quinta-feira, 29 de outubro de 2009

«VIANA DO CASTELO»


Patrulha oceânico da Armada Portuguesa. Primeiro de uma série de 4 navios idênticos projectados e construídos (ou a construir) nos ENVC, Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Esta unidade, identificada pelo número de amura F 360, foi lançada à água em 24 de Julho de 2009. Desloca cerca de 1 750 toneladas e o seu casco apresenta as seguintes dimensões : 83,10 metros de comprimento, 12,95 metros de boca e 3,70 metros de calado. A velocidade máxima do «Viana do Castelo» e congéneres é (será) superior a 20 nós e o seu raio de acção é (será) da ordem das 5 000 milhas náuticas com a velocidade estabilizada a 15 nós. Accionados por 2 máquinas diesel e por 2 motores eléctricos, os navios deste tipo, vulgarmente chamados ‘patrulhões’ e particularmente vocacionados para actuar no Atlântico norte, têm por tarefa vigiar e proteger a nossa ZEE (Zona Económica Exclusiva), que é uma das mais extensas e mais ricas do mundo. A guarnição do «Viana do Castelo» é constituída por 35 homens (oficiais, sargentos e praças), mas o patrulha pode acolher, quando necessário, mais uma vintena de elementos. O F 360 tem uma pista de pouso para helicópteros, está armado com uma peça de artilharia de pequeno calibre (30 mm) e dispõe de duas embarcações semi-rígidas e de dois botes de borracha para efectuar as suas missões de fiscalização. Em caso de necessidade, o «Viana do Castelo» e similares podem cumprir tarefas de natureza militar mais acentuada, oferecendo, por exemplo, apoio humanitário aos cidadãos nacionais presentes em zonas de crise e proceder até à sua evacuação. Os outros navios desta classe (em construção ou projectados) são o «Figueira da Foz», o «Funchal» e o «Ria de Aveiro». Os dois projectados navios da classe 'Sines' -destinados ao combate à poluição marítima por hidrocarbonetos- derivam directamente destes navios.

sábado, 17 de outubro de 2009

«WILLIAM FAWCETT»


Foi um dos pioneiros da navegação a vapor em águas abertas. Construído num estaleiro de Liverpool, este navio misto (vapor/vela) de dois mastros foi lançado à água em 1829. Deslocava 206 tonéis e media 44,40 metros de comprimento. O seu engenho propulsor de 140 cv accionava duas rodas de palhetas laterais. O mastro de traquete envergava pano redondo e o grande arvorava uma vela de forma trapezoidal. Depois de ter assegurado carreiras entre Londres e vários outros portos britânicos, o «William Fawcett» foi utilizado, a partir de 1835, pela Peninsular and Oriental Steam Navigation Company (a famosa P. & O.) para assegurar o primeiro serviço (irregular) postal e de passageiros entre Falmouth, na Inglaterra, e a península Ibérica : Espanha e Portugal (Porto e Lisboa); que seria depois prolongada (em 1837) até Gibraltar. O nome do navio está ligado a um dos ilustres membros fundadores da sua casa armadora.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

«POTEMKINE»


Vaso de guerra da marinha imperial russa. Pertencia à frota do mar Negro. Era um couraçado da época pré-‘dreadnought’ e foi construído e equipado (entre 1898 e 1905) no arsenal Nikolaiev, de Odessa. Este navio deslocava 12 500 toneladas e media 115,30 m de comprimento por 22,30 m de boca. A sua propulsão era garantida por 22 caldeiras a vapor e dois hélices. A sua velocidade máxima era de 16 nós. O «Potemkine» estava razoavelmente bem blindado e dispunha de uma artilharia que contava com 4 canhões de 305 mm, 16 de 152 mm, 14 de 75 mm e 5 tubos lança-torpedos de 380 mm. A sua guarnição era constituída por 730 homens. Este navio é célebre por ter sido o palco de um motim dos seus marinheiros, fartos dos maus tratos infligidos pela oficialidade e da alimentação incomestível servida a bordo. A rebelião ocorreu no dia 27 de Junho de 1905, numa época em que os ventos da revolta já sopravam sobre o vasto império russo. Vários oficiais do couraçado foram mortos, incluindo o comandante Golikov, o imediato e o médico de bordo. A guarnição do «Potemkine» juntou-se aos grevistas de Odessa e foi, como eles, alvo da repressão do exército imperial. O navio e a sua guarnição acabaram, depois de muitas e confusas peripécias, por refugiar-se no porto romeno de Constanta, onde se renderam às autoridades locais. O navio foi devolvido à marinha czarista, mas a maior parte dos revoltados só regressaria à pátria em 1917, depois do triunfo da revolução bolchevique. Devido à sua conotação com a revolta dos marinheiros de 1905, o navio mudou várias vezes de nome, até ser desmantelado. O grande cineasta russo Serguei Einsenstein evocou (em 1925) a rebelião do mar Negro na sua famosa película «O Couraçado Potemkine», que é considerada (apesar das inexactidões de natureza histórica que contém) uma das obras-primas do cinéma soviético.

«SIMÓN BOLÍVAR»


Navio-escola da armada venezuelana. Foi construído em Espanha pelo estaleiro Celaya, de Erandio (país basco), e lançado à água no dia 21 de Novembro de 1979. Os seus três mastros estão aparelhados em barca. As suas principais missões consistem na formação dos futuros oficiais da armada bolivariana e na representação, sobretudo externa, do estado e do povo venezuelanos e dos seus valores. O «Simón Bolívar» desloca 1 248 toneladas e mede 82,40 metros de comprimento por 10,60 metros de boca. Além do seu velame, que perfaz 1 650 m2 de área, o navio está equipado com um motor auxiliar (diesel), que desenvolve 875 cv de potência. A sua tripulação normal é de 111 homens (oficiais, sargentos, praças e docentes), podendo receber, além desse efectivo, mais 84 cadetes. O «Simón Bolívar» -que tem como figura de proa o ‘Mascaron de la Libertad’, concebido e realizado pelo artista Manuel Felipe Rincón- já visitou dezenas de portos (nacionais e estrangeiros) no decorrer das suas viagens de instrução e/ou de cortesia.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

«REX»


Paquete italiano construído pelos estaleiros Ansaldo, de Génova Sestri, por encomenda da armadora Navigazione Generale Italiana. Foi lançado à água em Agosto de 1931 na presença dos reis de Itália, que o apadrinharam. Realizou a sua viagem inaugural a 27 de Setembro de 1932, já com as cores da recém-formada Italia Flotte Riunite, resultante da fusão da N.G.I. com as sociedades Lloyd Sabaudo e Cosulich. O «Rex» foi o maior paquete jamais construído no país e constituíu o orgulho do regime mussouliniano, que utilizou o seu nome e o seu prestígio (o navio chegou a conquistar a cobiçada Flâmula Azul) para fins de propaganda. O paquete manteve-se na linha Génova-Nova Iorque até à primavera de 1940, altura em que, por causa da guerra, foi requisitado pela ‘Regia Marina’ -a marinha militar italiana- que desejou transformá-lo em porta-aviões. Esse plano nunca chegou a concretizar-se e o «Rex» serviu no Mediterrâneo como transporte de tropas e como navio-hospital; chegando, por várias vezes, a efectuar a evacuação soldados italianos feridos da frente norte-africana. A 8 de Setembro de 1944, o paquete encontrava-se fundeado no mar Adriático, perto de Isola d’Istria (hoje Izola, na Eslovénia), quando foi detectado por aviões ‘Beaufigther’ britânicos, que o atacaram e atingiram com 123 projécteis. O navio ardeu durante quatro dias, antes de soçobrar. Depois da guerra, ainda se estudou a eventualidade de o emergir, mas depressa se chegou à conclusão de que essa operação não seria minimamente rentável. Assim, apenas se procedeu (entre 1947 e 1958) à recolha de alguns objectos do seu espólio. O «Rex» deslocava mais de 51 000 toneladas em plena carga e media 268 m de comprimento por 30 de boca. Os seus quatro grupos de turbinas conferiam-lhe um potência global de 120 000 cavalos, que lhe facultavam uma velocidade de cruzeiro da ordem dos 30 nós. Tinham uma tripulação composta por 870 pessoas e podia acolher 2022 passageiros distribuídos por quatro classes distintas. O «Rex» foi recordado numa cena do filme «Amarcord» pelo cineasta Federico Fellini, que quis transmitir o fascínio que o luxuoso paquete exerceu (e ainda exerce) no imaginário dos transalpinos.

domingo, 11 de outubro de 2009

«RICHELIEU»


Poderoso couraçado francês construído pelo arsenal de Brest e lançado à água em 1939. Deslocava 43 000 toneladas em plena carga e media 247,85 m de comprimento por 33 m de boca. Fortemente blindado e armado, o «Richelieu» dispunha da sua artilharia mais potente -8 canhões de 381 mm- concentrada à vante. 9 outros canhões de 152 mm, 12 peças AA de 100 mm, 8 de 37 mm, 56 de 40 mm, 48 de 20 mm e outras armas de menor calibre estavam distribuídas por todo o navio. Este couraçado tinha uma autonomia de 28 000 km (navegando a 15 nós) e a sua velocidade máxima atingia a marca impressionante de 30 nós. A sua guarnição elevava-se a 1670 homens. Pelo facto de ainda não estar totalmente terminado e também pela iminência da capitulação francesa diante do rápido avanço dos exércitos hitlerianos, o navio foi enviado para Dacar (na colónia do Senegal); onde foi alvo de um violentíssimo ataque da aeronaval britânica na noite de 7 para 8 de Julho de 1940, consequentemente a uma decisão conjunta de Churchill e de De Gaulle, que temiam que a frota gaulesa passasse, depois da derrota militar da França, a ser controlada pelos alemães. Em 1942 o couraçado «Richelieu» juntou-se às forças aliadas e tomou o caminho dos Estados Unidos, para ali ser reparado. Depois de trabalhos de beneficiação num estaleiro de Brooklyn, que duraram mais de um ano, o navio passou a deslocar 46 000 toneladas. Foi dirigido para o teatro de operações do Extremo-Oriente, onde operou até ao fim da guerra mundial ao lado da ‘Royal Navy’. Durante o conflito indochinês, o «Richelieu» chegou a ser o navio-almirante das forças francesas implicadas nesse conflito colonial. Em 1946, o navio regressou à metrópole, ao porto de guerra de Cherburgo, onde foi desactivado e transformado (entre 1959 e 1964) em navio-quartel. Acabou por ser vendido a um sucateiro italiano de La Spezia, que o desmantelou em 1968. O «Richelieu» era gémeo do «Jean Bart», cuja construção só foi dada por concluída em 1953.

«U-106»


Submarino alemão do tipo IX B. Deslocava 1 034 toneladas (1 405 t em imersão). Media, como todos os submersíveis da sua classe, 76,50 m de comprimento por 6,80 m de boca. Contava 48 homens de equipagem. O seu armamento era constituído por 6 tubos lança-torpedos de 533 mm, 1 canhão de 105 mm, 1 de 37 mm e 1 de 20 mm. Podia transportar um ‘stock’ de 22 torpedos ou várias dezenas de minas. Tinha uma autonomia de 22 200 km com a velocidade estabilizada a 10 nós. A profundidade operacional do «U-106» (que foi construído em 1940 nos estaleiros Deschimag, de Bremen) era de 100 m e a profundidade de ruptura de 200 m. Atribui-se a este submarino a destruição de 20 navios Aliados, durante uma carreira activa de 35 meses. O «U-106» foi afundado no dia 2 de Agosto de 1943 ao largo do cabo Ortegal (costa galega) por granadas submarinas lançadas por un hidro do Comando Costeiro britânico.

«ENDEAVOUR»


Construído no ano de 1764 em Whitby (Yorkshire), este rústico navio carvoeiro chamou-se inicialmente «Earl of Pembroke». Deslocava 366 tonéis e media 29,70 m de comprimento por 8,90 m de boca. Os seus três mastros arvoravam pano redondo. Adquirido pelo almirantado britânico para apoiar uma missão científica nos mares do Sul, o «Endeavour» zarpou de Plymouth a 25 de Agosto de 1768 sob o comando do jovem tenente de marinha James Cook. As ordens eram de escalar Tahiti (descoberta pelo navegador luso Pedro de Queirós em 1605/1606) e observar, dessa latitude, a passagem do planeta Vénus; e também de se inteirar da existência de um continente nessas paragens. Cook explorou as costas da Nova Zelândia e pôde certificar-se, durante essa sua primeira expedição, que essa terra era constituída por duas ilhas distintas. Pela mesma ocasião, James Cook visitou (e cartografou) o litoral este da Austrália, então praticamente desconhecido. O «Endeavour» regressou a Inglaterra no dia 12 de Julho de 1771, após um périplo de quase 3 anos pelos mares austrais. O navio ainda foi utilizado pela ‘Royal Navy’ em três viagens às ilhas Falkland, antes de ser vendido a particulares; que o reutilizaram no comércio do carvão. Comprado mais tarde por um armador francês, o navio terminou os seus dias como baleeiro.

«BOUNTY»


Navio inglês de finais do século XVIII, mundialmente conhecido por ter sido palco -no dia 28 de Abril de 1789- de uma rebelião contra o despótico capitão William Bligh. O «Bounty» não era própriamente uma unidade militar mas um HMAV (His Majesty’s Armed Vessel), quer dizer um navio auxiliar da marinha real britânica. Construído em 1787, era um veleiro praticamente novo quando, dois anos mais tarde, a sua equipagem (46 homens) recebeu ordens para demandar as ilhas Tahiti e ali proceder ao carregamento de plantas de ávores-de-pão destinadas a assegurar, num próximo futuro, a base alimentar dos escravos das plantações de açúcar caribenhas. Os problemas entre o capitão Bligh e a tripulação do «Bounty» (cujo nome significa ‘recompensa’) começaram logo no Atlântico, quando o comandante do navio quis substituir as rações alimentares do costume por abóboras (que rapidamente apodreceram) compradas aquando de uma escala nas Canárias. Os protestos (mais que justificados) foram sancionados com os castigos corporais da praxe, degradando-se as relações entre Bligh e os seus homens, dia após dia. Uma estadia prolongada no paradisíaco arquipélago de destino pareceu ter sanado o conflito e foi com a melhor das disposições que a tripulação empreendeu a viagem para as Antilhas. Mas o carácter irascível, brutal do capitão Bligh rapidamente se sobrepôs à boa vontade da marinhagem, que, com a cumplicidade de alguns oficiais, se amotinou e tomou o navio. Bligh e 17 homens, que não quiseram participar na rebelião, foram metidos à força numa chalupa e abandonados à sua sorte. Quase todos sobreviveram à aventura, graças às grandes capacidades náuticas de Bligh, que após 40 longos dias de atormentada navegação conseguiu chegar a Timor. E dali a Londres, onde apresentou queixa, no Almirantado, contra os insurrectos. Estes haviam-se refugiado nas ilhas (então pouco conhecidas de Pitcairn) e incendiado o navio. Alguns deles foram capturados anos mais tarde. Conduzidos a Inglaterra pela fragata HMS «Pandora», foram julgados em tribunal militar e quase todos eles condenados à morte e executados. Vários filmes reconstituiram os acontecimentos ocorridos a bordo do «Bounty». Os mais interessantes (ambos intitulados nas suas versões originais «Mutiny on the Bounty») são, porventura, os realizados por Frank Lloyd (em 1935) e por Lewis Milestone (em 1962). Ainda referentemente ao navio, refira-se que o «Bounty» deslocava 215 tonéis e media 27,70 metros de comprimento por 7,30 de boca. O seu aparelho vélico era sustentado por três mastros. O seu armamento era constituído por meia dúzia de pequenas peças de artilharia.

«VASCO DA GAMA»


Este navio da Armada Portuguesa, foi construído pelos estaleiros ingleses da firma Thames Iron Works & Ship Builders Cº (de Londres) entre 1876 e 1877. Durante os 60 anos que serviu na nossa marinha de guerra e em consequência das várias remodelações a que foi submetido (alongamento, substituição de armamento, etc), este vaso de guerra recebeu, sucessivamente, a classificação de corveta-couraçada, de couraçado e de cruzador-couraçado. Inicialmente armado com (entre outros) 2 canhões Krupp de 260 mm -as peças de maior calibre que alguma vez equiparam navios portugueses- o «Vasco da Gama» foi concebido como plataforma de artilharia móvel para assegurar a defesa de Lisboa, em complemento dos meios disponibilizados pelos fortes do campo entrincheirado da capital. Até 1901/1903, quando se modernizou, dispôs de três mastros e do respectivo aparelho vélico. Inteiramente blindado, o «Vasco da Gama» tinha dois redutos laterais (de forma octogonal), que lhe permitiam fazer fogo longitudinal. Sofreu os seus primeiros grandes trabalhos de transformação em La Spezia (Itália), regressando ao Tejo praticamente irreconhecível. Nessa sua nova configuração, o navio deslocava mais de 3 000 toneladas e media 76,10 m de comprimento fora a fora por 12,28 m de boca. A sua propulsão foi, a partir de então, assegurada exclusivamente por duas máquinas de tríplice expansão e cinco caldeiras. A velocidade máxima do «Vasco da Gama» rondava os 15 nós. A sua guarnição normal era de 260 oficiais, sargentos e praças. A missão mais notável deste navio foi -a partir de 1917- a de assegurar a escolta dos transportes de tropas que demandavam Brest (em França) e os portos das então colónias portuguesas de África. O «Vasco da Gama», que chegou a arvorar as insígnias de navio-almirante da Armada, foi abatido do serviço em 1936, quando a sua vetustez era notória.

«REAL»


Galé mediterrânica de meados do século XVI. Foi lançada à água no ano de 1568 pelas ‘Reales Atarazanas’ (tercenas reais) de Barcelona, que a construiram para a marinha de Espanha. Deslocava (vazia) 237 toneladas e podia receber 400 oficiais, marinheiros e soldados, além de 290 remeiros. Estes últimos eram, geralmente, cativos de guerra, que não haviam podido pagar o resgate exigido pela sua liberdade e/ou condenados de direito comum. A «Real» (que tinha dois mastros arvorando pano latino com uma área total de 691 m2) media 60 m de comprimento por 6,20 m de largura máxima. Estava armada com 9 bocas de fogo, disparando para vante, como era usual neste tipo de navios. Ostentava riquíssima decoração, com esculturas em talha dourada (sobretudo no castelo de popa) da autoria do artista Juan Bautista Vasquez. A «Real» foi o navio-almirante das forças navais espanholas que, sob a superior chefia de D. João de Áustria, derrotaram os Turcos na batalha de Lepanto (1571). Segundo a tradição, foi esta galé espanhola que afundou a «Sultana», capitânia da frota otomana. Uma magnífica réplica da «Real» foi construída em 1971 na Catalunha, para comemorar o 4º centenário da vitória da Santa Liga. Esse modelo (à escala 1/1) está patente ao público no Museu Marítimo de Barcelona.

«VICTORY»


Poderoso vaso de guerra britânico dos séculos XVIII e XIX, que é o símbolo -a par da figura de Horácio Nelson- do memorável triunfo da ‘Royal Navy’ em Trafalgar. Foi construído (durante 6 anos e segundo os planos de Thomas Slade, inspector da marinha ) no arsenal de Chatham (Kent), e lançado à água em 1765. Era um navio dito de 1ª classe, cuja artilharia contava mais de 100 peças. O «Victory» deslocava (em plena carga) 2 162 toneladas e o seu casco apresentava as dimensões seguintes : 56,70 m de comprimento por 18,80 m de boca. Estava equipado com três mastros, que arvoravam, essencialmente, pano redondo. A sua equipagem normal, que compreendia marujos e soldados da infantaria de marinha, ascendia aos 850 homens. A sua primeira zona de acção foi o canal da Mancha, onde operou durante três anos como navio-almirante de Augustus Keppel. Participou, com idêntica qualidade, no cerco de Gibraltar em 1782, sob o comando de lorde Howe. No fim da Guerra de Independência americana o navio foi desarmado, até que -em 1792- voltou ao serviço activo, no Mediterrâneo, sob as ordens sucessivas dos almirantes Hood e Jervis, que o utilizaram, com êxito, na guerra contra Espanha. Depois de ter sofrido importantes obras de restauro entre 1800 e 1803, o «Victory» passou a arvorar o pavilhão do almirante Horácio Nelson. A página mais gloriosa do historial do navio foi escrita no dia 21 de Outubro de 1805, quando, ao largo do cabo Trafalgar, o comandante-chefe da frota inglesa do Mediterrâneo infligiu uma derrota definitiva à esquadra hispano-francesa do almirante Pierre Charles de Villeneuve. Horácio Nelson -ferido gravemente a bordo do «Victory»- não sobreviveu ao confronto sangrento entre as duas forças navais mais poderosas do tempo. Depois da histórica batalha de Trafalgar, o navio ainda operou uns tempos no Báltico, até que, em 1815, foi retirado do serviço activo. Esta jóia da arquitectura naval britânica de inícios da segunda metade do século XVIII, está hoje exposta à admiração do público numa doca da cidade de Portsmouth, que lhe é exclusiva.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

«PÉREIRE»


Paquete francês de propulsão mista (vela/vapor), lançado à água em 1865 pelos estaleiros R. Napier & Sons, de Glásgua, por encomenda da Compagnie Générale Transatlantique. Construído em aço, o «Péreire» deslocava mais de 3 000 toneladas e media 106,75 m de comprimento por 13,26 m de boca. O seu sistema de propulsão compreendia uma máquina de 1 000 cv e três mastros aparelhados em barca. O navio podia, assim, navegar à velocidade de cruzeiro de 14,5 nós. Destinado ao serviço postal entre a França e a América do norte, o «Péreire» (que era gémeo do «Ville de Paris») assegurou a linha Havre-Nova Iorque durante muitos anos, até ser colocado pelo seu armador na rota (então menos prestigiosa) das Antilhas. O seu nome é o afrancesamento do apelido dos irmãos Émile e Isaac Pereira, portugueses de origem, que são considerados os ‘pais da França moderna’. Banqueiros, empresários e políticos (um deles chegou a ser ministro), fundaram a Compagnie Générale Transatlantique (a famosa Transat), os grandes estaleiros navais de Saint Nazaire, o Crédit Mobilier, a primeira linha férrea de França, a iluminação a gás da cidade de Paris, etc. O navio foi abatido do serviço em 1888, depois de um inoportuno encalhe na costa bretã. Vendido posteriormente ao armador norte-americano G.A. Hatfield, que o transformou em simples veleiro -com o nome de «Lancing»- o navio perfez 59 anos de vida. Foi desmantelado em Génova (Itália) no ano de 1925.

«JAIME I»


Terceiro e último couraçado da classe ‘España’. Foi construído nos estaleiros galegos da S.E.C.N. do Ferrol. Lançado à água em Setembro de 1914, só foi entregue à armada do país vizinho sete anos mais tarde, devido às dificuldades (por causa da guerra mundial) em obter a respectiva artilharia. Este navio deslocava 16 450 toneladas (em plena carga) e media 139,90 m de comprimento por 24 m de boca. Foi armado com 28 canhões de vários calibres (entre os quais figuravam dois AA de 47 mm) e com 2 metralhadoras. A sua velocidade máxima rondava os 20 nós. A sua tripulação normal era constituída por 850 homens. As primeiras missões do navio consistiram numa viagem a Constantinopla (hoje Istambul) em 1922, aquando da revolução chefiada por Mustafá Kemal; num cruzeiro a Itália, durante a qual serviu de escolta aos reis de Espanha e a Primo de Rivera; e no apoio ao desembarque de Alhucemas. No início da guerra civil, o «Jaime I», embora hasteasse bandeira da República, foi teatro de uma rebelião protagonizada pela marinhagem, que temia que os seus oficiais entregassem o navio aos franquistas. Em Julho e Agosto de 1936, o couraçado participou activamente nos bombardeamentos de La Línea, Ceuta e Algeciras. No dia 15 de Abril de 1937, encalhou em Punta Sabinal (perto de Málaga). Depois de ter conseguido safar-se dessa incómoda situação, o «Jaime I» dirigiu-se ao porto de Almeria para avaliar os estragos causados por esse incidente, mas acabou por ser bombardeado, ali, pela aviação nacionalista, que lhe causou danos importantes. Rebocado para o arsenal de Cartagena, onde deveria ser reparado, o couraçado foi vítima -em 17 de Junho de 1937- de uma violenta explosão interna, que o afundou e causou cerca de 300 mortos. Em 1941, já depois da vitória do general Franco, o navio foi emergido, para que se recuperassem os seus canhões, antes de se proceder ao desmantelamento da carcaça.

«SHOKAKU»


Porta-aviões da armada imperial japonesa, irmão gémeo do «Zuikaku». Foi construído nos estaleiros da sociedade Kawasaki, de Kobé, e lançado à água no dia 1 de Junho de 1939, poucos meses antes da entrada em guerra do Império do Sol Nascente contra os Estados Unidos da América. Deslocava 32 000 toneladas (em plena carga) e media 257,50 m de comprimento por 26 m de boca. O seu sistema propulsor desenvolvia uma potência de 160 000 cv e permitia ao navio atingir a velocidade máxima de 34,5 nós. O seu raio de acção podia estender-se até 9 700 milhas náuticas, com o navio a deslocar-se a uma velocidade mediana. O «Shokaku» estava armado com 16 canhões de 127 mm e com 70 peças AA de 25 mm. O seu efectivo aéreo era composto por 84 aviões de vários tipos. Tinha uma guarnição de 1 850 homens. O «Shokaku» participou em algumas das mais significativas operações de guerra ocorridas na zona Índico-Pacífico : ataque a Rabaul, apoio à invasão da Nova Guiné, batalha do Mar de Coral (durante a qual foi atingido gravemente pelos aviões do «Yorktown»), batalhas das Salomão orientais e de Santa Cruz. Depois de ter reparado as avarias infligidas por bombardeiros inimigos aquando deste último confronto com as forças inimigas, o «Shokaku» voltou ao combate, participando ainda em duas batalhas aeronavais importantes, ocorridas em 1944 : defesa das ilhas Marianas e operações do Mar das Filipinas. Foi no decorrer deste último combate -a 19 de Junho- que este porta-aviões japonês foi afundado por quatro torpedos disparados do submarino norte-americano «Cavalla». No desastre morreram 1 272 membros de equipagem do «Shokaku».

«LITTORIO»


Couraçado da ‘Regia Marina’. Foi construído pelos estaleiros navais Ansaldo, de Génova, e lançado à água em 1937. Deslocava 45 700 toneladas (em plena carga) e media 237 m de comprimento por 32,90 m de boca. O seu calado era de 10,50 m. O «Littorio» era irmão gémeo do «Vittorio Veneto» e do «Roma» e, como esses dois navios, podia alcançar a velocidade máxima de 31 nós, graças aos 130 000 cv de potência desenvolvida pelas suas turbinas. O seu raio de acção atingia 18 500 km com a velocidade estabilizada a 15 nós. Do armamento principal do «Littorio» constavam 9 peças de artilharia de 381 mm, montadas em três reparos triplos. O navio tinha uma guarnição de 1 800 homens. Na sua vida operacional podem salientar-se os seguintes episódios : a 11 de Novembro de 1940, durante a batalha de Tarento, foi atingido por três torpedos aéreos britânicos; participou na batalha de Sirtha (travada ao largo da costa líbia em 1941), afundando dois navios da armada real britânica, os contratorpedeiros «Havroc» e «Kingston»; em 1942 foi novamente atingido por um torpedo da aeronaval inglesa; depois da queda de Mussoulini (Setembro 1943) foi -já com o nome de «Itália»- neutralizado e enviado para o Grande Lago Amargo, no canal de Suez. Onde, após cinco anos de inactividade, foi desmantelado.

«AMISTAD»


Escuna de 23 m de comprimento, construída nos Estados Unidos com o nome inicial de «Friendship». Adquirida (em segunda mão) por um cidadão espanhol, recebeu o nome de «Amistad» (amizade), com o qual o navio se celebrizou, depois do seu proprietário ter sido implicado -em 1839- num famoso processo judicial por tráfico de escravos. O processo ficou na história, pelo facto dos escravos se terem revoltado e morto vários europeus da equipagem do veleiro; e também por terem sido defendidos (com sucesso) pelo advogado John Q. Adams, antigo presidente dos Estados Unidos da América. Este caso estava praticamente esquecido, quando, em 1997, Steven Spielberg pegou no tema para produzir e realizar a comovedora película «Amistad». Uma réplica do navio foi construída pelos estaleiros Thompson Enterprise, de Key West, sob a responsabilidade do arquitecto naval H. Elroy Arch. O seu porto de abrigo é o de New Haven, no estado norte-americano do Connecticut.

«SANTO ANDRÉ»


Bacalhoeiro de arrasto lateral, construído num estaleiro naval de Deest (Países Baixos) em 1948. Chegou ao porto de Aveiro -onde foi registado- em 1949 e participou, logo nesse ano, na sua primeira campanha de pesca longínqua (à Terra Nova), sob o mando do capitão ilhavense José Pereira Bela. Manteve-se no activo quase 50 anos, pescando nas zonas bacalhoeiras tradicionais, mas também outras espécies no mar de Angola. O «Santo André», que dispõe de uma máquina de 1 700 cv e cujo casco foi construído em aço, mede 71,40 metros de comprimento por 11 metros de boca. O seu calado é de 6 metros em plena carga. Além de instalações de salga, o navio tinha capacidades de congelação do pescado. Os seus porões podiam acomodar 20 000 quintais de peixe. Fez a sua derradeira viagem à Noruega em 1997, altura em que era seu capitão Manuel Silva Santos e que o seu armador era a casa António do Lago Cerqueira Lda.. Pertence actualmente à Câmara Municipal de Ílhavo, que, com a colaboração do Museu Marítimo local, assegura a sua manutenção e valorização enquanto espaço museológico, aberto ao público. Isso «para não deixar morrer a memória da pesca do bacalhau nos mares do norte». Encontra-se actualmente na ria de Aveiro, junto ao cais 10 do porto de pesca da Gafanha da Nazaré.