. A sua (triste) popularidade nos meios navais provem do facto de -em 25 de Julho de 1956, a cerca de 100 milhas náuticas do porto de Nova Iorque- ter abalroado e afundado o paquete de luxo italiano «Andrea Doria». Depois deste terrível acidente (que causou apenas 52 vítimas, devido a um concurso de circunstâncias favorável) o «Stockholm» sofreu inúmeras transformações. Também tem andado de mão em mão, conhecendo vários nomes e várias bandeiras : a da Dinamarca, a da extinta R. D. A., a da Noruega, a da Itália. Actualmente chama-se «Athena», pertence à Classic Cruises International e arvora pavilhão português.

«YERMAK»


Quebra-gelos russo construído, em 1898, nos estaleiros britânicos da firma Armstrong Whitworth, de Low Walker (Newcastle-upon-Tyne). A supervisão dos trabalhos do navio foi feita pelo almirante Makarov, da marinha imperial. Na sua primeiríssima viagem (1899), que o conduziu às ilhas Spitzberg, o «Yermak» atingiu 81º 21' de latitude Norte e demonstrou ser capaz de quebrar gelos com 2 m de espessura. No dia 6 de Fevereiro de 1900, quando viajava a bordo do «Yermak», o famoso físico russo Alexandre Popov conseguiu estabelecer a primeira comunicação via rádio entre Kotka e a ilha Hogland. O navio esteve algum tempo no Báltico antes de ser transferido para os mares polares e de actuar entre os portos de Murmansk e de Vladivostok. A sua missão consistia em manter aberta a rota marítima que liga a Rússia europeia à Sibéria oriental e ao oceano Pacífico. O «Yermak», que era um navio de 97,55 metros de comprimento, deslocando um pouco mais de 8 700 toneladas, foi retirado do serviço activo em 1964; quando era já o mais antigo navio do mundo do seu tipo. As autoridades soviéticas deram o seu nome a uma ilha do arquipélago Nordenskjold.

«DAR POMORZA»


Veleiro-escola da marinha de guerra polaca, cujo nome significa 'Dom da Pomerânia'. Foi construído pelos estaleiros Blohm und Voss, de Hamburgo, em 1909, com o nome de «Prinzess Eitel Friedrich» para assumir funções de navio-escola da marinha mercante alemã. Ainda teve dois proprietários franceses (o estado e o barão de Forrest), antes de passar, em 1929, para a Polónia; que o adquiriu com dons recolhidos na Pomerânia, uma das regiões históricas do país. Antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial (que tão trágicas consequências teve na Polónia) o «Dar Pomorza» fez vários cruzeiros de longa distância, entre os quais uma volta ao mundo. Durante o conflito acima referido, o navio esteve refugiado num porto sueco, território neutro e seguro. Este navio de três mastros e casco de aço arma em galera. Tem 71 m de comprimento, desloca 1 560 toneladas e apresenta uma superfície vélica de 1 900 m2. Possui um motor auxiliar de 430 cv. O «Dar Pomorza» foi riscado das listas de navios operacionais da marinha polaca há uns 30 anos, tendo sido substituído pelo «Dar Mlodziezy». O velho veleiro funciona, desde 1982, como navio-museu no porto de Gdynia. É hoje, oficialmente, propriedade da 'Fundação Dar Pomorza'.

«QUEEN VICTORIA»


O «Queen Victoria» é, actualmente (2009), o mais prestigioso paquete da frota da Cunard Line. Este gigantesco navio de cruzeiros mede 294 m de comprimento por 41 m de boca. Desloca 90 000 toneladas e pode atingir uma velocidade máxima de 18 nós. A equipagem do «Queen Victoria» é constituída por 900 pessoas e o navio pode acolher 2 014 passageiros, distribuídos por 1007 cabines (algumas delas de grande luxo), situadas em 12 das suas 16 cobertas. Inteiramente votado ao bem-estar e ao lazer dos seus passageiros, este paquete britânico coloca à disposição dos mesmos várias áreas de jogos, 3 piscinas, 1 sala de baile, 1 teatro, 1 casino, 5 restaurantes 13 bares, etc. O «Queen Victoria», que custou à Cunard, a soma de 270 milhões de libras esterlinas, foi construído em Itália, pelos Fincantieri, situados perto de Veneza. O seu lançamento à água teve lugar a 15 de Janeiro de 2007 e a sua viagem inaugural iniciou-se em 11 de Dezembro do mesmo ano.

«MÉDUSE»


Fragata da marinha de guerra napoleónica, que, após a queda de Bonaparte e do regresso dos Bourbons ao trono de França, foi enviada ao Senegal, em missão de soberania. O navio foi colocado sob o mando de Hugues Duroy de Chaumaray, um oficial de marinha que há mais de 20 anos não punha os pés num navio. A incapacidade de Chaumaray aliada ao facto de ele se ter incompatibilizado, desde o início da viagem, com os seus subalternos, ditaram a sorte desta indesditosa fragata da 'Royale', cujo nome é, ainda hoje, sinónimo de horror. A tragédia da «Méduse», cuja história tanto impressionou a França e a Europa no primeiro quartel do século XIX, resume-se a isto : a 2 de Julho de 1816, depois da fragata ter encalhado, por negligência dos seus oficiais, no banco de Arguim (situado ao largo das costas da Mauritânia), o seu comandante mandou arriar as chalupas e sair da «Méduse» todos os seus tripulantes dispensáveis e todos os seus passageiros. Isso, com o intuito de tentar safar o navio na subida da maré. E como as chalupas se revelaram insuficientes para conter tanta gente, Chamaray mandou construir uma jangada, na qual foram obrigadas a tomar lugar umas 150 pessoas, marinheiros e soldados na sua esmagadora maioria. Como se goraram todas as tentativas para desencalhar a «Méduse», essa jangada teve que funcionar como meio de salvação improvisado e instável; e no qual não se haviam constituído reservas de água potável e de mantimentos para tanta gente. A jangada da «Méduse» andou 4 longos dias à deriva no oceano Atlântico e quando foi possível, enfim, socorrer os desgraçados, apenas restavam a bordo 15 sobreviventes. Segundo o testemunho de alguns deles, a tenebrosa jangada foi palco de cenas atrozes : suicídios, assassínios e até casos de canibalismo. O comandante da fragata «Méduse» que, no dizer de alguns, abandonara o navio num escaler quase vazio, foi julgado por um tribunal militar de Rochefort. A negligência e, sobretudo, a conduta de Hugues Duroy de Chaumaray -verdadeiramente indignas de um capitão de navio- foram sancionadas com 3 anos de cadeia e com a desonrosa expulsão do acusado da armada real. O drama da jangada da morte inspirou ao pintor Théodore Géricault a sua obra-prima. A tela intitulada «Le Radeau de la Méduse» (que faz parte das prestigiosas colecções do museu do Louvre) reproduz toda a ansiedade e todo o horror vividos pelos náufragos da funesta embarcação. Horror acentuado pelo génio de um pintor, que se conta entre os maiores artistas plásticos do seu tempo.

«KAGA»


Construído a partir do casco de um couraçado da classe 'Tosa', o «Kaga» foi, por ordem cronológica, o terceiro porta-aviões da marinha imperial japonesa. Terminado em 1928, este navio foi alvo de várias transformações até 1941, ano em que participou no ataque à base de Pearl Harbour e aos vasos de guerra dos Estados Unidos ali estacionados. Esta operação não foi, no entanto, o baptismo de fogo do «Kaga». Com efeito, o navio já havia tomado parte em operações de guerra durante o conflito sino-japonês. Este navio (cujo nome é também o de uma região do Japão) era capaz de deslocar 34 000 toneladas e de transportar e de colocar no ar cerca de 90 aeronaves de vários tipos e valências. A sua equipagem era constituida por 2 400 homens. O «Kaga» tinha uma autonomia de 7 000 km (vogando a 12 nós) e a sua velocidade máxima ultrapassava os 31 nós. Esteve em várias operações importantes da chamada guerra do Pacífico. Para além do já referido ataque a Pearl Harbour, esta unidade da armada nipónica apoiou as invasões de Rabaul e de Java e foram os seus aviões que -a partir do mar de Timor- lançaram um surpreendente raide contra a cidade australiana de Darwin. Em 1942, o porta-aviões «Kaga» envolveu-se nos combates de Midway e, a 4 de Junho desse ano, sofreu vários e imparáveis ataques de aeronaves provenientes do seu congénere e rival USS «Enterprise»; ataques esses que o incendiaram e ditaram a sua perda. O essencial da sua tripulação pôde, no entanto, ser salva pela intervenção atempada dos contatorpedeiros «Hagikase» e «Maikase».

«PINTA»


Caravela de 60 tonéis, construída en Palos de la Frontera por carpinteiros navais andaluzes. O seu comprimento, fora a fora, não excedia os 23 metros. Pertencia (ou estava alugada) aos Pinzón, uma conhecida família de armadores daquele porto. Arvorando a bandeira dos Reis Católicos e sob o mando de Martin Alonso Pinzón participou na primeira viagem de Colombo às Américas. O seu piloto era o experimentado Cristobal García Sarmiento. Quer a tradição, que tenha sido do mastro grande desta caravela, que o denominado Rodrigo de Triana (um dos 26 membros da tripulação da «Pinta») avistou terra firme pela primeira vez, após dois longos meses de navegação. Este navio, que era o mais rápido da frota de Colombo, desgarrou-se da dita -após ter apanhado um medonho temporal no mar dos Açores- e foi aportar a Baiona, na Galiza, no dia 1 de Março de 1493; onde deixou a notícia (em primeira mão) da descoberta de novas terras a oeste.

«SAINT PHILIBERT»


Era um pequeno vapor de passeio, que operava durante a estação estival na foz do rio Loire e nas zonas costeiras vizinhas. A sua tripulação era constituída pelo capitão e por 7 marinheiros. No dia 14 de Junho de 1931, o «Saint Philibert» aparelhou do porto de Nantes para um dos seus habituais passeios dominicais. A sua lotação estava completa, já que um dos seus tripulantes, que controlava o acesso a bordo, contabilizara a entrada de 467 adultos e observara, sem as contar, a presença de inúmeras crianças. Todos eles partiam para a ilha de Noirmoutier com a esperança de ali passarem um agradável dia de repouso ou de lazer. A viagem de ida passou-se normalmente, sem sobressaltos. Mas à volta, quando o «Saint Philibert» iniciou o seu regresso a Nantes, o tempo já não era o mesmo. Havia vento e o mar estava bastante agitado. A tal ponto que a forte ondulação acabou por virar o barco (ao largo da ponta de Saint Gildas) e despejar no mar todos os seus ocupantes. Das mais de 500 pessoas que haviam tomado lugar a bordo do pequeno vapor apenas 8 sobreviveram ao desastre. Um processo correu nos tribunais, em 1933, a pedido das famílias das vítimas. Mas, contrariamente àquilo que esperava a opinião pública, os armadores do «Saint Philibert» foram ilibados de qualquer culpa no naufrágio do vapor.

«AFONSO DE ALBUQUERQUE»


Aviso de 1ª classe da Armada Portuguesa. Concebido (como a generalidade dos navios deste tipo) para servir no Ultramar, o «Afonso de Albuquerque» foi construído em 1935 nos estaleiros Hawthorn-Leslie (Newcastle, Grã-Bretanha). Era o irmão gémeo do «Bartolomeu Dias». Media 99,60 m de comprimento por 13,49 m de boca e deslocava, em plena carga, 2 440 toneladas. O seu armamento era constituído por 4 peças de artilharia de 120 mm, 2 de 76 mm, 4 AA de 40 mm e 2 lançadores de cargas de profundidade. Podia receber um hidroavião. A sua velocidade máxima era de 20 nós. A sua equipagem normal não excedia os 170 homens. Parte dos seus tripulantes (membros ou simpatizantes da O.R.A.) envolveu-se na gorada Revolta dos Marinheiros de 1936, tendo (nessa ocasião e por causa disso) o navio sido alvejado por forças fiéis ao regime vigente, que lhe causaram alguns danos. A 29 de Novembro de 1942, quando se encontrava no oceano Índico em missão de formação de guarda-marinhas, o «Afonso de Albuquerque» salvou a vida de 183 náufragos do «Nova Scotia», um navio britânico torpedeado por um submarino hitleriano. O «Afonso de Albuquerque» foi um dos navios destacados para Timor (logo após o fim da Segunda Guerra Mundial), para ali restabelecer a soberania portuguesa. Este aviso foi destruído em combate ao largo de Mormugão -no dia 18 de Novembro de 1961- por forças navais da União Indiana, durante o breve conflito que retirou ao nosso país a tutela dos territórios de Goa, Damão e Diu.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

«LE REDOUTABLE»


Foi o primeiro submarino nuclear lança-mísseis da armada francesa. Construído no arsenal de Cherburgo, foi lançado à água em 29 de Março de 1967 na presençs do general Charles De Gaulle, chefe do estado. Mas só entrou em serviço operacional em fins de 1971, ano em que foi integrado na Força Oceânica Estratégica. O submarino «Le Redoutable» mede 128,70 m de comprimento por 10,60 m de boca e podia (foi retirado do serviço em 1991) deslocar 9 000 toneladas em imersão. A sua guarnição era composta por duas equipagens (a azul e a vermelha) de 115 homens cada uma. O seu reactor de água pressurizada imprimia-lhe uma velocidade de 25 nós em imersão e conferia-lhe uma autonomia quase ilimitada. Do seu armamento constavam 16 mísseis MSBS comportando ogivas nucleares de 1 megatonelada. Estes engenhos balísticos mar-terra tinham um alcance superior a 3 000 km. Além dessas armas estratégicas, o «Le Redoutable» dispunha de 4 tubos lança-torpedos de 533 mm e de mísseis 'Exocet'. Este submarino, que teve a sua base na Île Longue, em Brest, foi transformado em museu, no ano de 2002. Está patente ao público na chamada 'Cidade do Mar' de Cherburgo, onde apresenta exposições consagradas à aventura industrial da propulsão nuclear, à exploração submarina e à Força Oceânica Estratégica. A classe de sumarinos 'Le Redoutable' comporta mais outras 5 unidades : «Le Terrible», «Le Foudroyant», L'Indomptable», «Le Tonnant» e «L'Inflexible». Alguns destes gigantescos submersíveis ainda estão no activo.

«RIO CÁVADO»


Lugre português de três mastro e casco em madeira. Encomendado por uma firma armadora do Porto, gerida por João de Barros, foi construído em 1918 nos estaleiros de Fão pelo mestre José de Azevedo Linhares. Teve vida efémera, já que, qual «Titanic, se afundou na sua viagem inaugural. Seguia para o porto de Bristol (Inglaterra) com um carregamento de pipas de vinho do Porto, quando, às 6 horas da manhã de 2 de Outubro de 1918, foi interceptado -a 290 milhas náuticas do cabo Prior- por um submarino alemão, que lhe desferiu nada menos do que 13 tiros de canhão, destroçando-o. Os 5 homens da tripulação do «Rio Cávado» puderam salvar-se todos graças à utilização da baleeira do navio. Embarcação que os conduziu ao Ferrol, cidade galega, onde chegaram sãos e salvos, apesar de famintos e esfarrapados.

domingo, 26 de julho de 2009

«SABAIA»


Nau portuguesa do século XVI sobre a qual muito pouco se sabe. Parece ter sido um dos três primeiros navios europeus a navegar em águas da actual Indonésia; já que se assinala a sua presença nas Molucas em 1511. Pertenceu à frota de três navios -duas naus e uma caravela- enviada por D. Afonso de Albuquerque às ilhas das especiarias. A «Sabaia», que se encontrava às ordens de Francisco Serrão, perdeu-se (na sua viagem de regresso a Malaca) num encalhe ocorrido no estreito de Sapude, situado entre as ilhas de Bali e de Kangean. Os seus náufragos foram bem acolhidos pelo sultão de Ternate, que os autorizou a construir, no território colocado sob a sua autoridade, uma fortificação e um entreposto comercial, a cujo conjunto foi dado o nome de Forte São João Baptista de Ternate. Urip Santoso, um almirante aposentado da marinha de guerra indonésia, declarou (em 2002) ter encontrado os despojos da «Sabaia» a cerca de 40 metros de profundidade; e tentou obter ajuda do seu governo e das autoridades portuguesas para poder explorar os destroços do navio quinhentista e deles recuperar algum espólio.

«NIOBÉ»


Navio mercante francês construído em 1920, pelos estaleiros Blyth Shipbuilding & Dry Docks, de River on Tyne (G.B.). Pertenceu ao armador S.N.C., de Caen e foi usado, essencialmente, no transporte de carvão. Media 79,30 m de comprimento por 11,35 m de boca. Deslocava, em plena carga, 2 450 toneladas e a sua velocidade não ultrapassava os 10 nós. No início da Segunda Guerra Mundial foi requisitado pela Direcção dos Transportes Militares e armado com uma peça de 90 mm e com duas metralhadoras AA de 13 mm. Em 1940 foi a Dunquerque levar munições às tropas francesas ali encurraladas pelos alemães; mas, perante a situação desesperada dos gauleses, o «Niobé» recebeu ordens para se dirigir ao porto do Havre, de onde o navio deveria evacuar os muitos civis desejosos de partir da cidade antes da chegada previsível dos hitlerianos. Segundo o testemunho de pessoas dignas de fé, que assistiram ao embarque, subiram para o «Niobé» -no dia 11 de Junho de 1940- entre 800 e 1 200 passageiros. Famílias inteiras que se acomodaram num navio, onde ainda estavam empilhadas cerca de 800 toneladas de munições, que não houvera tempo de descarregar. O «Niobé» fez-se ao mar e navegava já a umas 6 milhas náuticas a oeste do cabo Antifer, quando foi atacado por dois aviões 'Stuka'. Que, devido à lentidão do navio-carvoeiro não tiveram grandes dificuldades em alvejá-lo e fazê-lo explodir. O «Niobé» foi para o fundo quase instantaneamente. Calcula-se que só 30 pessoas tenham sobrevivido às explosões e, destas, apenas 11 puderam ser salvas por um navio de passagem. A propósito deste dramático afundamento e durante anos a fio, muito se especulou sobre a presença a bordo de refugiados judeus de Antuérpia e de Amesterdão, que teriam transportado consigo grande quantidade de diamantes. Mas isso nunca chegou a ser provado. Os cobiçados (por causa dessas tais pedrarias) restos do «Niobé» foram descobertos e identificados, em 2002, por um grupo de mergulhadores do Havre, filiado na 'Association Sport, Culture et Loisirs Paul Éluard'. Que não encontrou nos destroços do infeliz navio uma única pedra preciosa.

«PICANÇO»


Caravela portuguesa do século XV. Ignora-se quase tudo sobre este navio, inclusivé as suas dimensões e tonelagem. Pertenceu, segundo Zurara, a um natural de Lagos, chamado ou alcunhado Picanço, daí o seu nome. Parece ter estado com Diogo Gomes, navegador da casa do infante D. Henrique (que certos julgam ser o próprio Picanço), na exploração da costa africana e da foz dos rios Gâmbia e Geba. Há ainda quem pretenda, sem nunca o ter conseguido provar, que a «Picanço» foi a famosa «Bérrio», caravela latina que integrou a primeira armada levada à Índia por Vasco da Gama.

«MISSOURI»


Couraçado da marinha norte-americana da classe 'Iowa'; cujos exemplares, apesar de deslocarem (em plena carga) umas 58 000 toneladas, eram os mais rápidos navios do seu tipo jamais construídos. O «Missouri» foi lançado à água em fins de Janeiro de 1944 e tornou-se operacional em meados de Junho do mesmo ano. Por essa razão, não chegou a distinguir-se nos combates do último conflito generalizado. Foi, no entanto, este poderoso navio o escolhido para receber, a bordo, as delegações oficiais dos Aliados e do império japonês, que assinaram -a 2 de Setembro de 1945- o armistício que punha termo à Segunda Guerra Mundial. O navio encontrava-se, então, fundeado na baía de Tóquio, capital de um país traumatizado pela recente explosão das duas bombas atómicas que destruiram Hiroxima e Nagasáqui. O «Missouri» (que foi o último couraçado a ser construído para a armada dos E.U.A.) ainda foi utilizado militarmente em duas ocasiões : durante a guerra da Coreia (anos 50) e durante a segunda guerra do Golfo, onde chegou a disparar os mísseis de cruzeiro que recebera, anos antes, aquando de uma tardia e inútil modernização. O gigantesco couraçado (270,43 m comprimento por 32,98 m de boca) foi retirado do serviço activo em 1992 e encontra-se, actualmente, ancorado na base de Pearl Harbour (Havai), onde funciona como navio-museu.

«SANTA MARIA MANUELA»


Lugre-motor de quatro mastros e casco de aço construído em 1937 -em apenas 60 dias de trabalho- nos estaleiros da CUF da Rocha do Conde de Óbidos (Lisboa). Era irmão gémeo do «Creoula» e deveria, tal como este, integrar a frota da Parceria Geral de Pescarias; contudo, depois da sua finalização, foi vendido pela casa Bensaúde à Empresa de Pesca de Viana. Participou em dezenas de campanhas de pesca nos perigosos mares da Terra Nova e da Groenlândia, até que, no ano de 1962, foi vendido à Empresa de Pesca Ribau; que o utilizou na sua habitual faina nos grandes bancos até finais da década. Por essa época, o navio sofreu uma profunda remodelação que o descaracterizou completamente. E em 1993 o lugre foi definitivamente afastado da actividade piscatória por ter sido considerado obsoleto. Estava o navio à espera da sua completa demolição no estaleiro de um ferro-velho, quando, em 1994, a Fundação Santa Maria Manuela (formada por um grupo de pessoas apostadas em preservar a memória dos antigos bacalhoeiros) decidiu comprar o casco e alguns apetrechos ainda recuperáveis. Mas a desejada restauração do velho lugre-motor não pôde concretizar-se, por falta de meios. Mais recentemente, uma firma da Gafanha da Nazaré ligada ao ramo das pescas e da comercialização do pescado (a casa Pascoal & Filhos) teve a feliz e louvável ideia de adquirir o «Santa Maria Manuela» e de mamdá-lo restaurar num estaleiro da Galiza. Para que o histórico navio surja, de novo e à vista de todos, em todo o seu explendor.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

«WITTE LEEUW»


Navio holandês da Companhia das Índias Orientais, fortemente armado. Em 1613, surpreendeu (em companhia de três outros navios da sua nacionalidade) dois galeões portugueses que faziam aguada na actual James Bay, na ilha de Santa Helena. Com as velas ferradas e, por isso, incapaz de manobrar, um dos nossos navios -o «Nossa Senhora da Nazaré», que se encontrava sob o mando de D. Jerónimo de Almeida- mandou içar o pendão da padroeira do galeão e abriu fogo sobre os intrusos. Com tanta felicidade, que o 'leão branco' (tradução portuguesa do nome do «Witte Leeuw») foi pelos ares, depois de ter recebido uma salva de artilharia no seu paiol da pólvora. Os outros navios holandeses foram tão maltratados pela metralha dos portugueses, que buscaram a salvação na fuga. Os restos do «Witte Leeuw», que repousam a cerca de 40 metros de profundidade, foram visitados nos anos 70 (do passado século) pelo arqueólogo submarino Robert Sténuit; que estava esperançado em recuperar uma parte substancial do tesouro transportado pelo navio holandês : mais de 1 300 diamantes, jóias pessoais da tripulação e outra mercadoria preciosa. As suas espectativas goraram-se, em parte, já que aquilo que foi possível extrair dos destroços do navio da opulenta Companhia das Índias Orientais resumiu-se a vários canhões de bronze, alguns objectos usuais de bordo e diversas peças de porcelana chinesa da época Ming. Parece que, ainda assim, a exploração dos restos do «Witte Leeuw» se revelou altamente compensadora.

«MARIE CORDELIÈRE»


Navio de guerra do ducado de Bretanha. Foi mandado construir em finais do século XV, talvez em 1498, pela duquesa Ana (também rainha de França), que queria proteger o seu território e os seus súbditos dos frequentes ataques ingleses. Dispunha (segundo informações provavelmente exageradas) de uma guarnição de 1 200 homens e alinhava 200 canhões. Esteve no mar Mediterrâneo entre 1501 e 1504, tendo ali participado na campanha de Mitilene do lado dos genoveses, ainda inconformados pela perda dessa ilha para os turcos. O fim do «Marie Cordelière» (ou «La Cordelière», nome pelo qual também era conhecido) foi dos mais trágicos. Ocorreu em 10 de Agosto de 1512 -dia de São Lourenço- na enseada de Brest. A bordo do navio-almirante do ducado de Bretanha dava-se, nesse dia, uma sumptuosa recepção e o poderoso vaso de guerra estava, então, pejado de convidados. Foi nessa altura que uma força naval inglesa tentou entrar no porto de Brest. O capitão do «Marie Cordelière» -Henri de Portzmoguer- levou a grande nave (com os festeiros a bordo) ao encontro do adversário, conseguindo abordar o «Regent», um dos navios invasores. Mas, quando se apercebeu que o combate lhe seria desfavorável cometeu um acto tresloucado. Gritou : «vamos festejar São Lourenço, que morreu pelo fogo !»; incendiando, depois, o paiol do seu navio, que explodiu e soçobrou. Ao mesmo tempo, como é óbvio, que o inglês «Regent». Rezam as crónicas que, na catástrofe provocada pelo capitão de Ana de Bretanha, morreram mais de 2 000 pessoas.

«SIRIUS»


Embarcação de recreio mandada construir pelo rei D. Luís. Foi feita no chamado Telheiro das Galeotas Reais, na Junqueira (Lisboa), segundo um desenho de Tomás Gonçalves e sob a orientação de Folque Passolo. Dispunha de vários camarins para acolher os monarcas e respectivas 'suites', além de acomodamentos para uma dezena de tripulantes. Foi lançado à água em 14 de Abril de 1876 e alcançou, a 15 de Agosto de 1878, a sua primeira vitória numa regata nacional. Entusiasmado com este sucesso, o rei de Portugal inscreveu o «Sirius» (que, nesse tempo, aparelhava em caíque) em várias provas internacionais, chegando a ganhar algumas delas. Em 1887 armava em palhabote e no início do século XX recebeu um motor de fraca potência, para ajudar a sua equipagen nas manobras portuárias. Já depois da implantação da República, o «Sirius» foi oferecido (em 1913) à Escola Naval, que o utilizou na instrução prática dos seus alunos. Em 1938 fez parte da Brigada Naval. Depois de ter sido retirado do serviço, o veleiro foi colocado em exposição no Museu de Marinha (Lisboa).

quinta-feira, 23 de julho de 2009

«ZARA»


Cruzador pesado (14 300 toneladas, em plena carga) da marinha militar italiana. O «Zara», que deu o seu nome a uma classe que compreendia mais 3 outras unidades (o «Fiume», o «Gorizia» e o «Pola»), foi lançado à água em 1930. Era uma evolução da classe 'Trento'. Media 182,30 metros de comprimento por 20,62 metros de boca e a sua velocidade máxima ultrapassava os 32 nós. O «Zara» estava fortemente blindado e dispunha de um armamento impressionante, constituído por 8 canhões de 203 mm, por 16 de 100 mm, por 6 peças AA de 40 mm e por mais 8 outras de 13,2 mm. A sua tripulação alinhava 880 homens. O «Zara», assim como os três outros navios da sua classe, tiveram o triste privilégio de serem afundados sem terem, eles próprios, disparado uma única salva de artilharia contra o inimigo. Este cruzador (como duas outras unidades do seu tipo) foi destruído por navios da 'Royal Navy' na noite de 29 de Março de 1941, durante a batalha do cabo Matapão.

«EREBUS»


O seu nome anda associado ao do «Terror», pelo facto de ambos terem participado na famosa expedição à Antárctida de James Clark Ross. E também por ambos se terem perdido nos gelos do Árctico (em 1845, aquando da trágica expedição de John Franklin), em circunstâncias que nunca foram inteiramente esclarecidas. O «Erebus», que deu o seu nome a um vulcão da ilha de Ross, pertencia (como o «Terror») à marinha real britânica. Fora lançado à água em 1826. Era um navio de 370 toneladas e, na fase final da sua existência, de propulsão mista (vela/vapor), já que um motor de 20 cv lhe fora adaptado antes de partir com Franklin para o Árctico. O seu casco também havia sido chapeado em previsão da sua derradeira missão.

«SENHORA DA CONCEIÇÃO»


Foi o antigo «Ripple», um navio de 210 toneladas construído no estaleiro Philip & Son Ldt, de Dartmouth (Inglaterra). Media 30,26 m de comprimento por 7,16 m de boca. Quando esta escuna foi adquirida, em 1888, por Francisco Henriques, da ilha da Madeira, passou a chamar-se «Esperança». Mudou mais duas vezes de mãos. O seu derradeiro proprietário foi João Martins da Silva (outro ilhéu) que, em 1907, o ofereceu a sua esposa (Carolina Amélia Martins da Silva), que lhe atribuiu o seu nome definitivo : «Senhora da Conceição». Foi com este veleiro que a sua nova dona iniciou a actividade da Empresa de Navegação Madeirense, que ainda hoje existe. A escuna «Senhora da Conceição» consagrou-se à ligação Madeira-continente e à navegação de cabotagem na Europa ocidental. Em 19 de Março de 1917, quando vogava de França para o Funchal (com um carregamento de enxofre) a escuna foi torpedeada ao largo da costa galega pelo submarino U-52, comandado pelo capitão-tenente Hans Walther. Os seus 8 tripulantes lograram, todos eles, sobreviver ao pérfido ataque do submersível.

«EXETER»


Cruzador pesado da 'Royal Navy', que o colocou em serviço operacional a 21 de Julho de 1931. Tornou-se conhecido por ter participado no combate vitorioso contra o couraçado «Admiral Graf Spee», episódio da guerra naval conhecido como batalha do Rio da Prata; durante o qual o «Exeter» sofreu avarias de monta causadas pelo fogo inimigo. Depois desse duelo com o «Graf», o cruzador britânico teve de escalar as Falkland, para aí proceder às reparações que lhe permitiram voltar a Inglaterra. Após uma intervenção mais profunda efectuada em Devonport, o «Exeter» (que também aproveitou essa paragem forçada para se dotar de armamento mais poderoso e de um novo sistema de detecção) foi enviado para o chamado teatro de operações das Índias Orientais. Foi aí que -no dia 1 de Março de 1942, durante a batalha do mar de Java- o «Exeter» foi afundado pelo fogo cruzado de quatro vasos de guerra japoneses.

«VIAJANTE»


Este navio de três mastros com casco em teca foi construído em 1850 nos estaleiros de Damão; os mesmos que já haviam realizado a fragata «D. Fernando e Glória». 0 «Viajante» era um navio de 377 toneladas, que media 35 metros de comprimento. Armou, sucessivamente, em galera e em barca. O seu primeiro proprietário foi a casa Bessone & Barbosa, que o utilizou no transporte de chá para a Europa. Em 1863 chegou a assegurar uma leva de tropas coloniais da metrópole para Moçambique, fazendo assim prova da sua versatilidade. Seis anos mais tarde, em Novembro de 1869, o «Viajante» -que se dirigia para Macau, sob o mando do capitão José Sabino Gonçalves- foi o primeiro navio de bandeira portuguesa a franquear o canal de Suez, essa nova via de navegação que encurtava, de maneira significativa, as viagens para o Oriente. A 2 de Outubro de 1917, quando navegava de Lisboa para o Funchal com mercadoria diversa, o «Viajante» foi afundado por um submarino alemão não identificado. Apesar da zona de náufrágio do navio se situar a umas 180 milhas náuticas da terra firme mais próxima (a ilha de Porto Santo), todos os seus tripulantes (12 homens) se salvaram.

«VERA CRUZ»


Paquete português da frota da Companhia Colonial de Navegação. Foi construído na Bélgica -nos estaleiros John Cockerill, de Hoboken- entre 1951 e 1952. Era o irmão gémeo do «Santa Maria», também ele construído pela mesma firma estrangeira. Assegurou, no início da sua carreira, viagens para as Américas, com grande satisfação da sua clientela, que apreciava o conforto e a rapidez oferecidos pelo navio. Durante a sua viagem inaugural, que começou em Lisboa a 20 de Março de 1952 e terminou, em apoteose, no Rio de Janeiro, o «Vera Cruz» teve o almirante Gago Coutinho -pioneiro das viagens aéreas transatlânticas- como passageiro de honra. Nos anos 70 (do passado século) o desenvolvimento das viagens aéreas (mais rápidas e mais baratas) ditaram o fim dos transportes marítimos de passageiros e nem a fusão da C.C.N. (armadora do paquete) com a Companhia Insulana de Navegação pôde salvar o «Vera Cruz» e seus congéneres. As linhas regulares foram abandonadas e o «Vera Cruz» passou a fazer cruzeiros. E também, com o arrastar das guerras coloniais, a transportar tropas portuguesas para África. Em 1973, este outrora prestigioso navio (de 22 000 toneladas), foi enviado para Formosa, onde foi desmantelado.

«PORTUGAL»


Paquete francês da companhia marselhesa Messageries Maritimes. Foi construído nos estaleiros navais de La Ciotat e lançado à água no dia 27 de Julho de 1886. Deslocava cerca de 8 000 toneladas, media 140 m de comprimento por 14 de boca e podia atingir a velocidade de 16 nós. Assegurou uma linha regular entre Marselha e La Plata, Argentina, durante dois anos (1887-1889). Fez um cruzeiro à Grécia em 1896, com passageiros que foram assistir às provas dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna. Passou, depois, a navegar nas rotas de Alexandria e do mar Negro. Em Outubro de 1914 o paquete ficou bloqueado neste mar, em consequência do bloqueio dos estreitos decretado pelo governo turco. O «Portugal» foi bombardeado por canhoneiras da armada otomana quando, no início da Grande Guerra (29/10/1914), se encontrava fundeado no porto de Odessa. Foi então colocado pelo seu armador (com o consentimento do governo gaulês) ao dispor das autoridades russas; que o transformaram em navio-hospital, devidamente declarado junto das instâncias internacionais, que garantem um estatuto de não-beligerância a este tipo de unidades. Apesar disso, o antigo paquete (que fora totalmente pintado de branco e ostentava as cruzes vermelhas da praxe) foi torpedeado -no dia 30 de Março de 1916, perto de Batum- pelo submarino alemão U-35. O navio «Portugal» partiu-se em dois e afundou-se em menos de 2 minutos. A bordo morreram 115 pessoas : 19 membros de equipagem (todos eles de nacionalidade francesa) e 96 passageiros russos, muitos deles ligados ao corpo sanitário em função no navio.

«TERROR»


Navio da marinha real britânica, conhecido pelas suas expedições polares e, também, pelo seu misterioso fim. Era um navio de 340 toneladas construído em 1813 nos estaleiros Davy, de Topsham (no condado de Devon). Participou na guerra anglo-americana de 1812 (que durou vários anos), distinguindo-se no bombardeamento de Stonington e de Fort McHenry, em 1814. No ano de 1837, sendo já então um velho navio, esteve bloqueado 10 meses nos gelos do Canadá, quando participou numa expedição às regiões setentrionais da baía de Hudson. Durante a famosa expedição científica à Antárctida -conduzida por James Clark Ross- o seu nome e o do «Erebus» (o outro navio da expedição) foram dados a dois picos vulcânicos da ilha de Ross. Regressado dessa importante viagem de estudos, que durou de 1839 a 1843, o «Terror» recebeu um motor de 20 cv de potência e o seu casco foi chapeado em vista de uma expedição ao Árctico. Essa viagem, conduzida por John Franklin, destinava-se a estudar o magnetismo terrestre e, acessoriamente, a franquear a difícil Passagem do Noroeste. O «Terror» (há anos sob o comando do capitão Francis Crozier) e, novamente, o «Erebus», foram avistados pela última vez em Agosto de 1845, entrando no mar de Baffin. Depois disso, nada mais se soube da malfadada expedição de Franklin. Presume-se que os navios tenham sido bloqueados pelo gelo e abandonados pelas respectivas equipagens, morrendo as ditas de frio e de fome. Várias expedições foram organizadas com o objectivo de encontrar os vestígios de Franklin e dos seus navios. Mas nenhuma delas conseguiu obter resultados palpáveis sobre a tragédia.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

«COMANDANTE ROBERTO IVENS»


Fragata da Armada Portuguesa construída em França, nos estaleiros de Nantes. Pertencia à classe 'Commandant Rivière' ('Comandante João Belo' em Portugal) e era uma unidade que deslocava 2 230 toneladas em plena carga. As suas dimensões eram as seguintes : 102,80 m de comprimento; 11,60 m de boca; 4,42 m de calado. A sua velocidade máxima excedia os 26 nós. O armamento principal do navio era constituído por 3 reparos simples de peças de 100 mm; por 2 peças AA de 40 mm e por equipamento de luta antisubmarina (1 morteiro quadrúplo de 305 mm e 3 tubos lança-torpedos). Da sua guarnição normal faziam parte 14 oficiais, 29 sargentos e 154 praças. A «Comandante Roberto Ivens» exerceu funções de escoltador oceânico e podia receber a bordo, se necessário, um helicóptero. Incorporada na marinha de guerra portuguesa em 23 de Novembro de 1968, este navio ainda chegou a realizar viagens ao ultramar. Quando esteve integrada na Força Naval Operacional do Continente, participou em manobras nacionais e internacionais e fez várias visitas de cortesia a portos estrangeiros. Foi riscada das listas da Armada (após 30 anos de serviço activo) no ano de 1998.

terça-feira, 21 de julho de 2009

«ESPADA DE FERRO»


Navio mercante português do século XVIII, que, a 1 de Setembro de 1798, quando se encontrava sob o comando de João Leite da Luz, sustentou um combate vitorioso contra um corsário francês de 18 peças. O «Espada de Ferro» causou elevadíssimas baixas ao seu agressor e só não o apresou porque, aquando da abordagem, se romperam os cabos dos arpéus, o que permitiu a fuga dos gauleses. Alertado para esse acto de valentia da tripulação do mercante português, o rei D. Pedro IV nomeou, por distinção, João Leite da Luz primeiro-tenente da Armada Real e premiou todos os marinheiros do «Espada de Ferro». Assim, o grumete José da Silva (de 16 anos de idade), que, durante o combate, se ilustrara na defesa da bandeira do navio, passou a receber a pensão diária -e vitalícia- de 200 réis.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

«ARK ROYAL»


Porta-aviões britânico da Segunda Guerra Mundial. Construído em 1937, foi o terceiro navio da 'Royal Navy' a ostentar este nome. Um dos seus aviões Blackburn 'Skua' foi o primeiro, de todo o conflito, a lançar-se num combate aéreo. Em 1940, participou na campanha da Noruega e, depois, em variadíssimas outras operações contra a marinha militar hitleriana. Foi um dos seus antiquados aeroplanos 'Swordfish' que avariou seriamente o leme do couraçado «Bismarck» e que concorreu, assim, para a sua perda. De regresso ao Mediterrâneo, onde iniciara a guerra, o «Ark Royal» foi torpedeado a 13 de Novembro de 1941 por um submarino inimigo, o U-81. Afundará no dia seguinte, havendo a lamentar um único morto na sua guarnição. O «Ark Royal» deslocava 25 000 toneladas em plena carga e transportava uma formidável força de combate, composta por cerca de 70 aeronaves. Podia atingir a velocidade máxima de 31,5 nós e o seu raio de acção (vogando a 20 nós) era de 7 600 milhas marítimas. A sua equipagem elevava-se a 1 600 homens.

«MOSKVA»


Cruzador anti-submarino (designação das armadas sovieto-russas) construído pelo arsenal Nikolaiev, no mar Negro. Operacional desde 1965. Foi o primeiro porta-helicópteros da marinha vermelha e está vocacionado para a detecção e destruição dos submersíveis atómicos da NATO, seus potenciais adversários. Distingue-se (tal como o seu irmão gémeo «Leningrad», já desactivado) pela sua volumosa superestrutura central (situada a meia nau) e pela sua vasta pista de operações aéreas, que ocupa toda a rectaguarda do navio. Além dos 'hélis' (Kamov), o «Moskva» também acolhe aviões com características ADAV/VTOL (Yak-36). É um navio extremamente rápido, já que a sua velocidade máxima pode ultrapassar os 30 nós. A sua guarnição ascende a 800 homens. O seu armamento é importante e diversificado : rampas de mísseis anti-submarinos e contra navios de superfícies, canhões (4 de 57 mm), lança granadas de profundidade, lança-torpedos, etc, além daquele que podem transportar os seus meios aéreos. Importante : não confundir esta unidade com uma sua homónima, que é, actualmente, o navio-almirante da esquadra russa do mar Negro, o cruzador lança-mísseis «Moskva», um navio da classe 'slava'.

«BÉARN»


Foi o primeiro porta-aviões a integrar os efectivos da marinha de guerra francesa. Foi construído pelos Chantiers de la Méditerranée, de La Seyne-sur-Mer, a partir do casco de um couraçado da classe 'Normandie'. Apesar de ter sido lançado à água em 1920, só sete anos mais tarde se tornou operacional. Serviu na frota do Mediterrâneo, cumprindo várias missões em águas marroquinas. Durante a Segunda Guerra Mundial, para escapar ao governo colaboracionista de Vichy, refugiou-se nas Antilhas e na América do norte; sofrendo modificações importantes num estaleiro dos Estados Unidos. Foi retirado do serviço activo em 1967 e vendido como ferro velho.

«JUAN SEBASTIÁN DE ELCANO»


Veleiro-escola da armada espanhola. É irmão gémeo do «Esmeralda», que exerce as mesmas funções na marinha militar do Chile. O «Elcano» foi lançado à água no dia 5 de Março de 1927 em Cádiz, cidade onde foi construído pelos estaleiros Echevarrieta & Larriñaga. Mede 113 metros de comprimento por 13,10 metros de boca. e pode deslocar 3 750 toneladas. Tem casco de aço e ostenta quatro mastros aos quais, curiosamente, foram dados os nomes dos navios-escola que o precederam : «Blanca», «Almansa», «Asturias» e «Náutilus». Arvora pano redondo no pau de vante e velas áuricas (encimadas por extênsulas) nos restantes. O «Juan Sebastián de Elcano» (que também dispõe de um motor auxiliar de 800 cv) voga, habitualmente, com uma tripulação composta por 257 oficiais, marinheiros e cadetes. Está armado com 2 peças de 37 mm. Já fez, no decorrer dos seus cruzeiros de instrução e viagens de cortesia, o equivalente a 10 voltas ao mundo.

«ÉLISE»


Era o antigo «Margery», um pequeno navio a vapor de 16 metros de comprimento, adquirido em Londres pela companhia francesa Pujol, detentora de uma licença de navegação no rio Sena. Em 15 de Março de 1816, o seu novo capitão -um certo Andriel- acompanhado por 16 homens de equipagem (entre os quais figuravam 1 mecânico e 1 fogueiro) largou do estuário do Tamisa para afrontar mar aberto. Era a primeira vez na história que uma minúscula embarcação a vapor, movida pela acção de duas rodas laterais ousava fazê-lo. Mas o mar estava encapelado e, num acesso de fúria, arrancou quatro palhetas ao sistema propulsor, obrigando o «Élise» a fazer uma inesperada escala no porto de Newhaven; antes de retomar o seu caminho, no dia 28. Diante das dificuldades encontradas, a tripulação do pequeno navio quis obrigar Andriel a desistir do seu intento; mas a teimosia do capitão prevaleceu e o «Élise» prosseguiu na sua rota até ao Havre, onde chegou às 6 horas da manhã de 29. Nesse porto da Normandia ninguém quis acreditar que a frágil embarcação procedia de Londres. A viagem continuou nesse mesmo dia, tendo o vapor atemorizado (depois do cair da noite) as populações ribeirinhas com o arfar da sua máquina e com as labaredas que escapavam da sua invisível chaminé. Mas quando -a 30 de Março de 1816- o pequeno navio atracou em Paris, num cais situado diante do palácio das Tulherias, foi o alvoroço geral e o festejar espontâneo da população da 'cidade-luz', que se substituiram à incredulidade e ao temor. Mais uma vez o progresso técnico vencera o obscurantismo.

«CALYPSO»


Antigo caça-minas da marinha real britânica com 400 toneladas de deslocamento. Foi construído em 1942 nos estaleiros da Ballard Marine Railway Company, de Seattle, Estados Unidos. Depois de ter sido abatido do efectivo da 'Royal Navy' esteve no Mediterrâneo, assegurando (enquanto navio de passageiros) uma linha regular entre as ilhas de Malta e de Gozo. Foi comprado pelo conhecido milionário irlandês Thomas L. Guiness, que pretendeu fazer dele um iate de luxo. Acabou, no entanto, por alugá-lo ao comandante Jacques-Yves Costeau pela soma simbólica de 1 Franco anual. Este acabou por transformar o «Calypso» numa unidade de estudos oceanográficos. Foi graças a esse antigo oficial da armada francesa e às suas reportagens submarinas -que, pela sua qualidade e interesse, foram transmitidas por todas as televisões do mundo- que o «Calypso» se transformou num dos mais conhecidos (e queridos) navios que jamais sulcaram mares e oceanos. Em Janeiro de 1996, o popular navio de Costeau foi afundado acidentalmente, no porto de Singapura, por uma barcaça. Depois de recuperado, o seu notável comandante (que viria a falecer a 25 de Junho de 1997) pediu para que o «Calypso» fosse, de novo, colocado «ao serviço da ciência e da educação». Problemas de ordem vária fizeram que o desejo de Costeau não se realizasse imediatamente. Mas há legítimas esperanças para que esse sonho do famoso inventor e reputado oceanógrafo ainda se venha a concretizar. A ver vamos...

«ZUIKAKU»


Porta-aviões japonês da Segunda Guerra Mundial». É (com o seu gémeo «Shokaku») considerado como o melhor navio do seu campo e do seu tipo que participou na longa guerra do Pacífico contra as forças dos Estados Unidos. Isto, porque era maior e estava mais bem armado e protegido do que todos os seus congéneres da marinha imperial. Participou no inesperado ataque contra Pearl Harbour e tomou parte activa em numerosas outras campanhas : Java, Ceilão, mar do Coral, Santa Cruz, ilhas Salomão, Filipinas, Leyte, etc. O «Zuikaku» (nome que significa 'cegonha ditosa') foi afundado por uma esquadra norte-americana no dia 25 de Outubro de 1944, durante o combate do Cabo Engano, no golfo de Leyte.

«U-139»


Submarino alemão recordado pelos portugueses por ter sustentado, vitoriosamente, mas sem glória, um combate desigual com o «Augusto de Castilho», um frágil e mal armado navio-patrulha da nossa Armada; que, nesse tempo, era comandado pelo distinto oficial Carvalho Araújo. Esse combate teve lugar no dia 14 de Outubro de 1918 (três semanas antes da assinatura do armistício) e culminou com o afundamento daquela modesta unidade da nossa armada e com a morte da maioria da sua tripulação. O U-139 encontrava-se, nessa fase final da Grande Guerra, sob as ordens do notável oficial submarinista Lothar Arnauld de la Perière, que haveria de elogiar a abnegação e o ardor combativo dos nossos marinheiros.

«ACHILLES»


Cruzador da 'Royal Navy' emprestado à marinha de guerra neo-zelandesa. Pertencia à classe 'Leander', que começou a ser produzida no início dos anos 30. Participou em vários confrontos da Segunda Guerra Mundial, nomeadamente na batalha do Rio da Prata, que levou o temível corsário alemão «Admiral Graf Spee» à sua perda. Foi devolvido à armada inglesa em Setembro de 1946. E vendido, posteriormente, à marinha militar da União Indiana, que lhe atribuíu o nome de «Delhi». Em 1961 participou nas operações de guerra contra as forças portuguesas estacionadas em Goa, Damão e Diu. Foi declarado inapto ao serviço e riscado da lista dos efectivos da armada indiana em 30 de Junho de 1978.

«MARIA DA GLÓRIA»


Bacalhoeiro português de três mastros e casco em madeira, construído em 1919 no estaleiro Mónica, da Gafanha da Nazaré, com o nome inicial de «Portugália». Em 5 de Junho de 1942 este navio de Ílhavo foi selvaticamente atacado pelo submarino alemão U-94, que então se encontrava sob o mando do oficial Otto Ites. O infortunado «Maria da Glória», que se dirigia para o estreito de Davis à procura de uma melhor zona de pesca, não ofereceu a mínima resistência (não tinha meios para isso), nem fez qualquer manobra que justificasse tal procedimento por parte dos tudescos. Que o afundaram sem remissão, causando a morte de 36 tripulantes do bacalhoeiro luso e feridos graves entre os parcos sobreviventes da brutal agressão. Quis o acaso que Sílvio Ramalheira -capitão, proprietário e armador do «Maria da Glória»- fosse um dos 8 membros da equipagem do malogrado navio que sobreviveram ao ataque do submersível hitleriano. Estes náufragos, bastante maltratados, refugiaram-se nalguns dóris e acabaram por ser recolhidos e salvos por um navio meteorológico da guarda costeira norte-americana, que os desembarcou em Boston. Depois de assistidos, os sobreviventes do «Maria da Glória» voltaram todos a Lisboa no paquete «Niassa». Este episódio sangrento da história dos nossos bacalhoeiros foi registado por Alan Villiers no seu livro «A Campanha do Árgus».

«SIR GALAHAD»


Navio de transporte e de desembarque de tropas da 'Royal Navy' pertencente à classe 'Sir Lancelot'. Foi lançado à água (como outros navios da sua classe) em 1966. A sua guarnição normal era constituída por 18 oficiais e por 50 sargentos e praças. Participou activamente na guerra anglo-argentina de 1982 por causa da soberania das Falkland/Malvinas. O «Sir Galahad», cujo armamento se resumia a 2 peças de artilharia antiaérea de 40 mm, foi gravemente danificado e afundado -no dia 8 de Junho- pela aviação argentina. A não confundir com o navio do mesmo nome, construído após a destruição do seu homónimo, que foi vendido à armada brasileira e integrado nos seus efectivos em Maio de 2008 com o nome de «Garcia d'Ávila» e na qualidade de N.D.C.C. (Navio de Desembarque de Carros de Combate). Esse é, pois, um navio mais recente e de maiores dimensões.

«AKAGI»


Porta-aviões japonês da Segunda Guerra Mundial. Projectado como um couraçado de 40 000 toneladas de deslocamento, este navio acabou (devido a restrições impostas pelo Tratado de Washington, 1922) por ser aligeirado e transformado em porta-aviões. A sua pista e hangares eram capazes de acolher 60 aeronaves de vários modelos e valências. Curiosamente e ao contrário dos outros navios do seu tipo, o «Akagi» não possuía superestruturas de comando, nem chaminés que ultrapassassem o nível da pista de operações aéreas. Foi do «Akagi» que se coordenou e comandou o ataque-surpresa contra a base norte-americana de Pearl Harbour, que ocorreu a 7 de Dezembro de 1941. Este porta-aviões foi afundado, em 1942, por bombardeiros (de voo picado) da aeronaval dos Estados Unidos, aquando da grande batalha de Midway.