domingo, 6 de setembro de 2009

«CINCO CHAGAS»


Nau portuguesa da carreira da Índia, que se tornou famosa por ter tido um fim tão trágico quanto glorioso. Aquando da sua derradeira viagem, a «Chagas» (como era popularmente conhecida) zarpou de Goa em 1592, sob o mando do capitão-mor Francisco de Mello, sobrecarregada de gente e de mercadorias, como era, aliás, habitual na torna-viagem. Pelo caminho, juntaram-se-lhe as naus «Santo Alberto» e «Nossa Senhora da Nazareth», provenientes de Cochim, e, também elas com o excesso de peso do costume. Uma tempestade separou a frota nas proximidades do cabo da Boa Esperança, afundando (em circunstâncias dramáticas)as naus de Cochim e obrigando a «Cinco Chagas» a invernar na costa moçambicana. Esta acabou por recolher os sobreviventes e parte da carga da «N.S.da Nazareth», facto que agravou sensivelmente as condições de navegabilidade da «Chagas». Apesar de tudo, este navio conseguiu dobrar o cabo, no ano seguinte, e alcançar o porto de Luanda, onde se demorou vários meses para receber reparações e ainda mais carga. Essencialmente escravos destinados aos mercados da metrópole. Dali partiu em data indeterminada do ano de 1594, metendo água em abundância, obrigando tripulação e passageiros a alijar parte da carga e a bombear continuamente. Em Junho desse mesmo ano, a nau chegou à vista da ilha açoriana do Corvo, da qual não se pôde aproximar devido às péssimas condições atmosféricas que por ali reinavam. O capitão decidiu, então, dirigir o navio para uma das outras ilhas do arquipélado. No dia 22, nas imediações do Faial, Mello distinguiu claramente três navios ingleses que o esperavam. Todos eles de maior tamanho e poder de fogo superior aos do «Cinco Chagas». Temendo o pior, Francisco de Mello exigiu da sua equipagem e dos passageiros do seu navio que «antes fariam arder a nau do que a renderiam ao inimigo». Assim, quando lorde Cumberland, comandante-chefe da força naval britânica (constituída pelos navios «Royal Exchange», «Mayflower» e «Samson») se lançou ao ataque da nau portuguesa, encontrou gente determinada (apesar do cansaço e do escorbuto que grassava a bordo) a defendê-la até à morte e desejosa de causar danos irreparáveis aos seus agressores. A luta começou com o assédio à nau portuguesa, que encaixou toda a violência da artilharia adversa e onde toda a gente percebeu logo que a «Chagas» jamais chegaria a Lisboa, seu porto de destino. Mas isso, em vez de esmorecer o ânimo dos seus ocupantes, galvanizou-os e deu-lhes a força e a coragem necessárias para cumprir a promessa feita ao seu capitão-mor. Depois de várias horas de luta encarniçada, de terem rechaçado por três vezes a abordagem dos ingleses e de terem o seu navio a arder, os combatentes lusos nunca se renderam. Mas já não tiveram a força suficiente para impedir que o fogo declarado a bordo da sua nau se propagasse a todo o navio e acabasse por atingir o paiol de munições da «Cinco Chagas». A explosão provocada por esse incêndio foi medonha e atirou a nau para as profundezas do oceano Atlântico, com a sua intrépida gente e com todos os tesouros que transportava. Nesse confronto fatal -entre um navio português debilitado e três poderosos vasos de guerra da marinha real inglesa- os britânicos sofreram danos consideráveis e tiveram 90 mortos (entre os quais se contou o capitão do «Mayflower»), além de 150 combatentes feridos com maior ou menor gravidade. Das cerca de 400 pessoas do «Chagas» (tripulantes, passageiros civis e escravos) poucas se salvaram. Apenas 13, onze das quais foram desembarcadas pelos ingleses nos Açores. Os dois outros sobreviventes foram levados para a Inglaterra, de onde só sairiam mediante o pagamento de um avultado resgate : 3 000 cruzados. O combate do «Cinco Chagas», embora esquecido dos portugueses de hoje (o que é pena), é um dos episódios mais gloriosos da nossa epopeia naval.

1 comentário:

  1. Parecia então que os portugueses tinham a vitória na mão. Mas esta fugiu-lhes no último instante. O incêndio da Sampson tinha passado para o castelo de vante da Chagas donde começara a alastrar para ré e, os seus tripulantes, por mais esforços que fizessem não foram capazes de o controlar. Tripulantes e passageiros, incluindo muitas mulheres e crianças, entrando em pânico, começaram a lançar-se à água onde foram todos mortos à lançada pelos marinheiros dos batéis ingleses enraivecidos pelas pesadas perdas que tinham sofrido. A anoitecer as chamas atingiram o paiol da pólvora fazendo-o explodir e a nau foi ao fundo com todos os que, por não saberem nadar, ainda estavam a bordo.

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