Navio
negreiro de bandeira norte-americana. O «Clotilde» era uma escuna com cerca de 30 metros de comprimento
fora a fora por 7 metros
de boca. Foi o último veleiro registado nos Estados Unidos a dedicar-se ao
comércio de escravos entre o continente africano e as Américas. Essa derradeira
e infame viagem começou a 15 de Maio de 1859 no porto de Uidá (a antigo S. João
Baptista de Ajudá, que os Portugueses fundaram no Daomé) e terminou (segundo as
fontes mais credíveis) no Outono do mesmo ano em Mobile Bay , no Alabama.
Lugar onde foram desembarcados perto de 150 escravos. A interrupção deste
desumano negócio teve a ver com a explosiva situação política reinante nos
‘states’ entre os abolicionistas e os esclavagistas. Situação que iria
conduzi-los à chamada Guerra de Secessão, que rebentou em 1861. No decorrer
dessa histórica viagem, a escuna «Clotilde» (também referida, por vezes, com o
nome de «Clotilda») foi comandada pelo capitão William Foster, que trabalhava
para um homem de negócios sulista de nome Timothy Meaher; que, curiosamente,
também era o proprietário dos estaleiros de Mobile que construíram (em 1856) o
veleiro em apreço.
Disse-se , à época, que esta derradeira viagem com escravos
resultou de uma aposta feita pelo referido armador, que garantiu ser capaz de
contornar uma lei que proibia a importação ilegal de mão-de-obra africana. E
sabe-se que, com medo das consequências, Foster, incendiou o «Clotilde», logo
após a sua chegada aos Estados Unidos e de ter procedido ao desembarque dos cativos.
Libertados depois da vitória dos Federais em 1865, os sobreviventes da escuna
reuniram-se num aldeamento chamado Africatown, que eles próprios edificaram nas
proximidades de Mobile. Um desses escravos
ganhou alguma fama –com o nome americanizado de Cudjo Lewis- quando, em
1927, foi entrevistado e filmado pela conhecida escritora afro-americana Zora
Neale Hurston; à qual ele chegou a contar (apesar da sua avançada idade) a
história da sua captura e da sua venda e transferência para os Estados Unidos.
No Alabama há, ainda hoje, vários descendentes de Cudjo Lewis, que faleceu em
1935 com a idade presumível de 94 anos. Uma estátua foi-lhe erigida em
Africatown pela Igreja Baptista (da qual fez parte) e o lugar onde viveu é
considerado de interesse histórico. Quanto à escuna «Clotilde», refira-se que
os seus restos (se ainda existirem) continuam a ser alvo de pesquisas
arqueológicas na baía de Mobile. Nota : a ilustração anexada não representa o «Clotilde», mas, tão só, uma escuna com desenho (provavelmente) similar ao do veleiro em apreço.
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Olá,
ResponderEliminarSou tradutor de inglês e estou com uma dúvida náutica: queria saber a que equivale em português o termo "full-bellied hull". É um tipo de casco de navio, mas não consigo determinar qual. Este texto http://www.shipmodelersassociation.org/research/fam0201.htm?id_sma=0826SMA183349 menciona que o Aemilia (sobre o qual você escreveu) seria um barco com full-bellied hull. Aqui há outra menção: http://modelshipworld.com/phpBB2/viewtopic.php?t=5609&start=10&sid=0086e1247a36ef6aacdd14b4c82ca9fe . Pode me ajudar? Meu e-mail é ericoassis@gmail.com . Grato pela atenção.