segunda-feira, 15 de novembro de 2010

«QUANZA»


Paquete português da frota da Companhia Nacional de Navegação. Foi construído em 1929, nos estaleiros Blohm und Voss, de Hamburgo e lançado à água com o nome de «Portugal»; designação que logo perdeu, para receber a de «Quanza», que usou até 1968, ano do seu desmantelamento. Deslocava 11 550 toneladas (em plena carga) e media 133,53 metros de comprimento por 16,05 metros de boca. Movia-se graças à força de 2 máquinas, de 4 000 cv, que lhe permitiam navegar à velocidade de 13 milhas/hora. A sua tripulação era constituída por 162 membros. Podia receber a bordo 518 passageiros, distribuídos por várias classes. Foi concebido para o transporte de viajantes e de frete da linha de África (ocidental e oriental). Como todos os paquetes portugueses do seu tempo, o «Quanza» foi mobilizado para encaminhar (no seu caso particular, entre 1961 e 1968) os combatentes das forças armadas para as guerras do ultramar. Um episódio ocorrido em Setembro de 1940 deu alguma visibilidade internacional a este navio português : afretado pela agência de viagens Pinto Basto para transportar para as Américas um grupo de cerca de 200 refugiados judeus, o «Quanza» desembarcou alguns deles nos portos de Vera Cruz (México) e de Nova Iorque. Mas, 86 desses candidatos à emigração para o Novo Mundo, foram impedidos de por pé em terra pelas autoridades locais, pelo facto de não disporem de vistos ou de outros documentos exigidos nessas circunstâncias. O regresso à Europa expunha essa gente à eventual repressão dos nazis, já que a maioria dela era originária da Alemanha. Durante uma escala técnica do «Quanza» em Norfolk (cidade portuária da Virgínia), o caso foi comunicado a um casal de advogados de confissão hebraica ali residente, que ameaçou processar o governo dos Estados Unidos e reclamar-lhe uma vultosa indeminização por não-assistência a pessoas em risco de vida. O assunto chegou ao conhecimento da primeira dama Eleanor Roosevelt, que utilizou a sua influência para que, finalmente, fosse concedido aos passageiros do «Quanza» o direito de asilo. Este episódio inspirou vários livros. Alguns deles, como a peça de teatro «Steamship Quanza» (da autoria de Susan Lieberman e de Stephen J. Morewitz), descrevem a angústia dessas pessoas que cruzaram o Atlântico a bordo deste paquete da Companhia Nacional de Navegação.

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