terça-feira, 5 de junho de 2012

«KAIROUAN»



Paquete de bandeira francesa, pertencente à casa armadora C.N.M. (Compagnie de Navigation Mixte) com sede em Marselha. Foi construído no estaleiro Forges et Chantiers de la Méditerranée (de La Seyne-srur-Mer) e concebido para o transporte de passageiros e carga geral entre a França meridional e os portos da Argélia colonial. Encomendado em 1939, a sua realização só se concretizou, efectivamente, em 1951, apesar do casco do «Kairouan» ter sido lançado ao mar em Janeiro de 1942. Durante esse longo período, este elegante navio foi alvo de um sem número de peripécias que merecem ser referenciadas. A entrada em guerra da França contra a Alemanha e os seus aliados italianos atrasou a construção do navio, devido à mobilização geral, que também tocou o pessoal da construção naval. Depois da ocupação nazi, os germânicos (que teriam intenções de o aproveitar) autorizaram a progressão dos trabalhos até ao bota-abaixo. Em 1943 foi atracado num dos cais do estaleiro de La Seyne, onde -por razões nunca esclarecidas- o navio rompeu as amarras e foi enlear-se nas malhas de protecção anti-submarina do porto. Na tentativa de o safar, um dos rebocadores utilizados fez rebentar um mina magnética e afundou-se. O «Kairouan» voltou ao ponto de partida, onde permaneceu imobilizado até Agosto de 1944, quando se produziu o desembarque dos Aliados na Provença. Para impedir a sua captura pelo inimigo, o «Kairouan» foi (ao mesmo tempo que outros navios) voluntariamente afundado pelos hitlerianos. Em 1945, já depois da libertação de França, o navio foi condenado à demolição, porque impedia a livre navegação na zona onde fora submergido. Foram necessárias inúmeras e custosas intervenções do então patrão da C.N.M. (Édouard de Cazalet) para que, finalmente, o paquete fosse poupado e recuperado. Vários incidentes ocorreram entretanto, até que, por fim, em 1947, o navio foi resgatado das águas onde havia permanecido durante vários anos. O seu restauro foi efectuado no estaleiro de La Ciotat de maneira lenta, devido a restrições administrativas próprias do imediato pós-guerra e à dificuldade no abastecimento de materiais. Os trabalhos foram dados como terminados em meados de 1950 e, após um incêndio que o danificou ligeiramente, o «Kairouan» pôde entrar ao serviço. Isso ocorreu em Janeiro de 1951, ou seja 12 anos depois de lançada a sua construção ! Dotado de todos os requisitos exigidos aos paquetes modernos, o navio teve grande sucesso junto dos passageiros que viajavam entre Marselha e os portos franceses do norte de África. Com a independência da Argélia, em 1962, e com a evacuação definitiva dos ‘pied-noirs’, sua clientela privilegiada, o atribulado navio foi transferido para a secção de cruzeiros do seu armador, onde permaneceu até 1973. Nesse ano (depois de terem falhado as tentativas de o vender para o Japão) o navio foi cedido a um sucateiro, que o desmantelou em Espanha. O «Kairouan» era um navio com 8 600 toneladas de arqueação bruta e media 142,50 metros de comprimento por 18,30 metros de boca. Podia receber 1375 passageiros. A sua velocidade era de 25 nós.

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