segunda-feira, 3 de março de 2014
«RAUL SOARES»
O «Raul Soares» -navio de sinistra memória para os brasileiros- foi construído pelos estaleiros da firma Flensburger Schiffsbau, na Alemanha, em 1900; ano em que também empreendeu a sua viagem inaugural (ao Brasil e portos do rio da Prata), integrado na frota do armador Hamburg Südamerikanischen DG. Este navio -um paquete- foi baptizado com o nome de «Cape Verde»; que utilizou até 1922, passando, desde então e depois de ter sido apreendido aos seus primeiros donos (no desfecho da Grande Guerra), a navegar com o designativo de «Madeira», que conservou durante três anos ao serviço das companhias P & O e Anglo-Yugoslav Transatlantic. Em 1925 o navio foi adquirido pelo Lloyd Brasileiro e passou a chamar-se «Raul Soares». O paquete em apreço, que sobreviveu aos dois conflitos mundiais, era um navio com 5 909 toneladas de arqueação bruta, medindo 125,10 metros de comprimento por 14,70 metros de boca. Provido de um sistema de propulsão a vapor (com 2 900 cv de potência) de quadrúpla expansão, o paquete -que podia receber 700 passageiros- deslocava-se à velocidade de cruzeiro de 12 nós. Durante muitos anos transportou milhares de emigrantes europeus para os países americanos do cone sul. Em 1964, já em fim de vida, o velho paquete foi requisitado pela ditadura militar e transformado em prisão flutuante e local de tortura de presos políticos. Nessa condição -inglória e assustadora- o «Raul Soares» esteve fundeado ao largo do porto de Santos até ao fim do odiado regime dos generais. A vida miserável dos presos do navio-prisão foi descrita em vários livros da autoria de alguns intelectuais que por lá sofreram tormentos e a privação da liberdade. Após essa sua derradeira utilização, o navio foi rebocado para um estaleiro do Rio de Janeiro, onde sucumbiu às investidas dos demolidores.
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