domingo, 31 de maio de 2015

«WAPEN VAN HOORN»

....... Navio da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais. Foi construído, em 1619, num estaleiro naval da cidade de Hoorn (berço de grandes marinheiros), por encomenda do Senado dessa cidade do norte da Holanda. Segundo fontes consideradas fidedignas, era um navio do tipo filibote, com um deslocamento de 400/600 toneladas. As suas dimensões seriam estas : 47,70 metros de comprimento por 11 metros de boca. No seu historial constam três viagens aos mares do Oriente. A primeira delas ocorreu entre 1619 e 1621 e levou o «Wapen van Hoorn» -sob o comando do capitão Roelof Pletersz- do porto de Texel até Batávia (a actual Jacarta), com passagem pelo cabo da Boa Esperança. A segunda viagem também se iniciou em Texel (em Dezembro de 1621) e também visitou a África austral. Ia terminando desastrosamente em Shark Bay (na costa ocidental da Austrália), onde o navio encalhou em Junho de 1622, após ter afrontado uma violenta ventania. A equipagem conseguiu safar o navio e regressar à Europa em meados de 1626, depois de ter feito uma escala comercial na Insulíndia. A terceira viagem começou, uma vez mais, em Texel, a 19 de Fevereiro de 1627, sob o comando de David Pieterszoon de Vries. O navio também dobrou o cabo descoberto por Bartolomeu Dias em 1488, tomando depois o rumo das costas australianas onde encalhara aquando da sua precedente e acidentada jornada. O cartógrafo de bordo aproveitou a visita a Shark Bay para reactualizar as cartas existentes desse lugar. Parece não ter regressado dessa viagem, mantendo-se no Oriente ao serviço do seu armador e das Províncias Unidas. Este navio tinha uma tripulação de 200 homens e encontrava-se armado. Diz-se que se perdeu, por naufrágio, em 1636. Curiosidade : o navio que ilustra este texto não representa o «Wapen van Hoorn», mas, isso sim, uma embarcação do seu tempo e do seu tipo.

«S. P. BLACKBURN»

Escuna de 4 mastros, com casco em madeira. Foi lançada ao mar em 1896 pelo estaleiro da empresa Morse Shipyard de Bath, no Maine. Hasteava bandeira do Estados Unidos da América e pertencia à frota da casa armadora Percy & Small. Destinada ao transporte de carga geral, levava um carregamento de carvão de Baltimore para Galveston, no Texas, quando -no dia 28 de Janeiro de 1913- foi abandonada por 9 dos 11 membros da sua tripulação. Isso, na sequência de uma tremenda tempestade que desarvorou o navio. Os dois homens que permaneceram a bordo (ao que parece, por não saberem nadar) nunca mais foram vistos, tendo os outros sido resgatados e sobrevivido, graças à intervenção atempada do vapor britânico «Tiverton». A última observação da escuna «S. P. Blackburn», à deriva, foi feita de um navio que a cruzou no dia 1º de Fevereiro. Depois dessa data perdeu-se o seu rasto, presumindo-se, obviamente, que tenha naufragado. Pouca coisa se sabe sobre as dimensões do navio em questão, a não ser o que se pode observar numa bonita tela do artista Fred Pansing (intitulada «Schooner S. P. Blackburn on High Seas»), que se anexou a este texto.

sábado, 30 de maio de 2015

«TAINUI»

Navio misto (passageiros e carga) de bandeira britânica. Foi construído em 1908, em Belfast, no estaleiro naval da firma Workman Clark & Cº, para a Shaw Savill Line, sedeada em Londres. Foi concebido para assegurar a carreira Inglaterra-Nova Zelândia, pela rota do cabo da Boa Esperança, com escalas na África do Sul e na Austrália. Mas também navegou, episodicamente e por conveniência da sua casa armadora, para a América do Sul. Transportou inúmeros passageiros (sobretudo emigrantes) para os antípodas e teve papel preponderante nas trocas comerciais entre o Reino Unido e os principais 'dominions' da Oceânia. O «Tainui» (segundo navio com esse nome registado na Grã-Bretanha) foi alvo -a 8 de Abril de 1918- dos ataques de um submarino germânico, o «U-82», que o torpedeou a 60 milhas do arquipélago das Scilly, ao largo das costas da Cornualha. Prontamente socorrido, foi levado para Falmouth, onde se procedeu à sua recuperação. Voltou à sua actividade normal, logo depois de consumada a derrota dos Impérios Centrais. Até que, em 1939, com a eclosão do novo conflito generalizado, o navio foi requisitado pelo Ministério da Guerra britânico. E, com o novo nome de «Empire Trader», passou a integrar aqueles comboios de navios que asseguraram a sobrevivência do Reino Unido. Mas, no dia 21 de Fevereiro de 1943, o antigo «Tainu» -que se encontrava armado, com várias peças de artilharia servidas por 16 artilheiros da 'Royal Navy'- foi surpreendido a norte dos Açores pelo «U-92» e torpedeado sem remissão. O velho paquete ainda pôde manter-se à tona de água durante umas boas horas, até que, na iminência de soçobro, a sua guarnição recebeu ordens para o abandonar. O «Empire Trader» acabou por afundar-se no dia 22, perante o olhar resignado dos seus marinheiros e outro pessoal de bordo. Quando (em 1908) o «Tainui» saíu do estaleiro que o construiu, apresentava as seguintes características : 9 970 toneladas de arqueação bruta, 145,70 metros de comprimento por 18,60 metros de boca por 9,40 metros de calado. Estava equipado com 2 máquinas a vapor de tripla expansão, desenvolvendo 1 080 nhp, força que lhe proporcionava uma velocidade de cruzeiro de 14 nós. Curiosidade : o primitivo nome deste navio era o de uma tribo Maori, da Nova Zelândia.

«INCORRUPTIBLE»

Fragata francesa de finais do século XVIII. Este navio, que pertenceu à classe 'Romaine' (que compreendeu 9 navios), foi construído (em 1795) num estaleiro naval de Dieppe, no norte da Normandia. Projectada por Pierre-Alexandre Forfait, a fragata «Incorruptível» deslocava 700 toneladas e media 45,50 metros de comprimento por 11,80 metros de boca. O seu calado era de 5 metros. O seu armamento era constituído por 40 canhões de calibres distintos. Teve vida agitada, já que, do seu historial, se destacam as seguintes acções de guerra : a 15 de Julho de 1796 (durante o conflito anglo-francês), sustentou um combate indeciso com o HMS «Glatton», de 56 canhões». Em 1800, estava esta fragata em Dunquerque, quando esse porto fortificado do mar da Mancha foi alvo de um ousado raide da 'Royal Navy', que ali incendiou (com a ajuda de brulotes) vários navios napoleónicos. A fragata «Incorruptible» foi um dos navios que sofreu avarias, mas que pôde ser reparado. Em 1805, operando no Mediterrâneo, atacou (com a ajuda da sua congénere «Hortense») vários comboios de navios mercantes britânicos e respectivas escoltas, afundando 7 transportes civis, capturando 3 outros e destruindo, ao mesmo tempo, os HMS «Arrow» e HMS «Acheron». E, finalmente, em Maio de 1807, esteve envolvido -ao largo da ilha Cabrera- num combate (que reuniu outros navios de bandeira francesa) contra o HMS «Spartan». A fragata «Incorruptible foi desclassificada em 1814 e posteriormente desmantelada. Curiosidade : os outros 8 navios da classe 'Romaine' chamaram-se «Immortalité», «Impantiente», «Revanche» (este também construído em Dieppe), «Libre», «Comète», «Désirée», «Poursuivante» e «Romaine».

sexta-feira, 29 de maio de 2015

«VLADIMIR MONOMAKH»

Submarino de propulsão nuclear da marinha de guerra russa. Pertence à 4ª geração de submersíveis armados com mísseis balísticos de longo alcance. Faz parte do 'Projecto 995', que lançou a construção de 8 unidades deste tipo (classe 'Borei'), que irão substituir progressivamente, os submarinos 'Delta III', 'Delta IV' e 'Typhon'. Três deles já se encontram em serviço operacional (entre os quais está o «Vladimir Monomack»), três outros navios devem integrar os efectivos da armada russa ainda em 2015 e os dois restantes estarão disponíveis (segundo notícias estimadas fidedignas) nos anos que se seguem. A unidade em apreço foi construída nos estaleiros navais da companhia Sevmash, de Severodvinsk; que é a grande especialista russa deste tipo de engenhos. O «Vladimir Monomakh» foi lançado à água a 30 de Dezembro de 2012, fez os seus primeiros testes de mar em Setembro de 2013 e procedeu ao lançamento de um primeiro míssil 'Bulava' (que tem um alcance de 8 000 km) no dia 09/09/2014. Dez dias mais tarde, este submarino integrou, oficialmente, os efectivos da armada russa. Desloca 10 720 toneladas quando navega à superfície (24 000 em imersão), mede 170 metros de comprimento por 13,50 metros de boca e o seu calado médio é de 10 metros. A sua propulsão e autonomia (praticamente ilimitada) são asseguradas por um reactor atómico do tipo OK-650B e por 1 hélice. Pode navegar à velocidade máxima de 25 nós e evoluir em profundidades da ordem dos 450 metros. No que respeita o seu armamento, são de destacar 16 mísseis balísticos 'Bulava', 6 mísseis de cruzeiro SS-N-15 e tubos lança-torpedos de 533 mm. A guarnição do «Vladimir Monomakh» é composta por 107/130 homens.

terça-feira, 19 de maio de 2015

«EL GOLÉA»

Paquete francês -com 4 840 toneladas de arqueação bruta- que navegou com as cores da C. N. M. (Compagnie de Navigation Mixte) durante dois curtos anos. O «El Goléa» (primeiro navio da chamada série dos 'El') foi construído nos estaleiros F. C. M., de La Seyne, que o lançaram ao mar no dia 28 de Fevereiro de 1929. Era um paquete com 102 metros de comprimento por 15 metros de boca, que dispunha de um sistema propulsivo (2 turbinas e 2 hélices) capaz de desenvolver uma potência de 7 000 cv e de proporcional ao navio uma velocidade de cruzeiro de 19 nós. Destinado à carreira Port Vendres-Argel/Oran, o «El Goléa» (assim como os outros paquetes desta carreira regular) estava ligado a Paris por caminho-de-ferro, graças a uma estação marítimo-ferroviária construída também ela em 1929. Havia a bordo, à disposição dos utentes, cabines para 336 passageiros, para além de um confortável salão colectivo. Durante dois anos inteiros o «El Goléa» navegou sem incidentes e com grande agrado de todos aqueles que, episódica ou frequentemente, utilizavam os seus serviços. Mas a sua vida foi curta, já que no dia 25 de Maio de 1931 (uma segunda-feira de Pentecostes), na sequência de um nevoeiro intenso, o navio foi encalhar nuns rochedos próximos do cabo Freu, na ilha de Maiorca. Atempadamente contactadas e informadas da situação, as autoridades francesas da Argélia rapidamente fizeram chegar socorros ao lugar do acidente. Assim, todos os tripulantes e passageiros (362) do navio sinistrado puderam ser transferidos para o paquete «Djemila», do mesmo armador, e levados são e salvos para Oran. O navio encalhado, esgotadas que foram todas as possibilidades de o safar, acabou por ser reconhecido perda total. Em 15 de Junho desse mesmo ano, na sequência de uma forte tempestade, o navio partiu-se em dois. E, pouco tempo depois, foi tomada a decisão de o desmantelar 'in situ'.

«STARK»

Esta fragata da armada dos Estados Unidos pertencia à classe 'Oliver Hazard Perry', tendo sido o 25º navio desse tipo a sair dos estaleiros navais norte-americanos. O «Stark» foi construído em Seattle, pela firma Todd Pacific Shipyard. Foi incorporado nas forças navais do seu país no dia 23 de Outubro de 1982. Deslocava 4 200 toneladas em plena carga e media 136 metros de comprimento por 14 metros de boca. O seu calado era de 6,70 metros. A propulsão do «Stark» era garantida por um duplo conjunto de turbinas a gás, que desenvolviam uma potência global de 41 000 shp. Força que proporcionava a este navio uma velocidade máxima rondando os 30 nós. Estava equipado com moderno equipamento electrónico de ajuda à navegação e de processamento de tiro e armado com 1 canhão de 76 mm, 4 armas AA de calibre 12,7, 6 tubos lança-torpedos de 324 mm e com 1 bateria de lançamento de mísseis anti-navios 'Harpoon'. Dispunha ainda do préstimo de 2 helicópteros SH-60. A sua guarnição era formada por 205 homens e por uma equipa de 6 pilotos (dos hélis) mais 15 especialistas da manutenção dos ditos aparelhos. A notoriedade do «Stark» provém do facto de -no dia 17 de Maio de 1987, em plena guerra Irão-Iraque- ter sido alvejado com dois mísseis 'Exocet', disparados por um Mirage F-1 iraquiano. A agressão custou aos americanos 37 mortos e 21 feridos, para além de importantes desgastes no seu navio. Os árabes pretenderam tratar-se de um erro, provocado pelo facto do «Stark» (que navegava ao largo das costas sauditas, próximas da zona de guerra) ter sido confundido com uma unidade naval do inimigo. Do lado norte-americano houve sanções tomadas contra alguns oficiais do navio. O «Stark», após uma ligeira reparação no Bahrein, regressou, pelos seus próprios meios, à sua base na Florida (Mayport), onde foi submetido a grandes trabalhos de restauro. Esta fragata ainda serviu, até 1998, no Atlântico e em água do Próximo Oriente, onde cumpriu várias missões. Foi mandada para a sucata em finais do século e desmantelada, num estaleiro especializado de Filadélfia, nos anos 2005-2006.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

«REI DE PORTUGAL»

Paquete português de propulsão mista (velas/vapor). Foi construído, em 1889, nos estaleiros escoceses da empresa Scott & Company, de Greenock. Era um navio com 3 236 toneladas de arqueação bruta e com as seguintes dimensões : 110,80 metros de comprimento; 12,86 metros de boca; e com um pontal de 7,70 metros. O «Rei de Portugal» estava equipado com 1 máquina a vapor, que desenvolvia uma potência de 843 nhp; força que lhe proporcionava uma velocidade máxima de 14 nós. Pertencente à frota da Mala Real Portuguesa (empresa fundada em 1888) , este navio operou exclusivamente -a partir de 1898- na linha do Brasil, assim como dois dos seus gémeos, o «Malange» e o «Moçambique». Essa carreira (utilizada por milhares de emigrantes lusos, que fixaram residência em terras de Vera Cruz) iniciava-se no porto de Leixões e tinha o seu término em Santos, depois dos paquetes terem feito escalas em Lisboa, no Funchal e no Rio de Janeiro. Após a liquidação da Mala Real (em 1902), que perdeu dinheiro com a exploração dessa linha da América do Sul, os navios supracitados foram vendidos. O «Rei de Portugal» foi cedido à Prince Line, de Londres, que lhe deu o nome de «Napolitan Prince» e o conservou nove anos sob a sua bandeira. Em 1911, o ex-«Rei de Portugal» foi vendido a uma armadora francesa -a Compagnie de Navigation Mixte- que o apelidou «Manouba». E que o guardou até ao ano da sua demolição em Itália, ocorrida em 1929. Curiosidade : a foto aqui anexada data da fase final da vida do navio, quando este já navegava sob pavilhão gaulês.

«BRASIL»

Corveta couraçada da armada brasileira. Foi construída em França pela Société Nouvelle des Forges et Chantiers de la Méditerranée (La Seyne) e lançada ao mar no dia 23 de Dezembro de 1864. Era um navio com 1 518 toneladas de deslocamento e com as seguintes dimensões : 63,41 metros de longitude por 10,75 metros de boca. Era de propulsão mista (vela/vapor) e estava equipada com 3 mastros, desfraldando pano redondo e áurico, e com 1 máquina de 250 cv de potência acoplada a 1 hélice de quatro pás. A sua velocidade máxima era de 10,5 nós. O seu armamento era constituído por 4 canhões de carregamento frontal e 5 outros de alma lisa e de calibres diferentes. Este navio (que entrou ao serviço em 1865) foi adquirido por subscrição pública, na sequência de um conflito diplomático (a 'Questão Christie') entre o Brasil e a Inglaterra. Na sua viagem para o Brasil, este navio fez escalas técnicas na ilha da Madeira e em Cabo Verde. Incorporado na esquadra, esta corveta-couraçada participou activamente na Guerra do Paraguai (que decorreu entre 1864 e 1870), tendo-se ilustrado em várias ocasiões. Digna de registo foi a sua acção no bombardeamento da fortaleza de Itapiru e no resgate da canhoneira «Magé», que se fez sob intenso fogo de baterias inimigas. Depois de algum tempo passado no arsenal do Rio de Janeiro, onde foi reparada, a corveta-couraçada «Brasil» voltou aos combates, distinguindo-se na ajuda aos couraçados «Lima Barreto» e «Cabral» (2 de Março de 1868), que haviam sido tomados de assalto por forças paraguaias. Depois participou no bombardeamento de Humaitá, nos combates de Lagoa Verá, na passagem de Timbó e nos do Passo de Angostura. Terminado o conflito, este navio manteve-se no activo até 1879, ano em que foi desclassificado e posteriormente desmantelado.

domingo, 17 de maio de 2015

«PATRIARCH»

Este veleiro dos séculos XIX e XX (uma galera de 3 mastros com casco de aço) foi construído, em 1869, nos estaleiros da firma Walter Wood, de Aberdeen. Pertenceu à frota da Aberdeen White Star, casa armadora também ela com sede nesse porto escocês. Foi concebido para o comércio da lã com a Austrália. Mas dispunha de alojamentos para 40 passageiros. Este elegante navio apresentava 1 405 toneladas de arqueação bruta e media 68 metros de comprimento por 11,60 metros de boca. O seu calado era de 6,70 metros. A sua viagem inaugural terminou em Sidney no dia 10 de Fevereiro de 1870, depois de 74 dias de navegação pela rota do cabo Horn. Era um veleiro extremamente veloz, tendo chegado a vencer o seu famoso concorrente «Cutty Sark» com um avanço de três dias de vantagem na mesma rota. Em fins do século XIX, passou a diversificar os seus portos de destino e a carregar outras produtos, como, por exemplo, carvão. Em finais de 1898, foi vendido ao armador norueguês G. T. Mousen, de Stavenger por 3 150 libras. Passou, então, a frequentar rotas africanas e americanas, com mercadorias diversas e típicas desses destinos. Até que, no dia 23 de Fevereiro de 1912, após mais de 40 anos de úteis serviços, o «Patriarh» encalhou nuns recifes da baía de Corrientes, em Cuba, e se perdeu totalmente, mas sem morte de marinheiros.

«GROS VENTRE»

Navio militar francês do século XVIII. Foi construído, em 1767, no estaleiro de Léon Guignace, de Baiona. Era uma gabarra de alto mar (a não confundir com a sua homónima fluvial, de fundo chato) de 3 mastros, deslocando 350 tonéis e medindo 36,50 metros de comprimento. Foi, inicialmente, armada com 24 bocas de fogo de vários calibres. Uma das missões que se lhe conhecem, foi a de ter assegurado o transporte de tropas de França para a Reunião; onde chegou, pela primeira vez, em 1770. Foi aliás nessa ilha do oceano Índico, que este navio (então com o seu armamento reduzido a 16 canhões) foi requisitado por Yves Joseph de Kerguelen de Trémarec, para participar -por vontade do rei de França- numa viagem às terras e mares austrais. A expedição partiu, pois, dessa ilha em inícios de 1772, com o «Gros Ventre» e com um outro navio de nome «Fortune», no qual se instalou o chefe da missão. Ainda nesse ano, a frota de Kerguelen atingiu o arquipélago que mais tarde receberia (curiosamente por iniciativa de James Cook) o seu nome. Foi uma chalupa de «Gros Ventre» que desembarcou, nessas longínquas e desoladas paragens, os primeiros europeus que ali pisaram terra. Desgarrado por uma tempestade, o «Gros Ventre» foi dado como perdido pelo chefe da expedição, que voltou precipitadamente à Europa. O capitão do navio supostamente naufragado -o oficial Louis Aléno de Saint-Alouarn- prosseguiu viagem. Visitou as costas ocidentais da Austrália (ilha-continente que era, então, pouco conhecida, mas que já, há muito, figurava nos mapas com o nome de Nova Holanda), Timor e Batávia. Depois tomou o rumo de Port Louis (Maurícia) e, finalmente, da Reunião, ponto de partida. Onde fez sensação, visto todos o considerarem perdido. Saint-Alouarn acabou, no entanto, por não tirar o mínimo proveito da sua memorável jornada, pois veio a faleceu nessa ilha -doente e desgastado pela dureza da viagem- no dia 27 de Outubro de 1872. Quanto ao navio em apreço, também por lá ficou... Depois de ter sido utilizado em tarefas subalternas, foi desmantelado em 1777.

«WARD»

Este navio -activo nos dois conflitos mundiais- usou o nome do comandante James H. Ward, que foi o primeiro oficial da armada dos Estados Unidos da América a morrer (em 1861) nos combates da Guerra de Secessão. Era um contratorpedeiro da classe 'Wickes', que se tornou famoso (entre outras coisas) pelo facto de ter sido construído no curto espaço de 17 dias ! O que constituiu um recorde absoluto para um navio da sua categoria. A proeza foi cometida pelo pessoal (técnicos e operários) da firma californiana Mare Island Navy Yard, que o lançou à água no dia 1º de Janeiro de 1918. Este navio, que usava o indicativo de amura DD-139, começou por cumprir missões de patrulhamento na costa do Pacífico, tendo, posteriormente, cruzado o canal do Panamá, transferindo-se para o Atlântico; onde, em 1919, deu apoio (sobretudo como auxiliar de navegação) aos hidros da 'USS Navy' NC-1, NC-3 E NC-4 nos seus raides intercontinentaiss. Em 1921 foi desclassificado. Mas, nos anos 30, com as ameaças de nova guerra, entrou, uma vez mais, ao serviço. No fatídico dia 7 de Dezembro de 1941, o «Ward» estava destacado na base de Pearl Harbour. Às 6 h 37, foi assinalada a presença de um submarino não-identificado nas proximidade da base naval. Detectado, este foi prontamente atacado pelo «Ward», que reivindicou a sua destruição. Os disparos feitos pela tripulação deste 'destroyer' americano foram, assim, os primeiros tiros a serem efectuados durante a chamada guerra do Pacífico. Contestado durante muitos anos, este episódio teve a sua confirmação em Agosto de 2002, quando uma equipa de mergulhadores-pesquisadores da Universidade do Hawai visitou a zona de combate registada pelo «Ward» e dali reemergiu um submarino de bolso nipónico da classe 'Ko-hyoteki'. O «Ward» participou em vários outros combates ocorridos na zona do Pacífico, nomeadamente nas ilhas Salomão e Filipinas. Foi afundado em 7 de Dezembro de 1944 (exactamente 3 anos depois do seu primeiro combate vitorioso) por um 'kamikase', ao largo de Ormoc Bay (Filipinas). O navio em apreço deslocava (aquando da sua primeira entrada em serviço) 1 247 toneladas e media 95,81 metros de comprimento por 9,42 metros de boca. Navegava (à velocidade máxima de 35 nós), graças à utilização de 2 poderosas turbinas a vapor e de 2 hélices. Do seu armamento principal constavam 4 canhões de 100 mm, 2 peças AA de 76 mm e 12 tubos lança-torpedos de 530 mm. A sua guarnição era composta por 231 homens.

domingo, 10 de maio de 2015

«PAULISTA»

..... Este 'clipper' foi construído, na década de 70 do século XIX, nos estaleiros da empresa Chantiers Augustin Norman, do Havre (França). Pertenceu à frota da Union de Chargeurs, um consórcio de armadores que chegou a reunir 40 grandes veleiros sob a sua bandeira. O «Paulista» era um navio com 611 toneladas de arqueação bruta, medindo 54 metros de comprimento por 9,80 metros de boca. O seu calado era de 4,25 metros. Especializado no transporte de café, destinado aos torrefactores da chamada 'Cidade da Porta Oceânica', o «Paulista» fazia rotações transatlânticas entre o Havre e os portos do Brasil. País de onde trazia -sobretudo do Rio de Janeiro- 450 toneladas desse produto (ou seja 7 500 sacos de 60 kg cada um) a cada uma das suas viagens. O «Paulista» era uma galera de 3 mastros, que envergava 1 260 m2 de velas e que podia atingir (quando navegava com todo o pano e com ventos favoráveis) pontas de velocidade da ordem dos 15 nós. Muito conhecido no Brasil, formava com os seus irmãos gémeos («Carioca», «Commerce-de-Paris», «France-et-Chili» e «Pétropolis») uma frota a que chamavam as 'Andorinhas do Rio'. Não conseguimos apurar quando e em que circunstâncias o «Paulista» interrompeu a sua actividade. Curiosidade : a aguarela que acompanha este texto é da autoria do artista Marin-Marie e figura na capa do excelente livro «Clippers Français», editado em 1993. 

«COMMANDANT QUÉRÉ»

Paquete encomendado (no imediato pós-guerra) em Inglaterra pelo governo francês, para reforçar a frota da Compagnie de Navigation Fraissinet, de Marselha. Mas quando o «Commandant Quéré» foi dado por terminado, em 1948, e a carreira da Córsega foi concessionada à TRANSAT, este navio passou a usar as cores desta conhecida companhia. Cores que conservou até 1967, ano em que foi retirado do activo e desmantelado num estaleiro italiano. O «Commandant Quéré» foi construído pela firma de John Thornycroft, de Southampton. Era um navio com 4 478 toneladas de arqueação bruta, que media 105,23 metros de comprimento por 15,24 metros de boca. Estava equipado com 2 grupos de turbinas a vapor de tripla redução, com uma potência global de 3 500 cv de potência. A sua velocidade de cruzeiro era de 16 nós. Este navio -que foi o último paquete clássico a ser usado nas linhas da Córsega- assegurou, essencialmente, o transporte de passageiros e carga geral entre Nice e Ajaccio, mas, em 1962, também foi utilizado no repatriamento de soldados que abandonavam o território da Argélia, em vésperas da sua independência, e na evacuação de milhares de retornados. Em 1967 foi restituído ao Estado, ao qual nunca deixou de pertencer. Nesse mesmo ano, foi encaminhado para Itália, onde um estaleiro especializado em demolições o desfez. Curiosidade : o nome deste paquete era o de um comandante da marinha mercante francesa, que, em 1943, pereceu, no mar Mediterrâneo, no afundamento do seu navio (o «General Bonaparte») por um submarino da 'Royal Navy'.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

«AZEMMOUR»

Este paquete francês de médio porte foi construído em 1949 pela empresa Ateliers e Chantiers de Bretagne, em Nantes. O «Azemmour» foi realizado por encomenda da Compagnie de Navigation Paquet (de Marselha) para as suas carreiras com o norte e África, muito especialmente com a Argélia. A sua viagem inaugural fez-se (em Agosto de 1950) sob a forma de um cruzeiro, que levou turistas de Marselha a Casablanca, via Port Vendres e Tânger. Com grande capacidade de carga (4 447 m3), este navio estava preparado para poder transportar 6 000 ovinos vivos em cada uma das suas viagens para o Magrebe. Era um navio com uma arqueação bruta de 3 921 toneladas, com 113,60 metros de comprimento por 15 metros de boca. Na sua versão inicial, este navio dispunha de camarotes com capacidade e condições para receber 260 passageiros. As suas máquinas dispunham de uma potência combinada de 3 500 kW, força que lhe garantia uma velocidade de 17 nós.  A partir de 1958, com a cada vez mais forte reivindicação da independência pelo FLN, o «Azemmour» fez várias viagens para a Argélia com militares do contingente. E, em 1962, com a aproximação da dita autonomia política dos argelinos, o «Azemmour» foi adaptado ao transporte de retornados e de soldados feridos. Depois desses episódios dolorosos, o navio foi profundamente transformado e passou para a indústria do turismo, fazendo vários cruzeiros às Canária, ao Senegal e a Marrocos. Na década de 70 foi cedido a armadores gregos, que o baptizaram, sucessivamente, «Delos» e «Bella Maria». Depois foi vendido para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde (em 1883) o navio tomou o seu quarto nome : Khaled I». Em 1985, o ex-«Azemmour» já estava de regresso ao Mediterrâneo e à Grécia, onde voltou a ser registado com um dos seus antigos nomes : «Bella Maria». Foi com esse derradeiro designativo, que o navio encalhou desastrosamente -em Abril de 1987- nas ilhas helénicas de Salamis. Considerado irrecuperável pelos peritos, o antigo «Azemmour» foi desmantelado 'in situ' no ano seguinte. Curiosidade : o seu nome fazia referência à cidade de Azamor, antiga praça da costa atlântica de Marrocos que os portugueses chegaram a ocupar dos finais do século XV até 1541; ano em que de lá saíram por determinação d'el rei D. João III, que não acreditou na viabilidade da manutenção dessa praça.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

«BAGÉ»

Navio de transporte misto (passageiros/carga) pertencente à Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro. Com 8 235 toneladas de arqueação bruta, o «Bagé» media 133,90 metros de comprimento por 17,10 metros de boca. Foi construído em 1913 os estaleiros Vulcan AG de Stettin (hoje Szczecin, na Polónia) para a Norddeutsch Loyd, de Bremen, companhia que lhe deu o seu primitivo nome de «Sierra Nevada» e o utilizou na linha Bremen-Buenos Aires, com escalas regulares nos portos de Lisboa, Rio de Janeiro e Montevideu. A sua propulsão era assegurada por 1 máquina a vapor de tripla expansão, com uma potência nominal de 600 cv, que lhe autorizava uma velocidade de cruzeiro de 13 nós. Em 1914, quando rebentou a Grande Guerra, este navio refugiou-se no porto do Recife, por temer encontros fatais com unidades das marinhas de guerra aliadas que cruzavam o Atlântico. E ali permaneceu até 1917, ano em que foi apresado pelas autoridades locais, na sequência do rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha. Passou desde logo a servir o Estado, que o registou no Rio de Janeiro e lhe chamou «Bagé», em homenagem à cidade gaúcha do mesmo nome. Mais tarde, em 1926 foi adquirido definitivamente pelo Lloyd Brasileiro (que já o vinha a utilizar em regime de aluguer) e integrado na frota desta companhia que operava entre Santos e Hamburgo. Esse trajecto foi interrompido pela declaração de guerra do Brasil ao Eixo, que ocorreu em Agosto de 1942. Depois de uma derradeira viagem à Europa, até Lisboa, onde este navio deixou o corpo diplomático alemão a oficiar no Rio e embarcou a sua representação em posto na Alemanha hitleriana, o «Bagé» passou a percorrer, preferencialmente, as águas sul-americanas. Na noite de 31 de Julho de 1943, depois de se ter desgarrado de um comboio de navios em proveniência da ilha de Trinidad, o vapor brasileiro foi detectado e prontamente atacado (com torpedos) pelo submarino tudesco «U-185». Naufragou (no litoral de Sergipe) em menos de 5 minutos. No seu naufrágio morreram 28 das 134 pessoas que se encontravam a bordo. Entre as vítimas do torpedeamento do «Bagé» encontrava-se o seu comandante, capitão Arthur Monteiro Guimarães. O «Bagé» foi o maior de todos os navios brasileiros afundados -durante a 2ª Guerra Mundial- pela 'Kriegsmarine'.

terça-feira, 5 de maio de 2015

«HELGOLAND»

Este navio de passageiros de médio porte foi construído num estaleiro naval alemão em 1963, para assegurar viagens de lazer entre o porto de Cuxhaven (na foz do Elba) e a ilha de Helgoland (no mar do norte). Desloca 2 898 toneladas e mede 92 metros de comprimento por 15 metros de boca.  A sua fama adveio-lhe do facto de ter sido convertido em navio-hospital e enviado -em 1966- pelo governo da R.F.A. para o Vietnam em guerra. Colocado sob a responsabilidade da Cruz Vermelha alemã, este navio disponibilizou 150 leitos e embarcou um corpo de 10 médicos (de várias especialidades) e de 30 enfermeiras. Inicialmente baseado em Saigão, este navio fixou-se, depois, no porto de Danang, onde prestou assistência -gratuita e indiscriminada- a muitos milhares de vietnamitas. A missão humanitária do «Helgoland» terminou oficialmente -por decisão unilateral do governo de Bona- no dia 31 de Dezembro de 1971, tendo o navio regressado, de imediato, à Europa. Não sem que, antes, todo o equipamento médico-cirúrgico de bordo tenha sido oferecido a hospitais do Vietnam, onde a guerra continuou. Depois de nova reconversão num estaleiro da Alemanha, o «Helgoland» foi sucessivamente vendido a duas armadoras do norte da Europa -a Stena Line e a Seetouristik- que o utilizaram, até ao ano 2000, com os nomes de «Stena Finlandica» e de «Baltic Star». No início do século XXI, o navio foi parar à América do sul, mais precisamente a Guayaquil, no Equador, ponto de partida para mini-cruzeiros ao arquipélago dos Galápagos. O navio em apreço usa, agora, o nome de «Galapagos Legend» e integra-se na categoria do turismo de grande luxo. Está equipado para transportar 110 passageiros e mantém a bordo meia dúzia de especialistas em História Natural, que proporcionam à sua privilegiada clientela informação e formação nessa área do saber. Arvora bandeira equatoriana e as cores da Galapagos Cruises and Tours. A fotografia anexada data dos seus tempos de navio-hospital.

«VLADIMIR»

Fragata da marinha imperial russa. De propulsão mista (vela/vapor), este navio com 3 mastros e rodas de pás laterais deslocava 1 731 toneladas e media 61 metros de comprimento fora a fora por 10,70 de boca. O seu aparelho vélico era de tipo patacho. Este navio dispunha de 2 chaminés (implantadas a meia nau) para evacuar os fumos expelidos pela sua única máquina a vapor. A velocidade máxima da fragata «Vladimir» (com recurso à força gerada, em simultâneo, pelos seus dois meios de propulsão) era de 11 nós. Esteve armada com 14 bocas de fogo de vários calibres. A sua construção foi executada -em 1848- pelos estaleiros ingleses Ditchburn & Mare, de Blackwall, no rio Tamisa. Participou na Guerra da Crimeia e, desse tempo, data um combate vitorioso (ocorrido no dia 5 de Novembro de 1853) contra o vaso de guerra otomano «Pervaz-I-Bahri», que foi capturado pelos russos. Diz-se desse recontro, que foi a primeira peleja em que se confrontaram dois navios a vapor. Da sua acção nesse conflito, está igualmente registado uma missão de patrulhamento bem sucedida (em 1854) nas costas da Anatólia. A fragata russa «Vladimir» terminou a sua vida activa no dia 30 de Agosto de 1855, quando, perante a pressão dos turcos, o navio foi afundado (como tantos outros), no porto de Sebastopol, pelos membros da sua própria guarnição. Em 1860, uma companhia americana contratada pelo governo imperial reemergiu a carcaça do navio e levou-a para o porto de Nicolaiev, onde se deveria proceder à sua recuperação. Mas o mau estado da dita não permitiu o seu restauro e a fragata «Vladimir» acabou por ser desmantelada. Curiosidade : o nome deste navio homenageava a figura do Grão-Príncipe de Kiev Vladimir Monomakh (1053-1125), que foi um famoso guerreiro, governador e diplomata da época medieval.